Série ASérie BEuropa

- Atualizado em

2018: russos saem na frente em estádios, mas acusações preocupam

Com duas arenas prontas e outra quase lá, sede da próxima Copa quer inaugurar
tudo até 2017, só que enfrenta polêmicas como uma suspeita de compra de votos

Por Rio de Janeiro

Quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebeu a missão de organizar a 21ª edição da Copa do Mundo das mãos da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, em evento simbólico no Maracanã no último dia 13, ganhou algumas preocupações. Com o país do leste europeu no foco da imprensa internacional desde então, as críticas iniciais batem, sobretudo, em uma tecla: a suspeita da compra de votos da candidatura russa, que ganhou o direito de receber o torneio em dezembro de 2010. Calcanhar de Aquiles da organização brasileira, a questão dos estádios, por ora, está longe de ser o maior dos problemas da próxima sede do Mundial, em 2018.

Ao término da Copa de 2014, a Rússia tem dois estádios prontos e um terceiro em vias de ser inaugurado (procurado, o Comitê Organizador da Copa na Rússia não deu maiores detalhes do andamento das obras nas demais sedes). O plano é ter todas arenas inauguradas até 2017.

INFO Mapa Rússia sedes Copa do Mundo 2018 (Foto: Editoria de Arte)As 11 cidades russas que receberão os jogos da Copa, mas Fifa ainda pode cortar sedes (Foto: Editoria de Arte)

Há exatos quatro anos, o Brasil vivia uma situação distinta. Das 12 arenas que receberam os jogos do último Mundial, apenas os estádios de Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus e Salvador haviam começado as obras antes de julho de 2010 - ainda assim, em fase inicial (veja detalhes na tabela abaixo) -, segundo o balanço da Copa, e nenhuma estava próxima da inauguração. 

Início das obras da Copa 2014 (Foto: GloboEsporte.com)

Recursos financeiros para reformar e construir arenas não faltarão à Rússia. Após o país gastar rios de dinheiro para receber os Jogos de Invernos - fala-se em US$ 51 bilhões (R$ 113,5 bilhões) -, o orçamento inicial para preparar os estádios da Copa é de R$ 11,3 bilhões, segundo o ministro do Esporte e presidente do Comitê Organizador Local (COL) russo, Vitaly Mutko. Para efeito de comparação, a conta da Copa de 2014 com estádios ficou na casa dos R$ 8 bilhões, apesar da previsão inicial de R$ 5,38 bilhões.  

Fifa pode reduzir número de sedes  

Assim como ocorreu neste ano no Brasil, a Rússia pretende ter 12 sedes. Com uma diferença: a competição passaria por 11 cidades, já que a capital Moscou terá dois estádios. Um deles será o Spartak Stadium, em vias de ser inaugurado, enquanto o outro será o Luzhniki, que já recebeu os Jogos Olímpicos de 1980, a final da Liga dos Campeões na temporada 2007/08 e receberá tanto a abertura quanto a final do Mundial.  

De acordo com a programação, apenas o Luzhniki e o Central Stadium, em Ecaterimburgo (cidade mais oriental que receberá o Mundial), passarão por reformas. O restante seria erguido - ou reconstruído - do zero. Só que a Fifa, após a experiência no Brasil, ainda cogita reduzir o número de sedes russas para dez, sobretudo para evitar questionamentos sobre possíveis elefantes brancos.  

- Teremos encontros em setembro para debater se doze estádios na Rússia é certo ou se podemos reduzir para dez. Precisamos garantir que os investimentos sejam feitos para gerar um legado, não uma dívida. No Brasil, 17 cidades se ofereceram e convencemos a reduzir para 12 - disse o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em coletiva no dia seguinte à final entre Argentina e Alemanha, no Maracanã.  

estádio de Luzhniki, onde será a partida do Lokomotiv (Foto: AFP)Luzhniki, em Moscou, passará por reforma antes de receber abertura e final da Copa do Mundo (Foto: AFP)


Previsão: estádios prontos até 2017  

Com 10 ou 12 sedes, a Rússia planeja estar com todos os estádios inaugurados até 2017, quando o país receberá a Copa das Confederações. Dois já estão prontos: o Estádio Olímpico Fisht, em Sochi, e a Arena Kazan, de cidade que leva o mesmo nome. Já a Otkrytie Arena, casa do Spartak Moscou, será a terceira sede inaugurada, no próximo dia 5 de setembro.  

Além de Kazan, Sochi, Ecaterimburgo e Moscou, outras sete cidades russas receberão jogos em 2018, caso não aconteça qualquer mudança nos planos: São Petersburgo, Nizhny Novgorod, Saransk, Kaliningrado, Volgogrado, Samara e Rostov no Don. Cogitados inicialmente, o Cáucaso e a Sibéria foram descartados por razões distintas: o primeiro por questões de segurança e o segundo por conta de razões de logística, como o fuso.  

- A Fifa tenta desenvolver novas regiões, por isso a Copa foi na África, por isso estivemos no Brasil e isso também é muito importante para nós. Apresentamos 12 garantias do governo, precisamos de estádios, infraestrutura esportiva, entendemos que é imperativo ter esses estádios, então estamos garantimos a construção até 2017 de 12 estádios. Estamos abrindo o país para a Copa, qualquer torcedor de qualquer parte do mundo com um ingresso poderá entrar, só precisa de passaporte e ingresso - disse o presidente do Comitê Organizador Local da Rússia, garantindo que os torcedores que quiserem assistir à Copa no país não precisarão de visto.  

projeto estádio Copa Rússia 2018 St. Petersburgo  (Foto: Getty Images)Projeto do New Zenit Stadium: em obras e, após ser adiado, tem conclusão prevista para 2015 (Foto: Getty Images)


Os gastos vão bem além dos estádios. Apenas para melhorar a malha ferroviária do maior país em território do mundo, o governo poderia investir R$ 22 bilhões para o Mundial. A Rússia prevê ainda gastos de R$ 4,2 milhões com acomodações, um problema que preocupa especialmente fora de Moscou e São Petesburgo, que já contam, segundo Mutko, com estrutura suficiente para receber os turistas. Para segurança, o orçamento é de R$ 2 bilhões, com R$ 800 milhões a serem investidos em comunicações.  

Os problemas: racismo, torcida, corrupção...  

As críticas iniciais à Rússia passam bem longe da questão de gastos com infraestutura. Há quem questione o envolvimento da população local com o evento após o sucesso de público que foi a Copa do Mundo no Brasil. No dia seguinte à final no Maracanã, o jornal inglês "The Telegraph" publicou um artigo justamente questionando a capacidade de engajamento dos russos com o evento e destacou que as cidades do Mundial de 2018 serão um "sonho distante" do que foi a agitação em cidades como Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte neste ano.   

projeto estádio Copa Rússia 2018 estádio Saransk (Foto: Getty Images)Projeto do estádio em Saransk (Foto: Getty Images)

Há ainda o temor de que haja superfaturamento nas obras, racismo nas arquibancadas e restem elefantes brancos como legado para a população.

- O nosso futebol é como uma água escura, uma porta de entrada para a corrupção. Isso não vai sumir de uma hora para a outra na preparação para a Copa do Mundo de 2018 - disse o presidente de uma entidade russa chamada Fundo para o Desenvolvimento do Futebol Nacional, Alisher Aminov, na entrevista para o "The Telegraph".  

Não bastasse isso, a candidatura do país está nas páginas de jornais do mundo inteiro por conta de um escândalo de corrupção. Existe uma suspeita de manipulação de votos no processo de escolha das sedes dos dois próximos Mundiais (depois da Rússia, o Catar receberá o torneio em 2022), e o Comitê de Ética da Fifa já se apressou para avisar que está investigando a denúncia. Inclusive, divulgou um comunicado na última segunda-feira informando que pretende dar uma resposta sobre o caso até a primeira semana de setembro.  

O conflito com a vizinha Ucrânia é outra preocupação. Tanto que o presidente da Federação Alemã de Futebol (DBF), Wolfgang Niersbach, diz que o país do leste europeu não tem condições de sediar a próxima Copa e até se colocou à disposição para substitui-lo.

- Observa-se com uma grande preocupação essa crise política na Rússia, o que não era previsível quando a decisão foi tomada em dezembro de 2010. Naturalmente a Alemanha seria, como campeã mundial, a alternativa adequada para celebrar o Mundial. Seria melhor fazer a Copa em cooperação com a Polônia e com a Ucrânia, que também têm estádios de futebol modernos. – disse Niersbach, em entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal alemão “Bild”.

Eliminatórias serão definidas em 2015 

Outro ponto de interrogação é quanto à capacidade de a seleção de Fabio Capello fazer bem o papel de anfitriã dentro dos gramados. Única equipe já classificada para o Mundial de 2018, a Rússia caiu precocemente em 2014, ainda na primeira fase, e dá pouca pinta de que poderá fazer bonito daqui a quatro anos.  

As outras 31 vagas ainda estão abertas. A corrida começa no dia 25 de julho de 2015, quando a Fifa fará em São Petesburgo o sorteio das eliminatórias. Lá, o Brasil e as demais seleções conhecerão o caminho que terão que passar até a Rússia. Apesar de o processo de classificação ainda não ter sido divulgado (como, por exemplo, número de vagas por confederação), a tendência é que a disputa na América do Sul comece no segundo semestre do ano que vem.

  • imprimir
  • entre em contato
  • Compartilhar no Orkut
  • Enviar para um Amigo
140 caracteres

Verificação de segurança

Gênero