21/04/2015 17h54 - Atualizado em 21/04/2015 18h05

Defesa diz que cunhada de Vaccari não depositou dinheiro para a irmã

MPF e juiz Sergio Moro dizem que ela aparece em imagens de banco.
Advogado diz que, na verdade, é a própria irmã quem aparece no vídeo.

Fernando CastroDo G1 PR

MPF e juiz Sergio Moro dizem que Marice aparece em imagens de banco. (Foto: Divulgação)MPF anexou fotos no processo sustentando que Marice fez depósitos para a irmã (Foto: Divulgação)

A defesa de Marice Corrêa de Lima, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, negou que a cliente tenha feito depósitos em espécie na conta da irmã, Giselda Rousie de Lima. Ao G1, o advogado Cláudio Pimentel disse que a mulher que aparece nas imagens das câmeras de segurança do banco é a própria Giselda, e não Marice, conforme apontaram o Ministério Público Federal (MPF) e o juiz Sérgio Moro.

Nesta terça-feira (21), Moro decidiu prorrogar a prisão temporária de Marice, que, segundo os procuradores do MPF ajudou o cunhado a receber valores ilegais da construtora OAS. A suposta irregularidade é um dos alvos da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras e outros órgãos públicos.

 

Conforme o MPF, Giselda Rousie de Lima, esposa de Vaccari, recebeu cerca de R$ 323 mil, em depósitos fracionados. Esses depósitos foram feitos, em alguns casos, em caixas eletrônicos. Imagens obtidas pelos investigadores apontam a suspeita de que foi Marice quem depositou esses valores para Giselda, irmã dela. Dois desses depósitos, segundo a investigação, foram feitos em 2015.

Os procuradores concluem que os indícios sugerem que Giselda recebia uma espécie de “mesada” de fonte ilícita, paga por Marice. Em depoimento à Polícia Federal, Marice afirmou não ter feito nenhum depósito para Giselda neste ano. “Elas são muito parecidas, mas quem está fazendo aqueles depósitos é a própria Giselda. A Marice não fez nenhum depósito”, sustentou o advogado.

O entendimento difere da constatação do juiz Sergio Moro, ao analisar as imagens fornecidas pelo MPF. "Embora Marice não tenha sido identificada nominalmente, os vídeos apresentados não deixam qualquer margem para a dúvida de que a pessoa em questão é Marice Correa de Lima", afirmou o juiz.

Apesar da discordância com relação à identificação, a defesa de Marice considerou positiva a decisão de Moro de estender a prisão temporária da cliente, uma vez que o MPF pedia a conversão do regime para prisão preventiva, sem prazo para expirar. “Acho que foi muito positivo, o juiz Moro foi muito cauteloso ao tomar essa decisão, dando oportunidade para que minha cliente esclareça pontos duvidosos que o MPF apontou”, concluiu Claudio Pimentel.

Giselda Rousie de Lima e Marice Corrêa de Lima são irmãs (Foto: Divulgação)Giselda Rousie de Lima e Marice Corrêa de Lima são irmãs (Foto: Divulgação)

Nova oitiva
No despacho, Moro relatou ainda que a medida oportunizará novo depoimento de Marice "na qual ela poderá esclarecer ou não sua participação nos depósitos em espécie realizados na conta da esposa de João Vaccari Neto e as circunstâncias que envolveram esses fatos". O magistrado também destacou que, se quiser, Marice poderá ficar em silêncio.

O prazo de prisão temporária de Marice venceria nesta terça-feira, mas foi prorrogado por mais cinco dias. De acordo com Sérgio Moro, antes do fim deste novo prazo, ele irá reavaliar o pedido do MPF sobre a prisão preventiva de Marice.

Ela foi presa após se apresentar na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. O mandado de prisão temporária contra ela foi expedido dois dias antes, quando Vaccari foi preso. Contudo, ela estava no Panamá, onde disse ter participado de um congresso profissional.

Marice de Lima é levada para fazer exame de corpo de delito (Foto: Fernando Castro/ G1)Marice de Lima se entregou à PF em Curitiba
(Foto: Fernando Castro/ G1)

Investigação
O imóvel mencionado pelos procuradores foi adquirido por ela em 2011, por aproximadamente R$ 200 mil. Em menos de um ano, o apartamento foi devolvido à OAS que pagou R$ 432 mil pela unidade, de acordo com o MPF.

A investigação aponta ainda que Marice declarou à Receita Federal, em 2011, que usou R$ 240 mil para comprar o imóvel, que seriam provenientes de um “rendimento não tributável no item indenizações por rescisão de contrato de trabalho, PDV,  acidente de trabalho ou FGTS”.
No depoimento, ela afirmou que esse valor se referia a uma indenização recebida do PT, após um acordo por danos morais, firmado entre ela e o partido, de forma extrajudicial, ou seja, sem um processo na Justiça.

Os procuradores também sustentam que entre 2008 e 2014, a mulher de Vaccari, Giselda Rousie de Lima recebeu cerca de R$ 323 mil, em depósitos fracionados. Esses depósitos foram feitos em partes, acima de R$ 10 mil, sendo que em alguns casos, as quantias foram depositadas em caixas eletrônicos. Imagens obtidas pelos investigadores apontam a suspeita de que foi Marice quem depositou esses valores para Giselda, irmã dela.

Em outro vídeo obtido pelos investigadores, de março de 2015, Marice aparece em uma agência bancária, efetuando um depósito. “Assim, tudo indica que Giselda recebe uma espécie de “mesada” de fonte ilícita paga pela investigada Marice feitos até março de 2015”, dizem os procuradores. Em depoimento à Polícia Federal, Marice afirmou não ter feito nenhum depósito para Giselda em 2015.

“Nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva”, defende o MPF, que ainda pede a apuração da viagem dela ao Panamá, "pois levanta suspeitas da manutenção de depósitos ocultos no exterior, como por diversas vezes se verificou com outros investigados nesta operação".

Prática criminosa
O juiz Sérgio Moro avaliou como perturbadora a “extensão temporal aparente da prática criminosa” por parte de Marice Corrêa de Lima. No mesmo despacho em que determinou a prorrogação da prisão temporária, o magistrado menciona que há registros de envolvimento de Marice no escândalo do Mensalão.

O juiz afirma também que há provas de envolvimento da cunhada de Vaccari em irregularidades descobertas na Petrobras em 2009/2010, em 2012 e em 2013. Além disso, cita uma série de depósitos realizados por Marice entre 19/09/2008 a 06/03/2015 igualmente sob suspeita.

“(...) O que mais perturba o Juízo não é o fato da investigada ter faltado com a verdade tão flagrantemente em seu depoimento quanto a sua responsabilidade pelos depósitos. O que de fato é perturbador é a constatação da extensão temporal aparente da prática criminosa”, diz Moro.

Ele ainda afirmou ser mais perturbador o fato de, segundo ele, a prática criminosa não ter se encerrado com a prisão cautelar do doleiro Alberto Youssef, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e nem mesmo com o mandado de condução coercitiva contra Marice expedido em novembro de 2014.

Defesa
No depoimento que Marice prestou à Polícia Federal, nesta sexta-feira, a cunhada de Vaccari negou as suspeitas do Ministério Público Federal, segundo o advogado Cláudio Pimentel.
Em relação ao negócio do apartamento, Marice explicou apenas que foi informada pela OAS de que receberia o valor em conta corrente, como um reembolso pelo imóvel, que ela havia devolvido à construtora. Disse ainda que desse montante, usou R$ 300 mil para emprestar à sobrinha, filha de Vaccari e Giselda.

Ainda no depoimento, Marice negou conhecer o doleiro Alberto Youssef e José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da OAS, acusado de distribuir dinheiro de propina vindo da construtora. Conforme os procuradores, o doleiro disse que pagou a ela propina para Vaccari, em duas oportunidades.