Grande colecionador de fotografias questiona os meandros do mercado de arte

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
08/11/2016 às 08:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:34
 (José Diniz/ Divulgação)

(José Diniz/ Divulgação)

No mercado da arte, a fotografia tem algumas características próximas a de outras artes plásticas (como a importância do nome do artista e o ineditismo do trabalho) e outras próprias (como a necessidade de seriar as imagens, limitando o número de reproduções).

Mas nem todo colecionador de fotografias está interessado nessas regras do mercado de arte. Dono de uma coleção de mais de 3.000 fotografias, compradas ao longo de mais de 45 anos, o fotógrafo Joaquim Paiva participa de um bate-papo amanhã, na dotART galeria, em que fala sobre como é interessante construir uma coleção sem se preocupar com os valores de mercado.

Ele conta que escolheu cada peça de sua coleção, transitando sempre por eventos ligados a fotografia, como seminários e palestras, sem se preocupar com um curador. “Quando comecei, não havia um mercado de arte para a fotografia. Comprava o que me interessava, sendo a pessoa famosa ou não. Fiz com liberdade e conhecimento de causa, pois sou fotógrafo”, conta Joaquim, de 70 anos, que também é ex-diplomata.

O importante para ele é mais a imagem e menos a assinatura por trás dela – tanto que suas imagens não são seriadas ou, se são, ele não se importa. Em sua coleção, há fotorreportagens, retratos, nus, paisagens e várias outras linguagens.

A maior parte desse acervo – cerca de 2.000 imagens – já está definitivamente no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). A intenção de Joaquim é, em breve, levar toda a coleção para lá, para que o museu possa expor o material em diferentes recortes curatoriais.


Professor de fotografia e produtor do Festival de Fotografia de Tiradentes, Eugênio Sávio explica que o processo para que um fotógrafo entre no mercado de arte é longo. “O que faz uma pessoa querer adquirir uma imagem não é somente a foto em si, mas uma pesquisa do autor que está por trás dela ou um ineditismo”, diz.

Mas ele aconselha a não se prender a status de mercado e valorizar o novo. “O Joaquim Paiva, por exemplo, sempre frequenta os eventos de fotografia e adquire muitas obras de jovens”. 


Em Belo Horizonte, tem um coletivo que incentiva pessoas a adquirirem fotografias com estratégias diferenciadas. Uma das ações mais famosas do grupo Erro99 é o Queimão de Fotografia, um leilão aberto a fotógrafos profissionais e não profissionais e a toda população. As imagens não compradas são queimadas.

Integrante do coletivo, o fotógrafo Daniel Iglesias diz que essa é uma provocação, mas não uma negação do mercado de arte. “Nossa intenção é fazer um chamariz para pessoas que não costumam vender ou comprar fotos”, afirma. “O mercado é elitista, cria estratégias para manter os valores altos”.

Uma das provocações do Erro99 é apresentar a foto do leilão sem contar ao público quem é o autor. “Com o anonimato, você olha para o valor da imagem e não para o valor de mercado do fotógrafo”.

Serviço: Encontro com Joaquim Paiva na dotART galeria (rua Bernardo Guimarães, 911, Conjunto 20, Funcionários), amanhã, às 18h30. Entrada franca

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