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Empresários e moradores apostam na ocupação das ruas contra a crise

Bairros como Leblon, Botafogo e Santa Teresa estão recebendo atividades gratuitas
Em Botafgo, praças vêm recebendo ocupações culturais Foto: LORENAMOSSA / Divulgação/Lorena Mossa
Em Botafgo, praças vêm recebendo ocupações culturais Foto: LORENAMOSSA / Divulgação/Lorena Mossa

RIO - Mesmo com altos índices de violência, em vez de buscarem refúgios para se protegerem, empresários, comerciantes e moradores do Rio vêm apostando nas ruas como solução para a crise. Iniciativas de ocupação cultural urbana agitam vários pontos da cidade, levando movimento e, por consequência, mais tranquilidade aos frequentadores, que ainda podem curtir uma programação de qualidade. Em Santa Teresa, a Associação de Amigos e Empreendedores do bairro (Ame Santa) se juntou a outros coletivos e criou um calendário cultural gastronômico com pelo menos um evento por mês.

— Nada melhor para espantar a violência do que o fluxo de pessoas. Com o movimento, o criminoso tem menos oportunidade. Além disso, as autoridades ficam mais atentas — diz a chef Natacha Fink, proprietária do restaurante Espírito Santa e integrante da Ame Santa.

O próximo evento agendado para a região é o Santa na Mesa, festival gastronômico que acontecerá entre os dias 23 de setembro e 1º de outubro, e contará com atividades em diversos pontos do bairro, incluindo uma feira com produtores rurais no Parque das Ruínas.

Para Alê Youssef, marido e sócio da atriz Leandra Leal no Rivalzinho, na Cinelândia, iniciativas como essas são ótimas opções para se enfrentar momentos difíceis.

— O Rivalzinho é um projeto que faz com que a rua seja ocupada pelas pessoas, gerando sensação de segurança e de pertencimento à cidade. Ao mesmo tempo, é um negócio que estimula a economia local através da criatividade e da inovação. Essas duas dimensões, da segurança e da economia, deveriam fazer com que o poder público valorizasse e apoiasse ações desse tipo, que, em uma cidade como o Rio, são transformadoras e eficazes mesmo diante das crises.

OCUPAR PARA EVITAR AÇÃO DO CRIME

Para tentar combater o aumento do índice de usuários de drogas nas praças do bairro e encorajar os moradores a voltarem a frequentar esses espaços, a Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (Amab) vem apostando na ocupação cultural. Neste sábado, das 10h às 17h, o grupo promove uma série de atividades na Praça Chaim Weizmann, em frente à Biblioteca Machado de Assis. A programação conta com oficina de arte para as crianças, peças teatrais, roda de samba, exibição de filmes e shows musicais.

— Nossa ideia é mostrar para os moradores que, se eles não ocupam o espaço público, outras pessoas o farão. E nem sempre serão pessoas de bem — comenta Regina Chiaradia, presidente da Amab.

A primeira experiência de ocupação cultural da associação foi organizada em abril, na Praça Nelson Mandela. De acordo com Regina, a situação no local melhorou desde então.

— A experiência na Praça Nelson Mandela foi excelente. Mas ainda temos muitos problemas em outros pontos. Esperamos conseguir melhorar essa situação com a ocupação do espaço público pelos moradores — destaca Regina.

Na Rua Tubira, no Leblon, a Jeffrey Store — loja conceitual da cervejaria Jeffrey — vem há três anos apostando na ocupação urbana como ferramenta de revitalização do entorno. Na época em que os sócios decidiram montar o estabelecimento, a cidade passava por um boom imobiliário e os preços estavam altos em toda a Zona Sul.

— Estávamos praticamente desistindo de montar a loja por causa dos altos preços. Foi quando passamos pela Rua Tubira, onde, na época, havia basicamente oficinas mecânicas e era um local degradado, um pouco perigoso para os moradores. Por conta dessa situação, o preço por lá era mais amigável. Resolvemos apostar — conta Gilson Val, um dos sócios.

A instalação da Jeffrey Store no espaço foi o pontapé inicial para a criação de um polo gastronômico cultural na região. A loja acabou atraindo outras marcas, e a rua passou a receber eventos constantes. Todos gratuitos. Para reforçar a reação ao momento de crise na cidade, este mês a marca iniciou o projeto da Jeffrey Party, que ocupará a rua quinzenalmente com atrações diversas até março do ano que vem. A segunda edição será neste sábado, com show da banda Gus & Vic, DJ e a exposição “Cavaluz”, da artista plástica Amanda Saladini, que fica em cartaz na Jeffrey Store por um mês. Para comer, os sanduíches do Espírito de Porco e os brownies artesanais do El Brownie serão as opções.

Primeira edição da Jeffrey Party, no Leblon, teve atração internacional Foto: Divulgação/Jeffrey
Primeira edição da Jeffrey Party, no Leblon, teve atração internacional Foto: Divulgação/Jeffrey

— A ocupação urbana foi usada para superar crises por diversas vezes na Europa e nos Estados Unidos. Acredito muito que ela pode ser também uma boa saída para este momento pela qual a nossa cidade passa. O Rio tem tudo a ver com a rua — conclui Val.

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