Collapse Underground Art #06

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•Artigo ...ao caos... - Pág. 4 • Artigo The Ressinestesia - Pág. 5 • Artigo Underground´s Voice - Pág. 6 • Entrevista Contempty - Págs. 8 e 9 • Entrevista Left Hand - Págs. 10, e 11 • Entrevista Crom - Págs. 12, 14, 15 • HM Breakdown Vivi Alves - Págs. 16, 17 e 18 • Entrevista Yekun - Págs. 20, 21, 22, 24 e 25 • Entrevista Tales For the Unspoken - Págs. 26 e 27 • Entrevista Camus - Págs. 28 e 29 • Entrevista Outlanders - Págs. 30 e 31 • Especial Madame Delphine La Laurie O Monstro Cruel da Louisiana - Págs. 32, 33, 34 e 35 • Entrevista Nox Spiritus - Págs. 36 e 37 • Releases - Págs. 38 e 39 • Entrevista Rebaellim - Págs. 40, 41, 42 e 43 • Entrevista MX - Págs. 44 e 45 • Sangue Novo Frantic Amber - Págs. 46 e 47 • Entrevista Dkrauz - Págs. 48 e 49 • Entrevista Methedras - Págs. 50, 52 e 53 • Entrevista Nervosa - Págs. 54, 55, 56 e 57 • Entrevista Skinlepsy - Págs. 58, 60, 62 e 63 • Matéria de Capa Lothlöryen - Págs. 64, 65, 66, 67, 68, 69 e 70 • Artigo Aforismos do Pai Marcão - Pág. 71

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Determinação e sangue fervendo

chegamos a nossa sexta edição, munidos de muito trabalho, muita paciência e determinação. Apesar do trabalho prazeroso de estar em contato com músicos excepcionalmente talentosos de todo o país, e do exterior também, é descobrir uma infinidade de formatos, cores, sons, ideias, conceitos que fazem com que nossa cultura se mostre rica e prolífera em cada uma das suas realidades econômicas e geográficas. Além disso, temos o privilégio de, em muitas vezes, conferir alguns trabalhos não lançados e ouvir em primeira mão a grandiosidade de alguns deles, mas este o tempo mostrará a todos vocês. Em tempo, somos solidários com os parceiros que editam suas publicações, sejam elas sites, blogs, web rádios e web TV´s, e que estão na mesma luta que nós, buscando mostrar a cultura musical de forma idônea, transparente e responsável, e acima de tudo, manifestando seu amor a música dando o melhor de sí. Estamos juntos e misturados nessa empreitada. Bom, espero que você leitor aprecie esta nossa edição de número seis, que traz como matéria de capa o grandioso Lothlöryen, além de entrevistas imperdíveis com Contempty, Left Hand, Crom, Vivi Alves, Yekun, Camus, Outlanders, Nox Spiritus, Rebaellim, MX, Dkrauz, Nervosa, Skinlepsy, além de nossos irmãos portugueses do Tales For the Unspoken, os italianos do Methedras e a fantástica banda suéca Frantic Amber, além de um especial sobre o Madame Delphine LaLaurie, mais conhecida como o Monstro Cruel da Louisiana e artigos sempre presentes em nossas edições de Panda Reis, Christophe Correia e de Marcos Garcia, além das dicas da professora de canto Carol Bannwart. Boa leitura! JP Carvalho

Expediente Editor responsável: JP Carvalho - Jornalista Responsável: Laryssa Martins MTb: 52.455 Colaboraram nesta edição: Carol Bannwart, Christophe Correia, Julie Sousa, Marcos Garcia, Panda Reis, Prika Amaral, Raphael Arizio, Toninha Carvalho, Ygor Nogueira e Vlademir Gonzales. Assessoria de Imprensa: Metal Media (www.metalmedia.com.br) A revista Collapse Underground Art é uma publicação digital, de atualização permanente. O conteúdo editorial é produzido pela equipe de redação e as imagens cedidas por representantes ou assessorias de imprensa. Todo o conteúdo é protegido pelas leis que regulamentam o Direito Autoral e a reprodução (de parte, ou completa) das matérias. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a postura ideológica da publicação. Envie sugestões, comentários e críticas para a revista: E-mail: rrraicttuff@yahoo.com.br ou para Rua Nilo Luis Mazzei, 66 - Vila Guilherme - São Paulo - SP - CEP: 02081-070.


...AO CAOS...

Nossa falaciosa educação tendenciosa

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Por: Panda Reis

ocês ainda se recordam daquelas cenas onde a Polícia agredia violentamente professores, onde professores de meia idade caídos nos chão tentavam desesperadamente proteger seus corpos gastos pela idade, de mordidas raivosas de cães treinados para dilacerar, treinados para perseguir morder e arrancar pedaços? Vocês ainda se lembram de professores correndo desesperados por ruas de cidades grande, com rostos com furos abertos por balas de borracha, da onde escorria sangue, que se misturava a lágrimas de pessoas que ali estavam apenas para pedir uma condição salarial melhor, já que a inflação come seus salários... gente que passou a vida todo estudando, trabalhando durante o dia, estudando escondidos no banheiro, ou na hora do almoço, correndo do trabalho para a faculdade, e estudando mesmo após chegar em casa já no dia de amanhã, gente que se dedicaram a aprender, estudar, se especializar para poder continuar a repassar o conhecimento, gente que perdeu os bailes da turma de administração, porque tinha prova na semana seguinte, gente que deixou passar momentos e pessoas que não as entenderam pra quê tanta dedicação? Pra quê estudar para ensinar, se ele estudasse para acumular com certeza teria muito mais dinheiro? Essas pessoas conseguiram estudar e irem para as salas de aulas, aonde ensinaram, se dedicaram para que todos (ou a maioria) aprendesse, instruiu , orientou, em alguns casos e lugares até se tornou amigo. Essas pessoas formaram os médicos, os policiais, o governador, ele os fez o que são hoje, porém todos, assim como aquele moleque que senta ao

fundo da sala e não da à mínima para o professor ou para o que ele esta ensinando, todos eles os esqueceram... e agora são vistos de forma pejorativa, de forma ofensiva por pessoas que eles mesmo instruíram e criaram, são alvos de ataques físicos, psicológicos e sociais tão ferozes que às vezes parece que esses ataques vêem daqueles moleques que sentavam no fundo da sala e não davam a mínima para ele. No Japão, o professor (junto com o lutador de Sumo) são os únicos que não precisam se curvar perante o imperador, o mesmo Japão que após a devastação das bombas atômicas que os USA jogaram em seu território, deu ênfase à educação para as novas gerações, visando o futuro e não a temporalidade da desgraça pós fim guerra mundial, aqui a gente da paulada, cacetada, joga bomba de gás lacrimogêneo, da tiro de borracha e agride-os, apenas porque exigem mais respeito, salas de aulas menos cheias, um salário que possa combater a inflação. Estamos na pátria educadora, onde o corte do governo na área de educação chegou a 9 bilhões, atingindo em cheio programas educacionais e na área de pesquisas, deixando claro que a educação esta nos últimos planos do governo, quando analisarmos o repasse do governo para “salvar” os bancos, cortando investimento também nas áreas da saúde e moradia. Se a redução dos gastos fosse realmente pensando

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na população, proteger os mais necessitados poderia ter tomado outros caminhos, como por exemplo, não aumentando a taxa Selic, taxa essa que remunera os títulos da dívida pública, assim beneficiando somente os banqueiros e rentistas nacionais e internacionais (as velhas elites). Outro ponto importante nessa questão do relaxo ou descaso, ou mesmo sabotagem intelectual que o Estado vem promovendo contra a educação brasileira, é que junto ao corte, vem os repasses de verba pública para instituições privadas de ensino superior, usando o PROUNI e o FIES, escoa o dinheiro do trabalhador para monopólios de educação privada, através de gigantes empresas como a Kroton, que de tão bem sucedidas, em plena crise educacional, possui a 17ª. Posição na Bovespa, recebendo cerca de 2 bilhões de reais os cofres públicos (isso fora a isenção de 4 bilhões para essas instituições provadas em 2013). Com a somatória de todo esse dinheiro saindo do público, indo para o privado, poderia ser criados o dobro de vagas nas universidades federais, podendo aumentar o número de vagas nas federais e número de escolas, melhorias nas já existentes e investimentos nos professores, não somente na questão salarial, fato esse que é vergonhoso, tendo em vista que a categoria já perdeu considerável, tendo em vista o não reajuste do mísero salário, e a inflação que coroe

seus salários, mas também na melhoria do currículo e intelectualidade desses professores. Mas não... ao invés disso recebem repressão, agressões e a passionalidade da maioria da população que acha que o culpado pela falácia que é nossa educação, são eles, os que mais sofrem com salas lotadas, alunos desmotivados, pouco salário, carga horária desumana, engessamento da liberdade intelectual entre outras coisas. Então seguem adiante o plano de opressão intelectual para a população mais pobre, fechando as escolas, remanejando alunos e fazendo uma verdadeira bagunça com a reorganização das escolas, além de quase uma centena de escolas fechadas só no estado de São Paulo, prejudicando diretamente quem não pode pagar por uma escola particular, afastando cada vez mais os pobres das vagas nas universidades publicas, que sempre abrigou os filhos da burguesia, que sempre tiveram melhores escolas no ensino fundamental e médio, que sempre tiveram cursinhos para os prepararem para tirarem as vagas daquele que estudou nesse sistema educacional decadente, que se revezava em trabalhar o dia inteiro, correr para a escola na periferia, onde professores desmotivados se misturam com uma realidade social distinta que vai mantendo a classe dominante no topo da cadeia social e deixando claro quem são os donos do jogo. pandadrums@hotmail.com


the redsinestesia

Higiêne e saúde vocal

Por: Carol Bannwart

U

m tema, sem dúvida, essencial na vida de todo profissional que usa a voz como instrumento de trabalho, obviamente também abrange áreas fora do ramo musical, mas aqui falamos apenas desse. O conhecimento sobre saúde vocal, tomando como o foco dessa matéria, a higiene, pode te livrar de vários problemas que enfrentaria se não souber sobre o assunto. “Isso é frescura!” Dizem uns bons revoltados que nadam de braçada na ignorância. “Existem excelentes vocalistas que fumam, bebem, cheiram cocaína e etc”, se ele é jovem, é um bom entretenimento sádico assistir o declínio que está por vir, se ele é uma lenda do Rock’n Roll, acompanhe esse raciocínio: ele é uma lenda do Rock’n Roll, o vocal perfeito, com nuances perfeitas é o de menos! Se ele aparecer no palco em silêncio, já é o suficiente para o público delirar, ele já conquistou todos e fez seu nome, uma coisa que hoje, convenhamos, está cada vez mais difícil! A concorrência é desleal pela enorme quantidade de recursos utilizados para o “concerto” de vozes rasas e sem expressão. Oremos para que, num futuro próximo, o público fique entediado com lançamento de uma Selena Gomez por ano. Voltando o foco para a higiene vocal, é importante que se tenha em mente que é um raciocínio simples, siga as dicas: Laticínios (derivados do leite), no geral, têm muita gordura e aumentam a produção de pigarro. Comer chocolate e cantar por 2 horas é uma péssima ideia! O incômodo é como um cisco de areia no olho, fica o tempo todo incomodando, te lembrando que está lá. Álcool anestesia o corpo

no geral, logo, anestesia as pregas vocais, fazendo com que exista um exagero, coisa que resulta num desgaste vocal muito ruim. Outro problema existente, é que quando o ser humano se encontra alcoolizado, o mundo se torna mais poético, mais bonito, tudo fica tão legal que, às vezes, o indivíduo não consegue distinguir que está ruim. Mas o público percebe, a não ser que esteja bêbado também. Açúcar também aumenta a produção de pigarro, por ocasionar osmose celular, o organismo sente que precisa de mais lubrificação na área das pregas vocais, ou seja, quase o mesmo problema dos laticínios, pigarro na certa. Refrigerantes têm tudo para dar errado. Tem muito açúcar, normalmente estão gelados e possuem o pai do arroto e inchaço abdominal, o gás carbônico. E nada pior do que estar cantando e sentir vontade de arrotar. Cigarros são prejudiciais para a saúde e já não é novidade para ninguém, aumentam o pigarro e diminuem a capacidade pulmonar, sem contar o estrago estético e odoro. Frutas Cítricas/Alimentos Ácidos aumentam muito a produção e muco, se seu trato vocal estiver sem, podem ocorrer lesões nas pregas vocais. Além de também causar refluxo. Outro problema comum é a rouquidão e desgaste vocal em momentos inoportunos, aproveito aqui para deixar uma receita que desenvolvi de xarope para melhora vocal, muito eficaz e deve ser tomado nas horas de descanso, e deixo para seu conhecimento para que se sinta seguro, que sou formada em Gastronomia: Xarope Bannwart 1 colher de sopa de Mel, 1 colher de café de Própolis, 1/2 xícara de Água, 2 Cravos-da-Índia, 1 colher de chá de Gengibre ralado Modo de Preparo: Ferva a água junto com o gengibre e o cravo, passe pela peneira e despeje o líquido na xícara, adicione o mel e o própolis. Mexa de forma que o mel dilua bem na água, tome em tempe-

ratura ambiente e goles pequenos sem pressa. Pode demorar duas horas ou um dia inteiro para ingerir uma xícara se quiser, mas de qualquer maneira, tome aos poucos. Gostaria de deixar também a sua disposição, meu caro leitor, algumas dicas para uma melhor higiene e saúde vocal antes das apresentações: Maçã é uma grande aliada pois é adstringente, ajuda a limpar o organismo, se comeu chocolate antes de se apresentar, a maçã te ajudará a limpar esse pigarro. Existem pessoas que não gostam dessa fruta, pessoalmente não sou uma fã, mas como com a intenção de remédio. Soro Fisiológico é a salvação da garganta seca! É algo barato, fácil de encontrar e muito, mas muito eficaz! Principalmente em lugares que soltam aquela fumaça no palco, que é o terror de quem canta! O segredo deixar o soro escorrer por toda a laringe, e depois tomar água. Isso faz com que o organismo absorva a água e mantenha seu trato vocal hidratado. E também é um ótimo companheiro em momentos de gripe ou resfriados. Dê um tempo entre o uso de creme dental e a apresentação, o creme dental diminui a hidratação na boca, aumenta a probabilidade da sensação de “boca seca” no palco. Tome água, mas sem grandes excessos, tome o suficiente para se manter hidratado. Uma grande ingestão de água antes de uma apresentação pode resultar em alguns problemas,

como um certo desconforto abdominal e um certo refluxo. Chá verde em temperatura ambiente, no máximo a ingestão de uma xícara. Jamais colocar açúcar (nenhum tipo) e o chá verde deve ser feito a partir das folhas compradas quase inteiras e nunca de saquinho! Tenho uma boa e fácil receita que tomo uns 10 minutos antes das apresentações/; Chá Verde com casca de maçã: 1 xícara de água, 1 colher de chá de folhas de Chá Verde, cascas de uma maçã média. Modo de Preparo: Aqueça a água, mas não a deixe ferver, desligue o fogo quando ver bolinhas no fundo da panela. Coloque as folhas de Chá Verde na água, junto com as cascas de maçã, tampe por 10 minutos, passe por uma peneira, espere o líquido ficar na temperatura ambiente (lembrando que moramos num país tropical e não na Europa), tome goles pequenos e sem pressa, até a xícara acabar. *Se tiver chaleira com coador, todo processo é mais simples. De modo geral, o segredo é respeitar seus próprios limites, ser maduro com sua profissão e organismo. Sabemos que no mundo do Heavy Metal e Rock’n Roll é comum o consumo de bebidas alcoólicas, então sendo realista e honesta, uma última dica: se for beber, opte pelas bebidas sem gás e bom show! * Cantora e professora de canto. E-mail: carol.bannwart@ hotmail.com

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UNDERGROUND´S VOICE

Por: Christophe Correia Vivemos em constante mudança e todos os dias aparecem invenções que muda a vida de todos, sem exepção. Foi assim, com a lampâda e com dezenas de outros exemplos. A internet, o Youtube, as redes sociais apareceram e tudo mudou, não só apareceram como estão em constante evolução, por vezes num ritmo assustador. Bandas e artistas encontraram uma forma de chegar ao mundo inteiro em segundos com apenas um click. O que mais mudou? Como mudou? Existem mais factores favoráveis ou desfavoráveis? A Diana Morais grava e edita todas as entrevistas ao vivo da Underground’s Voice, a Rita Limede colabora em vários projectos Portugueses (Metal Imperium; Ultraje; The Black Planet zine) e realiza um excelente trabalho, do qual sou grande fã e o Marco António Pires (Rock N Heavy) são os convidados que vão responder a essas questão. O meu enorme obrigado desde já aos 3!! O testemunho da Diana: “Geração Youtube. Todos os utilizadores da Internet se integram nela. Nos tempos atuais, onde tudo chega a todo o lado com um simples clique, internautas de todo o mundo partilham os seus vídeos de momentos importantes ou sem sentido, de mensagens sérias ou míseras piadas, de memórias que irão querer rever ou de momentos para esquecer… tudo é possível, conforme a imaginação de cada um. Da mesma forma que a vida pessoal é facilmente partilhada, muitos amadores e profissionais aproveitam este meio para divulgar o seu trabalho e procurar algum reconhecimento. E sabemos nós que algumas carreiras começaram precisamente pelo empenho nas atualizações do próprio canal do Youtube. Focando-nos particularmente na indústria musical, vemos cada vez mais artistas a atingir o estrelato com menos dificuldade devido à facilidade com que se propaga o fruto

dos respetivos trabalhos. À medida que se consome cada vez mais informação, também se intensificam as procuras. Permitam-me recordar dos velhos tempos, em que o mundo parava quando eu comprava um LP, uma cassete ou um CD, e ligava a aparelhagem de propósito só para poder passar uma tarde de fim de semana a apreciar o som. Nada se equiparava à sensação de estar numa loja de música e ter de escolher muito bem o que preferia levar, porque não tinha dinheiro para comprar tudo… a sensação de valorizar devidamente os artistas e o respetivo trabalho… coisa que, atualmente, não me parece que seja tão assim. O estrelato era um local muito restrito, onde só os melhores dos melhores vingavam. Hoje em dia, com a chegada destes meios de divulgação online, mesmo os que não têm tanto talento encontram a sua oportunidade de brilhar. Consequentemente aumentou-se a competição entre todos, mas, em contrapartida, deixou de haver a necessidade de pagar pelo produto final… e acabamos por nos esquecer que os grandes artistas que conhecemos vivem dos rendimentos da sua música, e que os amadores ambicionam essa mesma possibilidade. Sem nos esquecermos também dos produtores, compositores e editoras associados. Nós, enquanto utilizadores, agradecemos profundamente a existência do Youtube e outros meios para aceder gratuitamente a toda a música que mais gostamos… até porque mais facilmente vamos conhecendo outros trabalhos. Mas como trabalhadores, a possibilidade de perder os rendimentos é assustadora… e revoltante! Esta nova geração vive sobre uma controvérsia difícil de resolver… mas, entretanto, vamos aproveitando uma era de facilitismos, onde mais importa a quantidade do que a qualidade, onde o número de visualizações determina o sucesso de cada um, e na qual vamos alargando cada vez mais os nossos horizontes de uma forma não tão ética quanto seria desejável.” A Rita deixa também a sua visão, um pouco diferente da anterior “Desde que me lembro, que a música teve um papel importante na minha vida. Desde a infância em que sentava sossegada a ouvir os velhos vinis do meu pai, de bandas como Super Tramp, The Doors ou Pink Floyd, ou às bandas sonoras dos filmes da Disney. Com o avançar do tempo, fui procurando sempre sonoridades mais pesadas e diferentes, e no ínicio

da minha adolescência, durante a febre toda do nu-metal, descobri bandas como Linkin Park, System Of A Down e Korn. Com os canais de música, visto que na minha área de residência, em especial entre pessoas da minha idade, o metal não era um estilo muito popular, fui entrando em contacto com algumas das bandas mais clássicas. O antigo Sol música, canal agora extinto, foi uma grande referência no que toca à descoberta de muitas bandas, tanto nacionais como estrangeiras (nem todas dentro do metal). Outra referência, foi o programa Headbangers Ball, naqueles tempos idos em que a MTV passava de facto música. Muitas bandas, algumas que ainda são referência para mim, como Iron Maiden ou Megadeth... entre outras clássicas, ou mais contemporâneas, que na altura foram marcas importantes no desenvolvimento do meu gosto musical. A curiosidade para conhecer mais coisas, foi aumentando, e na altura, há cerca de 10 anos a internet estava a dar os seus primeiros passos como meio divulgação massificada de música e de eventos. Em tempos idos, o fórum do Metal Underground, ou até mesmo o da revista Blitz, eram passagens obrigatórias para todos os amantes da música extrema em Portugal. Protegidos por utilizadores, as discussões eram intermináveis, e as novelas recorrentes, mas o conhecimento que se adquiria era fantástico. Foi assim que fiz os meus primeiros contactos no meio, tanto de bandas mais extremas e diferentes ao que estava habituada, como de pessoas, cujas amizades ainda se mantém até aos dias de hoje. A internet veio facilitar o acesso à informação e a bandas novas. Para quem estava longe do meio e não conhecia praticamente ninguém na altura, este meio foi a minha mais valia. Com o surgir do youtube e os downloads (um assunto que poderá ser discutido mais tarde dado a sua polémica) a serem mais massificados, tornou-se fácil aceder a novas bandas e sonoridades. Certas plataformas, como o Lastfm, através das recomendações, tornaram-se numa ferramenta bastante útil. Em suma, desde sempre que me senti atraída para sonoridades diferentes, originais e pesadas, como as que encontramos no variado mundo do metal e das suas inúmeras vertentes e sub-géneros, mas sendo este um estilo ainda muito longe do mainstream, o acesso a novas bandas inicialmente era uma dificuldade. Graças aos fóruns, e mais tarde as redes sociais, fui capaz de conhecer pessoas

que me guiaram pelos caminhos do underground. Tive acesso e conhecimentos de eventos, quer tenham sido eles com grandes bandas no Pav. Atlântico (agora Meo Arena) ou num pequeno bar a cair de podre no meio do nada, alimentados com a paixão de quem tem a música nas veias e amor à causa. Graças a isso, fui moldando os meus gostos, e cheguei onde estou hoje. A minha vida é mais rica assim, obrigado!” Por fim, mas não menos importante o Marco recuou alguns anos para mostrar como foi a sua entrada neste mundo dizendo que “foi basicamente como se fazia antes da internet, andava na escola, conheci colega que já ouvia metal, ganhei curiosidade, toma lá uns cds para ouvir. Iron Maiden, Dream Theater, Blind Guardian e Judas Priest foram as bandas que me puseram a ouvir metal, decorria o ano de 2004, em 2005 lá estava eu a presenciar o meu primeiro concerto e comecei em grande com os Iron Maiden. Depois disso começou o bichinho da descoberta, do ouvir o que se fazia, antes de ter acesso á internet agarrei-me às revistas e comprei alguns álbums que eram mais falados e que achava a bom preço claro, com a possibilidade financeira de ter internet muito mudou, por volta de 2008 no youtube descobri muitas bandas ao calhas, lembro de me deparar com os Ne Obliviscaris, Persefone e Between the Buried and Me, bandas que atualmente são das minhas favoritas, tenho merch de todas e só me falta ver a última ao vivo. Através de alguns fórums que já não frequento consegui descobrir a muito rica cena nacional, Desire, Process of Guilt, Grog, Switchtense, Thormenthor, entre outras, já perdi a conta das que conheço, vi e tenho merch, mas estas foram as que me marcaram mais. Com o rápido crescimento dos downloads ilegais as possibilidades ficaram infinitas, graças a isso consigo ouvir o que se faz nos quatro cantos do mundo e já apanhei com algumas surpresas agradáveis. Muito se critica a internet, mas é um abrir de portas para muitas bandas e músicos.” Concluíndo, a net deixou o mundo nas mãos dos artistas, e sabendo-a aproveitar têm uma enorme ferramenta para se mostrarem e crescerem muito mais facilmente do que acontecia antes da Internet surgir. Mas no final das contas, o que continua realmente a valor... é a qualidade de banda e da sua música! Até à próxima edição irmãos!

Underground’s Voice: www.facebook.com/UndergroundsVoice - E-mail: undergroundsvoice@gmail.com 6 - COLLAPSE UNDERGROUND ART



Entrevista

...tentamos fazer com que nossa música soe sempre a mais pesada, melancólica e sincera possível. 8 - COLLAPSE UNDERGROUND ART


Por: Julie Sousa interior de Minas Gerais reserva uma das bandas mais pesadas, melancólicas e intensas que pudemos conhecer. Estamos falando da Contempty, quarteto que faz um Doom/ Death Metal de altíssimo nível, de maneira totalmente independente. Convidamos vocês a acompanharem esta conversa que tivemos com o baterista, Joe, um dos fundadores da banda.

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Muito obrigada pela disponibilidade em conceder esta entrevista. Gostaria que você comentasse um pouco sobre como se deu o início da Contempty. Joe: Bem, a Contempy começou basicamente comigo e o Anderson. Nós sempre tocamos juntos desde muito jovens então após o término da nossa última banda começamos a ensaiar apenas nós dois, mesmo “descompromissados”. Porém melodias interessantes começaram a surgir da “brincadeira” e foi então que convidamos o Cleyton e o Tony... Logo após veio o Gil (ex-vocalista) para completar o line up. De que modo a banda vê o atual cenário Doom Metal nacional? Seria exagero dizer que o Brasil tem um histórico positivo de bandas e públicos do estilo? Joe: O que dá para perceber atualmente é que a quantidade de bandas voltadas ao estilo está aumentando, e os admiradores do gênero Doom Metal são e sempre foram muito fiéis, portanto pode-se dizer que o histórico de bandas e público é “positivo”, porém há sempre o que melhorar em toda cena underground do país. A Contempty lançou recentemente seu mais novo material “Trauma”. Ficou excelente, vale ressaltar. Como vem sendo a receptividade do disco e quais os planos da banda para os próximos meses? Joe: Muito obrigado pelo elogio!Esse trabalho está repercutindo muito bem, a receptividade do público tem sido surpreendente e gratificante algo que nos deixa orgulhosos, agora é trabalhar bastante na divulgação e distribuição do “Trauma” em todos os lugares possíveis e também apresentações ao vivo. O clip oficial, recentemente lançado, tem uma atmosfera bastante pesada. Qual o sentimento que a banda se propôs a transmitir com mais esse trabalho? Joe: Aquela canção “Woe is me” descreve uma situação muito “desgraçada” relacionada com as perdas impostas a nós pelo simples fato de estarmos aqui. Na canção é como se todas as pessoas que o “eu poético” ama tivessem partido e apenas “ele” tenha sobrado para conviver com tal dor... Isso explica as cenas fortes contidas no vídeo.

isso ajuda muito e é claro nós tentamos fazer com que nossa música soe sempre a mais pesada, melancólica e sincera possível. Sobre o Ovelha Negra, festival organizado por vocês mesmos em Rio Pomba, quais as considerações que você pode fazer a respeito? Supriu suas expectativas? Joe: O “Ovelha Negra” está crescendo a cada edição tanto em relação ao público quanto as bandas, e esse é o espírito! Cada edição procuramos melhorar um pouco mais. O último foi excelente e o próximo será ainda melhor! O Doom Metal não é um gênero que causa indiferença as ouvintes. E nem sempre costuma agradar à primeira vista. Ou amam, ou detestam. No seu caso, o que mais te atrai no Doom Metal? Joe: Acho que os sentimentos expressos no Doom Metal me soam muito familiares. Acho que toda aquela tristeza, peso e a forma como as músicas se arrastam de forma agonizante, isso tudo é muito eu (risos). Também as letras descrevem muitas situações as quais já passei ou ainda passarei ou até mesmo a forma como eu encaro a vida. Resumindo, Doom Metal é minha vida, acho que posso definir assim. Temas de Doom Metal costumam ser bem intensos. Qual o processo de composição da Contempty e o que os inspira nas criações? Joe: As melodias surgem primeiro. Geralmente através do Anderson ou do Tony (Cleyton e eu ajudamos no que podemos) e então vamos lapidando até que chegar ao ponto que queremos, assim que terminada a canção nós gravamos um esboço, só então partimos para letra e os vocais. A inspiração tanto para melodia quanto letra, acho que vem de tudo que vivemos, a forma como sentimos e encaramos tudo nesse mundo de absurdos. Me despeço por aqui agradecendo mais uma vez pela entrevista e queria dizer que pessoalmente sou uma grande admiradora da banda. Abaixo, deixamos este espaço para você falar o que quiser, deixar os contatos da banda, enfim, o espaço é seu! Até logo, nos vemos por aí! Joe: Nós agradecemos a oportunidade e nos sentimos honrados com sua admiração pelo nosso trabalho, em breve nos encontraremos novamente! Um abraço Julie Sousa! Para galera que curte nosso som, estamos sempre postando novidades na nossa página no Facebook e Bandcamp. A gente se encontra por aí!

Qual a formação musical dos integrantes da banda, e quais as principais influências de cada um dos membros? Joe: O Tony e Cleyton já tocavam junto em outra banda com proposta diferente, porém nós somos amigos de longa data e sempre escutávamos “música de cemitério” juntos (risos), então todos são familiarizados com o estilo, em relação as influências, acho que posso citar grandes nomes do gênero como My Dying Bride, Paradise Lost , Anathema, Katatonia, Disssolving of Prodigy, The Elysian Fields, entre muitas outras grandes bandas. A banda vem de uma cidade interiorana, bem agradável inclusive, que tive a oportunidade de conhecer. Como é possível que em tais circunstâncias, com poucos habitantes e uma cena considerada pequena, tenha surgido a Contempty e seu som intensamente peculiar? Explique esse fenômeno (risos)! Joe: Fenômeno (risos)! Muito obrigado novamente. Acho que o fato sermos admiradores do estilo desde muito novos ajudou bastante e também pelo fato de tudo aqui ser perto ajuda muito, nós estamos em contato sempre seja ensaiando ou no bar “tomando umas”, acaba se tornando uma família, acho que tudo

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Entrevista

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Por JP Carvalho Left Hand foi formada em 2008, passou pelas irritantes mudanças de formação, mas não arredou o pe de seus objetivos e seguiu em frente, reformulado e ainda mais focados em seus objetivos. Conversamos com a banda e o resultado deste bate-papo você confere a seguir.

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mos e deu certo. Bem mais rápido e pratico (risos).

Para começar fale-nos sobre o começo da Left Hand. Gill Chicano: Nós começamos a banda em 2008, com o objetivo de tocar o tipo de música que nós curtimos escutar, desde o começo focando em composições próprias. Nós tocamos muito no interior e capital do Rio de Janeiro neste primeiro ano, que foi crucial para nos firmar como banda.

Eu soube que existem planos para uma turnê internacional, o que vocês podem nos adiantar sobre isso? Rafael: Soube? Existem? (risos). Existe o sonho, talvez consigamos realizar, mas isso bem mais pra frente, após um full-length, quem sabe? Devemos tomar cuidado para não darmos passos maiores que nossas pernas (risos).

De 2008 para cá, a banda passou por mudanças, tanto de formação como de um profundo amadurecimento musical, quais diferenças você apontaria do inicio até os dias de hoje? Hugo Castor: A principal diferença, para mim, é a liberdade na hora de compor. Hoje temos a nossa “cara” muito mais definida, sabemos o que queremos fazer e não nos sentimos presos a nenhuma barreira de estilo musical, apesar de nossa base ser o Thrash Metal.

Claro que após “Scientifical Plague”, estamos todos aguardando um novo álbum de inéditas do Left Hand, como andam os trabalhos em relação a isso? Rafael: Estamos fazendo umas experiências em estúdio, devemos lançar algo novo nos próximos meses, mas não é um full ainda, somos uma banda independente e é muito difícil arrecadar verba pra fazer um disco. Mas temos o material, quem estiver lendo e quiser investir pode ficar a vontade (risos).

A sonoridade da banda é calcada no Thrash Metal, mas podemos perceber em sua música outras variações e influências, como vocês administram isso na hora de compor? Rafael Souza: Sim! Acho que somos muito ecléticos até, certa-

Em relação aos shows como anda a agenda da banda? Rafael: O ano de 2015 está muito devagar, tocamos bem pouco comparado a 2014 e 2013. Por enquanto não há nenhuma data marcada para os próximos poucos dias que restam para 2015.

Planos para o futuro? Hugo: Deixar a nossa marca. Acreditamos muito no que fazemos e queremos fazer este full da forma mais coesa e profissional

...não ficamos “medindo” o que colocar ou não nas musicas.

mente o produto final se deve à variação e a mistura muito louca do que cada um de nós escuta e nos influencia. Na verdade não ficamos “medindo” o que colocar ou não nas musicas. O EP “Scientifical Plague” (2013) foi gravado no Estúdio Mr. Som, e obteve ótimos resultados tanto da mídia especializada quanto dos fãs, que frutos vocês colheram com este trabalho e como foi perceber essa aceitação imediata a banda? Rafael: O “Scientifical” foi um divisor de águas pra Left Hand, quando tivemos o feedback ficamos surpresos, mas posso dizer que aprendemos que vale a pena focar totalmente no trabalho, tanto na produção quanto divulgação e desempenho ao vivo. Além disso, a Left Hand, gravou clipes para as músicas “Scientifical Plague”, “Last Bitter Tear” e “Fire of Straw”, como complemento do material de divulgação do EP. Como foi esses clipes foram recebidos pelos fãs? Rafael: A galera curte muito! Inclusive fizemos o “Last Bitter Tear” com o maior galerão que se disponibilizou a participar, e que por sinal foram fantásticos, nunca os agradeceremos o suficiente! Acho que devemos valorizar o áudio visual, hoje em dia é o jeito mais fácil de chamar atenção e despertar interesse.

possível. É a nossa arte e queremos ser justos com ela. Queremos que a cada dia, conquistemos novos fãs e que cada vez mais as pessoas se sintam tocadas pela nossa música e pela nossa mensagem de atitude, persistência e pró-atividade em relação à vida. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é de vocês para suas considerações e para deixarem uma mensagem aos nossos leitores. Rafael: Obrigado a todos os leitores! Obrigado a Collapse pela oportunidade! Obrigado a todos os chupacabras que curtem nosso som! Embora eu não entenda como, nem o porquê (risos). Quem quiser saber mais pode acessar nosso “mundo virtual” em: www.lefthand.com.br. Tem merchan também, é só nos chamar diretamente nas redes sociais ou por e-mail: lefthand@lefthand. com.br. E quem quiser nos chamar pra tocar também é só gritar ou enviar um e-mail para: contato@lefthand.com.br Muito obrigado a todos!

A banda é bem atuante e sempre podemos ver notícias sobre suas atividades nas mídias sociais, qual a importância desta ferramenta para a divulgação do trabalho de vocês? Gill: Acredito que as mídias sociais são o presente e o futuro da música, especialmente se for independente, então damos muito valor à divulgação por estes meios, bem como aos relacionamentos que criamos desta forma. Recentemente houveram mudanças de formação no line-up da banda, e vocês decidiram seguir como um quarteto, fale-nos sobre o porque desta decisão. Rafael: Mudança de formação é um processo chato que enrola a coisa toda, sem falar que é muito difícil achar alguém que queira fazer e tenha disponibilidade e compatibilidade. Quando o Emerson saiu nos perguntamos “Por que não deixar assim mesmo?” TestaCOLLAPSE UNDERGROUND ART - 11


Entrevista

Por: JP Carvalho A banda de Heavy Metal Crom foi formada em 1992 pelo guitarrista Altemar Lima e pelo então vocalista Cezar Heavy, que logo assumiu também o posto de baixista, cargo que comanda até hoje. Cezar começou sua carreira na música cedo, aos dezesseis anos e já passou por bandas de Heavy, Rock e mesmo Grind com a banda Sanitário. Multi-instumentista, Cezar tem, além da CROM, uma carreira sólida com a banda de Hard/Stoner/Blues Tublues. A Crom teve um começo meteórico e no mesmo ano de sua criação, lançou seu primeiro registro, a Demo ‘The Hate Of World’, trabalho que rendeu elogios e status ao grupo, além de várias apresentações memoráveis. Mesmo com este resultado positivo a banda não resisitiu e em 1997 encerrou suas atividades. Atividades que ficaram paradas por quase vinte anos, até sua reativação em 2014 com uma nova - e sólida - formação contando com músicos que já passaram pela banda e novos talentos. A dupla de guitarras é formada pelo membro fundador Altemar Lima e Pedro Luiz Marcondes. Altemar é músico profissional e já tocou em diversas bandas em todo o território nacional nos mais variados estilos musicais. Pedro Luiz, que também 12 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

teve uma passagem pela CROM nos idos dos anos 90, desenvolveu o gosto pela música desde criança através do pai formado em Violão Clássico, que deixou grande influência. As baquetas são comandadas por Claudivam Silva, baterista nato, que desde 1991 professa seu amor pelo instrumento. Também teve seu nome registrado na primeira encarnação da Crom nos anos 90 e já tocou em bandas como Madre Nua, The Clavion, Viudecavêz, além de dividir seu trabalho como baterista a atividade de violão, voz, percussão e trabalhos free-lances. Completando o lineup, a Crom conta com os talentosos vocais de Robson Luiz, que por influência do irmão Cezar começou a cantar logo cedo. Já emprestou sua voz para bandas de Rock, Metal e Blues, tendo sempre destaque cantando covers do Manowar. A demo ‘We Are Steel’, lançada no início de 2015, é o primeiro fruto da volta do grupo. Conversamos com a banda e o resultado deste bate-papo você confere a seguir. A Crom foi formado em 1992, encerrou atividades em 1997 e retornou em 2014, o que motivou esse retorno? Altemar: o que motivou o retorno da banda? Em primeiro



lugar o amor pelo Heavy Metal pois isso é algo que todos na banda tem em comum nós realmente gostamos muito do estilo que tocamos não fazemos isso por uma questão de moda ou só por aparecer, o Heavy Metal corre nas veias da Crom, em segundo lugar pela amizade, pois a Crom é uma banda formada por amigos de infância nós crescemos juntos, aprendemos a tocar juntos, frequentávamos shows juntos então a banda foi uma coisa natural, simplesmente chegamos um dia e falamos um pra o outro precisamos montar uma banda e por isso estamos aí até hoje. Acho que se não existisse essa amizade, esse companheirismo com certeza a banda não teria voltado pois não é fácil fazer Metal no Brasil. Até tentamos outras formações, outros músicos, mas não tem jeito aqui a amizade fala mais alto. Cezar Heavy: Disse tudo Altemar. Estamos fodidos (risos). Só nós nos suportamos. É muita bizarrice junta. Além do fato de um olhou para o outro e já sabe o que fazer (risos). São gestos, caretas, já sabe se é improviso, se fodeu tudo, se deu branco, se errou (risos). Além da amizade a Crom transparece muita afinidade musical. Seria correto afirmar que vocês serem uma banda de Heavy Metal tradicional é condicionada ao gosto em comum de todos? Pedro: Sim, temos o mesmo gosto musical, esta é a essência da Crom! Cezar Heavy: Totalmente comum? Humm, nem tanto. E curto também som tosqueira, Grind, HC, Punk e nem todos gostam (risos). Mas no Metal tradicional, Speed, Power, Thrash e tal, temos 98% o gosto em comum, sim. Claudivam: Sim, apesar de termos não só o gosto pelo Heavy Metal, claro, cada um com suas particularidades, percepções e sensibilidades para com a música, o Heavy Metal na sua alma mais puro e pesado acaba por nos proporcionar maior liberdade não só de composições na estrutura melódica, mas também para compor letras que abre um leque de possibilidades, trazendo em si dentro desta fusão entre letra e melodia as intenções de ideias e ideais que faz uma analogia entre um passado, que se faz presente, desta luta que travamos o tempo todo não mais com a espada, mas este é o símbolo, de que não devemos baixar guarda, pois o intelecto, pode ser uma espada de dois gumes para o bem

e para o mal, façam suas escolha! Apesar do pouco tempo do retorno a banda já lançou dois EP, We Are Steel Pts I e II, como se deu a concepção deste trabalho? Robson: De um grande e um bom trabalho de todos e muita dedicação ao Metal. Pedro: As composições já existiam, colocamos uma nova roupagem, com a experiência e técnica de cada integrante podemos notar uma sutil diferença na sonoridade. Claudivam: A primórdio pela força de vontade de colocar em prática este projeto até então engavetado, mas que sempre foi almejado e acreditado um retorno principalmente pelo Cezar e o Altemar apesar da distância a qual cada integrante se dispõe neste momento, o acreditar e a amizade são os fatores principais! A banda aposta no Heavy Metal clássico, onde podemos encontrar diversas referências de grandes nomes do estilo, aplicando aquela forma orgânica e natural em suas músicas. Dito isso, falem-nos como se dá o processo de composição da Crom. Robson: Cada um traz uma ideia vai juntando tudo e lapidando até sair a música. Pedro: Cada um surge com uma nova ideia, colocamos em


prática e a coisa flui naturalmente. Cezar: Gravamos o que vem na cabeça e depois juntamos as ideias. E o couro come. Claudivam: A um consenso primeiramente entre as partes de um gosto muito próximo onde não se tem uma fórmula creio que as vezes são feitas algumas letras e após as harmonias e também o contrário, harmonias que são letradas onde principalmente as harmonias são compostas por praticamente todos, e através desta belíssima ferramenta chamada internet conseguimos encurtar as distâncias e juntar as ideias. Cezar, inicialmente você era o vocalista da banda, com o tempo assumiu o baixo e hoje se concentra apenas neste instrumento, deixando os vocais para Robson Luiz, porque você decidiu não cantar mais na Crom? Cezar: Na verdade, faz tempo que quero ficar só como instrumentista. Só com a Tublues são 17 anos cantando e tocando, fora outros projetos. No retorno da CROM, no ano passado, voltamos na primeira formação comigo para fazer o vocal, mas, o Flavio Japa, baixista, (risos) sai da banda de novo e, da mesma forma como na primeira vez. Tive que ir para o baixo. Foi então que escalei meu irmão Robson. Sabia todas músicas da banda; foi criado no meio e viu tudo acontecer. E não mudou quase nada na questão de timbres e a pegada original das músicas. Em minha forma de ver, o Heavy Metal clássico consegue atingir os fãs de outros subgêneros do estilo, como tem sido a aceitação da Crom e das duas partes de We Are Steel? Pedro: Nossa experiência ao meu ver, está sendo muito positiva, muitos estão curtindo o nosso som, gostamos muito do que fazemos, acho que isto acaba contagiando nosso público em todos os sentidos. Robson: Ótima, a galera tem curtido muito, estão pirando. E quem não pira em um bom e velho Heavy Metal? Cezar: A minha visão é absurdada. Não imaginava o quanto a demo de 93 era conhecida aqui e lá fora, e o que isso nos proporcionou com o lançamento da We are Steel I e II. Fico e ficamos de bobeira o quanto o pessoal recebeu os últimos lançamentos com tesão, carinho e apoio. Não usamos nada além do MetaL puro e de coração. Deve ser por isso que estamos sendo agraciados com tantos elogios e tantos fãs.

Claudivam: Todo trabalho quando é feito com verdade e dedicação a aceitação é uma consequência, neste caso nosso trabalho tem tido muita e também boas críticas que para mim mesmo aquelas com nuances negativas servem aprendizado pois nessa vida nada é um consenso e verdade absoluta, aprender sempre e humildade é o meu lema. O que podemos espera da Crom no futuro? Robson: Mais som, e o puro Metal. Pedro: Eu acredito que a forma de tocarmos não irá mudar, novas composições estão surgindo, sempre com novas ideias, sair logo dos estúdios e mostrar nosso trabalho por aí a fora. Claudivam: Muita determinação, energia ferrada não só atmosférica principalmente interna e contaminar a todos com ela através de nossas músicas prazer para ambas as partes (risos)! Muito tesão em tocar, muito mesmo! Cezar: Se depender dos contratantes e da panelinha de bandas que existe, principalmente em SP, vamos ter que pagar para tocar (risos). Tem até banda “grande”, profissional, que toca de graça! Vamos esperar e ver o que acontece. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é de vocês para suas considerações e deixarem uma mensagem aos nossos leitores. Pedro: É com muito prazer que realizamos nosso trabalho, a amizade e o tesão pela música nos une cada vez mais, espero que esta energia contagie a todos e que continuem curtindo o nosso som, elogios e críticas são muito bem vindos, obrigado a todos que curtem a Crom! Claudivam: Quero agradecer a todos pelo carinho e por termos pessoas que acreditam no nosso som, nos músicos brasileiros e no Heavy Metal como um todo, Muito Obrigado, Por que We Are Still! Robson: Heavy Metal Forever! Cezar: Obrigado a vc JP, amigos de SP, Z/L Old School, aos poucos amigos de Lorena e região que apoiam (vocês sabem quem são) e Alexandre Freitas. Aos hipócritas e falsos, quero que todos morram. Não se vendam e não sejam pseudos-profissionais. Não foda a cena Underground querendo atropelar quem está no mesmo barco que vc. A inveja é o sentimento humano mais filha da puta de todos! Criar é para poucos e, ajudar, são só os raros!


HM Breakdown

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“Um bom ouvido e muito sentimento para transformar em música”. Por: Julie Sousa ivi Alves, cantora e multi-instrumentista carioca que passa por diversos estilos e vertentes do Metal e fora dele, fala um pouco sobre sua história na música e futuros planos para os próximos meses.

V

Vivi, agradeço demais sua disponibilidade para esta entrevista. Começo pedindo para você fazer um breve resumo, em suas próprias palavras, sobre sua trajetória na música. Vivi Alves: Minha família sempre foi muito musical, minha mãe cantava embora morresse de vergonha de cantar na nossa frente (risos) e meu pai tocava violão e percussão. Ambos tinham um ouvido exemplar para a música e isso foi herdado a mim e meus irmãos, com muita sorte. Aos 13 anos em uma aula de artes na escola onde fazia o ginásio, o professor puxou um violão e pediu que a turma cantasse uma música. No final dessa aula, foi oferecido a alguns alunos a oportunidade de ingressar em uma oficina de artes em um outro local, onde teríamos aulas de canto coral, teatro e dança. Eu fui uma das escolhidas e logo estava fazendo musicais com essa pequena companhia. Após um tempo fui obrigada a parar com as atividades por falta de acompanhante, naquela época ainda era menor de idade, então acabei ficando apenas com as aulas de dança, onde permaneci por alguns anos, até poder retomar as atividades de canto. E após esse retorno, nunca mais parei, virou vício (risos).

Não dá para negar que existe preconceito com determinados estilos, já vivi isso e no começo me incomodava bastante, porém percebi que a partir do momento que comecei a ignorar isso, eu mesma passei a ver meu trabalho com outros olhos. Não acho que a cena morreu como muitos dizem. A cada dia nasce uma nova banda. Depende muito de nós mesmos dar uma chance a essas pessoas que estão aí para dar continuidade a essa cena. É muito fácil criticar quando não se faz nada para contribuir. Sobre sua formação na música, o que mudou na Vivi Alves de hoje? Vivi: Posso dizer que mudaram algumas coisas sim, hoje eu sei o que estou fazendo rs, procuro sempre estudar e melhorar sempre, aprender nunca é demais. Não sou nenhuma Senhora Virtuose mas tenho um bom ouvido graças a meus pais e muito sentimento pra transformar em música. Essa foi a parte que não mudou. Mainstream ou Underground, tem algum artista ou banda que tem chamado a sua atenção ultimamente? Vivi: Eu constantemente ouço bandas que ninguém ou quase ninguém conhece, meu celular é farofa e todos riem

Em que momento da sua vida você decidiu que era isso que você queria fazer na vida? Vivi: Eu desde que comecei, aos 13, sempre quis seguir uma carreira musical, mas sabemos que sempre tem as pessoas que vão te desestimular e colocar areia nos seus sonhos, isso fez com que eu levasse mais como hobby. Somente após os 18 anos resolvi investir para viver da música. Hoje posso dizer que isso se concretizou pois abandonei minha outra profissão e me tornei além de musicista, professora de canto. Como você se prepara para buscar inspiração e compor? Vivi: Eu não tenho uma preparação para isso, normalmente as coisas acontecem quando menos se espera. Muitas vezes estou no meio da rua andando e me vem na cabeça um riff ou uma melodia. Rapidamente eu saco o telefone e gravo tudo depois com calma escrevo (risos). Seus ídolos no Heavy Metal ou fora dele são... Vivi: Ídolos no Heavy Metal são André Matos, Tarja Turunen e Morten Veland. Fora do metal ouço muitas coisas, especialmente coisas antigas como Elvis Presley, Michael Jackson e etc. Na sua opinião, há vertentes do Metal que sofrem algum tipo de discriminação, em detrimento de outras? Como você vê a cena Metal brasileira de modo geral? Vivi: Eu poderia dizer que sim, essa divisão ainda existe, mas apenas para quem se importa. Acho que o cara que faz questão de hostilizar determinado estilo não tem maturidade. COLLAPSE UNDERGROUND ART - 17


quando mostro minha set list (risos). Mas de aproximadamente um ano e meio para cá tenho ouvido muito uma banda alemã chamada Agathodaimon. A banda já é bem antiga até, de 1995 conheci por um acaso e curti demais. Passei a procurar ouvir seus álbuns e percebi que eles possuem algumas fases diferentes e diversas mudanças, mas me agradam totalmente. De todos os projetos e bandas que participou, qual experiência você leva de cada um deles? Vivi: Ao longo desse meu tempo na música, ja participei de muitos projetos e bandas. Em alguns aprendi tecnicamente, em outros aprendi lições para a vida. Em alguns fui bem sucedida, fiz amigos e etc. Em outros nem tanto. Mas todos esses projetos contribuíram de maneira direta para o que eu sou hoje, tanto na música como na minha vida pessoal. Sobre futuros trabalhos seus no Metal, o que nos espera e quando poderemos conferir novidades? Vivi: Bom, eu posso até sumir, algumas vezes mas eu nunca estou parada. No momento estou envolvida em alguns trabalhos, um deles é a minha primeira banda, a deCifra me, onde eu canto e também me arrisco no violino e também a Violation Cold, onde faço guitarra base. Daqui para o final do ano terei uma surpresa para todos, um novo projeto que promete.. Aguardem (risos). Este é aquele momento em que o espaço é livre para você fazer o que quiser, dar seus contatos, seu recado, enfim. O espaço é seu! Agradeço mais uma vez pela entrevista e sabemos que não é segredo para ninguém que admiro demais você. Sucesso sempre, e bola práfrente! Beijos. Vivi: Bom, eu não tenho mais o que dizer além de agradecer a oportunidade de falar um pouco de mim e de como é a minha vida na música. A quem interessar, acompanhe meus trabalhos através das páginas abaixo e um forte abraço.


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ENTREVISTA

O ninho do javali Por: Toninha Carvalho A banda Yekun foi formada em setembro de 2011, com o intuito de elaborar um som lento, arrastado, mas sem se ater as limitações do estilo e com isso incorporando diversas influências a seu som. Em suas letras a banda trata de diversos assuntos, também não se prendendo a um tema e explorando todas as possibilidades líricas, com texturas que vão da filosofia pagã ao universo de guerras e conflitos humanos. O nome Yekun significa rebelde, foi o primeiro anjo a seduzir e desencaminhar os anjos. De enorme inteligência, ensinou aos homens a linguagem dos sinais, a ler e escrever com tinta, e os feitiços e magias. Em 2012 a banda lança seu primeiro trabalho, “Inside My Headache”, contendo três músicas amplamente aclamadas 20 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

pela crítica, sendo inclusive citado como uma das promessas brasileiras. E em 2014 é a vez de ‘Live At Kaffeklubben’, oficial bootleg totalmente gravado ao vivo, que mostra que nos palcos a banda consegue imprimir muito mais peso em sua música. Agora em 2015 a banda prepara seu próximo EP de inéditas, intitulado “The Boars Nest”, que promete vir mais pesado e mais caótico, assim como mais climático e denso em relação aos trabalhos anteriores. Conversamos com a banda e o resultado você confere a seguir. Para começarmos falem sobre o Yekun. André Abreu: Uma banda nova de gente velha e calejada, que já tomou muita porrada e que hoje tenta incorporar na música essas experiências.


Gerson “Tatu” Camera: Uma banda de amigos com uma proposta honesta. Bruno Di Turi: Amigos que se reúnem para fazer música sincera como forma de celebração dessa amizade. Vlad: O Yekun é um grupo de amigos que pratica seu som, próprio, sem rótulos, do seu jeito. O único denominador comum aqui é o peso, que aliás, junto com a liberdade, foram os parâmetros únicos que estabelecemos quando da sua criação. Todo o restante foi posto de lado. Portanto somos uma banda muito livre na forma de pensar e agir. Todos são amigos de longa data. Aliás alguns estão comemorando trinta anos de convivência entre si. Isso nos leva a um nível muito grande de cumplicidade e companheirismo e temos as mais diversas experiências e influencias, o que resulta em música sincera, profunda e verdadeira. A banda prega a liberdade em sua música, trazendo texturas e conceitos líricos que acabam funcionando muito bem para sua música. Como vocês definiram essa “liberdade musical”? Gerson: A liberdade foi o mote principal da banda desde a sua formação, todo mundo traz ideias, conceitos e no final dessa mistura eclética que nosso som e calcado. André: Acho que ‘liberdade’ é um conceito muito aberto e de difícil definição. No nosso caso, a liberdade musical alcança até o limite de nossas próprias limitações técnicas como músicos e também econômicas, visto que muitas vezes não podemos ter acesso a equipamentos de excelente qualidade e investir pesado na nossa música. Então a liberdade fica um pouco comprometida por conta destas determinações, mas em contrapartida, temos conseguido resultados interessantes com as coisas que temos acesso. Bruno: Creio que a liberdade musical do Yekun se fez através respeito que temos dentro da banda. Respeitar os caminhos trilhados por cada um. Cada um de nós tem uma formação dentro da música. Temos estilos diferentes que amamos, que nos definem e que nos trouxeram até onde estamos agora. Dar a possibilidade de experimentar usando suas principais características em momentos diversos faz a música soar orgânica, verdadeira. Vlad: A questão da liberdade não se prende apenas no aspecto musical, é bem mais profunda. Temos um nível de relacionamento tão grande entre nós, que nos leva a possibilidade de entender, de compreender o outro. Eu não preciso dizer se estou feliz ou triste, meus companheiros sabem, não existem máscaras entre nós. E existe muito sentimento envolvido no Yekun. logo, tudo que fazemos juntos envolve as características de cada um, os sentimentos de cada um e tudo se funde no Yekun. Isto aqui é uma grande família, logo não há porque alguém ter receio de fazer algo diferente no Yekun, não temos preconceitos, não temos travas. A única coisa que pode nos limitar somos nós mesmos. Pessoalmente, para mim, mísica é uma forma de arte, e arte é uma expressão do ser humano, logo, para ser verdadeira e sincera deve ser livre e eu não consigo compreender de outra forma. Liricamente percebemos que o Yekun trata de temas muito diversos em suas letras, que tipo de inspirações os fazem escrever e como são elaboradas as letras? Vlad: Então, não há um roteiro. Vamos dos temas mais profundos, exóticos, aos mais normais, ao dia a dia, por assim dizer. Não nos propomos a escrever sobre algo especifico, sobre determinado tema na verdade não nos propomos a levantar bandeiras, não somos os senhores da verdade, seja a nossa verdade, a sua verdade, ou a verdade de qualquer um. Cada ser humano é um universo, com suas experiências, viCOLLAPSE UNDERGROUND ART - 21


vencias, sonhos e visões e nas nossas relações estes universos se interseccionam e se conectam, compreende? As vezes isto é bom, as vezes isto não é, mas é assim que é, somos animais sociáveis e essencialmente gregários e dessa junção, desse amalgama surge sempre algo. Acho que isso é o que importa nas relações, é um dos temperos da vida. Então se não sou senhor da verdade, se toda vez que me relaciono com meu próximo surge algo, como eu poderia te dizer o que deve fazer, acreditar, ouvir, pensar ou não? Apenas posso exprimir minha impressão, meu sentimento, minha visão, e você pode ou não aceitá-lo, compreende-lo ou não, mas é meu, não seu, entende? Porque a minha verdade vive em mim da mesma forma que a sua vive em você e ambas são importantes e relevantes. Obviamente, esta forma de pensar e agir não significa que não saibamos o que estamos fazendo, porque estamos fazendo e sobre o que estamos falando. Muito pelo contrário, somos responsáveis por tudo que expressamos. Só que deixamos isto em aberto, livre para a interpretação de cada um, quem sou eu para te pregar a minha verdade, certo? Então, livre arbítrio, liberdade, o pensamento é livre, pense, analise, olhe a sua volta, busque a sua verdade. Logo em 2012 a banda lançou o EP “Inside My Headache” que foi muito bem recebido pela mídia especializada e pelos fãs, como foi ter um retorno tão positivo logo com o trabalho de estréia? André: Acredito que este reconhecimento foi fundamental para a banda acumular forças pra continuar na caminhada. Gerson: Sem palavras! O retorno positivo dos fãs sinalizou que a gente estava no caminho certo. Vlad: Para mim foi uma grata surpresa. Não esperava este tipo de retorno e confesso que ainda me surpreendo com isso. Logico que quando o fizemos buscamos fazer o que de melhor poderíamos. Mas não o fizemos buscando aceitação, retorno. Fizemos por que nós tínhamos que fazer, era o que queríamos, era o buscávamos. E era um fruto de toda nossa relação de amizade, então tinha como sempre, muito sentimento envolvido. Eu me sinto muito, muito grato mesmo a cada um que deu um pouco do seu tempo para nos ouvir. Porque “Inside my Headache” não foi lançado em formato físico? Gerson: Por que infelizmente como muitas outras coisas nesse país, os valores para esse tipo de lançamento são absurdamente ridículos. André: Acredito que em boa parte pelas limitações econômicas já ditas anteriormente, e também porque as formas de percepção e consumo das produções musicais, de modo geral, têm se transformado. Hoje em dia vivemos sob o domínio do digital, do efêmero e da desmaterialização. Sobreviver e obter bons resultados em uma rede virtual em que tudo se dilui em pouquíssimo tempo, é cada vez mais difícil. Mas acho que o EP foi muito bem aceito, e o mérito da banda foi ter entendido bem o funcionamento desta nova dinâmica de distribuição, percepção e consumo da música. Vlad: Olha a questão de lançar digitalmente, já existia antes de entrarmos no estúdio. A ideia sempre foi lançar fisicamente, e também digital e de graça, para quem quisesse ouvir, independente de poder comprar ou não. Para nós é uma forma de praticar a liberdade e considerando a rede mundial, o seu alcance, também uma forma de permitir acesso a todas pessoas que o queiram, e, não ter limitações ao alcance do trabalho. Não há como, hoje, não considerar a Internet como uma plataforma de troca e intercambio de informação, e isso para o bem e para o mal. Mas foi a razão econômica que ao final não nos permitiu também lançá-lo fisicamente. O processo de 22 - COLLAPSE UNDERGROUND ART



gravação do “Inside my Headache” gerou um ótimo resultado, até mesmo porque temos um nível de exigência em termo de qualidade muito grande, porem a um custo elevadíssimo. Na verdade, o caixa da banda ainda está no vermelho até hoje (risos). Mas isso não tem importância, importante é que ficou legal e pretendemos lança-lo ainda fisicamente, e se tudo der certo logo o faremos. Em 2014, a banda lançou um oficial bootleg, “Live At Kaffeklubben”, por vocês decidiram por este lançamento? André: Foi a primeira vez que tivemos a oportunidade de obter um registro sonoro de uma apresentação. A captação, feita através de uma câmera de vídeo digital, captou o áudio ambiente geral do local, sem qualquer tratamento e edição dos instrumentos. O resultado foi satisfatório, e decidimos colocar para download nos mesmos moldes do “Inside my headache”. Vlad: E porque não? Quando ouvimos o áudio, nos olhamos e nos perguntamos: Porque não? Nós não nos prendemos em preconceitos, não seguimos a manada. Somos o que somos do jeito que somos e não escondemos isso. O resultado estava bom para a forma como fora captado, não houve canal na mesa, tratamento, nada disso, só um microfone na câmera de vídeo. E não havia nem sido planejado. Fomos ouvir por curiosidade e gostamos, então lançamos. E mesmo com a qualidade do áudio não sendo das melhores, “Live At Kaffeklubben” também obteve ótimos resultados em downloads, a que vocês creditam isso? André: Não sabia que a aceitação tinha sido tão boa, mas acho que o primeiro EP foi mais bem aceito. Eu mesmo tenho um pouco de preconceito com gravações ao vivo, mas esta especificamente achei que ficou legal. Vlad: Realmente, não tem uma qualidade fenomenal, não

tem o tratamento, até mesmo pela forma como disse antes que se deu o processo de captação, mas tem um pequeno detalhe, é verdadeiro! Sem maquiagem, sem retoques. E isso faz uma grande diferença. Agora a banda lançou um novo EP, “The Boars Nest” que novamente foi disponibilizado para download gratuito, porque a banda prefere trabalhar desta forma? André: Decidimos disponibilizar pra download gratuito por duas questões: a primeira, já dita anteriormente, é pela boa adaptação da banda às atuais formas de consumo da música. A segunda, é porque acreditamos que a música não deve ser aprisionada apenas no material físico, mas tornar-se uma entidade independente até de nós mesmos. Não vejo mais sentido em querer ter o desejo de controle absoluto sobre uma produção musical. Sou favorável que seu acesso seja radicalmente democratizado. Gerson: É uma forma democrática de atingir o público, hoje em dia talvez seja o caminho mais viável. A resposta da galera serve de termômetro para nós aqui e no restante do mundo. Vlad: Porque tem tudo a ver com a nossa forma de pensar. É a própria questão da liberdade que praticamos na banda. Não vejo razão alguma para não permitir que alguém que eventualmente não tenha o dinheiro para pagar o CD, o vinil, ou o download não tenha acesso a música que fazemos. Para mim é extremamente logico. Música é arte, expressão esta que no nosso caso, é o amalgama de tudo que juntos somos no Yekun, e nós vamos negar que isso chegue a alguém? Porquê? Por dinheiro? Dane-se o dinheiro, é só papel e metal, nada além disso, não tem vida, não tem amor. Disponibilizando dessa forma, nos permitimos o acesso a todos e em qualquer parte do mundo. E vamos lança-lo em formato físico também, e fica a critério de quem quiser, se quiser e se puder comprar o físico. Neste mais recente lançamento a banda acentuou o lado mais agressivo bem como investiu pesado nos climas e na psicodelia, isso se deve a uma evolução natural? André: Particularmente, acho que a banda apenas deu continuidade natural aos trabalhos lançados anteriormente. Bruno: Penso que as coisas seguiram seu caminho natural. Fazemos o que gostamos, o que sentimos e o resultado foi um trabalho que nos deixou bastante felizes. Gerson: Sem dúvida, trabalhamos muito até definirmos a linha de uma música, mas isso ocorre sempre muito naturalmente e faz parte do nosso crescimento natural como músicos e como banda. Vlad: Com certeza. Acredito que a questão da agressividade, do peso, da brutalidade, bem como, o clima, a psicodelia, texturas, todas estão ligadas a nossas experiências, a nossos sentimentos, o fruto disso é o som que fazemos. E deixamos esse som seguir seu fluxo. Eu soube que além do lançamento de “The Boars Nest”, vocês pretendem fazer o lançamento em vinil deste trabalho em um split LP com a banda Crackolândia, o que vocês podem nos adiantar disso? Vlad: Bom, ainda está em planejamento, mas posso adiantar que temos grande expectativa e que estamos bastante felizes com isso. Vinil é algo magico, especialmente para alguém mais velho como eu. E o pessoal do Crackolândia são parceiros e amigos, já dividimos palco, então vai ser tudo de bom. Agora uma pergunta que deve ser bem recorrente. Porque o Yekun toca tão pouco ao vivo? André: Acredito que isso ocorra por dois motivos funda-

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mentais: o primeiro, é a impossibilidade de termos o tempo livre que desejamos para nos dedicar exclusivamente à banda, e consequentemente todo o processo da banda, que abrange desde os ensaios, gravações, divulgação até as apresentações ao vivo depender de nosso próprio capital e tempo. O segundo, porque há uma percepção compartilhada por muitas bandas, pelo menos em SP, que o público já não tem tanta disposição para comparecer às apresentações ao vivo, o que faz com que as bandas diminuam sensivelmente suas atividades ao vivo por falta de interesse mesmo. Vlad: Porque, inicialmente, não era nem para tocar ao vivo (risos). Quando criamos o Yekun, era só para fazer o som, gravar do melhor jeito possível as músicas, colocar para download gratuito e soltar no mundo. Bem isso mesmo, sem compromisso, sem aparecer, só fazendo, porque era isso que queríamos fazer. Mas então, parte da banda e fãs começaram a pedir e questionar por shows. Então decidimos fazer, mas desde que não fosse de qualquer forma, que houvesse equipamento e local razoáveis, para que nós e o público tenhamos um som e um show legal, uma experiência boa. E continuamos com essa visão. Tem que ter qualidade, senão não tem porque fazer. E sim, existe essa questão colocada pelo André, da presença do público, que é algo bastante sensível e visível em termos locais. Não seriam os shows uma forma de angariar mais fãs e expor a banda a um público maior? André: Acho que isso depende. Acredito que nos dias de hoje a qualidade das apresentações ao vivo dão mais retorno de fãs do que tocar em grande quantidade, tanto pelo fato da saturação de bandas quanto do desgaste do público. Vlad: Depende de muitos fatores. Não acredito que o número de fãs irá aumentar se a apresentação não tiver o equipamento, local e infraestrutura adequadas. Na verdade, tendo a crer que acontece justamente o contrário. E acho que a exposição funciona muito mais utilizando a internet, que permite alcançar um mundo sem fronteiras. Sendo assim, podemos afirmar que o Yekun jamais faz

dois shows parecidos? Vlad: Acredito que sim! Até mesmo pela questão do clima, das texturas, isso leva a improvisação, a interpretação, que se tornam aspectos naturais no nosso som. Para ser bem sincero, tem de novo tudo a ver com a questão do sentimento na banda. Isso nos leva a interpretar, não apenas executar. E isso tem uma energia diferente, é muito diferente do que simplesmente seguirmos algo pré-estabelecido, é verdadeiro, é sincero, é como nos sentimos e sentimos a nossa volta. Quais são os planos da banda agora que “The Boars Nest” foi lançado? André: Sobreviver. E se o som que produzimos continuar estabelecendo comunicação e fazendo sentido para alguém, na minha opinião, já é uma grande ambição e vitória. Gerson: Continuar compondo, trabalhando nossas ideias e lançando nosso material Vlad: Sinceramente, continuar fazendo o que fazemos do nosso jeito. Sempre! Muito obrigado pela entrevista, fiquem à vontade para suas considerações e deixarem uma mensagem aos nossos leitores. Gerson: Agradecemos profundamente o espaço cedido. Obrigado de coração também aqueles que curtem nosso trabalho, valeu. André: Agradeço a você por este raro e precioso espaço, e pela veiculação de nossas ideias. Um grande salve para todas as nossas parcerias, familiares e amizades que têm nos acompanhado e incentivado, e sido o combustível para seguirmos em frente. Vlad: Nos é que agradecemos pela oportunidade e pelo espaço. Aliás, espaços como este, que se disponham, de forma independente e isenta, a colocar de forma clara, e verdadeira, o que as pessoas tem a dizer, livremente, independente da sua forma de expressão, merecem meu mais profundo respeito e gratidão. Aproveito para agradecer a cada um que deu um momento de seu tempo para nos ouvir, nos ver, nos entender, enfim, só posso dizer muito obrigado a cada um de vocês. Namaste!

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ENTREVISTA

Por: Christophe Correia Tales For the Unspoken é uma banda de Metal portuguesa, formada em 2007, na cidade de Coimbra, e conta com membros portugueses, moçambicanos, cabo verdianos e brasileiros. E desde então tem recebido boas críticas por parte do público e mídia especializada, além de se apresentarem por concertos em seu país, com grandes nomes do cenário Metal e também em grandes festivais. Tivemos uma conversa com o vocalista Marco Fresco, que você confere a seguir.

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Bem vindos à Collapse Underground Art. Podem começar por se apresentar? Marco Fresco: Tudo bem pessoal? Nós somos os Tales For The Unspoken, uma banda portuguesa com perto de oito anos de existência. Praticamos uma mistura de vários estilos com fortes influências no Thrash e no Death, mas com uma vertente mais moderna. A banda já lançou dois álbuns, sendo que neste momento estamos a divulgar o nosso segundo álbum, lançado recentemente de seu titulo “CO”2. Lançaram este ano um novo álbum “CO2”. Tem algum conceito? Como explicam o título? Marco: Este é um álbum que na sua generalidade fala dos 26 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

erros que os próprios humanos fazem e que estão a poluir o nosso planeta e a nossa existência. Obviamente que este poluir é de uma forma figurada, e daí vem o nome do álbum: CO2 como um dos gazes mais mortais. Como tem sido a reacção de todo o público Português ao álbum? Tem tido alguma repercussão no estrangeiro? Marco: Este álbum tem tido uma recepção por parte do público bastante boa! Ao vivo então é que tem demonstrado a sua verdadeira força, também porque já somos uma banda com muita experiência de palco, tendo, em 8 anos, apenas trocado um membro, e durante estes anos todos nunca parámos de tocar. É isso que tem dado uma bagagem muito boa para nos afirmarmos como uma banda forte ao vivo. A nível internacional, as reviews que tivemos vindas de fora foram muito positivas e esperamos no ano de 2016 conseguir levar o álbum além fronteiras com uma tour pela Europa. A banda conta com elementos de origens e influências bem diferentes. De que forma isso se reflecte no trabalho final do álbum? Marco: A banda na sua origem começou com elementos do Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal, e isso está


bastante espelhado no nosso primeiro álbum “Alchemy”. Neste álbum descolámo-nos um pouco disso, tornando-o mais directo e mais complexo ao mesmo tempo, mantendo sempre o nosso cunho pessoal e não perdendo a nossa identidade como banda. Lançaram um videoclip para a faixa “Soul For a Soul”. Falem-nos sobre ele! Marco: Este vídeoclip, para nós, é o melhor que fizemos até hoje. Já vem sendo normal a banda lançar vídeoclips, desde o primeiro álbum, que o fizemos com a “Say My Name” e “Possessed”. Neste começámos pela “Soul for a Soul”, que fala de tráfico humano e do mercado negro de órgãos, em que as pessoas trocam uma alma por outra, matando e enviando pessoas para um real inferno na terra, sem dó nem piedade. Nós juntámos uma malta e em jeito de alucinação tornámos esse inferno num vídeo, em que passámos do melhor para o pior num piscar de olhos tal como acontece na vida real. É um vídeo que foi feito de metaleiros para metaleiros. Vejam o vídeo e espero que gostem porque a nós deu muito gosto fazê-lo. Quais são os vossos planos para 2016? Marco: Planos para 2016... no primeiro e mais importante, é tocar muito dentro e fora do país. Estamos a começar a preparar uma edição especial para comemorar os dez anos da banda, e queremos mesmo ir tocar para fora do país. Obviamente que durante o ano muitas coisas irão acontecer. Visitem o nosso Facebook e façam like para se manterem a par das novidades. Já tocaram fora de Portugal? Poderá existir uma possibilidade real de ter Tales For The Unspoken no Brasil? Marco: Sim, já tocamos em Espanha, a nossa terra vizinha. O nosso objectivo é ir mais longe e correr o resto da Europa. Em relação ao Brasil, obviamente que teríamos todo o interesse em tocar aí, até porque temos uma realidade bastante próxima com o vosso país, visto o nosso baixista original ser brasileiro. Chegámos a fazer algumas datas com bandas brasileiras, que são pessoal mesmo vivo e isso é bastante positivo!

O que nos podem dizer sobre o underground Português e que bandas nos podem sugerir a ouvir no futuro? Marco: O underground português está cada vez mais vivo e com bandas de uma qualidade impressionante. Bandas que vos aconselho a ouvir? Ui... tantas... vou apenas dizer algumas: Terror Empire, Destroyers of All, Switchtense, Revolution Within, Equaleft, Serrabulho, Diabolical Mental State, For The Glory, Pitchblack, Dementia 13, Analepsy, Burned Blood, WAKO, Midnight Priest... etc.. etc... Há muitas bandas e muito estilo por onde escolher, estas valem muito a pena ouvir. Conhecem ou são fãs de alguma banda Brasileira? Marco: Obviamente que teríamos de conhecer os Sepultura, acho que até seria crime [eheheh], mas gostamos de ouvir outras bandas brasileiras como Krisiun, Seventh Seal, Torture Squad e claro a melhor de todas: os Massacration (risos). Que tipo de apoio têm as bandas Portuguesas no que diz respeito a condições para tocar, se fazerem conhecer, comunicação social, webzine/revistas/ e público? Marco: Em Portugal existem muitas webzines onde podemos divulgar o nosso trabalho, mas mais dentro do meio underground. A nível nacional fora do ambiente é difícil uma revista que não seja de metal passar algum tipo de notícia. Em relação a condições para tocar, Portugal tem crescido muito nesse aspecto, não havendo mais a podridão que eram os concertos de metal antigamente. Hoje em dia já existem muitos festivais com excelentes condições para as bandas. Por fim, obrigado pela vossa disponibilidade. Todo o sucesso para a banda! Alguma mensagem para os nossos leitores? Marco: Antes de mais, obrigado pela oportunidade e parabéns pela iniciativa. São revistas como a vossa que fazem este meio crescer. Queríamos agradecer a todos os nossos fans do Brasil pelo apoio que sempre nos deram, continuem a apoiar o metal principalmente os das vossas cidades e país, Metal On!

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ENTREVISTA

Heavy Metal clássico Por: Raphael Arizio Camus é mais uma grata revelação do Metal nacional. Lançaram um ótimo EP para amantes de Metal clássico como Iron Maiden, Judas Priest, Saxon, etc. Vamos ver o que eles têm para nos contar sobre a repercussão desse disco e também sobre seus planos futuros

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Como tem sido a repercussão do EP “Heavy Metal Machine”? Marcelo Dias: Melhor do que imaginávamos. O público aceitou bem as músicas e nossa proposta com o EP. Thiago Souza: O material está sendo bem aceito pelo público e recebeu boas críticas pela mídia especializada, estou muito feliz e satisfeito com o que estamos conquistando pois isso faz o trabalho vale à pena. Jones Johnson: O público aceitou muito bem o material. As críticas foram excelentes e todos estão gostando do som que conseguimos alcançar nesse EP. A banda tem planos de lançar um full completo? Marcelo Dias: Sim! Temos algumas ideias já tomando forma, mas ainda não temos um prazo... Thiago Souza: Sim e já estamos no processo de composição e próximo ano vai rolar nosso full. Jones Johnson: Sim, claro! Algumas melodias já estão prontas, faltando serem trabalhadas e ensaiadas. As músicas estão ficando mais completas em termos de composição. Os três se ajudam bastante e acredito que no próximo ano o full já saia, mas ainda sem prazo. A banda pratica um Heavy Metal bem tradicional, um estilo não muito comum no Brasil, como é tocar esse estilo? 28 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

Marcelo Dias: Independente da vertente do Metal, todos passaram pela escola do Heavy Metal Tradicional. Thiago Souza: É tocar um som que amamos, existem poucas, porém grandes bandas que ainda fazem esse som. Jones Johnson: O Heavy Metal tradicional é a base de tudo, pelo menos para mim que sou fã do estilo e só comecei a tocar guitarra por conta disso. Na hora de compor, não nos prendemos muito no estilo, pois todo da banda tem diversas influências. A gente tenta mesclar tudo e ver o resultado final. Metal tradicional é geralmente um estilo com duas guitarras devido às famosas dobras de guitarras e muitas melodias, como funciona o som da banda ao vivo com uma guitarra? Por acaso tem a ideia de algum dia contar com duas guitarras? Marcelo Dias: No começo da banda tínhamos dois guitarristas, o Jones e outro, mas antes de iniciar as gravações do EP ficamos em três e adaptamos tudo para uma guitarra. Então, no momento, não. Estamos bem satisfeitos com a forma como as músicas estão soando ao vivo. Até mesmo as novas ideias já estão surgindo com cara de uma guitarra. Thiago Souza: Ao vivo não temos problemas, funciona perfeitamente e desejamos manter o trio. Jones Johnson: Inicialmente as ideias eram feitas para duas guitarras. Com a saída do outro guitarrista pouco antes das gravações do EP, começamos a trabalhar as coisas com uma guitarra, mudando uma coisa ou outra, nada que alterasse demais as músicas. Ao vivo funciona muito bem, pois além de alterar as guitarras, o baixo pode ficar mais presente nas músicas, preenchendo o espaço. A ideia é que a banda continue como um trio, pois as composições a partir de agora estão trabalhadas para uma guitarra apenas.


Quais foram as principais inspirações musicais para a formação do Camus? Marcelo Dias: Angra, Symphony X. Thiago Souza: Heavy Metal, citar nomes de tudo que nos influencia seria impossível aqui, mas podemos dizer Iron Maiden, Dr. Sin, Rage, Tarot e tantos outros, inclusive bandas de Thrash e Death também. Jones Johnson: Iron Maiden, Helloween, Angra, Dr. Sin, Rush, Dream Theater e por ai vai. Utilizamos elementos dessas e de outras bandas para criar nosso próprio som. Qual opinião de vocês do que uma assessoria pode trazer de benéfico para uma banda nos dias de hoje e como a banda avalia a parceria com a Black Legion Productions? Thiago Souza: Uma boa assessoria é como mais um integrante da banda, é uma equipe e nos tempos de hoje onde a informação corre muito rápida e as coisas mudam o tempo todo é necessário alguém ligado nessas novas tecnologias e que acompanha todas essas mudanças, o trabalho feito junto à BLP tem sido muito satisfatório pois alcançamos muitas coisas que achávamos difíceis de conseguir e banda tem conquistado uma boa visibilidade. Jones Johnson: Toda banda iniciante deve ter uma assessoria. Como Thiago falou, é como se fosse um integrante a mais, ajudando a banda a divulgar o seu trabalho onde nem imaginam. Depois da BLP, a banda começou a tocar em rádios de outros estados e diversos sites resenharam nosso EP positivamente, além de algumas revistas. Uma assessoria é indispensável. Qual a opinião de vocês sobre o atual cenário nacional? Quais os principais pontos que acham que deveriam mudar para termos uma melhora da cena em nosso país? Thiago Souza: Acredito que temos uma das cenas mais fortes do mundo, temos grandes bandas de todos os gêneros e um público insano que chega junto, apoia e faz a coisa acontecer, lógico que temos exceções. Na minha opinião o que deveria acontecer é uma maior atenção às bandas daqui por parte de produtores e público. Jones Johnson: O cenário nacional é fraco ainda. É preciso que produtores invistam nas bandas locais e que principalmente o público local também faça o mesmo. As bandas precisam de apoio do público sim. Não adianta reclamar que a cena está fraca se não quer pagar 10, 15 reais num ingresso de bandas locais. Além dos produtores, as casas de show locais também deveriam facilitar a divulgação dessas bandas, pois cobram preços absurdos para alugar um espaço que poderia estar ajudando diversas bandas. E não só com shows, mas workshops também. O Heavy Metal sempre foi um gênero contestador desde sua criação, acham que essa atual crise em que vive nosso país pode incentivar o metal de alguma forma em suas letras? Marcelo Dias: Com certeza! Thiago Souza: O Heavy Metal sempre foi um estilo onde você tem liberdade de tratar qualquer assunto, inclusive política, porém essa tal crise que estamos atravessando é um prato cheio para oportunistas com o intuito de ganhar publicidade apenas. Como anda a agenda de shows da banda e qual o balanço que tiram do ano de 2015. O que 2016 pode reservar para o Camus? Marcelo Dias: Estamos com alguns shows marcados agora no mês de novembro e dezembro de 2015. Marcelo Dias: Para 2016 podem aguardar mais shows e também estamos postando no nosso canal do Youtube o processo de composição do novo trabalho. Então, quem puder, se inscreve no www.youtube.com/camusofficial e acompanhe. Lá também tem o EP na íntegra e também o clipe da música The Loser. Jones Johnson: Estamos também no Soundcloud (https:// soundcloud.com/camus-official) com nosso EP “Heavy Metal Machine” disponível para audição. Espaço para agradecimentos e considerações finais Marcelo Dias: Selton, Ozzy e Hugo da União Underground Pernambuco, O pessoal das bandas Hate Embrace, Some People Have to Die, Projeto D’ávilla e Seeds of Destiny, o pessoal do Are-

na Metal, Hugo Veikon, William Rocha e Adriano Forte, Jucélia Guará responsável pelo Festival Guaráhuns Metal... Thiago Souza: Gostaria de agradecer pela oportunidade e por acreditar no nosso trabalho e também ao Hugo Veikon e todo o pessoal do Arena Metal, Guga do Acllamatur zine, o produtor Nenel Lucena e toda a galera do Evocati, o grande Ricardo Necrogod e todo o pessoal do Hate Embrace, ao Alex Chagas pelo grande trabalho realizado e todas as bandas da BLP, e por fim todos que curtem a banda e acreditam em nosso trabalho. Jones Johnson: Ao pessoal da BLP, ao pessoal da União Underground, à Nenel Lucena, que produziu nosso EP, à Hugo Veikon, à William Rocha, à Adriano Forte e à todas as pessoas que curtem nosso trabalho. Muito obrigado!

Camus Heavy Metal Machine Black Legion Productions - Nacional O Heavy Metal brasileiro anda fazendo bonito, com boas bandas surgindo e fazendo o estilo mais clássico. Algumas ainda possuem uma pegada bem próxima ao Thrash Metal, logo, a pegada pesada do Metal tradicional mais a adrenalina do Thrash costumam dar bons resultados nas mãos de quem sabe o que faz. E é bem legal ver que o trio CAMUS, da cidade de Recife (Pernambuco), mostrando força e entusiasmo em “Heavy Metal Machine”, seu novo EP. O trio mostra uma bela diversidade musical (chegam a existir momentos de música regional brasileira em suas canções), não se preocupando exclusivamente ficar acomodado entre o Metal tradicional e o Thrash Metal. Não, eles têm uma boa dose de ousadia, coisa meio rara nos dias de hoje, embora sua música soe fortemente espontânea. Bons vocais, riffs e solos de guitarra muito bem feitos (e que entram em nossos ouvidos e não saem mais), baixo e bateria com peso e boa técnica, e tudo na medida certa. Óbvio que eles acertaram, e muito bem. A produção está em um bom nível de qualidade (poderia ser melhor em alguns pontos), mantendo os instrumentos com bons timbres, peso e clareza. Tudo conforme o médico

recomenda para corações apaixonados pelo Heavy Metal. A arte da capa ficou muito bem antenada com o trabalho do grupo, verdade seja dita. Óbvio que sentimentos a presença de influências musicais claras como METALLICA, DEEP PURPLE e SAXON aqui e ali, mas nada que desqualifique o grupo ou que o torne um clone. Não, a banda sabe fazer uma música pegajosa, melodiosa e pesada, com arranjos mais simples, mas ótimos. Temos cinco canções bem arranjadas, com cada instrumento mostrando suas habilidades (mas sem exageros de individualismo). “Rise of a New Word” é mais pesada e raçuda, onde o lado Thrash Metal tem maior expressão, além de belos riffs de guitarra, o baixo mostrando uma boa técnica, tudo isso assentado em um andamento em tempo médio. Em “Dreams and Shadows”, a banda consegue um equilíbrio maior entre os aspectos Thrash e tradicional de sua proposta musical, surgindo momentos de música regional onde baixo e bateria se destacam absurdamente. Já “Heavy Metal Machine” é pegajosa, forte e pesada, com melodias ótimas e certos toques de Hard’n’Roll à lá NWOBHM, com vocais bem feitos e ótimo refrão. “The Loser” volta a apresentar um lado mais agressivo, mas com toques mais acessíveis quase imperceptíveis aqui e ali, sobressaindo-se mais uma vez o trabalho das guitarras. E fechando, “False Conviction”, onde mais uma vez, a banda mostra peso e energia, mas com melodias bem firmes e de fácil assimilação, onde peso e agressividade se mixam harmoniosamente. Realmente, a banda está de parabéns pelo ótimo trabalho, e esperamos que venha logo um álbum, pois eles merecem. Marcos “Big Daddy” Garcia

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ENTREVISTA

“Acho que as bandas devem se unir e procurar organizar seus festivais com bandas de renome, assim atraem a atenção do público e aos poucos vão conquistando seu espaço.” Por: Raphael Arizio O Outlanders vem se destacando com o lançamento do E.P “Kretaceous” com seu som fortemente influenciado pelo Metal germânico e fazendo reverência a boa e velha cerveja e ao metal. Vamos ver o que esse cara nos tem a dizer sobre a repercussão do seu disco e seus planos futuros Qual o saldo final que a banda tira do E.P “Kretaceous”? A banda tem planos para o lançamento de um álbum completo? Rafael Noctivago: O saldo de nosso EP Kretaceous é sensacional. Com apenas quatro músicas conseguimos conquistar muita gente, tanto dentro quanto fora do país. Das mil cópias que fizemos, estamos com apenas 100 em estoque! Com relação ao lançamento de um CD Full, nós temos sim o projeto, estamos compondo as músicas. No entanto, com a saída do antigo guitarrista, a entrada do atual guitarrista e a quantidade de shows que fomos convidados a fazer nesse ano de 2014, não conseguimos terminar ainda as composições. A proposta interna da banda é de terminarmos as composições até o final do 30 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

ano e iniciarmos a gravação do álbum em janeiro ou fevereiro de 2016. Como foi a repercussão do clip para a música “Kretaceous”? Rafael: O Vídeo Clip da música Kretaceous teve uma ótima repercussão. Pessoas de muitos lugares que nem imaginávamos que estariam conectados conosco, nos enviaram comentários elogios e até mesmo críticas. Estivemos em um Rock bar na cidade de Hamburgo na Alemanha (Eu e o guitarrista Diego) e pudemos ver nosso vídeo clip tocando na televisão do bar (O cara coloca uma seleção de vídeo clips vistos no Youtube e fica rolando isso a noite toda). Os vocais da banda são um dos destaques com bastante variação entre as músicas. Como se deu essa ideia de bastante variação? E quais as influências para fazer esses vocais? Rafael: Eu gosto das variações nos vocais e acho elas essenciais. A idéia não foi planejada ou programada. Foi algo natural que eu simplesmente fui fazendo durante


recebidas em todos os shows e tenho orgulho em dizer que nossos “mosh pits” já geraram muitos hematomas por aí afora. Como a banda enxerga a cena de São Paulo e essa falta de público de shows autorais e a aposta de cada vez mais de bandas covers e o que pode ser feito para reverter isso? Rafael: A cena em São Paulo está saturada. Vejo muitas bandas com qualidade e muitas sem qualidade. O problema é que a cidade está mesmo saturada. As pessoas tendem a não valorizar quando há muita coisa disponível. Eu acredito que pelo fato de as pessoas vierem tantas bandas de som autoral, elas acabam não dando importância e não valorizando o trabalho. Em conjunto com isso elas deixam de ir aos locais para assistir esse tipo de show e as casas deixam de lucrar. Como as casas de show são locais de comércio, eles têm que investir em algo que lhes dê lucro, e o fazem com bandas cover ou festinhas com som eletrônico e bebida barata. Eu acredito que esse problema precisa de tempo para ser revertido. Não adianta ficar fazendo propaganda e campanha na internet querendo influenciar e forçar as pessoas com imagens na internet para que compareçam em locais com shows autorais. Acho que as bandas devem se unir e procurar organizar seus festivais com bandas de renome, assim atraem a atenção do publico e aos poucos vão conquistando seu espaço.

as músicas, de acordo com o clima e a situação representados na letra de cada música. Minhas influências são diferentes para cada estilo de vocal, sem haver nenhuma influência para a mistura. Para os vocais mais agudos eu fui muito influenciado por Rob Halford e Bobby Ellsworth. Já para os vocais mais rasgados e graves, segui a escola do Mille Petrozza, Max Cavalera e Andreas Geremias. Como foi a experiência de abrir o show de uma lenda como o Entombed? Rafael: Uma palavra define: sensacional. Abrir um show de uma banda tão conhecida e com uma carreira como a deles, foi algo literalmente surreal. A banda começou como cover do Kreator, o metal germânico exerce muita influência em vocês? Rafael: Sim, começamos como um cover de Kreator. O Metal germânico exerce a maior influência tanto em mim como em nossos guitarristas. Eu particularmente sou fanático pelo Thrash alemão, acho muito bem feito e com os melhores vocais. Black Flags and Beer é o grande clássico da banda, como tem sido a repercussão das músicas ao vivo? Rafael: Essa música ganhou uma importância que nem esperávamos. Ela tem uma letra totalmente descontraída e que fala de “piratas com pernas de pau”. É incrível que ela tenha conseguido essa repercussão. Com relação às músicas em geral, elas são sempre muito bem

Esse ano a banda teve a adição de um novo guitarrista Marcelo Estevan. Qual a necessidade que a banda sentiu para ter um novo integrante. Qual a principal diferença que sentiram em ter duas guitarras na banda? Rafael: Sim, esse ano o grande Marcelão entrou na banda. Sempre fomos uma banda de duas guitarras, porém por problemas e questões pessoais nossos últimos dois guitarristas tiveram de sair, deixando a banda com apenas um guitarrista por quase um ano e meio. Acredito que a adição de um segundo guitarrista deixa a banda com uma sonoridade mais encorpada e isso aumenta a variedade de influências e criatividade nas composições. Como tem sido o trabalho da Black Legion com a banda? Já sentiram alguma diferença em relação ao status da banda? Rafael: Trabalhar com a BLP tem sido muito bom. A partir do primeiro dia em que entramos no cast já pudemos perceber diferença em nossa divulgação e na forma com que passaram a nos enxergar. Espaço para agradecimentos e palavras finais Rafael: Gostaria de agradecer a todos os Headbangers que estão lendo essa matéria. Graças às pessoas que ainda usam seu tempo para ler sobre bandas e artistas que o metal não morreu. Gostaria de agradecer todos os membros e ex membros da banda por tudo que já fizeram pela mesma e à equipe da BLP pelo trabalho sensacional que vêm realizando. Save your beer... The Outlanders are here!!! COLLAPSE UNDERGROUND ART - 31


ESPECIAL

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Muitas estórias cercam a notória Madame Delphine LaLaurie, uma rica matrona e dama da sociedade, que tem assombrado a cidade de Nova Orleans por mais de duzentos anos. Quando um incêndio destruiu parte de sua casa em 1834, a população ficou ultrajada ao descobrir que na sua fazenda Lalaurie rotineiramente torturava seus escravos. Forçada a fugir da cidade, sua culpa era inquestionável, e relatos de suas ações foram aos poucos se tornando acada vez mais bizarros e grotescos com a passagem das décadas. Mesmo hoje, a mansão LaLaurie é considerada a casa mais assombrada da cidade. Marie Delphine LaLaurie, ficou conhecida pelo nome de Madame LaLaurie, ela foi uma socialite influente e poderosa que residiu sua vida inteira no estado de Louisiana. Ela ficou famosa como uma cruel assassina em série, envolvida na tortura e assassinato de escravos. Nascida em Nova Orleans, LaLaurie casou-se três vezes ao longo de sua vida. Ela manteve uma posição proeminente nos círculos sociais da cidade até abril de 1834, quando populares ajudando no resgate de feridos após um incêndio na sua mansão em Royal Street, descobriram escravos amarrados que mostravam sinais claros de tortura. Furiosos com o que encontraram, populares invadiram a propriedade que pertencia a ela, saqueando e destruindo tudo em seu caminho. Avisada do que estava acontecendo, ela teria se refugiado na casa de parentes e posteriormente mudou de nome para não ser reconhecida devido a reprovação social desencadeada. Temendo que a repercussão a colocaria em perigo, ela fugiu para Paris, onde teria morrido num acidente de caça. A luxuosa mansão na Royal Street, um dos endereços históricos mais importantes de Nova Orleans foi reformada e vendida após a sua morte. Ela ainda existe e é considerada como um dos locais mais famosos da cidade. Mas quem foi a mulher que receberia a alcunha de “a cidadã mais odiada de Nova Orleans” e que também entraria para a história como “A Megera de Royal Street”? Delphine Macarty nasceu por volta de 1775, uma das cinco filhas de Barthelmy Louis Macarty, um imigrante irlandês que se estabeleceu na América em 1740. Sua mãe foi Marie Jeanne Lovable, também chamada de “viúva Lecomte”, pois havia desposado um importante comerciante falecido em um acidente de carruagem. Ambos eram membros proeminentes da alta sociedade de brancos Créole - descendentes de imigrantes europeus. O primo de Delphine, Augustin de Macarty, foi prefeito de Nova Orleans de 1815 a 1820. Em meados de 1800, Delphine Macarty casou com Don Ramon de Lopez y Angullo, um Caballero de la Ordem Royal de Carlos (um oficial de alta graduação na Corte espanhola). A cerimônia aconteceu na Catedral de Saint Louis em Nova Orleans. Em 1804, Don Ramon ascendeu a uma posição de destaque, tornando-se cônsul geral da Espanha na Louisiana. No mesmo ano, Delphine e Don Ramon viajaram para a Espanha. Informações sobre a viagem são conflitantes. Segundo

alguns historiadores a viagem foi uma punição ao cônsul por falhas na maneira como ele havia tratado de assuntos diplomáticos. Na ocasião, Delphine conseguiu justificar as ações do marido e impressionou a Rainha com a sua beleza e inteligência. O casal recebeu permissão para retornar a América, mas durante o trajeto Don Ramon contraiu uma doença e acabou falecendo em Havana. Delphine que já estava grávida, decidiu ficar em Cuba onde deu a luz a sua primeira filha Marie Borgia Delphine Lopez y Angulla de la Candelaria, apelidada de “Borquita”. Ela decidiu retornar a Nova Orleans logo após o nascimento da menina e se estabelecer na propriedade herdada de seu marido. Ela própria se tornou a gerente da fazenda que plantava cana de açúcar e teve sucesso nas suas negociações. A Mansão em Royal Street Em Junho de 1808, Delphine casou com Jean Blanque, um proeminente banqueiro, mercador, advogado e legislador de descendência francesa. Ela se mudou para a suntuosa Villa Blanque e lá teve mais quatro crianças, todas meninas. Blanque morreu em 1816 em circunstâncias curiosas que alguns atribuem a envenenamento. Delphine casou com seu terceiro marido, o médico Leonard Louis Nicolas LaLaurie, que era bem mais jovem que ela em 1825. Em 1831, a família adquiriu a famosa propriedade no número 1140 da Royal Street, que ela manteve em seu próprio nome com pouco envolvimento de seu esposo. Há rumores que o dono original da mansão, um médico chamado Nicholas Geny, não pretendia se desfazer da propriedade, mas Delphine estava irredutível, ela habilidosamente negociou com credores e se tornou titular dos direitos sobre dívidas que Geny havia contraído. Valendo-se de seu traquejo financeiro, ela acabou tomando a casa e várias posses do médico que arruinado, se suicidou. A mansão foi totalmente reformada e nenhum luxo foi poupado para transformar a propriedade em um verdadeiro palácio. Madeira machetada e portões de ferro batido foram trazidos da França, cortinas de tecido inglês nas janelas, móveis e mobília italiana adornava os aposentos finamente decorados com tapetes persas e antiguidades. Em 1832 um terceiro andar foi acrescido a mansão e um alojamento para escravos incluído no topo. As festas de Madame LaLaurie eram verdadeiros eventos no calendário social de Nova Orleans. Jantares e recitais aconteciam nos salões e jardins da opulenta mansão, onde a nata da sociedade se reunia. A festa de noivado de uma de suas filhas foi um dos eventos sociais mais comentados da primavera de 1832 e contou com a presença de políticos, artistas e pessoas muito influentes. Na época, era muito comum que as famílias mais abastadas do sul dos Estados Unidos mantivessem escravos negros como mão de obra em suas propriedades. Os LaLaurie possuíam vários escravos que serviam a família e de fato, supõe-se que eles negociavam diretamente com mercadores de escravos ou que tivessem envolvimento com o rentável tráfico negreiro. Relatos a respeito da maneira como Delphine LaLaurie tratava seus escravos entre 1831 e 1834 variam. A historiadora Harriet Martineau, reuniu a partir de 1838 testemunhos de habitantes de Nova Orleans a respeito dos escravos pertencentes aos LaLaurie. Muitas pessoas observavam que esses escravos eram “singularmente fatigados e magros”; entretanto, em suas aparições públicas Delphine sempre era delicada com os negros e solícita com a saúde de seus escravos. O Tribunal de Registros na época continha notas de que os LaLaurie haviam emancipado dois de seus escravos (chamados Jean Louis em 1819 e Devince em 1832). Uma imagem do incêndio publicada nos jornais de época Por outro lado, corriam boatos de que Delphine na esfera privada tratava seus escravos de uma forma muito diferente. Autoridades policiais visitaram a Mansão em Royal Street em mais de uma ocasião para devolver algum escravo que COLLAPSE UNDERGROUND ART - 33


havia desmaiado extenuado enquanto tentava cumprir alguma tarefa. Um número considerável havia tentado fugir e na maioria das vezes, quando estes eram trazidos de volta, não eram mais vistos. Algumas leis em vigor em Nova Orleans arbitravam a relação entre escravos e senhores, proibindo que “escravos de casa” recebessem punições consideradas cruéis. Uma amiga de Delphine, no entanto, recordou que uma das criadas da casa, uma jovem escrava, implorou que ela a ajudasse, pois temia que a patroa LaLaurie a matasse. Várias outras pessoas lembraram estórias envolvendo a crueldade da Madame LaLaurie. Um advogado amigo da família contou ter visto certa vez uma menina chamada Lia, de apenas 12 anos, fugir para o telhado da casa apavorada dizendo que sua senhora queria arrancar sua pele. Enquanto ela chorava desesperada, Delphine aguardava com um chicote prometendo que a punição seria muito pior se ela não descesse imediatamente. Quando ela se negou, a patroa mandou que atirassem pedras para força-la a obedecer. A menina se desequilibrou e caiu quebrando o pescoço. Furiosa, Delphine teria mandado prender o cadáver da menina no poste e ela própria a açoitou inúmeras vezes. O pecado de Lia foi puxar o cabelo da patroa enquanto lhe passava a escova. Em outra ocasião, Delphine teria ficado descontente com a refeição servida a convidados ilustres na mansão. Para punir os escravos ela teria mandado que eles não recebessem comida por dias, mas eram obrigados a assistir que ela e a família fizessem suas refeições diariamente. Quando um deles desmaiou, Delphine teria mandado que a pobre coitada fosse levada para os fundos, colocada em um caixão e enterrada no jardim. A preocupação da Madame com supostos escravos roubando comida beirava a paranoia. Nenhum deles podia comer nada sem que ela pessoalmente permitisse, como resultado muitos sofriam horrivelmente e definhavam a olhos vistos. Boatos também diziam que Delphine chegou a ser processada por maus tratos a nove escravos que trabalhavam numa plantação da família. Esses escravos foram supostamente vendidos para outra fazenda, mas alguns dizem que eles jamais chegaram ao seu novo trabalho. Eles teriam sido mortos no caminho e enterrados nos pântanos da Louisiana. Havia

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ainda muitas outras estórias relatando maus tratos que iam de criadas apanhando com chicotes até escravos que tinham os dedos, mãos, pés cortados com a lâmina de machadinhas por terem cometido falhas, como por exemplo, não polir corretamente a prataria da casa. Em 10 de abril de 1834, um incêndio começou na cozinha da mansão na Royal Street. Os donos da casa estavam fora e as autoridades foram chamadas para ajudar no combate ao fogo. Na cozinha encontraram uma mulher negra de setenta anos, a cozinheira favorita da família, acorrentada ao forno pelos pulsos e tornozelos. Mais tarde, a mulher confessou que havia iniciado o incêndio como uma tentativa de suicídio por temer a patroa. As palavras dela foram: “Eu tenho medo de ser levada para o andar de cima. Ninguém que é levado para lá volta” Conforme foi publicado no New Orleans Bee, populares tentaram entrar no alojamento dos escravos para evacuá-los. Uma vez que ninguém sabia onde estavam as chaves, quebraram o cadeado e encontraram “sete escravos em lastimável estado, alguns horrivelmente mutilados... haviam cadáveres pendurados pelo pescoço pendendo em cordas, braços e pernas cortados ainda presos a correntes e inúmeros apetrechos de tortura espalhados pela câmara. Os escravos cativos contaram que haviam sido levados para aquela câmara de horrores onde sofriam horrivelmente. Alguns estavam lá há meses”. Um dos homens que descobriu a câmara de torturas foi o Juiz Jean-Francois Canonge, que posteriormente prestou depoimento sobre o que foi encontrado na mansão: “Havia uma mulher nua com um colar de ferro cheio de espinhos presa na parede por uma corrente. Os muitos ferimentos em suas costas evidenciavam o uso de chicote e ferros em brasa. A mulher contou que a Madame Delphine costumava cortá-la com uma navalha e beber seu sangue. Por vezes ela mergulhava suas mãos e rosto em uma bacia cheia de sangue acreditando que assim poderia rejuvenescer.”


Uma representação em cera da Câmara das Torturas Canonge continuou em seu testemunho: “Uma velha negra tinha um ferimento profundo na cabeça e estava fraca demais para falar ou andar. Um homem havia sido castrado e o ferimento fora costurado com barbante, a língua dele também foi cortada para que ele não pudesse reclamar”. Um dos homens de confiança dos LaLaurie, quando interrogado confessou que a câmara de torturas era usada há anos e que a patroa se divertia quase que diariamente atormentando seus escravos. “Nada dava a ela maior prazer” teria contado. O frio relato enfureceu a população e logo a casa foi destruída por pedras e uma turba armada com paus que colocou tudo, exceto as paredes abaixo. As roupas e jóias da família foram saqueadas, os salões com seus móveis luxuosos devastados e por pouco a casa não foi inteiramente queimada pela multidão. Uma das filhas de Delphine que estava na mansão foi agredida e se não fosse a intervenção das autoridades teria sido linchada. Os escravos torturados foram levados para a prisão local, onde testemunharam sobre tudo o que haviam passado. As audiências públicas foram muito concorridas - mais de 4 mil pessoas segundo o New Orleans Bee, vieram assistir os procedimentos. Durante a oitiva, pessoas chocadas desmaiaram com a narrativa nauseante até um ponto em que o xerife preferiu restringir a presença do público. O Pittsfield Sun, citando o New Orleans Advertiser contou que semanas depois do ocorrido e da evacuação da mansão, corpos começaram a ser desenterrados no quintal da casa. Oito ossadas humanas completas foram achadas no local onde os feitores dos LaLaurie dispunham os corpos em covas rasas. Se essa descoberta não fosse terrível por si só, outro feitor confessou que haviam muitas outras vítimas cujos corpos foram atirados em um poço seco nos fundos da propriedade. Para acrescentar uma nota de tragédia ainda mais brutal, quando o poço foi aberto, as autoridades encontraram

ossos de crianças que haviam sofrido torturas similares. Mas o que aconteceu com Madame Delphine depois da medonha descoberta em sua mansão? A vida dos LaLaurie depois de 1834 não é bem documentada, havendo escassez de informações em parte porque eles tentaram desesperadamente sumir de circulação. Após a descoberta aterradora, Delphine e suas filhas teriam fugido para a cidade de Mobile, no Alabama onde foram hospedados por parentes distantes. Lá, seu marido Leonard a abandonou temendo sofrer represálias se continuasse com elas. Delphine ficou com os parentes por algumas semanas, mas mesmo eles estavam temerosos com as acusações que ela vinha recebendo e não a queriam por perto. Em meados de junho, temendo ser descoberta, Delphine mandou suas filhas para que ficassem com amigos e agendou uma passagem num vapor que a levou a Paris. Supõe-se que os LaLaurie tinham dinheiro em bancos na França, mas não se sabe qual era o tamanho de sua fortuna. O que estava na Louisiana foi perdido para sempre. De qualquer maneira ela ainda tinha o suficiente para permitir se estabelecer na capital da França e manter um padrão elevado. Suas filhas jamais se juntaram a ela na Europa, alegando que não queriam mais ter qualquer contato com a “Megera de Royal Street”. As circunstâncias da morte de Delphine LaLaurie não são claras. O historiador George Cable relatou uma estória que se tornou popular afirmando que ela teria morrido em um acidente de caçada, na França. Ela teria sido morta por um javali furioso que a derrubou do cavalo e a atropelou. Alguns afirmam que ela teria retornado para a América e morrido em São Francisco em decadência, mas não se pode saber. Seja qual for a verdade, nos anos 1930, Eugene Backes, um coveiro do Cemitério St. Louis descobriu uma placa de cobre com a inscrição: Algumas pessoas contam que o fantasma daMadame LaLaurie ainda assombra as ruas da cidade de Nova Orleans, mas nessa caso, superstições e lendas se misturam com a realidade produzindo estórias assustadoras. Que tal explorar o lado sobrenatural dessa aterradora personagem histórica e utilizá-la em um contexto ainda mais bizarro? Esse, entretanto é assunto para outro artigo.

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entrevista

Por: JP Carvalho horda Nox Spiritus vem destacando no cenário nos últimos anos com seu som cantado em português que nos remete aos medalhões históricos nacionais. Vamos ver o que a banda fala de sua história e também detalhes de seu próximo lançamento.

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A Nox Spiritus foi formada em 2009, são oriundos de algumas bandas do cenário nacional, tais como: Brutal Desecration, Nightspirit, Melencoliam dos anos noventa e Honor Infernum de 2007. Como foi o início e qual a diferença dessas hordas antigas? Nocturnus Animus: Depois que a horda Hornor Infernum encerrou suas atividades, continuei tocando sozinho através de um projeto onde fazia todos os instrumentos tipo uma one man Band. Pela necessidade de continuar trilhando através da arte sonora do metal extremo, mas de forma em 36 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

poder apresentar o meu trabalho, resolvi convidar os brothers de antigas hordas da qual fazia parte. Dentre eles foram convidados, Laidrac - baterista da banda Brutal Desecration, Arcanus - baixista da banda Brutal Desecration e anos depois da horda Nightspirit e Dracul – Guitarrista da Awake the Migthy Dragon do qual éramos apenas amigos. Através desta união surge a horda Nox Spiritus. Com o passar do tempo alguns membros saíram da horda, e em 2014 veio a fazer parte da Nox Spiritus o Hellbrother Nazgull – Guitarra solo e Base. Atualmente possuímos muito mais experiências e profissionalismo no qual as hordas e bandas antigas serviram de base para este aprendizado. Visto que no passado tudo era mais difícil, desde a compra do seu próprio instrumento até as relações entre amigos, por estarmos na fase da adolescência. Cantar em Português foi uma escolha natural? Já que poucas bandas que cantam na língua pátria, conseguem


uma exposição maior no exterior, isso indica que a intenção é focar na cena brasileira, ou não? Nocturnus Animus: Sim, optamos pelo português por ser nosso idioma, para que houvesse um entendimento mais preciso por parte do público de nosso país. Defendemos também a ideia de que o uso de nosso idioma pátrio venha a elevar - se como uma bandeira de nossa cultura em outros países, concretizando esta troca cultural que, pensamos nós, deve haver em todas as formas de arte. O objetivo inicial da horda Nox Spiritus é obter tanto um crescimento como uma valorização maior em relação ao nosso berço sonoro e para própria horda, podendo através de nosso idioma expressar de maneira mais coesa todas as mensagens propostas no estilo musical, em respeito a grande parte do publico do cenário brasileiro. Mas não queremos que isso seja uma regra irreversível, podemos no futuro cantar em outros idiomas, desde que um contexto. O Black Metal tem temas digamos limitados, mas são colocados com pontos de vistas variados e de forma inteligente, nem sempre a regra se repete claro. Mas tocar Black Metal é algo que vai além da música e religião para sua horda? Nocturnus Animus: Com toda certeza a horda não vê ou vive as limitações outrora colocadas ao estilo mencionado. Para nós, a arte musical do Black Metal está acima da musica e da religião, sendo melhor entendido como estilo de vida. Vemos o Black Metal embasado na relação do espírito livre com o ser e suas múltiplas expressões. Somos livres de rótulos contrários à liberdade do homem enquanto ser pensante e único que age em equilíbrio com a razão, liberdade e sabedoria. Como tem sido a repercussão do 7” EP “Iluminatos Sapere”? O vinil tem crescido cada vez mais, foi um desejo ou oportunidade em lançar neste formato? Nocturnus Animus: A repercussão está sendo muito boa, posso lhe dizer que a cota que coube a horda já está esgotada. Temos recebido criticas positivas e alguns convites para shows, entrevistas em rádios on line e zines. A ideia de ter um vinil da horda sempre foi um sonho antigo, visto que apreciamos esse formato que reproduz a musica de forma analógica, trazendo também um sentimento de nostalgia pelas épocas idas de nossa adolescência. O fato de o vinil estar voltando, certamente veio a contribuir para a realização deste sonho. As duas músicas do EP são a base do próximo CD a ser lançado? Como estão trabalhando com a Black Legion Productions, será natural o lançamento deste CD em território nacional? Nocturnus Animus: Digamos que o EP seja um prelúdio para a tempestade. As novas composições possuem uma identificação com as do EP, embora a sonoridade esteja ainda mais extrema e mais evoluída. Um convite ao caos, mas também momentos cadenciados e reflexivos, conduzindo a suprema essência da sabedoria e libertação do ser único. Sobre a Black Legion Productions, não poderíamos esperar melhor tratamento. Uma assessoria de suma importância, que honra a todos os seus compromissos, que vem exercendo um grande apoio e suporte a horda Nox Spiritus. Certamente o debut será lançado em terras brasileiras para honrar todo o respeito que os hellbrothers e o público do cenário Underground tem demonstrado para com a horda. Recentemente, foram convidados a integrar a coletânea da revista Hell Divine, que tem comprovadamente tem uma qualidade bem legal, obteve algum retorno? Nocturnus Animus: foi uma honra fazer parte de tal

obra, visto que estivemos ao lado de grandes nomes de nosso cenário. A Hell Divine é uma publicação on-line bastante conceituada, somos muito gratos pela oportunidade e interesse pelo nosso trabalho. Até onde tivemos conhecimento foram quinze mil downloads, algo bem surpreendente para nós. Recebemos ótimas críticas acerca do nosso trabalho, correspondências e grande interesse por parte do publico em querer adquirir o material físico da horda, além de numerosas propostas de entrevistas em zines, web rádios e shows. A banda está as vésperas de lançar um vídeo clipe oficial, qual música foi escolhida e por qual motivo? Como se deu e quem ficou a cargo da produção e finalização? Nocturnus Animus: A musica escolhida é a que dá titulo ao nosso EP, Illuminatus Sapere; escolhemos justamente por isso e para dar uma ênfase maior ao nosso trabalho. A produção esta a cargo de nosso nobre brother Silvera Melo, que foi também responsável pelas fotos da horda Nox Spiritus e capa do EP. Tivemos uma mudança referente ao lançamento deste vídeo, visto que queremos que este saia na mesma data do lançamento de nosso álbum. Todo ano nascem e morrem novos selos independentes, pelas dificuldades do mercado especializado nacional. Mas alguns se mantem, qual a importância e como avalia a participação deles no mercado fonográfico? Nocturnus Animus: Os selos independentes exercem uma grande função em nosso cenário, sejam eles pequenos ou grandes. Sabemos que na maioria das vezes, os pequenos selos, possuem uma distribuição muito maior de materiais de várias hordas, sejam elas de renome ou as que trilham para obter os seus devidos reconhecimentos. O que contribui para esta posição em relação à distribuição e divulgação em contrapartida aos selos maiores é o fato de estarem sempre em contato direto com o público, seja em sua maioria em eventos, shows ou por possuírem um ciclo maior de amizades no cenário Underground. Obvio que os selos de maior porte exercem sua parte também, possuem acessos que vão além de seu próprio país de origem, interligando contatos e intercâmbios para o cenário Brasileiro, favorecendo indiretamente os selos de menor porte. Portanto vemos um ponto muito positivo em ambas às posições referentes ao mercado fonográfico. Em sua maioria ambos contribuem para o engrandecimento e união do nosso cenário Underground. O que podemos esperar do Nox Spiritus no futuro? Nocturnus Animus: Continuar nosso trabalho, levando a bandeira de nossa cultura pelo cenário underground, através de uma sonoridade extrema e caótica. Pretendemos firmar novas parcerias para o engrandecimento do Black Metal Nacional com outras hordas, produtoras, selos, distribuidoras e brothers espalhados pelo Brasil e mundo. Obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e deixarem uma mensagem aos nossos leitores. Nocturnus Animus: A horda Nox Spiritus, agradece imensamente a Collapse Underground Art pela oportunidade e interesse para com o nosso trabalho e valorização de todas as pessoas que contribuem para o fortalecimento do cenário Underground Brasileiro. Agradecemos ao nobre Hellbanger Alex Chagas da Black Legion Productions e Cristiano Borges do canal Peste Negra ao supremo trabalho e dedicação para com as hordas do cenário Black Metal. E a todos que de alguma maneira contribuem para o crescimento da arte sonora do Metal aos confins do inferno. COLLAPSE UNDERGROUND ART - 37


RELEASES

Brutallian Blow on the Eye Voice Music - Nacional Vindos de São Luiz no Maranhão, o Brutallian nos brinda com um belíssimo Heavy Metal Tradicional, agregado de peso e alguma velocidade que chega a beirar o Thrash em alguns momentos, mas ao longo deste Blow on the Eye, o que manda mesmo é a melodia e os riffs certeiros, calcado numa malicia que apenas os que dominam essa arte podem conseguir e banda consegue isso até nos momentos mais acessíveis Produção cristalina e com muito peso que ficaram a cargo de Felipe Hyili e Hugão Away, que souberam tirar o melhor de cada instrumento deixando tudo coeso e audível. Em resumo, ótimos instrumentistas, ótimo vocal, excelentes composições, que aliados a uma produção digina de elogios, tornaram este Blow on the Eye ítem mais que bem-vindo na coleção de qualquer Headbanger que aprecie um som honesto e cheio de atitude. Fica a certeza que ainda ouviremos falar muito do Brutallian. JP Carvalho

Minotauro - Renascido Independente - nacional De cara eu já declaro publicamente que jamais conseguirei ser imparcial com o Minotauro. A banda que foi formada no anos de 1980, fez sim parte da minha vida e da minha adolescencia/juventude, e tenho gravado na memória algumas apresentações incomensuráveis do Minotauro, como o show junto ao Vodu (que ainda bem voltou também!) no extinto Projeto Mambembe. Bom indo de encontro ao que interessa, este EP intitulado “Renascido”, não apenas faz jus ao legado que a banda nos deixou, como ela se apresenta dando vários passos a frente e deixando claro, que

mesmo os anos de inatividade não conseguiram apagar a paixão. O som continua aquele Heavy Metal clássico, esbanjando melódia e bom gosto, só que desta vez agregado a modernidade do estilo, sem com isso tornar sua música pasteurizada ou genérica. Muito pelo contrário, temos aqui um trabalho que se peca pela curta duração, explora todo o lado mais visceral e criativo da banda, e tornam os quatro petardos renascidos (sem trocadilho) pela banda clássicos imediatos. No quesito execução, vale lembrar que o Minotauro sempre foi uma banda de palco e isso fica bem claro no decorrer da audição, ainda estão lá a pegada orgânica, o feeling e não é a toa que logo você se pega batendo cabeça pela casa com o volume no talo. Em resumo, tentei ser imparcial, mesmo que a suma dessa resenha não demontre, mas pode ter certeza que ela é sim, isenta de maiores paixões e sincera até o ponto final. Classico tardio e renascido! JP Carvalho

Frantic Amber Burning Insight Independente - Importado Há muito eu não ouvia um disco que emanace tanta fúria e tanta musicalidade. a Frantic amber é formada por 4 meninas e um menino (o baterista, claro) e conseguiram elevar o seu Death Metal Melódico a outros patamares com este Burning Insight. Composições recheadas e ira e energia, lindos riffs e melodias em propulsão, aliados aos vocais cavernosos de Elizabeth Andrews, tornam o Frantic Amber, de pronto, minha banda de cabeceira na atualidade. Não existem pontos negativos neste disco, tudo aqui so sujo, pesado, agressivo e por outro lado, belíssimo em suas melodias e passagens mais, digamos, atenuadas, o que só fez com que o caos sonoro perpetuado por esta banda de origem suéca, mas conta com integrantes vindos de diversas países do globo. Destaque absoluto para os vocais da já citada Elizabeth Andrews e para os solos incríveis da guitarista Mio Jäger, e claro que isso não desmerece o restante da banda, já que o Frantic Amber tem unidade e funciona muito bem em estúdio e ao vivo, confiram pelo canal na

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banda do Youtube e me digam se estou errado. Sem mais nada a declarar, certeiro no meu player durante muito tempo. JP Carvalho

Crisix The Menace Kaiowas Records O disco começa com uma introdução que já indica que é uma grande banda, a intro é perceptivelmente influenciada pelo Metallica. Logo na sequencia vem a porrada na orelha “Ultra Thrash” que representa muito bem o thrash oitentista, essa música tem um clip muito legal e é uma sacada genial escolher essa música para um single, ela é muito empolgante, dá vontade de sair correndo e entrar numa roda. O Crisix apresenta um Thrash com muita energia bastante influenciado por Exodus tanto instrumentalmente quanto nos vocais. A banda tem excelentes músicos e suas composições são muito bem trabalhadas. Destaque para a música “Spawn” que tem um pé no death metal, e a música seguinte “Brutal gadget” que mostra a liberdade músical que eles tem, começa com uma intro inusitada e a música varia entre o thrash e o death metal, simplesmente sensacional. Se você procura uma banda nova com muita energia, riffs inspiradores e coerente tanto nas músicas quanto nas letras, essa banda é o Crisix. Prika Amaral

Division Hell Bleeding Hate Black Legion Productions - Nacional O Division Hell vem de de Curitiba, no Paraná, o que já nos deixa confortáveis já que a região é bem prolífera no quesito brutalidade. E não errei em nada no meu pré julgamento, já que Bleeding Hate,

acerta em cheio na fórmula. Andamentos cadenciados, momentos velozes e vocalizações soberbas a cargo do guitarista e vocalista Ubour, trazem um certo diferencial ao que estamos acostumados em se tratando de Death Metal, e muito me surpreendeu este disco como um todo, muita qualidade nas composições e execuções, além do elevado nível técnico de toda a banda, fazem deste um disco a ser apreciado por longo tempo. E posso dizer que as linhas mais melodiosas e os solos são inspiração pura, que aliados a muito peso, rifs certeiros e muito climas ao longo de todo o disco, fazem deste CD um excelente ítem para quem busca um trabalho um pouco diferente do que temos por ai. Enfim, vá conferir, porque a satisfação é garantida. JP Carvalho

It’s All Red Lead by the Blind Secret Service Records - Nacional Assim, tenho certeza que logo de cara você vai ficar meio sem entender o que tá acontecendo, o It’s All Red usa uma amalgama de referencias em sua música, o que pode fazer com que algum desavisado chegue ao final deste CD tendo proferido em voz alto todos os subestilos que o Heavy Metal incorporou ao longo da sua vida, e provavelmente, tenha tambérm inventado alguns novos. Bom, dito isso, vamos a música de Lead by the Blind, que se apresenta pesado (e poe pesado nisso...), recheado de doses melódicas e vocalizações que nos remetem aos vários já citados subgeneros, mas a unidade e a coesão do It’s All Red em formatar sua música dá a este CD uma característica muito especial, originalidade e inteligencia na hora das composições uma vez que Lead by the Blind passa direto e cai no repeat de modo fácil. Coesão e simplicidade, letras inteligente, aliados a arranjos muito bem contruídos e muita qualidade na produção sonora, fazem do It’s All Red um sério candidato a linha de frente do nosso cenário. Alguém duvida? Vá ouvir e me conta depois. JP Carvalho


Syren - Motordevil Shinigami Records - Nacional Quando falamos de qualidade, um dos nomes que primeiro vem a nossa mente é do carioca Syren, formado por talentosos musicos e executando músicas de altíssima qualidade. O Syren não é exatamente uma novidade para quem acompanha de perto o cenário nacional, e claro que não esperaríamos menos deste segundo trabalho da banda do que encontramos, e continua tudo lá, o característico Heavy Metal Tradicional, as melodias, a agressividades, os vocais do talentosíssimo Luiz Syren, o peso e o melhor, o grande conhecimento de seus intrumentos e de sua música, que fazem so Syren um dos destaques do estilo tanto aqui no em todo mundo. O disco é tão empolgante que passa num piscar de olhos, uma verdadeira aula para os amantes do estilo e uma explosão de talento e criatividade. Motordevil do Syren é ítem mais que obrigatório em qualquer coleção. JP Carvalho

Linha 38 Desabafo Atual e Diversão Sempre Independente - Nacional O Linha 38 vem da região de Caratinga (MG), e nos apresenta em sua música uma variedade bem diversa de estilos, do Hardcore ao

Metal, e suas letras em portugues que flertam com as mazelas do vida e do cotidiano, acentuam mais ainda esse lado HC de sua música, A produção de Desabafo Atual e Diversão Sempre, poderia ser mais límpida, não que isso atrapalhe de alguma forma a audição ou deponha contra o trabalho, é mais uma questão de gosto mesmo. A banda é formada pelo vocalista Lu Capeta é acompanhado por membros do Venereal Sickness, o que já recheia a bolacha com muito peso e rifs muito bons. Um disco honesto, cheio de energia e atitude, recomendado aos apreciadores de música pesada em geral JP Carvalho

Trator BR - Floresta Armada Independente - Nacional Um fidelíssimo representante do Metal extremo brasileiro vindo direto Bauru (SP), o Trator BR nos brinda com mais um CD de primeiríssima qualidade, o que nos mostra que o Brasil sim, é um dos maiores exportadores de bandas extremas do mundo, além de contar com músicos dedicados e conhecedores da arte extrema. Floresta Armada é um petardo absoluto em toda sua concepção, capa maravilhosa, produção de primeira, músicas insanas e cantadas na língua pátria, que mostra que sim, é possível fazer Metal em português e nesse caso aqui, com excelentes resultados, basta conhecer e saber usar o idioma em seu favor. Floresta Armada é um disco intenso, dotado de muita agressividade e peso, o trabalho das guittaras é sensacional e de muita criatividade, a cozinha que não deixa por menos, e faz a cama perfeita para a propulsão de graves que emanam do disco, um destaque seriam os vocais

de Satã BR, com interpretações ríspidas e guturais. Um ótimo lançamento que só acrescenta e faz engrandecer o nosso cenário. Se for sensível a provocações passe longe, se não, seja bem vindo ao time. JP Carvalho

Metal não é mais um trabalho possível, já que banda evoluiu muito em todos os aspectos e tem nos presenteado com obras no mínimo excelente. E Seasons in Red é a cereja do bolo, até o próximo lançamento. JP Carvalho

Chaos Synopsis Seasons in Red Black Legion Productions Caatinga Sattiva Records Lab6 Music/Rock Clube Live – Nacional No trabalho anterior “Art of Killing” o Chaos Synopsis mostrou que é sim um dos grupos mais representativos do nosso país, claro que após brindar os fãs com um trabalho no mínimo primoroso, criou-se a espectativa em torno do próximo lançamento. E a espera valeu a pena, Seasons in Red superou as expectativas e esperanças, o som amadureceu de forma coesa e ainda podemos notar que a unidade como banda foi a grande responsável pela ferocidade que a banda demonstra ao longo das nove faixas que compoem o CD. Pelos lados da produção este CD vem mais na cara que os anteriores, mostrando que a banda evoluiu neste quesito também, e claro que os trabalho do baterista Friggi, a engenharia sonora de Fabiano Penna e a masterização de Neto Grous, elevaram a qualidade em um patamar acima. Liricamente o Chaos Synopsis sempre foi muito feliz, e desta vez também não decepcionaram e desta vez nos brindam com os grandes massacres da humanidade, novamente sendo brilhantes tanto na abordagem lírica como na concepção das músicas. Definir o Chaos Synopsis como apenas mais uma banda de Death

Desdominus Uncreation Misanthropic Records, Brutaller Records, Impaled Records, Heavy Metal Rock - Nacional Você pega o CD e já o julga pela sua capa! Essa é uma prática que nós os humanos nunca vamos perder, já que somos condicionados a comer com os olhos tudo que nos é apresentado. No caso do Desdominus, ponto a favor, porque a capa de Uncreation é de uma beleza ímpar e casa muito bem com a proposta da banda. E a grata surpresa vem ao colocarmos o trabalho no player e conferirmos que se trata de um trabalho excepcional. A banda agrega em sua música influências diversas que vão do Death ao Black Metal, mas estão um passo a frente das demais bandas que enveredam por este caminho, vocais gritados, riffs de sobra, bateria veloz e que dita o andamento em todo o trabalho, mostrando variação e muito bom gosto, peso de sobra por toda a bolacha e muitos, mas muitos climas que dotam este trabalho de qualidade e beleza muito acima do que temos visto por ai. Produção muito bem cuidada, límpida e que soube valorizar as partes brutais e climáticas. Além disso a Desdominus mostra muita qualidade também na parte lírica, que faz de Uncreation um disco perfeito em todos os aspectos e que certamente agradará aos fãs. Impecável! JP Carvalho


Entrevista

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Ygor Nogueira Rebaelliun foi um dos nomes que ajudaram a definir e moldar o estilo brasileiro de se fazer Death Metal e, mesmo com sua parada precoce, continuou influente em nosso cenário e agora está de volta para ocupar seu merecido lugar como um dos principais grupos do estilo no mundo. Confira a seguir nosso bate-papo com a banda.

O

Vamos começar com uma pergunta básica, ou talvez, até cansativa. Mas para matar a curiosidade daqueles que não conhecem a trajetória do Rebaelliun, quais foram os motivos da banda ter encerrado suas atividades 13 anos atrás? Fabiano Penna: Na realidade foi uma soma de coisas. Por quase 4 anos estávamos nos dedicando 100% à banda, ninguém tinha trabalho ou estudo rolando paralelamente à música, e apesar da gente permanecer bastante tempo na estrada tocando, nos mantínhamos financeiramente com muita dificuldade. E a falta de grana vai minando a paciência das pessoas, dificultando o convívio, etc. Como éramos todos bem novos, e talvez faltasse maturidade para lidar com certas situações, aos poucos a situação foi ficando insustentável, tivemos várias mudanças na formação, foi tudo enfraquecendo de certa forma. E aí a melhor coisa que podíamos fazer era parar naquele momento. Nesse longo período, a amizade e o contato entre os membros continuaram com a mesma intensidade e frequência? Lohy Fabiano: Certamente. Mantivemos o contato durante esse hiato, e sempre fomos muitos amigos. Sabíamos que a decisão de parar com as atividades da banda não influenciaria nossa amizade, que é desde a nossa infância. Crescemos ouvindo metal, e tocando juntos, e sempre que tínhamos a oportunidade nos encontrávamos pessoalmente para colocar o papo em dia. Nossa amizade seguiu durantes os anos, apesar da distância. Isso foi um fator positivo para o Rebaelliun está de volta? Lohy Fabiano: Isso foi com certeza, um fator determinante. Não cogitaríamos uma volta, se houvesse algum rancor, ou desconforto entre nós. Desde o encerramento das atividades adquirimos muita experiência e aprendizado. Essa visão lúcida da situação nos permitiu reavaliar o momento, as condições, e decidir recomeçar os trabalhos com o Rebaelliun. Qual a “diferença”, se é que é possivelmente sentida, de voltar a tocar, entrar em estúdio, após tanto tempo afastados? Há alguma dificuldade? Fabiano Penna: Já fizemos uma leva de vários ensaios seguidos no mês de setembro e fluiu bem. Eu e o Sandro sentimos um pouco menos, nos mantivemos tocando em outras bandas durante todo esse tempo. Mesmo assim o Lohy e o Ronaldo tiveram algumas semanas para praticar antes da gente se encontrar e o resultado foi acima do esperado. O primeiro dia obviamente foi um pouco estranho, mas a partir do segundo já sentimos que a liga estava de volta e a coisa fluiu. Claro que não estamos com o mesmo pique que tínhamos lá por 2000, quando a banda estava tocando ao vivo direto e estávamos literalmente voando baixo, mas nosso foco agora é preparar material novo e executar essas músicas com perfeição, e estamos bem perto disso…

as atividades? Vocês chegaram um para o outro e falaram vamos voltar a tocar? Contem como foi esse momento. Lohy Fabiano: Acho que a vontade de tocar juntos novamente nunca morreu. Mesmo tendo outras vivências, outras bandas, outros projetos, essa vontade não se extinguiu por completo. Chegamos a conversar em outras ocasiões sobre uma volta, mas sabiamente decidimos que não era o momento certo. Tínhamos a intenção primeiramente de somente fazermos alguns shows, mas logo percebemos que um lançamento de um disco novo e voltar aos palcos definitivamente era o que mais nos motivaria nessa volta. Então, alguns dias antes de anunciarmos a volta, retomamos o assunto e fomos alinhando as percepções, arquitetando como seria o método de trabalho, e tudo mais envolvido. Conversamos muito entre nós, e logo após de termos tudo acertado como seria, o Fabiano fez o anúncio. Qual o foco principal da banda agora, shows ou um novo full length? Fabiano Penna: O disco novo. Desde quando anunciamos a volta já começamos a compor material, já temos metade do disco escrito e seguimos produzindo novas músicas. Em dezembro começamos a captar o disco, que vai ser lançado em Maio de 2016. Shows apenas após o lançamento do álbum. Mantendo o foco em um novo disco, o que podemos esperar de um material inédito? Nele terão alguns arranjos que ficaram nas gavetas todos esses anos? Fabiano Penna: O disco se chamará The Hell’s Decrees, e contará com 9 músicas inéditas. Já temos coisa pronta, algumas pessoas já ouviram as demos e houve um consenso que o material soa como Rebaelliun, mas com mais maturidade, depois desses 15 anos. Aqui e ali a gente vai fazendo conexões com os nossos primeiros álbuns, mas é bem óbvio para a gente que estamos visitando novos lugares com a música dessa vez. Acredito que vai satisfazer quem curte nossos discos. Vocês chegaram a relançar álbuns antigos em parceria com a Hammerheart Records. Para um futuro disco, ela seria a primeira opção? Lohy Fabiano: Eles foram nossa primeira opção com certeza. Devido ao histórico de um ótimo trabalho, de sabermos que o selo trabalha, e todo o apoio durante as atividades da banda, eles naturalmente seriam nossa primeira opção. Tanto que o novo disco será lançado pela Hammerheart, bem como o relançamento dois primeiros

Indo ao ponto. Como partiu a decisão de retomar COLLAPSE UNDERGROUND ART - 41


discos, e do EP At War, que em breve estarão disponíveis em CD e Vinil. Fora isso, vocês estão fechando novas parcerias, e pode citá-las pra gente? Fabiano Penna: Aqui no Brasil estamos trabalhando com a Metal Media, que faz assessorial de imprensa para a gente. Tem também o importante apoio da LabSix, no lado de equipamentos, instrumentos, acessórios. A Domination Management vai fechar os shows da banda no Brasil, assim como uma agência holandesa está responsável por fechar nossa turnê na Europa. Até lançarmos o disco vamos ter com clareza parceiros nas áreas mais importantes para a banda voltar a atuar com força no cenário. A banda ainda tem muito material para merchandising atualmente ou começarão a investir na produção de novas peças para aquisição, como a nova estampa? Fabiano Penna: Até o momento já disponibilizamos 4 modelos de camisetas diferentes. Um antigo, clássico, que a própria banda está distribuindo, assim como um modelo gringo confeccionado pela Malicious Intent da Suiça e dois modelos nacionais confeccionados pela Malignant Art, aqui de São Paulo. Tem um modelo de patch chegando também de um parceiro da Indonésia que confecciona para muitas bandas ao redor do mundo, e mais material vai pintar até sair o disco novo… Já começa a aparecer muitos convites para shows? Isso pode ser o começo de uma tour, pelo menos nacional? Lohy Fabiano: Desde que anunciamos a volta, tem surgido muitos convites para shows em vários lugares, principalmente no Brasil. Mas a galera já está ciente que o nosso foco agora é a produção do novo disco. Após o lançamento do novo álbum, voltaremos aos palcos, e tenho certeza que surgirão bons parceiros para uma tour brasileira. O Rebaelliun está preparado para a atualidade em que vivemos, com downloads massivos e streamings? A banda em si, considera boas ou ruins essas novas ferramentas? Fabiano Penna: Essa é a realidade e temos que aprender a trabalhar com ela. Vejo algumas bandas lamentando, com discurso extremamente negativo a respeito. Há 20 anos atrás, tudo que uma banda queria era a possibilidade de mostrar sua música de forma mais massiva e barata, para chegar ao público. Hoje temos a ferramenta e essas mesmas pessoas estão aí reclamando. Eu acho fabuloso você disponibilizar uma música na rede alguns dias antes de ter seu disco lançado e em questão de horas atingir milhares de pessoas em diversos países diferentes. Se o seu trabalho for interessante, isso vai ser amplificado, vai existir uma expectativa pelo seu disco e logo em seguida pelo seu show. A ferramenta está aí, façamos bom uso dela. Até o momento vocês nunca lançaram nenhum material em vídeo, isso nunca foi muito focado antes, e agora com a corda toda é possível que saia aí o primeiro da carreira? Lohy Fabiano: Essa é uma lacuna que pretendemos preencher, pois com os primeiros trabalhos não tivemos tempo e os recursos eram escassos. Sabemos da importância do vídeo para promoção e visibilidade de qualquer artista, e hoje esse é um objetivo que está em nosso radar. Queremos aproveitar o lançamento do The Hell’s Decre42 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

es para produzir um material em vídeo também. Hoje, com o avanço da tecnologia, foco, e criatividade é possível produzir um vídeo muito bom, coisa que era muito mais complicada há 15 anos atrás. Certamente que no underground não existem deuses ou reis, mas o Rebaelliun é um dos maiores e mais consagrados nomes do nosso cenário. Como vocês lhe dão com essa boa fama, essa consagração e carinho dos fãs? Fabiano Penna: Sinceramente, a gente não esperava que tivesse uma repercussão tão grande essa volta. Sempre fomos cientes que fizemos um trabalho ímpar no final da década de 90, tanto musicalmente quanto em termos de carreira mesmo, já que a banda trabalhou de forma intensa por menos de 4 anos e formou uma base de fãs em muitos países. Mas o tempo passou e achávamos que boa parte do público poderia ter se reciclado, e com isso nosso nome de certa forma esquecido pela parte majoritária dos fãs de música extrema atuais. Mas não, estamos tendo contato com muita gente que nos acompanhava naquela época e também muita gente nova, que faz questão de nos dizer que quando a banda acabou tinha apenas 5 anos de idade, mas que depois foi descobrir nosso trabalho e está aguardando o disco novo, a turnê. Isso não tem preço... Como está sendo conciliar a distância entre os músicos com a rotina de ensaios e shows, e também com agenda compatível, pois o Sandro por exemplo, está em processo de lançamento do disco da Exterminate. Isso é um fato que vai dar para levar numa boa? Lohy Fabiano: É possível trabalhar à distância de maneira muito mais tranquila atualmente, devido à internet, e o avanço da tecnologia. Requer planejamento e foco, mas estamos muito satisfeitos com o resultado que temos atingido. Estamos muitos felizes por poder produzir mú-


sica novamente juntos, então o resto nós manejamos da melhor forma. Quanto ao fato do Sandro estar tocando no Exterminate, em nada atrapalha. Pelo contrário, ajuda e muito, pois contribui para o Sandro estar em forma e pronto para dar o seu melhor para ambas bandas. Sobre apresentações inesquecíveis, vocês tem algum show em especial pra contar? Fabiano Penna: O primeiro show que fizemos na Europa, em dezembro de 1998, vai ser sempre lembrado. Tocamos num pub lendário em Gent, na Bélgica, chamado Frontline. Praticamente toda banda de Metal extremo já passou por esse pub, se não tocou lá, parou para tomar uma cerveja. Chegamos na cidade, levamos nossa demo-tape no bar um dia à tarde e a dona nos falou que poderíamos tocar lá em 2 dias, que teria um evento de Metal e poderíamos entrar como convidados. Fizemos um set com umas 6 músicas eu acho, ninguém estava nos esperando e causamos uma impressão mais do que boa, tanto que no dia seguinte já tivemos um show marcado em outra cidade belga e começamos a ter convites para tocar toda semana. Passamos 3 meses na Europa nessa primeira ida, que culminaram em 20 shows por 3 países, 2 aberturas para o Deicide e Behemoth, nosso contrato com a Hammerheart e uma experiência de vida que todos levamos pra sempre. E tudo começou naquele primeiro show. Muitos perguntam sobre as grandes influências para o Rebaelliun, mas façamos diferente dessa vez. Quais referencias undergrounds, ou até mesmo revelações recentes do nosso cenário, que influenciam ou são recomendadas pelo quarteto? Lohy Fabiano: Temos muitas bandas boas surgindo, ou consolidando seu nome no cenário, realmente. Eu citaria o Pátria do Rio Grande do Sul, que faz um Black

Metal muito bem trampado, ainda do estado tem o Vômitos & Náuseas que foi umas das primeiras bandas de Crossover do estado, e está retomando as atividades. O próprio Exterminate, que está lançando seu debut e virá destruindo tudo. O Thrash|Death do Chaos Synopsis de SP, também é muito bem trampado, o Vigaresh também de SP está muito foda. A lista é grande, e todas são referência em seus estilos. Como vocês veem o cenário do Death Metal no país atualmente? Acham que deu uma crescida, uma repaginada, e isso alegra os descontenta-os como músicos representantes do estilo e também como fãs? Fabiano Penna: Acho que no Brasil sempre houveram e sempre existirão boas bandas de Death Metal. O momento em si não é dos melhores para o estilo, e isso no mundo todo, a gente vê aqui no Brasil bandas como Vader tocando pra públicos pequenos. E as bandas locais tocam no geral para menos gente ainda, quando tocam. Mas isso faz parte, o estilo mantém uma parte do público, mas outra parte se recicla, gente que se afasta daquele tipo de música, mas também em algum outro momento volta a crescer o interesse pelo estilo por outras pessoas e aí o mercado ganha fôlego, pois os shows têm mais gente e consequentemente dá para ter mais shows, mais turnês, etc. Esperamos de alguma forma contribuir pro estilo no Brasil ano que vem quando sair o novo álbum e começarmos a tocar ao vivo, é nosso objetivo somar. 2016! O que podemos esperar no novo Rebaelliun? Pretendem cair nas garras da modernidade ou continuarão nos presenteando com a mais brutal e extremo Death Metal? Lohy Fabiano: Se esse conceito de modernidade é calcado em composições pouco inspiradas ou “plastificadas” como fórmulas, certamente não é o que estamos preparando. Nosso som sempre foi brutal, agressivo e extremo. É o que sabemos fazer. O disco novo está sendo construído sobre bases sólidas e muito intensas. O trabalho está se apresentando uma evolução natural do Annihilation, tanto em sonoridade, quanto em produção, e acredito que são elementos que serão perceptíveis para quem conhece nossa trajetória. Quero também, dar as boas-vindas e sucesso nessa retomada. Que possamos escutar muito mais Rebaelliun daqui para frente! Deixo o espaço aberto para agradecimentos e considereções finais. Fabiano Penna: Ygor, muito obrigado pelo espaço, pela excelente entrevista, e pelo apoio. Para quem acompanha nosso trabalho, gostaríamos de agradecer também por toda força que estamos tendo de muita gente nos últimos meses, e estamos certos que vamos lançar um disco à altura, não vamos desapontar todos esses amigos. Maio de 2016 The Hell’s Decrees sai e vamos retomar nosso caminho de onde paramos. Lohy Fabiano: Valeu mesmo, Ygor. Pelo apoio, espaço e essa grande entrevista. Engrosso o coro com o Fabiano, em agradecer todos que acompanham, apoiam e ajudam a divulgar nosso trabalho. Para continuar nos apoiando, confira nossas redes sociais, aguardem os relançamentos que sairão em breve, e o novo disco. 2016 será um grande ano para o Rebaelliun, com o lançamento do The Hell’s Decrees, e a banda voltando a tocar ao vivo. Vamos celebrar com os irmãos essa volta nos palcos, com certeza. COLLAPSE UNDERGROUND ART - 43


Entrevista

Voltando Para Quebrar Pescoços! Por: Renato Sanson inegável a importância do MX para o cenário metálico nacional em um todo, pois o que seria apenas som pesado praticado por amigos foi além do esperado, lançando discos que se tornariam referencia no estilo. Porém nem tudo são “flores” e após duas paradas traumáticas o MX retorna com força total, disposto a continuar seu legado construído no passado. Conversamos com o baterista Alexandre Cunha que nos conta um pouco destes tempos difíceis, do vindouro lançamento dentre outros assuntos.

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Vocês deram uma pausa nos anos 90 e depois no começo dos anos 2000, retornando às atividades em 2012, 44 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

com o intuito de voltarem à estrada e de lançar um novo disco. O que ocasionou estas paradas? E atualmente o que podemos esperar do MX? Alexandre: Em 1990 paramos bem quando tínhamos acabado de lançar o álbum “Mental Slavery”, cancelando vários shows e comprometendo a divulgação deste álbum. Nesta parada em 1990 o guitarrista Decio Jr demonstrou vontade em se dedicar a sua vida pessoal e profissional e acabamos por parar as atividades. Ainda na década de 90 lançamos dois álbuns o “Again” em 1995 e o “Last File” em 1998, mas a banda estava parada, fizemos pouquíssimos shows. A volta oficial do MX foi no final de 2012, a banda acaba de lançar o álbum “Re-lapse” com regravações dos principais clássicos dos dois primeiros discos “Simoniacal” e “Mental


Slavery” e agora estamos compondo para o álbum de inéditas que lançaremos em breve. O que seria um novo álbum se transformou em “Re-lapse”, onde vocês regravaram alguns clássicos. Como surgiu está ideia e em termos de material inédito saíra algo em breve? Alexandre: Sim, o “Re-lapse” foi algo que a mídia e alguns fãs nos cobravam, todos queriam ouvir as músicas antigas sem alterações, mas gravadas de forma melhor, e foi isso que fizemos, não mudamos as músicas, mantivemos toda nossa essência e o resultado nos surpreendeu pelo fato das composições terem sido feitas quando éramos moleques de 16, 17 anos. Podem aguardar que em breve teremos material novo do MX! O MX foi um dos pilares do Thrash Metal brasileiro nos anos oitenta e começo dos noventa. Na visão de vocês o que mudou no estilo de lá para cá? Alexandre: No estilo tivemos algumas inovações nas composições, equipamentos, gravações, etc. Como não podia deixar de ser, mas acho que atualmente a essência ainda está aí, hoje mais disputada com outras vertentes do Metal, mas o Thrash Metal tem seu espaço, mas não gosto do lance da competição dos estilos, acho que música pesada é uma coisa só, e é isso que o MX pensa, é tudo música pesada. Diferentemente dos anos oitenta hoje existe uma onda tecnológica que “assombra” o mundo da música, para vocês quais os prós e contras disso? Alexandre: Sim, com certeza, uma era global, tudo de bom e de ruim acontece de forma rápida. Acho que as vantagens e desvantagens são para todos, portanto, a competiti-

vidade é a mesma, como característica temos a divulgação e a velocidade que a notícia pode se espalhar, por outro lado a venda de CDs diminuiu bastante, e tudo fica registrado e exposto ao mundo, vídeos, músicas, letras, polêmicas... “Simoniacal” (1988) e “Mental Slavery” (1989) podem ser considerados facilmente clássicos do estilo no Brasil. Como vocês enxergam esses álbuns hoje em dia? E em relação aos novos fãs de Thrash, teriam alguma ideia de como esses clássicos soam para eles? Alexandre: Estes dois álbuns são conceituados e tiveram boa parcela de importância na época de seus lançamentos com muito reconhecimento. Ainda gostamos muito dos álbuns antigos, são nossos filhos... Tanto é que tivemos a coragem e a confiança de regravar as mesmas músicas destes álbuns para lançar o “Re-lapse”. Com relação ao público pelo contato que temos com os fãs mais novos a aceitação é incrível, sempre comentam e os discos continuam sendo vendidos até os dias de hoje. O cenário nacional está em uma crescente de bandas, em diversos estilos, diga-se de passagem. Mas falando do Thrash Metal em si, quais bandas você citaria como destaque atualmente? Alexandre: Temos atualmente muitas bandas no Brasil, de todos os gêneros e estilos, algumas realmente boas e com perspectiva de crescer. Se eu citar algumas aqui com certeza esquecerei outras, pois são muitas bandas e não seria justo de minha parte, prefiro dizer que estamos evoluindo cada vez mais e temos bons grupos em todos as vertentes do Metal. Aproveitando gostaria de agradecer a vocês pela oportunidade e ao público que nos apoiou nesta volta do MX e que continua nos apoiando. Novidades em breve!

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Sangue Por: JP Carvalho andas como a Frantic Amber, convencionamos a chamar de Death Metal melódico, muito mais por seu país base ser a Suécia, ou seja, o país onde este estilo foi criado e exportado para o mundo através de nomes como At The Gates, In Flames e Dark Tranquillity. Mas a coincidência geográfica pode ser um mero acaso, já que a Frantic Amber tem raízes fincadas na suécia, mas em sua formação conta com membros de quatro países diferentes (Suécia, Dinamarca, Japão e Colômbia). Dito isso, podemos esperar então riffs pesados, vocais agressivos e muita melodia em suas composições. Sim, é exatamente isso que encontramos aqui, mas a Frantic Amber vai além e inflige em sua música caos e agressividade, tornando a banda uma clara referencia dos caminhos trilhados pelos percussores do estilo, e se não é de todo original, teve a grandeza de se sobressair praticando exatamente o que esperamos do som de Gotemburgo, e novamente citando os percussores do estilo, já que em sua grande maioria partiram para outros caminhos, lhes restando apenas o legado e o respeito pelo que fizeram. Rodeado por uma atmosfera distorcida e perturbadora, a banda conseguiu trazer muito mais atenção a sua música, graças a origem de seus integrantes, que vieram de regiões muito diferentes e isso se refletiu nacional e internacionalmente, levando a banda se apresentar em países como Rússia, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Itália, Bélgica e Países Baixos. A banda despontou no cenário em 2012, vencendo a final sueca do Wacken Metal Battle, concurso realizado por representantes do Wacken Open Air espalhados pelo mundo onde as

B

46 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

Incendiand


e novo

do o cenário

bandas se apresentam e disputam uma concorridíssima vaga para se apresentar no festival. Além de uma aparição no programa P3 Music Award P3 Guld 2012, executando uma apresentação insana diante de uma platéia que simplesmente (me pareceu) não sabia como reagir a uma banda como aquela, esta apresentação pode ser conferida no Youtube. Os primeiros anos desde 2010 incluíram cerca de 20 shows por ano, em festivais como Sweden Rock Festival, Metaltown, Rockstad Falun e Wacken Open Air. O segundo show no Sweden Rock Festival foi gravado na íntegra e transmitido duas vezes no canal nacional de rádio P3 Rock Live em 2011 e 2012. No final de 2010 a Frantic Âmbar fez um tour escandinava de 10 datas com o Six Feet Under, e tocou pelo terceiro ano como headliner no Rock Bitch Boat. Em relação a lançamentos e mídias sociais, a Frantic Amber fez cinco vídeos dos quais o primeiro “Wrath of Judgement” teve mais de 270 mil visualizações, outro “Ghost” teve mais de 500.000 visualizações, e o terceiro “Bleeding Sanity” não está muito atrás . Eles lançaram seu quarto vídeo “Burning Insight” na sua festa de lançamento sueca do seu primeiro full-length em 17 de setembro de 2014. O álbum Burning Insight tornou-se disponível mundialmente em abril 2015 através da distribuição pela Border Música e o ponto alto de tudo foi o mais recente vídeo da música “Soar” que teve seu lançamento junto com o álbum. Podemos esperar muito desta banda que vem galgando degraus e conquistando fás pelo mundo todo em extrema velocidade, quem sabe para 2016 algum produtor não se anime em nos presentear com algumas apresentações por nossas terras. COLLAPSE UNDERGROUND ART - 47


Entrevista

Por: Raphael Arizio banda Dkrauz pode ser considerado uma grata revelação do metal sinfônico brasileiro. A vocalista Daniele Krauz nos conta como surgiu a banda e também como deu sua entrada no mundo do metal e os seus planos para o futuro da banda.

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Até o momento como tem sido a repercussão do E.P “Insight”? Está dentro das expectativas da banda? Daniele Krauz: Na verdade, o EP superou as expectativas. As músicas foram muito bem aceitas, as críticas têm sido ótimas por parte do público. Temos atraído fãs de vários estilos, mesmo pessoas que não curtem rock têm gostado. Dkrauz pode ser encarado com uma banda ou é um projeto da cantora Daniele Krauz? Daniele: As músicas ficaram engavetadas por nove anos enquanto não apareciam parceiros adequados para montar a banda. Em 2014 eu decidi gravar as músicas com músicos contratadas pelo estúdio e lançá-las como um projeto solo. Até pensei em usar um nome de banda, mas não surgiu nenhum que me parecesse adequado. Porém, depois de lançado o EP apareceram músico interessados, mesmo assim a banda só veio se consolidar em maio. Nessa altura já havia uma propaganda considerável sobre o EP, não valia a pena começar do zero apenas para mudar o nome. De qualquer maneira o nome Daniele Krauz já vem sendo divulgado a vários anos como professora de técnica vocal e isso se agregou a produção musical. Meu canal no YouTube vem crescendo consideravelmente e minha página o Facebook é uma referência. Por conta desses canais é difícil promover a banda sem fazer uma associação. Você tem uma carreira marcada por outros ritmos musicais como música clássica e MPB por exemplo. Como surgiu a ideia 48 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

de fazer algo voltado ao Metal? Daniele: Eu sempre amei a música independente do estilo, o que conta é a qualidade. Já cantei e compus MPB e algo mais pop, já cantei em corais, ópera, grupos variados, barzinhos, mas havia um sonho de ter uma banda. Meus ídolos na música são cantores de hard rock. Desde que comecei a estudar canto erudito me envolvi mais com os músicos de Rock na mesma escola. Depois comecei a lecionar técnica vocal e também fui procurada por cantores de Rock por conta do meu gosto musical. O estudo da técnica para o canto erudito me deu condições de usar a minha voz de forma mais adequada ao Rock. Acabei sendo convidada para cantar em bandas e a coisa foi fluindo. O E.P foi gravado no estúdio Heaven Kuster e foi produzido por Alessandro Kuster, como foi o trabalho com esse produtor e o que ele acrescentou na música da banda? Daniele: Meu impulso de gravar o EP Insight veio ao assistir um show da banda do Alessandro em 2013, Satisfire. Já o conheço a uns bons 10 anos e acompanhei o crescimento da banda e seus primeiros trabalhos com o estúdio. Decidi que aquele era um bom momento e ele seria a pessoa certa. Como eu ainda não tinha a banda precisava de músicos e um produtor que realmente compreendessem a idéia. Nossos gostos musicais são bem parecidos, precisei citar apenas dois exemplos para ele visualizar o projeto e escolher os músicos perfeitos. Em poucos dias o EP já estava pronto sem eu precisar pedir nenhuma mudança. Foi lançado um clip para a música “Divine”, como foi a elaboração desse vídeo e como tem sido a sua repercussão? Tem previsão de lançar mais vídeos para divulgação do EP? Daniele: O clip para a Divine foi produzido por Ricardo Kuster, como eu não tinha nenhuma experiência no assunto deixei tudo a


cargo dele. Decidimos aproveitar os espaços naturais da cidade, que são muito bonitos e ir criando um roteiro de acordo com o ambiente. O clip tem feito sucesso, já chegou a 1000 visualizações mensais. Já estamos trabalhando nos clips para as outras músicas. Um deles será com as gravações do show no festival Rock City (Guarapuava). Os outros clips estão sendo filmados aos poucos com a participação de dançarinos locais e outros convidados. Pretendemos usar poucos recursos e trabalhar mais a imaginação. Como em tudo que faço acabo aprendendo novas artes agora estou me aventurando na produção e edição também. Gosto de aproveitar e valorizar as habilidades das pessoas que tenho ao meu redor, disso vão surgindo idéias interessantes e parcerias. A música da banda tem uma vasta influência de muitos ritmos dentro do metal como Prog, Gótico e Metal melódico. Quais são as influências da banda para fazer essa mistura dentro do Metal? Daniele: Eu sou apaixonada pelos clássicos, Queen, Led Zeppelin, Pink Floyd, mas também ouço bandas mais novas e acabo incorporando tudo que acho agradável. Não pretendo me prender a um estilo específico, apenas me preocupo em manter uma coerência entre as músicas para que soem bem como um conjunto. Isso trouxe um pouco de dificuldade para descrever o som na hora de postar o EP, há sempre a necessidade de escolher um estilo no qual se listar. Quando os novos músicos começaram a contribuir com os arranjos das músicas que ainda não foram gravadas trouxeram mais experiências ainda. Mas estamos sempre tentando manter as musicas dentro de um padrão de composição. Todos nós queremos que o nosso som seja marcante, tenha uma identidade própria mesmo fazendo eco a nossas influências. De Pantera a Dream Theater, creio que os ouvintes vão identificar muitas referências. Acredito que esse seja um ponto positivo bem forte, conseguimos agradar públicos bem diversos. As letras da banda tratam de alguns temas interessantes como autoconhecimento, espiritualidade, sociedade, etc. Quais são as influências para esses temas tão diversos? Daniele: Por enquanto as letras são todas minhas, os temas que escolhi vem de meu gosto por filosofia, em especial Platão, e minhas observações sobre os pensamentos das pessoas ao meu redor. A princípio as músicas que deveriam formar o CD eram todas dentro do mesmo tema, quase conceitual. Mas na seleção final elas acabaram variando mais. Mas eu gosto de escrever a respeito das coisas que incomodam as pessoas, esses pensamentos que todos temos em algum momento da vida, medos, desejos, sonhos, culpas. Porém me interessa oferecer alguma solução, um caminho, uma reflexão alternativa a respeito do que parece assustador. Sempre admirei as letras de Pink Floyd, queria ter aquela qualidade de poesia. Também gosto das letras de Opeth e Kamelot, gosto do uso das personagens. Todos nós temos várias personagens internas e muitas vezes não as reconhecemos, através da música algumas conexões podem vir à tona.

respeito, até para que as pessoas que ainda não conhecem possam ter uma idéia do que vão ouvir. Porém a intenção não é ser uma nova Tarja. Eu tenho estudo erudito e uso essas técnicas nas interpretações, minha voz é parecida em timbre com a dela e canto Nightwish com facilidade, mas minhas maiores influências são Coverdale, Jorn Lande, Gilmour. De qualquer maneira devo a Nightwish o despertar da minha intenção em cantar Metal, antes da Tarja eu não via muito como me encaixar nesse mundo. Claro que agora minha técnica é bem mais flexível e ela deixou de ser o único ponto de apoio. Quais são os planos da banda para 2016? Tem previsão de lançamento de um full completo? Daniele: Estamos trabalhando no full com dez músicas, incluindo as que já estão no EP. Não temos uma data de lançamento ainda. Também estamos com mais três clips para lançar talvez ainda em 2015. Como a banda demorou um pouco para se consolidar ainda estamos nos entendendo quanto a composições e gravação. Até fotografar a banda é complicado enquanto os músicos não decidem se ficam de vez. A repercussão das músicas tem crescido bastante rápido e isso nos pega de surpresa de certa forma. Precisamos nos organizar de forma diferente para mostrar um trabalho consistente, sem deixar de lado o que já vinha sendo feito. Em 2016 esperamos poder nos dedicar a shows e a promoção do CD. Espaço para considerações finais e agradecimentos Daniele: Queremos agradecer por este espaço, esperamos que os leitores curtam o nosso trabalho também. Todas as críticas e comentários são bem vindos, gostamos de saber o que as pessoas pensam. Nosso EP pode ser baixado gratuitamente em nosso site e também esperamos novos amigos em nosso perfil no Facebook. Nossos clips podem ser encontrados em nosso canal no YouTube e no canal Daniele Krauz, neste também há várias vídeo aulas de técnica vocal.

Como tem sido a repercussão da banda ao vivo e como o público banger tem recebido a banda com essas misturas dentro do Metal? Daniele: Confesso que isso me preocupava. A maioria das bandas que circulam aqui é de som mais pesado, vocal gutural, punk, coisas que não tem a ver com que eu pretendia. Mas eu estava decidida a apresentar um som de qualidade já de cara. Felizmente no primeiro show já ganhamos aceitação dos músicos que assistiram. Havia muita curiosidade porque ninguém imaginava o que eu apresentaria. Apresentamos até uma versão meio Tarja de Tears of the Dragon que o pessoal tem adorado toda vez que tocamos. Também tive a felicidade de contar com ótimos músicos desde o início, tanto nas gravações quanto nos show, todos que tocaram comigo até agora tem uma parcela nesse sucesso. Você tem sido muito comparada com a ex vocalista do Nightwish Tarja Turunen, como a banda lida com essas comparações, Nightwish é realmente uma influência para a banda? Daniele: No início é bom ser associada a alguma referência de COLLAPSE UNDERGROUND ART - 49


Entrevista

Por: Prika Amaral raticando um Thrash Death Metal, o Methedras figura entre as principais bandas italianas, que ao longo dos seus 18 anos lançou uma demo e três álbuns full-lenght e realizou centenas de shows por toda a Europa, muitos deles como banda de abertura de grandes nomes da cena mundial como Dismember, Hatesphere, Destructiom The Haunted, Onslaught, Exodus, Overkill, Sepultura, Testament, Heathen e Hirax. O quarteto atualmente formado por Andrea (baixo), Martina (vocais), Dani (guitarras) e Daniele (bateria), passou por diversas mudanças de formação, preferindo manter-se apenas com uma guitarra, resultando eu um estilo muito próximo ao Crossover temperado com um pouco de Rock e influências de Hardcore. Seu mais recente lançamento, intitulado System Subversion, foi gravado em 2014, com produção de Simone Mularoni e lançada pela Pavement Music em novembro do mesmo ano. Conversamos com o baixista Andrea Bochi e o resultado deste bate-papo você confere a seguir.

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Conte-nos sobre a história do Methedras e como o line-up está agora... Andrea Bochi: Bem... Methedras começou em 1996, como uma banda de Heavy Metal, com o objetivo de misturar o Thrash Americano Bay Area do final dos anos 80, juntamente com uma abordagem mais Death Metal moderno, relativo a algumas mudanças de tempo, e as linhas vocais mais brutais e rasgadas do que os clássicos do Thrash. Eu, Andrea, compositor e baixista, sou o único membro original desde a criação, todos os outros companheiros de banda mudaram ao longo destes quase 20 anos, principalmente devido a questões de trabalho ou familiares quando estávamos ficando mais velhos. No momento, eu estou no baixo, Daniele “Bubu” firmemente atrás da bateria desde 2008, Daniele “Dani” nas guitarras desde 2013, e Tito “Hate” cuida dos gritos e grunhidos desde que entrou na banda no início de 2015... Ele é, na verdade, o novato na família Methedras, mas é capaz de botar para detonar como nenhum na cena, e principalmente, substituindo a altura nosso ex-vocalista, que tinha uma per-



formance incrível e presença de palco animal. Quais são suas influências? Andrea: Como eu disse antes, todos nós herdamos nossa música e influências de nossa infância, e isso é relativo à música que estamos acostumados a ouvir, ou seja, Thrash Metal Bay Area que foi a onda de metal que começou no início dos anos 80 com os grandes nomes conhecidos por todos os metalhead, apenas para citar alguns deles que eu poderia dizer Metallica, Megadeth, Slayer, mas principalmente Testament, Exodus, Death Angel, Overkill e Anthrax da Costa Leste. Em seguida, tente considerar uma enorme mistura com todas essas bandas e mais algumas da cena death metal do Norte da Europa, quero dizer At The Gates, In Flames, The Gathering, e depois também Soilwork, The Haunted e Meshuggah. Como funciona o processo das composições das músicas? Andrea: Principalmente nós somos uma banda esquemática, isso significa que nós gostamos de avançar passo a passo, lentamente, a fim de se certificar que tudo está em sua posição certa e de uma forma perfeita, mas desta forma o processo de criação se torna mais e mais estressante do que outras bandas, eu acho. Aliás tudo começa com 90% do tempo com a guitarra sozinha, em seguida desenvolve-se mais riffs com mais polimento e mais rico, que constituem essencialmente a primeira espinha dorsal da música. Este processo pode ser executado em modo stand-alone (os registros do guitarrista em sua própria casa, os primeiros riffs em um Mac trazendo então o resultado em nossa sala de ensaios para ser compartilhado e desenvolvido todos juntos) ou apenas on-the-fly durante os ensaios com todos os membros da banda presentes. Posteriormente, nós adicionamos a bateria, no início com estruturas rítmica fácil, e em seguida fazendo cada vez mais complexos e estruturados. E finalmente, insiro as linhas de baixo para compactar junto com as linhas vocais do som e assim damos a cara de mau, brutal e violenta do som Methedras. O último álbum “System subversion” tem uma grande arte da capa. De quem foi a idéia? Andrea: Sim nós amamos também a nova capa do álbum, é algo realmente perturbador e impressionante... Eu entrei em contato com o grande visionário e artista contemporâneo Seth Anton Siro, que também é o vocalista da banda Death Metal melódico grega incrível Septic Flesh, porque eu fiquei impressionado com um pouco de sua obra de arte, principalmente nos álbuns Moonspell, Exodus, Rotting Christ e Septic Flesh, e decidi pedir-lhe para cuidar de toda a obra de arte de nosso novo álbum do “System Subversion”. Assim que Seth ouviu nossas novas músicas ele aceitou imediatamente a trabalhar com a gente e entregar em poucos meses, o que resultou numa incrível obra de arte para todo o álbum. Ele teve a idéia e o conceito principal apenas observando o nosso primeiro single videoclipe “Subversion” filmado em um sanatório abandonado e as imagens da banda durante o making of do vídeo. O novo vídeo clip foi lançado em 30 de setembro, a música é “Deathocracy”, me fale sobre as ideias, produção e todo o trabalho envolvido. Andrea: Bem o novo videoclipe, o terceiro desde o último álbum, é completamente inspirado por uma ideia do nosso vocalista Tito que nos sugeriu todo o conceito por trás desta nova produção do Methedras, a fim de empurrar o álbum “System Subversion” ainda mais. Seguindo a letra da música “Deathocracy” o ponto de partida descreve a tragédia mundial do desastre nuclear japonês de Fukushima, em seguida, 52 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

nós adicionamos algum estilo de filme de terror nos make-ups e alguns artistas de rua inspirado no filme Mad Max, e isso tudo interagindo com os membros da banda durante a execução em um palco aberto e devastado. A banda está horrivelmente desfigurada e mutilada devido ao tempo de exposição às radiações pesadas após o incidente (agradeço o


trabalho surpreendente de Chiara Mariani, chefe da equipe de make-up). Então, durante a parte do solo da música, temos uma espécie de flashback de olhos abertos sonhando e lembrando do passado e momentos épicos quando estávamos no topo da nossa carreira, caras legais cheios de belas meninas góticas e todas nós querendo... Mas o sonho da orgia dura poucos segundos, trazendo de volta a banda a sua parte final do show com a luz e calor vindo de um sol ainda mais intenso que queima lentamente todos até o clímax no final do clipe, quando estamos todos vaporizado pelas radiações solares descontroladas. Você conhece sobre a cena brasileira e sobre algumas bandas? Andrea: Hum, honestamente falando, não conhecemos muito o cenário brasileiro, como o país está muito longe da Itália e também o idioma Português que não é fácil de ler para nós... Mas é claro que nós conhecemos os maiores nomes, como Sepultura, Angra, Krisiun e outros como Nervo Chaos, Sarcófago e a surpreendente banda de Thrash Nervosa, que excursionou com a gente na Rússia no final de agosto deste ano e início de setembro... Foi uma tour verdadeiramente surpreendente, você são garotas incríveis que fizeram mais de 50 shows na sequência ao longo de dois meses, e em um continente completamente diferente do de vocês, um recorde porra! Uma banda nova formada por três mulheres sem precedentes e botando pra fuder!! Nós realmente admiramos e gostaríamos de expressar aqui nossa profunda admiração e parabéns! Vocês merecem todo o seu sucesso, Nervosa girrrrlz!!!

Conte-nos sobre a cena italiana e as melhores bandas Andrea: Infelizmente, o cenário italiano está sofrendo muito com a falta de interesses, rótulos e locais, apesar de um movimento underground saudável e algumas bandas históricas também reconhecidos no exterior. O principal problema é a mentalidade preguiçosa do clássico italiano referente a shows ao vivo, em primeiro lugar a maioria normalmente assistir a apenas alguns grandes eventos por ano, com sempre as mesmas bandas grandes e pré-históricas, evitando os eventos menores cheios de grande e ótimas bandas novas que gostariam e precisam de apoio para crescer, ficando sem essa possibilidade em um período de longo prazo. São realmente muitas bandas boas, basta ter um tempo e procurar, você não vai se arrepender e vai se surpreender com o nível técnico e originalidade do moderno movimento de metal italiano. Obrigado por esta entrevista, Methedras é uma banda incrível e espero vê-los em breve no Brasil. Vou esperar com uma caipirinha na mão para você. Andrea: Oh! Seria terrivelmente lindo e não podemos esperar para conhecer os Metalheads brasileiros, na esperança de encontrar um monte de novos fãs prontos para curtir. Nós, sabemos que vocês brasileiros são loucos e que o metal corre nas suas veias e almas, e seria um verdadeiro sonho realizado uma possível turnê na América do Sul e Brasil em particular! Muito obrigado por esta grande oportunidade, gostaríamos de agradecer a todos os leitores, e convido a todos para vir aos nossos shows, que isso seja possível logo, e vamos tentar o nosso melhor para fazer isso acontecer!! É uma promessa.

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ENTREVISTA

Thrash Metal para conquistar o mundo Por/; JP Carvalho om, a essa altura do campeonato, começar este texto explicando quem são e o que fazem as garotas da banda Nervosa, seria como dar um tiro na água. Até porque, desde a sua criação e culminando com o lançamento do debut CD “Victim of Yourself”, a banda vem conquistando seu espaço pelo Brasil e pelo mundo, e com dedicação e muita força de vontade, hoje colhem os frutos de muito trabalho. Conversamos com a guitarrista Prika Amaral e como não poderia deixar de ser, além de um papo agradável,

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acabamos saindo do campo musical e discorremos sobre outros assuntos, mas voltamos logo em seguida, porque o assunto aqui é Metal. Confira a seguir. Olá Prika, antes de começarmos gostaria de parabeniza-la pelas conquistas com a banda e pela maior exposição para o mundo do Metal brasileiro. Então, me conte como foi a recepção da banda na turnê europeia Prika Amaral: Primeiramente, obrigada mais uma vez pelo apoio que sempre nos deu. Bom, a turnê foi maravilhosa, realizamos muitos sonhos, poder participar de gran-


des festivais ao lado de nossos maiores ídolos é simplesmente incrível! A recepção superou nossas expectativas, a galera lotou os shows e muitos demonstraram curtir a banda desde o nosso começo. Tocamos em várias casas de shows desde pequenas até grandes, e o público em todos os 16 países em que passamos demonstraram muito respeito e admiração. Não tem como estar mais feliz com todo esse feedback maravilhoso. A recepção de “Victim Yourself” pelo mundo extrapolou as expectativas, em que momento você percebeu que o mundo havia absorvido a banda e que, conferir esse feed back, seria apenas uma questão de tempo? Prika: O “Victim of yourself” é a nossa porta de entrada, foi e é por ele que o público está nos conhecendo, mas ainda temos muito chão pela frente e muitas coisas a conquistar. O momento que define melhor o feedback é sempre pelo videoclipe, é por ele que o público tem chegamos ao público e nessa era da internet o compartilhamento nas redes sociais faz toda a diferença na divulgação. E como são os headbangers no mundo? Que características em comum entre os públicos você percebeu? E em relação aos fãs brasileiros, o que diferencia? Prika: O headbanger é o mesmo no mundo inteiro.

O metal não tem fronteiras é uma irmandade unida. Em alguns países como Alemanha e Polônia por exemplo, o metal faz parte da cultura popular do país deles, e nisso eles tem mais apoio e maiores oportunidades, e claro que também a cultura e educação deles de fazer as coisas da maneira correta faz toda a diferença. Aqui no Brasil e em muitos países pobres, o metal não é popular no sentido de fazer parte da cultura (estar nas principais rádios e TVs massivamente), e além disso muitos produtores não agem honestamente não pagando cachê, colocando equipamento sem condições de uso, etc. Assim como tem banda desonesta que rouba equipamento de outra banda, ou da casa de show. E essas coisas dificultam e levam a nossa cena para trás, essas coisas acontecem na Europa também mas é muito raro, e a diferença é essa aqui é algo comum. Apenas essa é a diferença, pois nós temos muitas bandas boas, público ótimo, o que nos falta é seriedade, honestidade e ausência de competição, o essencial é que são bandas maravilhosas e público nós temos. E dentro dessa sua visão, o que poderíamos fazer para que essa realidade mudasse? Será que com o tempo, o próprio cenário não será capaz de absorver o que tem de bom e regurgitar o que atrapalha?

Prika: Para mim é uma questão educacional no Brasil, e não na cena metal somente. A cultura do “jeitinho brasileiro” é muito errada, vai de falsificar uma carteirinha de estudante, pagar pra ser atendido antes, essas coisas, aqui todo mundo passa todo mundo pra traz, pra mim o Brazil precisa se reeducar para tudo aqui funcionar, desde a cena metal até o sistema hospitalar, governo, etc. E de novo, mudando o foco da nossa conversa, mas dentro do que você disse, muito se fala em reforma política no país, porém, vemos que cada vez mais o que rege os mandatos, a criação de leis e as legislações do nosso país, é a maneira como as pessoas querem “se dar bem”, em detrimento ao bem-estar coletivo, você acredita em uma mudança dessa realidade e da falta de vergonha política, a curto prazo? Ou esta já é uma pergunta utópica? Prika: Eu acredito que nada possa ser resolvido a curto prazo, mas a longo prazo sim. No meu convivio eu percebo que, independe da posição política de cada um seja de esquerda, direita ou para frente, todos estão bem cansados e todos querem mudança, todos sabem e tem conciência que a corrupção seja ela política ou popular, é ela que está acabando com o país. Há uma discordância entre qual lado político vai assumir a ordem, mas todos os lados querem ordem (digo isso apenas por parte do povo), mas a política brasileira é inteiramente suja para todos os lados, a concordância é que o povo brasileiro quer ser governado com honestidade, só que nos faltam políticos honestos para isso, seja de qual lado for. E não seria muito exigir que os pré-candidatos a cargos público fossem, no mínimo, formatos em ciências políticas? Ou mesmo alguém que assumisse a presidência de uma grande empresa estatal ou se candidatasse a vereador em sua cidade, fosse no mínimo capacitado para exercer este cargo? Prika: Com certeza absoluta, mas isso também não adiantaria sem a honestidade e a integridade de caráter. São muitas coisas a se mudar, mas o começo de tudo tem que ser pelos políticos eleitos, sem bons representantes essa merda toda vai continuar e cada vez mais piorar. Às vezes eu tenho uns pensamentos malucos de que se o Brasil fosse uma grande empresa ninguém o roubaria, porque ninguém rouba uma empresa sem que o dono não coloque na cadeia quem o rouba. Mas também não é tão simples assim. O que nos leva a educaCOLLAPSE UNDERGROUND ART - 55


ção. Não a educação acadêmica, mas a educação que vem do berço, da família e que deveríamos praticar no dia a dia. Será que hoje, as pessoas se tornaram tão individualistas a ponto de não saberem reconhecer os méritos coletivos, ou mesmo, sentir orgulho de algo que enalteça e traga visibilidade e orgulho à nossa terra? Prika: Eu acho que todo mundo está de saco cheio e isso é compreensível, não é por menos. A maioria tem orgulho do Brasil como terra, mas estamos numa situação complicadíssima atualmente e precisamos fazer alguma coisa para mudar pra melhor e só os brasileiros podem fazer isso. A educação realmente é um ponto importantíssimo. Mas se a mídia e o governo não torna-se a maioria das pessoas burras, e se não bitolasse tanto o povo seria mais fácil de mudar isso, mas tudo isso parece ser proposital, o que é uma burrice total, porque os políticos e donos dos grandes meios de comunicação moram e vivem aqui e logo isso tudo os afeta também, não tanto quanto para nós, mas temos que ser otimistas e acreditar e lutar por mudança, porque fugir não vai resolver. Acho que se todo mundo se dispor a fazer serviços comunitários levando cultura e educação para os desprovidos já ajudaria muito. Não podemos esperar que o governo do jeito que está faça alguma coisa, temos que colocar a mão na massa Realmente você tocou num ponto que eu, particularmente, acho importantíssimo: Cultura. E levando a conversa para este lado, como foi para você se ver em meio a culturas diferentes, com realidades e formas de expressão diferentes das nossas? Prika: O mais legal dói saber que os Europeus amam bandas brasileiras e que o Brasil tem fama de só exportar banda boa, e isso eu acho que nos ajudou, sabia? Porque se você fala de uma banda brasileira que eles não conhecem, eles correm atrás porque sabem que vão ouvir coisa boa. Foi simplesmente sensacional conhecer várias culturas diferentes, o mais legal é ser respeitada por todas elas, isso não tem preço. Cada parte do mundo, não só Europa como aqui nas américas tem sido uma ótima experiência. Dado o estrondoso sucesso de Victim of Yourself, como anda a composição do sucessor? Prika: Estamos finalizando a composição do novo disco agora e vamos gravar em janeiro, o que tudo indica é que iremos gravar fora do Brasil, 85% certo, logo mais iremos anunciar tudo certinho. E o próximo álbum seguirá a mesma fórmula do debut, ou podemos esperar surpresas? Prika: Pode esperar surpresas! Talvez para nós, seja normal, porque não sentimos muito a mudança, mas o público sentirá com certeza! Tudo está sendo feito de uma maneira mais minuciosa e estou louca para ver o resultado final. Muito obrigado por este bate-papo, agora o espaço é seu para suas considerações e deixar uma mensagem aos nossos leitores. Prika: Só tenho a agradecer a você não só pela oportunidade, mas pela contribuição a nossa riquíssima cena Metal. Aos leitores agradeço pela atenção e aos fãs um imenso obrigada pelo carinho, apoio e dedicação. A todos que continuem contribuindo e apoiando o Metal, todos ajudando somos mais fortes! 56 - COLLAPSE UNDERGROUND ART


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ENTREVISTA

Por: JP Carvalho epois de alguns anos tocando juntos, os ex-integrantes da banda Siegrid Ingrid: Evandro Junior - Bateria, André Gubber – Guitarra, Sérgio Hernandes – Guitarra e Luiz Berenguer – Baixo, uniram-se a “Scream” - Vocais, para a realização de um novo projeto, o Skinlepsy. A ideia de dar continuidade ao trabalho que era feito anteriormente foi preservada e as novas composições, expressavam todo o peso e agressividade do Thrash e do Metal Extremo, características evidentes durante a passagem dos músicos por outras bandas. Em abril de 2003, iniciaram os ensaios para a gravação do primeiro CD-Demo, “Reign of Chaos”, que ocorreu em junho daquele mesmo ano no estúdio Mr. Som, e contou com a produção de He-

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ros Trench. As músicas “Crucial Words”, “Alienation” e “Crawling as a Worm”, mostravam de forma clara a proposta de uma nova banda, que contava com o entrosamento, experiência musical e novas ideias, porém, sem perder o principal direcionamento musical: tocar Metal sem seguir apenas uma única vertente, um único estilo. Esse trabalho obteve uma ótima receptividade e de certa forma, gerou grande expectativa a respeito da gravação do primeiro álbum da banda. No entanto, após apenas um ano, cada músico seguiu o seu caminho em suas respectivas bandas. Em 2011, André Gubber, Evandro Junior e Luiz Berenguer retomaram o Skinlepsy com uma sonoridade focada no Brutal Thrash Metal.



Como resultado, surge o primeiro álbum da banda, intitulado “Condemning the Empty Souls”, lançado em maio de 2013 pela Gravadora Shinigami Records. Agressividade, letras insanas, consistência e brutalidade, definem esse álbum, que é o resultado de um árduo processo de composição, gravação e produção, ocorrido durante o segundo semestre de 2012 e que vem colhendo ótimas críticas da mídia especializada ao redor do mundo. O álbum ‘Condemning The Empty Souls’, foi produzido, mixado e masterizado por Beto Toledo no Estúdio 44. A arte da capa ficou a cargo do artista Jean Michel da Designations Artwork. E também conta com a participação de alguns grandes nomes da Música extrema nacional: Luiz Carlos Louzada (Vulcano, Hierarchical Punishment, Chemical Disaster), Fernanda Lira (Nervosa) e Thiago Schulze (Divine Uncertainty). E o reconhecimento foi amplo, de notas máximas e citações com um dos melhores discos do ano – não só no Brasil – a banda conseguiu pavimentar fortemente seu nome na cena. Confira a seguir o que o baterista Evandro Júnios nos contou sobre o passa, o presente e o futuro do Skinlepsy. Mesmo nascido das cinzas do Siegrid Ingrid e tendo na sua formação músicos que estão, ou já passaram por diversas bandas, o Skinlepsy tem uma forma única de compor suas músicas. Isso se dá pela experiência adquirida em todos esses anos? Evandro Júnior: Creio que isso seja resultado do fato de nós não vivermos exclusivamente no passado no que se refere a metal e suas vertentes. Nós sempre estivemos antenados com bandas novas, estilos novos, ideias novas, e instintivamente isso acaba refletindo nessa forma agressiva e extrema de compor e tocar que nós possuímos. Podemos afirmar que o Skinlepsy já nasceu grande, uma vez que agrega não apenas a sonoridade, mas a carga de trabalho de todos vocês, em muitos anos dedicados ao Heavy Metal brasileiro? Evandro: O Skinlepsy não nasceu grande, somos uma banda Underground nascida das cinzas do Siegrid Ingrid em 2003, e temos uma bagagem musical que vem desde os anos 80. Fizemos e ainda fazemos parte de bandas que são de conhecimento público na cena nacional, como o Anthares, Skullkrusher, Pentacrostic, e o próprio Siegrid Ingrid. Trouxemos para a música do Skinlepsy toda nossa experiência adquirida ao longo dessas déca60 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

das, mas como tantas outras bandas nacionais, estamos aí na correria divulgando nossa música. E mesmo com tantos trabalhos sendo desenvolvidos, como o lançamento do aguardadíssimo CD do Anthares, o Skinlepsy é figura carimbada em diversos shows. Como vocês administram o tempo e o trabalho dentro da banda? Evandro: Eu acho que tudo tem a sua hora de ser e o tempo é administrado de acordo com uma agenda em comum. Eu particularmente, além de ser baterista do Skinlepsy, tenho uma agenda regular de shows com o Anthares e com o Cemitério, projeto de Death Metal old school do Hugo Golon. O André está arquitetando a volta do Skullkrusher, então tem de haver bom senso e cumprir prioridades de acordo com o momento que cada banda está vivendo. O primeiro lançamento de vocês foi a demo “Reign Of Chaos” e logo em seguida a banda praticamente encerrou suas atividades. Qual foi o motivador desse intervalo? Evandro: Após o fim do Siegrid Ingrid os remanescentes da banda sentiam a necessidade de dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito. Nós tínhamos bastante material composto e tínhamos uma formação bem forte de músicos competentes, mas vínhamos de situações estressantes, desgastantes com o Siegrid Ingrid. Juntamos forças e fomos atrás de um novo vocalista e então gravamos nossa demo “Reign of Chaos” em 2003 no estúdio Mr. Som. Mas algum tempo depois, o novo vocalista optou por uma nova possibilidade que se abriu para ele com outra banda. Como nós já havíamos nos esforçado muito para retomar tudo, houve uma desmotivação momentânea geral e eu decidi naquele momento parar de tocar porque estava cansado com algumas frustrações. Isso acabou por afetar o restante da banda e optamos por “congelar” o projeto por tempo indeterminado. Os anos se passaram, mas eu sempre mantive algum contato com o André e sempre cogitamos voltar um dia com o Skinlepsy. Foi o que aconteceu finalmente em 2011. Logo a banda lançou seu debut “Condemning The Empty Souls”, e o trabalho causou um impacto muito grande não apenas nos fãs, mas em toda a mídia especializada. Como foi para vocês perceber que este era o álbum certo na hora certa? Evandro: O álbum realmente teve uma receptividade muito boa, foi muito gratificante para nós, e foi uma recompensa pelo nosso esforço, pelas dificuldades que tivemos em concluí-lo, mas sabíamos



que tínhamos um bom material nas mãos e o resultado final da produção superou nossas expectativas. “Condemning The Empty Souls” foi composto por você e por André Gubber, sendo que o baixista Luiz Berenguer só retornou a banda após as gravações e o guitarrista Leonardo Melgaço foi incorporado somente algum tempo depois do álbum lançado. Sendo assim, o que podemos esperar de um novo trabalho da banda? Evandro: Novamente o processo de composição do novo material está nas nossas mãos. Estou ajudando o André nas composições, enquanto ele está finalizando a parte lírica. Porém neste novo trabalho teremos uma composição criada pelo Leonardo Melgaço, e o próprio Luiz Berenguer – que não faz mais parte da formação da banda – palpitou e colaborou em algumas idéias. Estamos bem entusiasmados com o novo material porque ele soa mais elaborado que o “Condemning the Empty Souls” na questão das composições! O debut contou com a participação de Luiz Carlos Louzada (Vulcano, Hierarchical Punishment, Chemical Disaster), Fernanda Lira (Nervosa) e Thiago Schulze (Divine Uncertainty), vocês acham que isso, ajudou a impulsionar a visibilidade do álbum? Evandro: Se ajudou a impulsionar algo em relação ao álbum não era nossa intenção. O que nós queríamos era a participação de gente que nós respeitamos como músicos e que tínhamos certeza que contribuiriam para o enriquecimento da produção. A escolha partiu do André e ele já sabia onde gostaria de ouvir a voz do Louzada e da Fernanda Lira e o quanto a participação deles seria importante para criar o clima perfeito no momento certo de cada música. O mesmo aconteceu com o Thiago que é um guitarrista muito talentoso. Ele gravou um solo inspiradíssimo, e o que é mais legal é que a participação deles está eternizada no nosso álbum de estreia, o que muito nos honra! O álbum emana brutalidade, tensão e musicalidade por todos os poros, tornando-o difícil de assimilar por quem não é ligado ao som mais extremo, porém existem linhas melódicas muito bem estruturadas em sua música, seria essa a receita do Skinlepsy, aliar brutalidade e melodia? Evandro: Olha, você realmente traduziu o que é a nossa música e te digo com toda certeza que o que vem por aí ainda trará mais musicalidade. A combinação perfeita para mim se resume a brutalidade e melodia. 62 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

Além disso as letras abordam temas de difícil ingestão, como intolerância, preconceito, problemas sociais, religião, perturbações da mente humana, experiências pessoais. Ou seja, a banda não alivia em nenhum momento, mas consegue ter um apelo muito significativo junto ao público. Talvez, justamente por não fazerem concessões o público se identifique? Evandro: O metal é um estilo musical contestador, e se nós temos o metal nas nossas veias até hoje, é porque continuamos contestadores, contra o sistema que está aí nos impondo dor, sofrimento, injustiça, preconceito, violência, corrupção, fanatismo religioso. Nossa forma de expressar nossa revolta é através da música, e quem curte o nosso trabalho tem o mesmo sentimento que a gente, somos todos parte de um “exército de justiceiros loucos”.


“Condemning The Empty Souls” foi lançado pela Shinigami Records, como aconteceu essa parceria e como vem sendo o trabalho com eles até agora? Evandro: Nós executamos toda a produção do álbum sozinhos, com nossos próprios recursos, sem apoio de ninguém, tudo feito de forma independente, desde a composição, arte gráfica, gravações em 02 estúdios diferentes, tudo feito de forma orgânica, planejada e executada com dedicação, mas no final nós não queríamos lançar o álbum de forma totalmente independente, queríamos um selo que pudesse digamos “oficializá-lo”. A Shinigami Records, com a intermediação da Metal Media Management topou lança-lo e distribuí-lo, mas não há um vínculo oficial entre nós. E para o novo trabalho

estamos recomeçando a busca por novas parcerias. Eu soube que vocês estão para lançar um EP, o que vocês podem nos contar sobre isso? Evandro: Nós mudamos de ideia durante o processo de composição e podemos dizer a você em primeira mão que, em dezembro provavelmente iniciaremos as gravações do segundo álbum do Skinlepsy, dando continuidade ao processo de gravação em janeiro/fevereiro de 2016. Acabamos de finalizar todas as músicas, e o novo álbum deverá trazer 9 músicas novas e muito provavelmente uma regravação de uma música que faz parte do álbum “The Corpse Falls” do Siegrid Ingrid de 1999. O álbum novo já tem título e capa prontos também, mas aí vou manter segredo por mais algum tempo!

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ENTREVISTA

Loucos bardos do Metal brasileiro

Por: JP Carvalho m 2002 o Lothlöryen foi formado, lançando no ano seguinte uma demo chamada “Thousand Ways to the Same Land”, que foi o primeiro passo para a criação da identidade da banda. Contando com oito músicas, o material recebeu ótimas resenhas da imprensa nacional, o que levou a banda a fazer parte da “Valhalla Demo Section”, uma coletânea feita pela revista Valhalla contando com as melhores bandas independentes do Brasil. Devido a boa repercussão da demo, o selo Force Majeure Records assinou um contrato com a banda para lançar o álbum de estreia. Em 2005 o álbum “...of Bards and Madmen” foi lançado, levando os “loucos bardos do Metal brasileiro” a fazerem parte das listas de “Melhor Banda do Ano” feitas por publicações como Valhalla, ...And Heavy Metal For All, Roadie Crew, e também “Melhor Álbum de Heavy Metal do Ano” pelo Prêmio Dynamite de Música Independente. Em 2008 a banda lançou o álbum “Some Ways Back no More”, gravado e produzido em São Paulo, e que trouxe uma roupagem ainda mais profissional ao conceito musical

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proposto pelo grupo. O álbum foi lançado pela gravadora Die Hard Records e obteve uma aceitação ainda maior que seu antecessor, por parte de crítica e público, figurando entre os grandes lançamentos do ano. Em 2010, devido à mudanças na formação da banda com a saída do vocalista Léo Oliveira e a entrada de Daniel Felipe, o Lothlöryen faz uma pausa na sequência de shows e se concentra na pré-produção do novo álbum. O novo álbum, Raving Souls Society foi produzido no Casanegra Studios, em SP, com produção a cargo de Augusto Lopes (Dr. Sin, Hangar, Kiko Loureiro) e tem lançamento previsto para março de 2012 pela Shinigami Records. “Raving Souls Society” tem uma recepção extremamente caloroso por parte dos fãs e da mídia especializada, que juntamente com notas máximas declarou o trabalho como um dos melhores discos de 2012. Ainda em 2012 a banda fecha um contrato para o lançamento mundial de “Raving Souls Society” através da gravadora alemã Power Prog. Nesses anos de estrada o Lothlöryen se apresentou ao


lado de ícones, como Symphony X, Sepultura, Shaman, Grave, Samael, Korpiklaani, Torture Squad e Tuatha de Danann. Conversamos com a banda eo resultado deste bate-papo você confere a seguir. Seu novo disco, ‘Principles Of A Past Tomorrow’, foi lançado há alguns meses e pelo que vejo é o mais elogiado da carreira da banda. Como vocês têm sentido a recepção do álbum? Daniel Felipe:A recepção tem sido a melhor possível. Além de conseguirmos dar uma guinada positiva no estilo da banda, trazendo os elementos Folk a uma sonoridade mais moderna, essa concepção foi bem assimilada pela galera, que curtiu a vibe da banda e o tema abordado. Pela imprensa, que tem elogiado bastante nosso trabalho, fica mais claro que trilhamos um passo importante pra definir o que realmente é a sonoridade da Lothlöryen: um Folk que traz as raízes para o presente. O primeiro impacto é a linda capa, uma das mais belas e completas que já vi. Contem-nos um pouco sobre ela. Leko Soares: Eu diria que o trampo da capa foi hercúleo tanto quanto a própria composição do álbum. A concepção partiu da ideia que tive de referenciar personagens históricos e mitológicos do passado e do presente que de alguma forma tivessem alguma ligação com as ideias de Giordano Bruno. A inspiração para a disposição dos personagens na arte veio da capa de “Sgt. Peppers”, meu álbum favorito de todos os tempos. Por fim, foi uma grande sorte e felicidade encontrarmos na Gio Guimarães a artista certa para transformar em imagem tudo aquilo que permeia o conceito do álbum. Gostei tanto dessa capa que tenho um quadro bem grande dela na sala da minha casa. Juntamente com a capa, a temática do trabalho está ainda mais complexa, de onde vem a inspiração para compor e escrever as músicas? Daniel Felipe: A inspiração vem de perguntas essenciais ao ser-humano, como a existência do Universo e o mito da criação. Nada poderia ser mais Folk do que esse tema presente em toda e qualquer cultura. A partir daí, encontramos em Giordano Bruno um filósofo ocidental que cuidou do tema em uma época em que isso trazia sérias implicações, tanto que seu fim foi a fogueira. Da mesma forma, ele conseguiu apresentar elementos herméticos que faziam parte já da cultura oriental. Assim, encontramos nele um ponto nevrálgico para que o tema pulsasse para o passado e o futuro, num diálogo constante através do tempo. O conceito de ‘Principles Of A Past Tomorrow’ é muito complexo e mesmo com as letras no encarte, é complicado de entender. Existe alguma maneira dos leitores se

aprofundarem ainda mais no conceito? Um site ou algo assim? Leko Soares: O conceito envolve diversos temas centrados à história de Giordano Bruno. Talvez a complexidade esteja exatamente nesse leque de abordagens que introduzimos à trama principal, mas isso se fez necessário exatamente pela pluralidade de áreas e estudos que o nosso personagem principal explorou ao longo da vida. Por isso, o álbum mergulha em conceitos atuais de física quântica, linkando com a filosofia hermética explorada pelos alquimistas e propõe a junção de tudo isso à atual teoria conspiratória da manipulação da chamada Frequência Universal. Daniel Felipe: Além das letras o encarte traz uma breve contextualização, o que já permite uma viagem mais prolongada pra quem se interessar sobre o tema. No nosso site oficial (www.lothloryen.com), acabamos de inaugurar uma área somente sobre o novo álbum e lá é possível entender um pouco mais do conceito através das letras traduzidas, sinopses e resumo do tema. Também desenvolvemos um blog (www.pastomorrow.blogspot.com.br) que alimentamos esporadicamente com desdobramentos do tema do álbum, mantendo o diálogo com o CD e ampliando as possibilidades de discussão sobre o tema. Da mesma forma, a banda adorará receber mensagens a respeito, seja pelo facebook, e-mail ou qualquer outro meio, preferencialmente um que envolva uma mesa com goró, pra conversarmos sobre tudo isso. Já pensaram também em transportar este conceito para um livro? Leko Soares: Na verdade, é a primeira vez que somos abordados sobre o assunto. Embora não tenhamos nada em mente, é fato que o formato utilizado no enredo, propondo uma teoria conspiratória baseada em fatos históricos se encaixaria bem nos padrões atuais de romances. Falando ainda em temática, este já é o segundo álbum que o Lothlöryen lança sem abordar temáticas fantasiosas, especialmente baseadas na obra de Tolkien, mas mesmo assim algumas pessoas ainda não “entenderam” isso. Vocês acham que isso pode ser por causa do nome da banda? Já passou pela cabeça de vocês mudar o nome? Leko Soares: Você tocou em algo que nos incomoda um pouco atualmente. É óbvio que nosso passado relacionado à mitologia Tolkieniana é motivo de orgulho e nunca vamos renegar esse lado da banda. Porém, o que me deixa puto da vida, às vezes, é o fato, de 7 anos após nossa última composição sobre o assunto, ainda hoje lermos resenhas e referências ao Lothlöryen relacionadas a essa temática. E o pior é que nem sempre são resenhas do Brasil. Li uma resenha norte-americana em que o autor dizia que ao ouvir o novo álbum sentia-se exatamente como se estivesse rodeado por

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hobbits, elfos e orcs. Mais mal informado, impossível. Sobre o nome, acredito sim, que, para os preguiçosos de plantão, é um dos motivos de logo se apegarem ao clichê de nos referendarem a Tolkien. Porém, nunca passou pela nossa cabeça mudar o nome, já que temos uma história construída sobre essa marca e essa mudança seria como termos de começar tudo novamente. Musicalmente vemos um grupo ainda mais maduro e mais ousado, mergulhando no Prog Metal ao mesmo tempo que mantendo aquele estilo mais tradicional do grupo, voltado ao Power e ao Folk, este é o caminho certo? Leko Soares: A ambição musical por trás desse trabalho foi desde o princípio criar uma sonoridade que mesclasse todas as influências musicais que nos referenciam. Queríamos algo mais Moderno, porém, mais Folk, mais Pesado, mais Hard Rock e mais Prog do que nos trampos anteriores. O desafio maior, nesse sentido, era conseguirmos mesclar todos esses elementos sem que soassem forçados ou parecendo uma colcha de retalhos. Ouvindo o álbum agora, alguns meses após o lançamento, a sensação é de dever cumprido. Daniel Felipe: O caminho certo é aquele que nos satisfaz. Até mesmo porque, apenas satisfeitos com o que fazemos é que podemos pensar em tocar os sentidos das demais pessoas. Então, sim, acreditamos estarmos no caminho certo. Este também é o segundo disco com a mesma formação. Vocês acreditam que isso influenciou em ousar mais na hora de compor? Daniel Felipe: Penso que a Lothlöryen sempre ousou um algo mais. Mesmo os CDs anteriores, quando ouvidos na época em que foram lançados, traziam um quê de risco que gostamos de viver. A formação constante e, principalmente, harmoniosa como é hoje, em que seis irmãos partilham a estrada e o palco, traz mais entrosamento, mais sinergia e, claro, um resultado mais prazeroso e coeso. Leko Soares: Com certeza o fato de a banda estar com a mesma line-up desde 2010 influenciou e muito na hora de compormos para o novo álbum. O “Raving Souls” foi repleto de experimentos em relação à forma que a banda funcionaria melhor com a nova formação, mas não tínhamos total segurança de como soaríamos com o então, novo vocalista. Já quando fomos compor para o novo álbum, havia um leque de novas possibilidades que podíamos explorar e tudo acabou sendo feito com mais conhecimento de causa, contribuindo para que o trabalho soasse mais natural do que o álbum anterior. Este álbum vocês fizeram diferente e seguiram totalmente independentes contando inclusive com a doação 66 - COLLAPSE UNDERGROUND ART

do público em um financiamento coletivo. Vocês não ficaram com medo de não alcançar a meta? Havia um plano B? Daniel Felipe: Pra gente, foi uma partida de truco. O sistema de selo e prensagem estava nos saturando, além de deixarmos boa parte de nosso trabalho sob uma distribuição que não podíamos controlar ou manejar. Passamos a pensar se haveria vida fora desse sistema e, mais, queríamos mostrar a nós mesmos se o nosso trabalho é vendável. Os resultados foram maravilhosos. A galera que acompanha a banda nos apoiou desde o início e esse processo de libertação mostrou que temos resultado positivo, financeiramente, e que temos uma base de fãs e de amigos que acreditam no que fazemos. Com isso, pudemos ter outra conversa com as distribuidoras, além de muito mais confiança em nosso trabalho. Junto com o CD, o Lothlöryen vem diversificando também sua linha de produtos e conta hoje em dia com materiais como canecas, camisetas, isopor para cerveja e o famosíssimo hidromel. Este é um novo caminho para as bandas conseguirem recapitalizar já que a venda de CDs não supre mais as necessidades? Daniel Felipe: A gente descobriu que a galera pode beber muito mais que um copo de hidromel, mas não compra o mesmo CD duas vezes (risos). Claro, diversificar é uma obrigação. Tanto que as empresas de sucesso sempre diversificam e ampliam seus produtos. Não podemos pensar que vendemos apenas música, mas que a música é o espírito e o carro chefe de um produto maior, que é a Lothlöryen. O que vendemos e o que entregamos em cada show é esse espírito de loucurada e bebedice que inunda cada um de nós (risos). Voltemos um pouco no tempo, em 2013 vocês excursionaram pela Europa. Quais são as lembranças de lá? Já existe previsão para voltar ao continente? Daniel Felipe: Minhas lembranças, pelo menos, terminam no terceiro copo de uma cerveja muito irada (risos). Falando sério, terminam no quinto copo. Bem, as lembranças foram verdadeiros aprendizados. Primeiro, que a Europa tem uma estrutura voltada à realização de shows em modo itinerante, ou seja, você toca em um lugar e segue pra outro próximo, e outro, e outro. Movimento é vida. Isso é algo que tentamos reproduzir por aqui, consideradas as realidades que encontramos. Então, sempre temos um show e demais shows no entorno, aproveitando o máximo da expedição. Outra coisa é que a banda, na convivência da estrada, se mostrou muito sólida e parceira, o que reforçou muito nos-


sos laços e nosso som. Tocar todo dia também é algo que deu um entrosamento que não perdemos mais. Também descobrimos que o Europeu não é esse povo frio que tanto dizem. Muito pelo contrário, os caras são loucos (muito embora nem tanto quanto os brasileiros). Exceção de tudo é a galera da Romênia. Esses são mais loucos que nós. Sim, a banda retorna para a Europa em abril de 2016, mas para um país que ainda não vimos muitas bandas explorarem, o que nos motiva demais: a Rússia. Inclusive, vamos tocar na Criméia, uma região de conflito que nos atrai por essa particularidade étnica. Todas, ou pelo menos quase todas, as bandas que se apresentam por lá levantam a diferença entre público, logística e locais de lá com nosso país. Vocês concordam com essas diferenças? Como foi para o Lothlöryen? Daniel Felipe: Concordamos. A logística de lá, porém, não se resume a uma raça de organizadores e donos de bar superiores aos brasileiros (risos). Os comerciantes daqui são verdadeiros heróis, já que lidam com altas cargas tributárias e dificuldades de renda do público. Quando o ambiente social é favorável ao comércio, as coisas são facilitadas. Então, lá acaba sendo mais barato ter bons equipamentos, ter boas cervejas, manter o estabelecimento e criar uma network que possibilite a logística de uma forma comercializável e rentável para todos. Essa é uma diferença essencial. Para nós, além dos diversos aprendizados, foi iradíssimo ter acesso a outras culturas e mostrar a nossa aos europeus. Conhecemos muita gente doida em vários lugares e vimos que o europeu é tão doido quanto a gente, mas a seu modo. Leko Soares: A maior diferença que notei em relação aos shows da Europa foi a forma como a banda foi tratada durante os eventos. Havia um respeito ao músico e ao que estávamos fazendo lá, algo que nem sempre encontramos por aqui.

Falando ainda em shows, o que vocês acham de nossa “estrutura” para shows? Por favor, nos apresentem a visão que uma banda de treze anos tem deste setor em nossa cena. Leko Soares: Acredito que o Brasil evoluiu nos últimos anos em termos de estrutura, mas ainda há muito que melhorar e digo mais: acho que o problema que gera toda essa polêmica de o público nacional pagar 500 reais para ir num show de banda gringa e não pagar 20 reais pra ver uma banda nacional passa também pela diferença entre a qualidade de estrutura que vai se encontrar em cada um dos eventos. Muitas vezes pagar mais caro pra ver uma banda gringa é também pagar mais caro pra ter acesso a uma qualidade de som e produção melhor. Fazendo uma analogia, acho que essa disputa entre as bandas nacionais e gringas se assemelha ao nosso passado de colonizados – nós, os índios lutando com arcos e flechas, as bandas gringas, os europeus conquistadores que chegam com suas armas de fogo e cavalos, se é que me entende, rs. Por fim, acho que a mentalidade de muitos promoters ainda é a de quantidade ao invés de qualidade. Ainda se preza 12 bandas num evento com som péssimo e sem tempo para passagem de som ao invés de se oferecer 3 ou 4 bandas de mais qualidade, com estrutura e som decente. O Lothlöryen é uma banda que fala o que pensa, sempre consciente, mas sem medo de “jogar a real”. Como a banda encara essa nova geração “globalizada” onde tudo que é falado é motivo para alguma reação excessiva, o famigerado “mimimi”? Estamos vivendo em uma espécie de ditadura? De censura do pensamento? Da opinião? As pessoas estão levando tudo para o lado pessoal? Leko Soares: O que me estranha é que mesmo em um meio musical tão rico em que os mais diversos temas são abordados pelas bandas em suas músicas, ainda assim te-

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mos que lidar com uma cena Underground fundamentalista, intolerante e cheia de tabus. Por exemplo: eu não sou um grande fã do Edu Falaschi, mas sinceramente, quando ocorreu aquele episódio do “paga pau pra gringo” eu fiquei muito preocupado com a forma com que crucificaram o cara por simplesmente expor uma opinião sincera e até ingênua de tão óbvia. Vejo bandas se calando e com medo de se posicionar sobre questões polêmicas, muitas vezes por medo de não aparecerem mais em determinado site ou revista, ou por medo de terem uma resenha ruim de seu novo álbum, ou de não conseguirem fechar shows em casas mais tradicionais. Acho sim, que, em geral a galera sempre leva a crítica a suas bandas ou aos seus veículos de imprensa para o lado pessoal e isso acaba gerando uma certa ditadura velada da palavra. Por fim, se quiser entender o quão doente, acéfala e intolerante anda a superfície da nossa cena, basta perder uma meia hora de um dia para ler os comentários de notas publicadas em sites como o Whiplash, por exemplo. Alguns comentários causariam inveja ao Estado Islâmico, rs. Voltando a falar do Lothlöryen, o que a banda planeja para breve? Quais os planos que os bardos tem guardado para seus fãs? Leko Soares: Encerramos os shows desse princípio de tour. Foram cerca de 10 shows em 5 meses, algo bem relevante em se tratando de Underground no Brasil. Para o início do ano, a nossa agenda passa pela gravação de alguns vídeos diferenciados que vão ser bem legais, além de um provável novo clipe ainda no primeiro semestre. Sobre os shows, a ideia para 2016 é selecionarmos melhor os eventos que a banda participa, dando mais valor à qualidade dos eventos ao invés da quantidade de shows da agenda. Vocês poderiam comentar a discografia do Lothlöryen disco-a-disco? “...of Bards and Madmen” (2005) – Como todo debut, cometemos alguns equívocos de gravação nesse início, desde excesso de instrumentos e vozes em alguns arranjos, até a má escolha de timbres e efeitos, principalmente no que tange às guitarras. O lance doido, porém, é que passados 10 anos do lançamento, ouvindo a discografia em retrospectiva, todos esses erros se justificam e são explicados pela evolução que ocorreria nos anos seguintes. Desse álbum acredito que temos algumas das músicas mais importantes da nossa carreira e que até hoje são executadas ao vivo, caso de “Bards’ Alliance” e “There and Back Again”.

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“Some Ways Back no More” (2008) – Provavelmente nosso álbum mais Power Metal de todos. Começamos aqui a explorar algumas sonoridades modernas em algumas músicas e os arranjos durante todo o cd já estão bem mais maduros e coesos do que anteriormente. É um álbum que tem canções fortes e que nos representam até hoje, como “My Mind in Mordor”, “Hobbit’s Song” e a melhor de todas, “Unfinished Fairytale”. A qualidade final da produção é o que me incomoda aqui e foi fator preponderante para a regravação que faríamos em 2014, no “Some Ways Back Some More”, que contou com os vocais do Daniel, regravação de alguns solos, teclados e uma nova mix e master mais condizentes com a qualidade das composições. “Raving Souls Society” (2012) – O primeiro com o Daniel nos vocais foi uma experiência inesquecível. Lembro bem da atmosfera de doideira que permeou as gravações e composições desse trabalho. Todos estavam empolgados com a chance de um recomeço, de podermos explorar novos horizontes e experimentar novas sonoridades. Acredito que essa vibe foi transportada integralmente para o cd que foi extremamente bem recebido pelo público e pela imprensa. Esse álbum nos abriu algumas portas e fez as pessoas começarem a nos encarar de uma forma mais séria. Destacaria as faixas “Face Your Insanity”, “When Madness Calls” e “Burning Jacques”, presenças constantes nos nossos sets ao vivo desde então. “Principles of a Past Tomorrow” (2015) – Ainda é cedo para fazer uma análise real do álbum, já que ainda me sinto muito apegado a ele, como um filho mais novo, de fato. Acredito, porém, que se o tempo for justo, ele será lembrado daqui a alguns anos como a peça-chave na nossa discografia e talvez, como um dos grandes álbuns do Metal Nacional de sua época. Deixemos que o tempo o julgue, rs Queremos agradecer em nome da Collapse Underground Art pela entrevista e pelo tempo cedido. Fiquem a vontade para suas considerações finais. Leko Soares: Agradeço o precioso espaço concedido. É muito importante para bandas independentes como o Lothlöryen esse tipo de oportunidade para expormos algo além do trivial. Pra galera que acompanhou a entrevista até aqui, peço que continuem apoiando a cena ‘real’, frequentando os eventos underground, lendo zines, blogs, revistas virtuais, ouvindo as Web Rádios e comprando merchandising e compartilhando o trabalho das bandas nacionais que vocês admiram. A cena são vocês!


aforismos do pai marcão

Sobre downloads ilegais Uma carta aberta ao mundo Por: Marcos “Big Daddy” Garcia

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m um mundo cada vez mais consumista, a tecnologia de compartilhamento de arquivos na internet causou muitos males ao cenário Metal no mundo todo. Óbvio que o compartilhamento pela internet tirou o poder financeiro das grandes gravadoras e quebrou o controle que as mesmas exerciam indiscriminadamente com seus artistas. Os últimos passaram a ter mais liberdade e poder de decisão sobre sua música, é fato. Mas há um lado que é preciso ser expresso: em termos de Brasil, tirando nomes como Sepultura, Krisiun e Angra, que possuem suporte de gravadoras de peso no mercado mundial, como ficam nomes menores nesse meio? Todo mundo se fode de uma vez só, simples assim. O músico, tendo maior controle, agora possui maiores responsabilidades: ele precisa arcar com produção, gravação, masterização, design de arte, fotografia, entre outros relacionados ao disco, sem falar no registro das músicas nos órgãos competentes (ou ainda acham que não existe o plágio? Se já existe em uma grande parte de bandas por aí, mesmo protegidas, imaginem se não tivesse). Se ele se junta à uma gravadora independente, esta entra com a distribuição e divulgação do material em várias mídias. Se não, precisa ainda arcar com estes. E não citei nada acima que não tenha custos, e não são baratos. Óbvio que muitos irão falar no “amor ao Metal”, ou mesmo à arte em si. Concordo com isso em partes, pois vejo que amor sem re-

tribuição acaba. O que quero dizer: os músicos vão, se esforçam, gastam uma grana boa, e na hora de pôr o disco nas lojas ou mesmo nos shows, ficam acumulando poeira. E isso não é justo. As gravadoras independentes sofrem horrores e lucram pouco ou quase nada. De um lado, são forçadas a fazerem um número mínimo de cópias nas empresas de prensagem, bancar correios e transporte para o disco chegar nas lojas e nas mãos da imprensa. E elas ainda precisam arcar com cargas tributárias altas, uma coisa clássica de países com a forma econômica que rege o Brasil (capitalismo de Estado, ou seja, existe a iniciativa privada, mas o Governo interfere na economia). Ou seja, download ilegal vai consumindo bandas (que hoje, arrecadam mais em shows e venda de merchandising) e selos, que vão perdendo o poder econômico para investirem como já foi uma vez. Óbvio que alguns saudosistas dos anos 80 (os verdadeiros, pois não reconheço pessoas nascidas de 1980 para cá como Headbangers anos 80, por mais patches use, e por mais que suas calças sejam apertadas até esganarem os ovos) acreditam que mudou a mentalidade, ou aproveitam para falar das “vantagens” do vinil. Sobre o segundo, digo que é saudosismo vazio, e um LP pode ser ripado e compartilhado tranquilamente na internet. Mas realmente a mentalidade mudou muito. Antes, como o poder aquisitivo era muito ruim (quem viveu os anos 80, lembra bem da crise econômica aguda entre 1983 até 1994), gravávamos fitas. Mas quando surgia um di-

nheirinho a mais, lá íamos até as lojas gastar as economias em discos. E sem reclamar. A lição que minha geração deixou nesse aspecto é simples: as fitas compartilhadas eram uma forma de pirataria, sejamos francos. Mas ocorria porque não tínhamos grana mesmo. Os downloads ilegais poderiam ter a mesma função, mas parece que o público anda mais preocupado em baixar músicas que nunca vai ouvir, as quais não vai saber cantar nos shows. Perdeu-se aquela coisa de ouvir e se identificar com a música, dela nos marcar. E não é problema do Metal ter mudado esteticamente dos anos 80 para cá (senão, bastava ouvir o disco novo de qualquer banda da época e não se esqueceria o que foi ouvido. E não é o caso), mas da mentalidade ter mudado: o que eu e meus colegas da época queríamos ter, hoje se pode com um clique no mouse. Se quer realmente ser como minha geração, baixe o seu disco, ouça, sinta a música da banda falando di-

retamente com seu coração. Junte uma graninha, compre os discos direto com as bandas e selos, que sempre possuem preços em conta. Vá aos shows, se divirta ouvindo a música, e se tiver que escolher entre a bendita cerveja e uma entrada, a segunda é a melhor opção. Estou farto de ouvir/ler que ser headbanger está além de ouvir a música, mas viver com atitude. Então, deixar de ser um filho da puta, pare de roubar os outros (pois para aquele disco que você baixa chegar até você, muita grana gente gastou uma grana muito boa. E mesmo porque a música é propriedade intelectual de seu autor, ora bolas!), e chame esta causa para si. Cerveja você pode beber outro dia, mas ter atitude de homem é algo para todos os dias.

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7 anos trabalhando com os melhores

minds that rock

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