Em Tempos de Aliança com Israel, Elvis Tavares Lança Livro Sobre Suplício Histórico dos Judeus

Por Aleckson Marcos 

 

O Reviva Gospel nasceu motivado por um desejo de resgatar a fase poética da música gospel e trazer para o palco figuras históricas que fizeram os melhores anos da nossa música. Hoje, o nosso entrevistado é uma dessas figuras que, nos bastidores, deu enorme contribuição para a música cristã nas últimas três décadas.

Elvis Tavares é manager da Efrata Music (editora musical independente, especializada em música gospel), advogado, radialista, produtor musical, cantor, compositor, escritor e – por que não dizer – teólogo!

 

Reviva Gospel – Elvis Tavares, cantor, compositor, advogado, produtor musical, escritor e apresentador de rádio. Dá certo um artista trilhar pelos vários caminhos da arte, sem ficar preso a uma de suas variações?

Elvis Tavares – É uma pergunta interessante e que remete à questão da polivalência que alguns têm nas atividades que desempenham. Lembro-me, inclusive, que há alguns anos a Milena, minha esposa, comprou um quadro numa loja que achou parecidíssimo comigo, segundo ela. O quadro trazia a inscrição em inglês workaholic. Rsrs! Mas, parafraseando Salomão, o que está vindo à minha mão tenho feito conforme as minhas forças. Daí vem música, rádio, livro etc.

 

Reviva Gospel – Mesmo trilhando por vários caminhos das artes, sem dúvida alguma a sua contribuição mais extensa é na música. O que você nunca fez, mas gostaria de fazer na música cristã?

Elvis Tavares –  Durante muitos anos acalentei o sonho de apresentar um programa de rádio para executar músicas que entendia como injustiçadas pelas emissoras e graças a Deus o desejo foi realizado. No entanto, gostaria de tê-lo feito numa rádio de ponta do Rio de Janeiro, minha cidade de nascimento (meu programa foi ao ar em Florianópolis). Montei, também, uma editora musical em 2000 para transmitir aos autores cristãos as entranhas do Direito Autoral, acionando, inclusive, o judiciário para a proteção de suas obras contra violações. Enfim, os desafios que surgirem na música hoje rotulada de gospel espero estar pronto para enfrentá-los.

Reviva Gospel –  A música gospel está de fato muito ruim ou há uma resistência nos consumidores de música dos anos 80 em reconhecer que talvez haja muita coisa boa sendo produzida hoje?

Elvis Tavares – Sem querer ser saudosista, mas já o sendo, vejo com muita dificuldade o conteúdo da música cristã atual e isto fez aumentar em alguns a rejeição ao termo gospel porque para muitos foi o mergulho fatal na comercialização desenfreada, culminando com canções ou distanciadas da teologia bíblica ou com letras capengas nesse aspecto – embora não descarte ter havido ferimento teológico em músicas também naqueles anos. Se você for analisar mais amiúde perceberá que na música pop  há o fenômeno nostálgico referentes às músicas dos anos 80, como ocorre no gospel daqui. Talvez tudo isso seja reflexo do esvaziamento da cultura brasileira, em termos gerais.

 

Reviva Gospel – Em 2015, Guilherme Arantes afirmou que “o melhor rock feito no Brasil é gospel“, porém, depois do boom nos anos 80 e 90, o rock cristão, embora bastante primoroso, caiu na preferência. Em sua opinião, por que, após tantos de resistência ao nichos conservadores, o rock gospel “morreu na beira da praia”?

Elvis Tavares – Eu entendo que a música invariavelmente passa por fases. Veja o exemplo da música norte-americana antes da 2ª Guerra Mundial, quando o estilo musical semelhante ao de Frank Sinatra e Dean Martin, citando dois, dominava o país. Depois da guerra surge Elvis Presley causando uma mutação estrondosa no cenário, elevando a indústria fonográfica a pilares antes inimagináveis, via rock in roll. Depois veio o iê iê iê dos Beatles e assim por diante. O boom do rock cristão dos anos 80 foi um reflexo do estouro das bandas seculares de rock. Como é bom relembrar daqueles expoentes do rock cristianizado: Sinal de Alerta, Catedral, Resgate, o Baião do Rebanhão de Janires e tantos outros. Um detalhe: você sabia que a batida musical de Baião, na verdade, é de um xote? Como iniciei essa resposta, as fases são responsáveis por muita coisa na vida humana. Na música não é muito diferente.

 

Reviva Gospel Álvaro Tito anunciou recentemente que vai lançar um EP de canções inéditas e um DVD ainda este ano. Você poderia nos adiantar qual será (ou se haverá) a sua participação nestes dois projetos?

Elvis Tavares – As gravações do Titão sempre estiveram envolvidas em mistério com relação aos compositores. Rsrs! Quando gravou minha música Vem Ficar Comigo, no segundo disco da carreira, fez questão de deixar em suspense a música escolhida até o momento em que colocou voz e a mixagem ficou pronta. Eu só soube no dia em que me chamou à sua casa e ligou o aparelho de som. Sinceramente – mantendo seu “modus operandi” – somente depois de tudo concluído ele revela o que fez. Material nosso ele tem lá. Isto eu posso te garantir.

 

Reviva Gospel – Você é o compositor do clássico Não Há Barreiras, interpretado pelo Álvaro. Além dessa, que outra canção você compôs e foi destaque na voz de outro artista?

Elvis Tavares – Nos anos 90 tive a honra de ter uma parceria musical inaugurada com o grande e saudoso compositor Ed Wilson. Dessa dobradinha nasceram dois grandes hits musicais vastamente cantados pelo público cristão. Coração de Carne, gravada pelo ex-Jovem Guarda, Wanderley Cardoso e O Jovem Rico, interpretada pela Banda Novo Som, do Alex Gonzaga e Cia. Foi a primeira canção na história do Novo Som que tinha a temática numa passagem bíblica. Também tive a Ser Feliz ou Não, minha com Michel (autor de O Descobridor dos Sete Mares do falecido Tim Maia), gravada pelo Nill, ex-Dominó.

Reviva Gospel – 7. Elvis, você é escritor, já possui duas obras publicadas (Álvaro Tito, uma Biografia Sem Barreiras e Victorino Silva – Biografia) e está lançando um livro inédito, cujo título é, no mínimo, curioso por ser  diferente das suas outras obras. “Os Cães de Caça de DeusDo Pentateuco de Moisés ao Nazismo de Hitler” é uma obra que aborda exatamente que assunto?

Elvis Tavares – As páginas bíblicas relatam a história de Israel e a relação paterna de Deus com os israelitas, dada a nomeação divina de  Nação escolhida. Mas o Povo Santo, em diversas ocasiões desviou-se dos caminhos traçados por Deus. Em razão da apostasia flagrante no seio de Israel exércitos de impérios poderosíssimos pagãos eram convocados pelo chamado divino para afligirem o povo impenitente para que através do castigo, da dor e, em diversos casos, da deportação e do exílio, voltasse, pelo arrependimento sincero, à adoração a Jeová. Isto tem nascedouro antes de Israel ser uma monarquia e continua até ser dominado pelos romanos no palco do Novo Testamento. Não se pode desprezar que esse relacionamento irregular dos judeus ensejasse a manutenção da ira de Deus para além das Escrituras no período da Idade Média até o desfecho do Holocausto patrocinado por Adolf Hitler. Metaforicamente – a Bíblia é repleta de metáforas – denomino os impérios hostis de cães de caça de Deus.

O tema é polêmico quando abordado fora da Bíblia porque até mesmo muitos judeus não consideram que Deus permaneceu enviando esses cães.

 

Reviva Gospel – Esses impérios são os egípcios, assírios e babilônicos, por exemplo. Se Deus permanece enviando esses cães, quem são, hoje, os cães de caça de Deus para afligirem Israel? Seu livro aborda essa geopolítica atual?

Elvis Tavares no Museu do Holocausto

Elvis Tavares –  Se você retroagir ao caso do triunvirato Abraão-Sara-Agar recordará que Ismael (filho de Abraão com a egípcia Agar) é o pai de todos os árabes – a expulsão de Ismael e sua mãe Agar, por influência de Sara, contém um ingrediente histórico nisso. A animosidade é ampliada quando lembramos da Filístia (terra dos filisteus), povo que deu origem aos palestinos, ainda hoje vizinhos em terreno contíguo a Israel. Você pode não tratá-los hoje como impérios, mas aquelas nações de língua árabe não aceitaram a resolução da ONU no pós-guerra oficializando a criação do Estado de Israel, enquanto a Palestina não obteve o mesmo tratamento. A região mostra Israel como a única democracia do Oriente Médio, tendo ao seu redor esses países de ódio inveterado aos (hoje) israelenses. A conjectura referente a países com porte de império pode ser creditada a Alemanha Nazista, como o último representante em termos de poderio.

 

Reviva Gospel – Então, a Palestina no cenário geopolítico atual é um cão de caça que se mostra muito feroz? Elvis, em algum dia, Israel também pode se tornar um cão de caça de Deus, no sentido em que você aborda na obra?

Elvis Tavares – Pode-se dizer que sim, mas com poderes limitados em relação aos grandes impérios de outrora. Está numa categoria mais para subimpério. Não sei se tivesse todo um aparato militar aos moldes dos impérios já não teria abocanhado Israel. Fato importante: assim como retratado no livro, todas essas ações somente aconteciam com a permissão de Deus, dada a sua soberania. Na história bíblica houve momentos em que Israel portou-se como cão de caça sim. Mas sempre dentro do planejamento divino. Em algumas situações até venceu batalhas com seu exército tendo inferioridade numérica, cobrando tributos do país dominado, prática usual dos impérios conquistadores.

 

Reviva Gospel – Marco Feliciano entrou em apuros ao afirmar que a raça negra surgiu da maldição de Cã, filho de Noé. No livro, você trata dessa questão polêmica, né?

Elvis Tavares – Realmente é preciso muito cuidado quando afirmamos sobre temas embutidos nas Escrituras para não incidirmos na difusão de fake news, não é? A maldição não está relacionada com a etnia (não é raça) das pessoas. O epicentro disso é o episódio em que Cão (ou Cam ou Ham) descobre a nudez de Noé e uma vez sabedor do ato vil de Cão, Noé lança uma maldição sobre Canaã, filho de Cão. É o que diz Gênesis 9:25. Há um detalhe que parece escapar da compreensão de algumas pessoas: Cão não foi amaldiçoado. A maldição recaiu sobre seu filho Canaã. Cão fez habitação na África, continente de predominância da etnia negra. Já Canaã partiu para habitar o continente asiático, mais precisamente onde Israel está fixado. Se a maldição tornaria a pele das pessoas negras as mesmas deveriam ser os israelenses e não africanos. Este, sem dúvida, é um dos capítulos do livro.

Reviva Gospel – Se a maldição não foi o escurecimento da pele, o que, de fato, foi essa “maldição”?

Elvis Tavares – Aí é que está o x da questão, meu caro. Se eu responder detalhadamente essa pergunta estarei dando um spoiler de um capítulo interessantíssimo (risos). Peço licença para optar pela abstenção dessa resposta para que os leitores a encontrem no momento da leitura do livro.

 

Reviva Gospel – Lutero é uma figura muito paradoxal. Pode-se dizer que ele foi um cão de caça de Deus para afligir os judeus e a Igreja Católica Romana ao mesmo tempo?

Elvis Tavares – Nesse caso pontual eu vejo mais como uma inquietação de Lutero no afã de converter as pessoas ao cristianismo pela via protestante. Mais ou menos parecido – fazendo um mea culpa do reformador – como quando dizem se você não se converter vai para o inferno. Ele se viu impetuoso nesse mister. Mas o teu raciocínio não foge muito da lógica do livro. Quanto à Igreja Católica diria que as ações de Martinho  Lutero estiveram mais atreladas à liturgia do que qualquer outra questão. Ele desejou a alteração dos dogmas com a retirada daqueles pontos que fugiam das prescrições bíblicas, principalmente as indulgências, tema nuclear das suas 95 teses.

Complementando com uma pergunta: imagina se a Igreja Católica opta por ceder às teses luteranas! Hoje, possivelmente, não teríamos as denominações evangélicas tradicionais porque teríamos todos, nós cristãos, uma só denominação e seria a Católica.

 

Reviva Gospel – O Brasil sempre foi cruel a Israel (uma espécie de cão de caça) e favorável aos palestinos.  O presidente Bolsonaro já sinaliza mudanças radicais na relação entre os dois países. Qual a importância dessa aproximação?

Elvis Tavares – Como o Brasil define-se como país democrático cria-se um enorme paradoxo não ter relações diplomáticas com Israel, a única nação regida pela democracia no Oriente – fato que já soa como algo miraculoso. A Bíblia é imperativa para que se ore pela paz em Israel e quando o presidente Jair Bolsonaro reata a diplomacia com o território judeu – lembrando que Lula reconheceu a Palestina como um estado – não se pode dissociar tal ato dessa busca pela paz em Jerusalém. Repito: se o Brasil é uma democracia ele precisa ter laços com países democráticos. Nada mais lógico.

 

Reviva Gospel – Elvis, e como o nosso leitor pode adquirir o seu livro Os Cães de Caça de Deus e as duas biografias que você escreveu?

Elvis Tavares – A editora colocou o livro Os Cães de Caça de Deus à venda com preço promocional pelo site www.editorareflexao.com.br, mas brevemente ficará à disposição nas lojas. Já as duas biografias são facilmente adquiridas pela internet.

 

Reviva Gospel –  Elvis, você tem um site que, diga-se de passagem, é excelente para quem deseja conhecer os bastidores da música evangélica nos anos 80. Fique à vontade para divulgá-lo, bem como suas redes sociais.

 

Elvis Tavares – Obrigado, Aleckson, pela oportunidade. O site é o www.efratamusic.com.br e como você adiantou, trata-se de um portal de informações sobre a música contemporânea cristã, mormente aquela intervalada entre os anos 70, 80 e 90.

Reviva Gospel – Em nome do Reviva Gospel agradeço a sua boa atenção, lhe parabenizo pelos multitalentos e pelo que tem feito pela nossa música. Nosso portal está sempre disponível para você.

Elvis Tavares – Eu é que agradeço penhoradamente pela entrevista.

 

2 thoughts on “Em Tempos de Aliança com Israel, Elvis Tavares Lança Livro Sobre Suplício Histórico dos Judeus

  • 15/01/2019 em 13:44
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    Aleckson como sempre se destacando pela excelente matéria e o furo de reportagem do inédito livro de Elvis, parabéns aos dois pelo conjunto da obra .
    Ledinilson Reviva gospel

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