Economia

Choque entre terno e camiseta nos espaços de coworking

Empresas tradicionais aprendem a conviver com hábitos e modo de trabalho de start-ups

Rotina. Stephan Samouilhan, vice-presidente da Keyrus, Pedro Teixeira, do Bichara Advogados, e Camila Achutti, sócia da Mastertech, em espaço de coworking
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Rotina. Stephan Samouilhan, vice-presidente da Keyrus, Pedro Teixeira, do Bichara Advogados, e Camila Achutti, sócia da Mastertech, em espaço de coworking Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

RIO - Um advogado de terno, a jovem criadora de uma start-up, adepta da dupla jeans e camiseta, o executivo estrangeiro de uma multinacional... Um convívio que poderia parecer conflitante é agora parte da rotina de profissionais que optam pelo modelo de coworking.

O tradicional Bichara Advogados abriu uma base em agosto numa unidade da WeWork em São Paulo, com uma advogada residente e duas posições volantes, usadas por outros sócios. Com uma área voltada para negócios digitais, busca o trabalho criativo que não chega dentro do escritório, explica o sócio Pedro Teixeira.

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— Fisicamente, é um susto. Existe um processo de adaptação ao espaço e também social. Advogados andam de terno e gravata, os escritórios são formais. Mas abre uma janela para o mundo digital e das start-ups. Ajuda a pensar em soluções em áreas que não enxergávamos antes.

As conexões são valiosas. A paulistana Camila Achutti, de 25 anos, teve uma empresa baseada no Cubo, onde criou a Mastertech. A start-up da área de educação desenvolveu um método para o ensino de tecnologia, em linha com a digitalização do mercado de trabalho.

— Para quem está começando, o coworking vale a pena pelo custo e também para criar uma densidade (de contatos e parceiros). Deixamos o Cubo porque ficamos grandes demais, e, agora, consigo adequar o espaço e o custo às minhas necessidades. Só preciso de sala quando dou um curso — explica ela.

INTEGRAÇÃO DE EQUIPES

Para ela, essa densidade é a chave para crescer. A Mastertech está entre as empresas que vão ministrar cursos no Estação Hack São Paulo, projeto que o Facebook inicia até o fim do ano para formação de talentos em tecnologia, capacitação de empreendedores e aceleração de start-ups de alto impacto social.

Outra com as malas prontas para o coworking é a multinacional francesa Keyrus, de inteligência de dados, digital, e consultoria no gerenciamento e transformação de empresas. Uma equipe de 50 profissionais — toda a sua área digital — já está no mesmo prédio da Mastertech. No fim do ano, esse grupo e os demais colaboradores da empresa no país, são 500 no total, estarão reunidos em outra unidade da WeWork.

Stéphan Samouilhan, vice-presidente global da Keyrus Digital, explica que a empresa já usa o novo modelo de trabalho no exterior, em prédios próprios ou em espaços de coworking.

— O Brasil é nosso segundo maior mercado. Perto de 80% da minha equipe têm entre 20 e 30 anos. São muito jovens, buscam flexibilidade e veem o ambiente como importante no trabalho. No coworking, acho que temos maior oportunidade contratar e atrair talentos, e de encontrar parceiros.

O arquiteto Sérgio Camargo, à frente do redesenho de escritórios de agências como Artplan e Y&R, além do site OLX, destaca a importância do espaço:

— O espaço precisa de multipossibilidades. As empresas de tecnologias fizeram esse percurso de forma mais natural, mas as empresas precisam pensar na integração de suas equipes, em permitir conectividade.

Nessa trilha, vão as empresas que estão migrando para o modelo compartilhado de trabalho — estando ou não em espaços de coworking — em busca de melhor produtividade e de resultados. A decisão precisa ser estudada. E a mudança exige adaptação. Mas vai reunir pessoas que dificilmente se encontrariam de outra forma. Na EY, por exemplo, foi difícil fazer a equipe se desapegar de mesas próprias:

— Ninguém mais tem mesa própria. As estações de trabalho têm telefone e conexão para computador que podem ser utilizadas por qualquer colaborador sob agendamento. Foi o fim do porta-retratos sobre a mesa, que tem de estar limpa no fim do dia. Cada pessoa tem um pequeno armário para guardar seus pertences — diz Luiz Sérgio Vieira, presidente da EY no Brasil.

A sede da OLX no Rio, com 415 colaboradores, passou pela mudança um ano atrás. A de São Paulo acaba de ocupar o novo espaço. No escritório carioca, os três andares são conectados por escorregas que terminam em uma piscina de bolinhas, havendo ainda espaço de jogos.

— Melhorou o fluxo de trabalho, trouxe engajamento. O presidente e os diretores sentam em posições diferentes dependendo da tarefa do dia, mas ainda temos mesas fixas — explicou Simone Grossmann, diretora de recursos humanos da OLX.