O aculturamento aqui

Em seu livro História da Música na Cidade Canção, Luiz Carlos Assumpção, descrevendo a relação da sociedade com a música — seja nos bailes do Aeroclube ou embaixo de lonas, a música erudita ensinada para poucos e bons, os corais e a música religiosa –, corroborado por alguns entrevistados, chega à conclusão de que houve em Maringá um certo aculturamento nas útlimas décadas. O livro contempla a história da música da cidade até o final da década de 1970. A revista Maringá Ilustrada de maio de 1972 traz anúncio da Banda Municipal “Joubert de Carvalho”, exaustivamente citada no livro:

Maringá nasceu na era das coisas prafrentex. Há quem dia que, quando a cidade era ‘bebê’, chorava em ritmo de rock. Tudo nela tinha de ser moderno. Havia uma espécie de preconceito contra qualquer manifestação de cafonice.

Mas, nem por isso, conseguiu vencer inteiramente o dengo saudosista de grande parte do seu povo. Haveria de ficar alguma coisa do passado apra atender às necessidades de emoções dessa gente (…). Quando é domingo ou dia de festa, o povo gosta de ouvir banda de música. Daqui a mil anos ainda será assim. Música com ritmo certinho marcado por bumbos e tubas. E aqueles músicos marchando em rigoroso alinhamento, com o maestro na frente balançando a batuta. (…) Mas tem uma curiosidade: gente velha gostar de banda é natural e pode ser por influência do saudosismo. Entretanto, mais do que os velhos, são as crianças que adoram banda de música. Vão atrás, marcham no ritmo dos bumbos, acham aquilo tudo lindo. Será por que?

Talvez porque banda de música seja uma coisa eterna e para gostar dela não é necessário ninguém ensinar ou sugerir: a gente gosta porque gosta e ninguém tem nada com isso.

Festa que se preze tem que de banda de música. E, como complementos, foguete e pipoca. Sempre foi assim, ainda é assim, daqui a mil anos será assim. E não adianta querer explicar.

Em 2011, quem prefere uma banda a Nevilton ou um sertanejão bruto? Foto: Maringá Ilustrada, maio 1972, p. 145

O Dr. Amâncio José Rodrigues “lamenta que hoje, embora as moças vão às festas e bailes bem arrumadas, os rapazes vão de tênis, calças jeans desbotadas, de bonezinho virado para trás na cabeça, ‘uma coisa desproporcional’! Para ele isso é resultado da falta de cultura, de leitura, de uma conhecimento mais amplo, de uma educação cultural. ‘Na leitura se cria uma imagem eleada na mente’, disse ele. ‘A cultura de TV e de internet, quando desliga, acaba tudo, mas na leitura, não, fica a imaginação'”.

A Dona Bárbara Cecily Netto “mostrou sua estranheza com o que acontece hoje com respeito aos bailes. Disse ela: ‘Antigamente moças e rapazes iam aos bailes bem arrumados, eles de gravata e casaco e, conforme o caso, até gravata borboleta. As moças muito bem trajadas. Quando tocava uma música, as moças eram disputadas pelos rapazes que logo iam tirá-las para dançar. Hoje, não é assim, as moças estão lá, bem arrumadinhas, bonitas… toca uma música e os rapazes não se mexem, não vão tirá-las para dançar. Eu fico pensando… será que eles são acanhados ou falta quele ‘clique’, aquela luz na imaginação, por que tanta moça bonita e rapaziada encostada na parede? Outra coisa estranha é a música alta demais. Ninguém mais consegue conversar nas festas e bailes… Acho que esta geração vai ser toda surda em breve. Há muitas moças estudando fonoaudiologia… não desanimem… sua clientela está sendo formada… Por que música tão alta?’. Lamenta ainda a falta de sensibilidade musical, exatamente por causa do som alto, pela qualidade das músicas, só ritmo e pouca melodia.

Os tempos são outros. O que será que deu errado?

2 respostas em “O aculturamento aqui

  1. %%% nada é como antigamente a liberdade eas emoçoes de antes so quem as viveu para nao esquecer, ao procurar por 1 maringa dos anos 72, ano em que eu nasci me emocionei, pois nessa foto na terceira fila com 1 tumba achei meu avo senhor Waldemar REgis e na primeira fila meu tio REgis ,que hoje somente nas fotos os encontremos…quero agradecer do fundo do coraçao essa postagem obrigada PATRICIA REGIS %%%

  2. Pingback: Tem gato na tumba « Maringá, Maringá

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