05/12/2010 21h28 - Atualizado em 05/12/2010 21h48

'Pensei que ia morrer', diz jovem agredido com lâmpada na Paulista

Quatro menores suspeitos da agressão estão na Fundação Casa.
Imagens de câmera de segurança registraram caso, em 14 de novembro.

Do G1 SP, com informações do Fantástico

O jovem agredido com uma lâmpada fluorescente na Avenida Paulista, no dia 14 de novembro, mostra o rosto pela primeira vez e conta abertamente o que aconteceu. “Eu pensei mesmo que eu ia morrer naquela hora. Eles estavam me batendo com uma brutalidade e falando coisas que nem um psicopata fala, com tanta gana de bater em alguém que eu falei: ‘eu vou morrer aqui’”, diz o estudante de jornalismo Luís Alberto Betonio, de 23 anos.

O estudante diz que, naquela manhã de 14 de novembro, voltava da balada com dois amigos da faculdade. Eles caminhavam pela Avenida Paulista. “A gente estava saindo de uma lanchonete, indo embora para casa. Eram umas 6h. Aí a gente se depara com esses cinco meninos que estavam vindo no sentido oposto”, lembra.

Eram quatro menores e um rapaz de 19 anos, Jonathan Lauton Domingues. Segundo a polícia, Jonathan é o que aparece de bermuda nas imagens da câmera de segurança. Luís conta que outro jovem do grupo trazia duas lâmpadas fluorescentes na mão. De repente, um grito. “Na hora em que eu olho, ele já acerta com a lâmpada no meu rosto. Na hora em que eu coloquei a mão no rosto, já estava saindo sangue. Ele vem com a segunda, e eu me defendo. Os outros começaram a rir. E eu já vou para cima. Ele ainda taca o restante da lâmpada que estava na mão dele”, diz.

A briga continua fora do alcance da câmera. O rapaz de bermuda, Jonathan, corre para dominar Luís. “Ele vai e me dá uma gravata. Aí eu fico imóvel, não tenho como me defender. Os outros já começam a me agredir, com soco e chute. Eles batiam muito na cabeça”, lembra.

Um segurança interrompe o espancamento e os suspeitos fogem. “Se não fosse o segurança na hora, para defender, eu tinha morrido, porque eles não iam parar.” De acordo com a investigação, ao todo, cinco pessoas foram surradas pelo grupo naquele fim de semana. “As imagens revelam uma brutalidade excessiva, gratuitamente, sem nenhuma provocação”, aponta Felipe de Almeida, advogado de Luís.

A sessão de violência pode não ter sido a única. Na sexta-feira, surgiu mais uma acusação contra os jovens. Um homem de 37 anos procurou a polícia e contou que foi espancado no dia 14 de março, na Rua Augusta, região de bares e boates de São Paulo. Ele reconheceu Jonathan e o menor que bateu com as lâmpadas em Luís. “Não tenho a menor sombra de dúvida disso. O menor me imobilizou por trás, enquanto Jonathan desferiu mais ou menos oito socos no meu olho. Eles tentaram mesmo matar”, lembra a nova vítima.

O executivo, que não quis se identificar, teve ossos da face esmigalhados e sofreu afundamento do olho direito. “Eu pude perceber, apesar de eles não terem falado absolutamente nada, que se trata de um crime homofóbico”, completa.

Intolerância

De volta ao caso da Avenida Paulista, Luís também acredita que a intolerância contra gays tenha sido o motivo do ataque, mas que, em relação a ele, houve um mal-entendido. “Não sou homossexual. As duas pessoas que estavam comigo na Paulista são homossexuais, estudam comigo. Eu tenho vários amigos homossexuais”, declara o estudante.

“Eles não têm uma base familiar muito boa, porque, na hora em que eu estava na delegacia, eu já tive um exemplo disso, de uma das mães falar que não era necessária a abertura de um boletim de ocorrência e um dos pais olhar no meu rosto, que já estava todo cheio de bandagens e falar que até que não tinha sido tão grave. Ele disse assim: ‘foi uma briguinha qualquer’”, conta.

Para a polícia, o adolescente de 16 anos que acertou as lâmpadas em Luís gostava de propagar mensagens de ódio na internet. O inquérito revela uma frase atribuída a ele em um site de relacionamento: "um soco vale mais do que mil palavras". O texto foi apagado. O jovem tem histórico de indisciplina e chegou a ser expulso de um colégio de renome em São Paulo. Os quatro menores estão na Fundação Casa e aguardam o julgamento, que deve acontecer ainda este mês. Eles podem ficar até três anos internados. A polícia pediu a prisão preventiva de Jonathan por tentativa de homicídio, mas a Justiça ainda não decidiu.

Ligamos para os pais dos cinco suspeitos. Ninguém nos atendeu. O advogado de Jonathan disse que não poderia dar entrevista esta semana. “Eu acho que ninguém tem o direito de agredir, seja por opção sexual, cor ou qualquer coisa”, comenta Luís.

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