Política violência contra a mulher

Número de estupros cresce em 2017 e chega a 60 mil no país, mostra relatório sobre segurança

Aumento em 2017 foi de 8%. Já o número de homicídios passou de 4.500
Projeto determina criação de equipe multidisciplinar para acolher vítimas Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
Projeto determina criação de equipe multidisciplinar para acolher vítimas Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

SÃO PAULO — A violência contra a mulher cresceu em 2017: ao menos 4.539 mulheres foram vítimas de homicídios no ano passado, em um crescimento de 6,1% em relação a 2016. Ao menos 1.133 casos foram de feminicídios, termo que contabiliza crime praticado contra a mulher em situação de violência doméstica. O número de estupros também aumentou. Em 2017 chegou a 60.018, o que significa 8,4% acima do ano anterior. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira em São Paulo pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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Pela primeira vez, o chamado Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que há doze anos levanta dados de homicídios, latrocínios, mortes em confrontos policiais e lesões corporais que resultaram em morte, tabulou os dados de lesão em mulheres decorrentes de violência doméstica. Foram 606 casos por dia, um total de 221.238 no ano passado. O número pode ser ainda maior,  já que nem todos os estados da federação ofereceram esses dados.

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Segundo os responsáveis pelo levantamento, as evidências reforçam a existência de fatores culturais no Brasil, como misoginia e machismo.

— É um dos piores dados que temos em relação a outros países.  E com muita subnotificação, as mulheres têm medo — diz a socióloga Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. — Muitos não veem o caso como um problema de segurança pública. Mas não se restringe à esfera doméstica nem privada. Tem que meter a colher sim.

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Segundo Samira, apenas 8% dos municípios brasileiros possuem delegacias especializadas em crimes contra a mulher. Se por um lado parece inviável aumentar esse número a curto prazo no país, por outro é possível qualificar as polícias nesse atendimento, defendeu a socióloga:

— É preciso também fortalecer o trabalho entre as diferentes instâncias que atendem a mulher. Muitos casos, por exemplo, entram via assistência social. Tem que haver uma integração na ponta, entre municípios, e que haja um trabalho em rede.

RECORDE DE ASSASSINATOS NO PAÍS

O 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelou um novo recorde de violência no Brasil . O país registrou 63.880 mortes violentas em 2017. É como se, a cada hora, sete pessoas fossem mortas de forma intencional no país. O índice é o maior desde 2006, quando o Fórum Brasileiro de Segurança Pública começou a contabilizar estatísticas criminais de todo o país, e foi 2,9% maior do que o contabilizado no ano passado.

É também a primeira vez que a taxa de mortes violentas ultrapassou o patamar de 30 casos por 100 mil habitantes. Em 2017, o índice ficou em 30,8. A título de comparação, a média mundial é de 7,5 mortes por 100 mil habitantes, segundo estudo da ONG internacional Small Arms Survey, realizado com dados de 2016.

Rio Grande do Norte, Acre e Ceará aparecem como os estados mais violentos. O Rio, sob intervenção federal desde o início do ano, figura na 11º posição, com uma taxa de 40,4 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes em 2017 - 7,2% mais do que em 2016.  O estado do Rio também liderou o número de mortes decorrentes de intervenção policial no ano passado , com 1.127 casos.