A Importância das Avós Para a Evolução Humana

Simulação matemática comprova participação das avós na evolução humana
A "Hipótese da Avó" foi o passo inicial para tornar-nos quem somos, afirma a professora de antropologia Kristen Hawkes

Talvez as avós não sejam tão importantes quanto imaginávamos. Principalmente quando o assunto é a evolução humana. Esta semana o assunto voltou à baila com a divulgação de um estudo feito a partir simulações de computador as quais  forneceram suporte matemático para a famosa hipótese de que os seres humanos evoluíram em relação aos macacos porque as avós ajudavam a alimentar seus netos.
A chamada " Hipótese da Avó" diz que quando as fêmeas no fim da idade fértil passaram a alimentar os netos após o desmame, suas filhas tiveram tempo para produzir crianças em intervalos mais curtos; além disso, as mulheres passaram a viver mais tempo após a última menstruação, porque as fêmeas ancestrais que viraram avós conseguiram passar adiante os genes da longevidade. Portanto, de acordo com esse pensamento as fêmeas humanas, ao contrário das descendentes de outros símios, sobrevivem muito além do seu apogeu reprodutivo, devido aos benefícios que as mulheres na pós-menopausa proporcionam aos seus netos.

O biólogo evolucionista William Hamilton apresentou essa ideia, pela primeira vez, em um artigo em 1966, baseando-se em um trabalho teórico de George Williams e Peter Medawar. No entanto, “a hipótese da avó” só decolou durante os anos 80 e 90, com base em uma pesquisa de campo com dados coletados pela antropóloga Kristen Hawkes e seus colegas da Universidade de Utah, em Salt Lake City.
Esses pesquisadores descobriram que entre os Hazda – os caçadores-coletores da Tanzânia – as mães tinham que trocar a busca de alimentos para si próprias e sua prole desmamada pelos cuidados dos filhos pequenos. No entanto, se as avós ajudassem buscando a alimentação, elas eram recompensadas com netos mais saudáveis e mais robustos, que desmamavam mais cedo. Durante o processo de evolução, o empenho por melhor saúde pode ter sido responsável por selecionar mulheres que sobreviviam muito além da menopausa, o que se configura numa anormalidade em espécies aparentadas à dos humanos.
Outros dados que ajudaram a sustentar a teoria da avó vieram de estudos de outras culturas de subsistência e, também, de registros históricos, embora nem todos os estudos apoiem essa hipótese.
“Essa hipótese foi muito importante porque influenciou e estimulou muitas pesquisas”, disse Friederike Kachel, bióloga evolucionária do Departamento de Antropologia Evolutiva do Instituto Max Planck, de Liepzig, na Alemanha.
Apesar do caráter intuitivo e de basear-se em relatos e observações, faltava à “hipótese da avó” provas quantitativas mostrando que a longevidade poderia ter evoluído a partir da ajuda das avós. Esta teoria foi o passo inicial para tornar-nos quem somos, afirma Kristen Hawkes, professora de antropologia da Universidade de Utah e principal autora do novo estudo, publicado em 24 de outubro de 2012 na Proceedings of the Royal Society B.
As simulações que levaram em conta apenas a participação das avós, sem envolver variáveis como tamanho do cérebro ou expectativa de vida, ajudaram a comprovar que a partir da idade adulta, as criaturas simuladas na pesquisa viviam mais 25 anos, como os chimpanzés vivem hoje. Depois de 24 a 60 mil anos que as avós começaram a cuidar de seus netos, as criaturas que chegaram à idade adulta passaram a viver mais 49 anos.
Muitas teorias antropológicas afirmam que o aumento do tamanho do cérebro dos nossos antepassados foi o principal fator da evolução humana. Neste estudo, a autora propõe que: "ter uma avó nos tornou mais sociáveis, com tempo para dedicar atenção aos outros integrantes do grupo. Isso serviu de base para a evolução de características humanas, como a ligação entre casais, a cooperação, o aprendizado de novas habilidades e o consequente aumento do cérebro.
A hipótese inicial foi proposta a partir de um estudo de campo de Hawkes e James O Connell, da Utah University, e Nicholas Blurton Jones, da UCLA, apresentado em 1997.Conforme foi dito anteriormente, nos anos 80, eles viveram com o povo Hazda. e na tribo, puderam observar mulheres velhas coletando tubérculos e outros alimentos para seus netos.
Todos os demais primatas, após o desmame buscam seu próprio alimento, somente os seres humanos desenvolveram esta característica. Com a mudança do ambiente africano (local onde os ancestrais humanos se desenvolveram) as florestas desapareceram, dando lugar a pastagens onde as crianças recém-desmamadas tinham muita dificuldade de buscar seu próprio alimento.
Desta forma o papel das mulheres no final da idade fértil foi decisivo. " Os primatas que ficaram perto das fontes de alimentos possibilitando os recém-desmamados alcançar com facilidade o próprio alimento, são hoje os macacos maiores, nossos parentes mais próximos. Os que tiveram que apoiar a alimentação de seus filhos com a participação das avós, evoluíram, se tornando seres humanos", dizem os autores do estudo.

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