Os incríveis

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Os incríveis





FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO FACULDADE DE ARTES PLÁSTICAS Curso de Design de Moda

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PAULA VILLAS BÔAS

São Paulo 2014



PAULA VILLAS BÔAS

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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Design de Moda da Fundação Armando Alvares Penteado, em Banca de Avaliação como requisito à obtenção do Certificado de Conclusão. (8°Semestre) Orientadora: Profa. Cristiane Rose Candido

São Paulo 2014



PAULA VILLAS BÔAS

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Primeiro Membro da Banca Orientadora:

Cristiane Rose Candido

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Design de Moda da Fundação Armando Álvares Penteado, como requisito à obtenção do certificado de conclusão. Orientadora: Profa. Cristiane Rose Candido

Segundo Membro da Banca

Terceiro Membro da Banca

Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso, em sessão pública realizada em / /2014, considerou a candidata:

São Paulo 2014


agradecimentos


Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, pois creio que sem ele eu não estaria aqui e nada disso seria possível. Agradeço minha orientadora Cristiane Rose Candido por ter despertado em mim a paixão pelo figurino, por ter me auxiliado em todos os estágios desse trabalho sempre trazendo com ela uma palavra positiva e um sorriso no rosto, agradeço pelas divertidas e inspiradoras reuniões de orientação, e por ter aceitado me orientar, acreditado em mim e no meu projeto. A meus avós Francisco José, Armanda e Cecilia, meus tios Paulo, Claudia, Cristina, Simone e Flávio; e meus pais Thais e Fabio, agradeço por sempre apoiarem meus sonhos e aceitarem minhas vontades, por me auxiliarem sempre que preciso e também pela infância maravilhosa que me proporcionaram, o que veio a influenciar na minha escolha do roteiro. Gostaria de agradecer também, a meus pais, por terem me dado à oportunidade de estudar e hoje estar concluindo uma graduação em uma das melhores faculdades do Brasil. Pelo apoio, ajuda e paciência comigo durante toda a realização do projeto, eu gostaria de agradecer as minhas irmãs Marina e Fernanda, também a Marcelo Abdelmassih Sollia e minhas amigas Jessica Auriemo e Maria Carolina Abdelmassih Sollia. Agradeço também a minha modelista Ozenir Ancelmo e seu ajudante Alípio, responsáveis pela confecção impecável das

peças de roupa que compõe meu figurino. Agradeço a professora Kazuyo Yamada por me auxiliar a melhorar a qualidade do desenho de meus croquis. Na realização da monografia eu agradeço a professora Maíra Zimmermman pelos conselhos e correções em meu texto após a pré-banca examinadora, a meu professor de inglês Roberto Witte que me capacitou a ler o roteiro em inglês, além de me auxiliar na escrita do Abstract, a revisora Magali Martins, e a designer gráfica Beatriz Iaropoli. E pela maravilhosa ilustração da família Incrível, agradeço minha amiga Fabiana Dinelli. Gostaria de agradecer também aos amigos queridos que aceitaram representar os personagens com meu figurino, que tiveram paciência e disponibilidade para estar presentes em todo o processo de montagem das roupas e das fotos, sendo eles : Marcelo Abdelmassih Sollia, Jessica Auriemo, Rodrigo Casalle, Lucas Ghilard, Nayanna Sonda e Camila Sawamura. Pela companhia maravilhosa e o auxílio sempre que necessário, durante os quatro anos de faculdade, eu agradeço a todas as minhas amigas da classe ADM. Por fim, agradeço a Fundação Armando Álvares Penteado, e a todos os professores com quem eu tive a honra de aprender durante esses quatro anos de faculdade. Professores esses que me capacitaram para chegar nessa etapa final que eu concluo, com muito orgulho, neste ano de 2014.



“Os Incríveis mostra que a verdadeira origem da força da família de exsuper-heróis, é a união entre eles.” Myrna Silveira Brandão


resumo


2.1 Abstract A monografia trata-se de um Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Design de Moda. Dentro da moda a segmentação escolhida foi o figurino, responsável por desenvolver todo um vestuário que será usado por personagens de um determinado roteiro. O roteiro escolhido foi “Os Incríveis”, uma história sobre uma família de super-heróis escrita por Brad Bird. No desenvolvimento do trabalho foi feito um estudo sobre o significado do termo “Herói”, uma análise da história do roteiro e de seus personagens principais, uma pesquisa sobre o autor, Brad Bird, e sua colaboração com a Pixar na produção de um filme de animação. Estes estudos foram feitos com o propósito de dar embasamento à criação de um novo figurino para o roteiro. O novo figurino traz uma leitura atual do roteiro, e tem como característica principal a exposição da personalidade e das emoções dos personagens envolvidos na história por meio de suas vestimentas.

This monograph is a Final Paper, for the Fashion Design course. Within fashion, the chosen segment was the costume design responsible for developing an entire wardrobe that will be used by characters of a certain script. The chosen script was “The Incredibles”, the story of a family of super -heroes written by BradBird. During the work’s development a study was made about the significance of the term “Hero”, an analysis of the script’s story and of it’s main characters, research about the author, Brad Bird, and his collaboration with Pixar in the production of an animated film. These studies were made with the purpose of supporting the creation of a new costume design for the script. The new costume design brings a current reading of thescript, and has as a main characteristic the exposure of thepersonality and emotions of the characters involved in the storythrough their clothing. Key Words:

Palavras-chave

Fashion | Costume Design

Moda | Figurino | “Os Incríveis”

“The Incredibles” | Hero

Herói| Brad Bird | Insatisfação Pessoal

BradBird | Personal dissatisfaction


sumário

introdução

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o herói

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luz, câmera, ação 2.1 “Os Incríveis” e a Jornada do Herói

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conhecendo os personagens 47

a mente por trás de “os incríveis”

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*

conceito de criação

89

o figurino 6.1 Croquis 6.1 Look book

(

fotos conceito

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94 202

considerações finais 241 219

iconografia

243

referências

249




introdução


A autora acredita que o trabalho de conclusão de curso, assim como qualquer outra coisa na vida, quando realizado com paixão e empenho tem um resultado superior a aquilo que fazemos sem motivação. Por esse motivo escolheu juntar duas das suas grandes paixões neste trabalho, a moda e a psicologia. Encontrou dentro do curso de moda a combinação perfeita entre as duas, nascendo assim à terceira delas, o figurino. A função do figurino é a de vestir um personagem de acordo com suas características psicológicas, faixa etária, época, posição social, cultura, região etc. Além de variar de acordo com a temática da produção artística em que está inserido. Dessa forma, o figurino é responsável por explorar a mente e a personalidade do personagem, e deixá-las transparecer em sua aparência. Em produções visuais como filmes, peças de teatro, novelas e séries de televisão, a estética é fundamental para a compreensão e complementação do roteiro, por isso a cenografia e o figurino são de extrema importância. Após optar pelo figurino como segmento do projeto, o segundo momento foi o da escolha do roteiro, decidiu então fazer uma viagem a sua infância e ir à busca dos filmes que fizeram parte da sua formação. Caçula da família sempre foi a mais tranquila, ficava contente assistindo filmes da Disney a tarde toda, enquanto sua mãe tinha que resolver as encrencas das suas irmãs. Cresceu viciada nessas histórias e imagens, conhecia todas as cenas e falas dos personagens de cor, na verdade ainda as conhece até hoje. Sua adoração pelos filmes de contos de fadas e super-heróis teve grande influencia em sua personalidade, eles a tornaram uma pessoa extremamente otimista, alguém que vê o lado positivo das coisas e das pessoas, alguém que acredita em “um final feliz” independente das dificuldades apresentadas durante o caminho. Essas histórias fizeram da autora uma pessoa sonhadora, e mesmo que a realidade muitas vezes tente inibir os sonhos, continuou pensando que “quem acredita sempre alcança” (Renato Russo). O roteiro escolhido teria que representar sua infância, seu presente e sem dúvida sua personalidade. Foi então que escolheu “Os Incríveis”, roteiro que conta a história e os conflitos de uma família de super-heróis. Escrito pelo autor Brad Bird, o roteiro foi transformado em um filme de animação produzido pela Pixar Animation Studios e distribuído pela Walt Disney Pictures, no ano de 2004. A princípio ficou apreensiva imaginando se a escolha de um filme infantil tornaria seu trabalho imaturo de alguma forma, mas depois de pesquisar

e estudar o roteiro descobriu que apesar de ser um filme voltado para o público infantil, “Os Incríveis” trata de muitos assuntos maduros, importantes e presentes em nossa sociedade. Ao assistir o filme novamente se apaixonou mais uma vez por sua história, mas dessa vez com olhos adultos que enxergam as discussões disfarçadas na divertida trama. Assim como as demais animações da Pixar, “Os Incríveis” é um filme capaz de atingir todas as idades, já que entretém as crianças e tem conteúdo o suficiente para agradar os adultos. O autor, Brad Bird, trata muito sobre a insatisfação pessoal e o quanto isso reflete no cotidiano de uma família. Essa insatisfação é muito presente atualmente, por conta de recorrentes problemas sociais e econômicos que assolam a sociedade. Outros assuntos inseridos no roteiro são o preconceito e a dificuldade que a sociedade tem em aceitar aquilo que é diferente da grande maioria. E ainda traz uma metáfora sobre a materialização do mundo, outra situação que amedronta a população. A partir do estudo do roteiro surgiram outras pesquisas relacionadas ao assunto, pesquisas essas relevantes para uma compreensão mais aprofundada do tema. O primeiro capítulo, “O Herói”, explica o significado do termo Herói, conhecimento que torna possível a análise de um roteiro de super-heróis. Já no segundo capítulo, “Luz, câmera, ação”, é responsável por contar a história escrita por Bird, e em um subcapítulo, “Os Incríveis” e a Jornada do Herói, relacioná-la com o que foi visto no capitulo anterior, “O Herói”. No terceiro capitulo “Conhecendo os personagens”, é feito um estudo mais aprofundado da personalidade dos principais personagens, e o que isso influencia em seu figurino, além de uma breve introdução a problemática principal da história, a insatisfação pessoal. E por fim o quarto capítulo, “A mente por trás de “Os Incríveis” é dedicado à biografia do autor do roteiro, Brad Bird, e seu envolvimento com a Pixar na realização do filme de animação. Toda essa pesquisa serviu de base para à criação de um novo figurino para o roteiro “Os Incríveis”, esse figurino foi criado para uma possível adaptação do roteiro para cinema live-action, ao invés da animação já existente. O figurino criado tem uma grande influência na personalidade e nas características psicológicas de cada personagem, além de ser baseado na transformação interior sofrida pela maioria dos personagens envolvidos na história. O resultado foi o de uma estética nova e atual para o roteiro criado pelo autor Brad Bird.

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$ o herói


A palavra herói é um dos arquétipos definidos por Carl Gustav Jung. Arquétipos são formas universais de definição, símbolos que possuem o mesmo significado em todos os conceitos e culturas, uma raiz comum na humanidade. O herói é um arquétipo do inconsciente coletivo, ou seja, nascemos com essa ideia. Segundo Grinberg (2003, p. 158) o herói de Jung é, por exemplo, o adolescente que usa o arquétipo de herói para dar forças ao seu ego, para se sentir pronto para os desafios desconhecidos da nova fase da vida adulta. Já o herói do estudioso da mitologia, Joseph Campbell, tem a mesma essência de conquista do desconhecido, mais é alguém que se sacrifica por um bem coletivo. Ao pesquisar sobre a essência do Herói e seus significados, nada mais esclarecedor do que os textos de Joseph Campbell. Ao contrário do que se pensa ser colocado como um herói é muito mais passar por uma jornada do que dotar de características específicas. Essa jornada consiste em tirar o herói de sua vida cotidiana e levá-lo a uma aventura repleta de obstáculos, cujo seu vencimento tem como consequência uma grande conquista tanto para ele próprio quanto para a sociedade. A jornada do herói definida por Campbell, em

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Mundo Comum:

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Chamado à aventura:

é a primeira fase na qual o herói esta instalado em seu dia a dia comum, com suas ocupações, familiares, hobbys, relacionamentos e tudo que envolve sua rotina.

O chamado vem inesperadamente de um Arauto que pode ser um ser humano ou qualquer outro tipo de mensagem. O arauto costuma ser misterioso, como define Campbell (1997, p.33), “Mito ou sonho, há nessas aventuras uma atmosfera de irresistível fascínio em torno da figura que aparece subitamente como guia, marcando um novo período, um novo estágio da biografia.”.


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Recusa do chamado:

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Encontro com o Mentor:

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Travessia do Primeiro Limiar:

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Testes, Aliados, Inimigos:

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Aproximação da Caverna Oculta:

Enfim o herói vai em rumo à aventura, onde ele se encontra em uma região desconhecida que costuma ser fantástica, misteriosa e afastada como uma ilha, floresta, montanha e etc. Dentro dessa nova realidade o herói passa a enfrentar testes, e vai se familiarizando com as regras do local e identificando quem são se aliados e quem são seus inimigos.

O herói pode a princípio recusar o chamado por algum motivo que o prenda a seu cotidiano, como por exemplo, a família e o medo de expô-la ao perigo. E algumas vezes, o herói está tão inserido em uma rotina tediosa que tem receio de se arriscar em algo desconhecido.

O Mentor é uma figura que exerce influencia sobre o herói, costuma ser alguém respeitado por sua experiência e sabedoria. Nesse encontro o mentor motiva o herói a aceitar o chamado a aventura, pois tem conhecimento da importância dessa experiência. E muitas vezes, também fornece algum tipo de ajuda como ferramentas, dons ou conselhos.

O herói já inserido na aventura, conforme os acontecimentos e testes que enfrenta já o deixam ciente dos perigos e dificuldades de sua jornada. A aproximação da Caverna Oculta representa a aproximação do herói com a grande provação que esta por vir.

Provação: A provação representa o grande momento da aventura, é a batalha do herói contra o vilão, que é conhecido na jornada pelo nome de sombra. Costuma ser o ápice da história onde o herói fica entre a vida e a morte.

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Esse é o momento de transição do herói entre seu mundo cotidiano e a aventura a que foi convocado. O conflito desse momento pode ficar por conta do Guardião de Limiar, alguém ou um grupo de pessoas que tenta impedir que o herói vá para a aventura. Os Guardiões podem ser do lado cotidiano do herói que visam protegê-lo dos perigos da aventura ou do lado da aventura que visam impedir que o herói mude seus planos, entre outros diversos motivos de acordo com a história.

+

Recompensa:

Após o herói vencer a provação, ele ganha algum tipo de recompensa que costuma ser alguma realização pessoal ou benefício para a sociedade.

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$-

Caminho de volta:

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Ressurreição:

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Retorno com o Elixir:

Trata-se de uma ameaça secundária que pode ser mais ou menos significante que a provação. Essa ameaça costuma pegar o herói de surpresa, no momento em que ele acredita que tudo já esta resolvido, após seu sucesso na provação e está pronto para retornar a sua vida cotidiana.

Mais uma vez, o herói vence a ameaça que é colocada a sua frente. A definição de ressurreição se trata da “morte” simbólica que o herói passa na etapa anterior, pelo abalo sofrido, pela ameaça surpresa que muitas vezes tem caráter pessoal para o herói.

Representa a volta do herói após o fim da aventura. O herói retorna ao seu mundo cotidiano, mas volta com toda a bagagem adquirida durante sua jornada, o que o transforma em uma pessoa superior com novas ideias e conceitos. O herói se torna alguém capaz de controlar suas duas realidades, a do cotidiano e a da aventura.

seu livro “O Herói de Mil Faces” (CAMPBELL, 1997, p. 130-132), consiste em doze estágios, são eles: Essas etapas são como um guia para os autores de histórias sobre heróis, podem existir alterações na ordem ou omissões delas o que costuma representar um ponto forte no enredo, já que a maioria das histórias seguem precisamente as etapas definidas por Campbell. Dentro da jornada pode haver diversos tipos de heróis, alguns dotados de dons sobrenaturais, outros apenas humanos iluminados atrás de um grande propósito. Um herói pode vir de qualquer faixa etária, classe social, nacionalidade, ou seja, exceto pela jornada, não existem regras e padrões quanto o herói em si. O herói pode variar também em relação à relevância de sua aventura, Campbell define em seu livro “O Herói de Mil Faces”, quatro diferentes categorias de heróis: Herói do conto de fadas, herói do mito, heróis locais e heróis universais (CAMPBELL, 1997, p.21). O herói do conto de fadas é aquele que trava uma batalha de caráter pessoal em busca de vencer suas problemáticas e/ou seus inimigos, o que é conhecido como triunfo microcósmico. Ao contrário do herói do mito que obtém um triunfo macrocósmico, já que as consequências de sua aventura tratam da salvação de uma sociedade. O herói local se sacrifica por um povo em especial diferente do herói universal que tem como missão passar uma mensagem para o mundo como um todo. Portanto como já citado acima, o verdadeiro herói é definido na mitologia pelo cumprimento de sua jornada independente de suas demais características. Jornada essa que pode estar inserida em qualquer região, cultura e época com a função de trazer às pessoas algum tipo de exemplo ou mensagem de que para ser um herói basta a coragem de se aventurar a favor de um benefício ou conquista, seja ela pessoal ou solidária a uma sociedade.

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% luz, câmera, ação


O filme escolhido para a proposta de um novo figurino é “Os Incríveis”, escrito e desenvolvido por Brad Bird, a animação foi produzida pela Pixar Animation Studios e distribuída pela Walt Disney Pictures, no ano de 2004. O filme se passa em Metroville, uma cidade fantasiosa inspirada em Chicago, onde os super -heróis cuidam dos problemas e da criminalidade e são aclamados por isso. A história começa no dia do casamento entre Roberto e Helena, identidades secretas dos “Supers” Sr. Incrível e Mulher-Elástica. Neste dia, antes da cerimônia, Beto está ca-

racterizado como Sr. Incrível protegendo a cidade, e em uma série de acontecimentos ele salva um homem que esta tentando cometer suicídio e em um outro momento, o herói sem intenção acaba por causar uma explosão em uma ponte. Explosão essa que na verdade teve como culpado um menino apelidado de Bochecha. Bochecha tem o sonho de ser comparsa do Sr. Incrível, se acha qualificado, pois apesar de não ter poderes especiais, faz invenções extraordinárias como botas voadoras e mesmo o Sr. Incrível rejeitando sua ajuda, já que prefere trabalhar sozinho, Bochecha insiste e até se auto denomina de Guri Incrível.

Fig. 01 | Sr. Incrível observando a cidade de Metroville.

Fig. 02 | A cerimônia de casamento entre Roberto e Helena.

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Fig. 03 | Bochecha se apresenta como Guri Incrível para o Sr. Incrível.

Fig. 04 | O julgamento do Sr. Incrível.

A partir disso, começam processos das “vitimas” e do governo contra os super-heróis, reivindicando os prejuízos financeiros que eles causam à cidade e ações que fazem sem serem convocados, como o salvamento do homem que não queria ser salvo, pois estava tentando cometer suicídio. Então, o governo cria o “Programa de Realocação de Supers” e fica decretada a proibição de super-heróis, eles teriam que adotar suas identidades secretas e agirem como pessoas normais não revelando mais seus poderes especiais, já que esses poderes foram considerados prejudiciais à população. Quinze anos se passam na história e agora Helena e Beto Pêra formaram uma família, são casados e com três filhos, Violeta, Flecha e Zezé. A filha mais velha, Violeta é uma adolescente extremamente insegura. Ela não se sente normal

por conta de seus poderes especiais, acredita que ser diferente não é algo bom, então se “esconde” dos outros, o que é fácil para ela quando seu superpoder é ficar invisível e criar campos de forca magnética. Flecha é um menino, por volta de seus 10 anos, que ao contrário da irmã, se sente a vontade com seu poder de super-velocidade. Ele usa seu poder para fazer brincadeiras, como colocar tachinhas na cadeira do professor e não ser visto de tão rápido que se locomove, e fica vaidoso com isso. Mas sua frustação fica por conta de não poder praticar esportes, já que se destacaria muito dos demais e seus superpoderes seriam revelados. Zezé ainda é um bebê de colo é o único que ainda não teve seu superpoder revelado, não se sabe ainda se ele será um “Super”, como o resto de sua família.

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Fig. 05 | Família Pêra discutindo á mesa do jantar.

Fig. 06 | Violeta fica invisível para se esconder de, Tony, seu colega de escola.

Fig. 07 | Reunião convocada pelo professor Bernie, após Flecha colocar tachinhas em sua cadeira.

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Fig. 08 | Escritório da agência de seguros.

Fig. 09 | Helena dando banho no bebê Zezé.

Fig. 10 | Beto perde a paciência com seu chefe Gilbert Huph.

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Sobre o casal Beto e Helena ambos mudaram muito em consequência de sua mudança de cotidiano, dos dias de glória como super-heróis salvando a cidade, agora são pessoas comuns colocados em uma rotina normal e familiar. Beto vive infeliz, já que o grande prazer de sua vida era atuar como super-herói e agora trabalha em uma entediante agência de seguros com um chefe com ideias totalmente contrárias as dele. Como não aceita a ideia de não poder ajudar os outros, se junta com Gelado seu amigo também super-herói, que aparece em seu casamento na primeira parte da história, e ficam escondidos ouvindo a frequência da polícia para poderem ajudar no que quer que esteja acontecendo na cidade. Helena se tornou uma dona de casa e mãe muito dedicada, ela se preocupa muito com a insatisfação do marido no trabalho e com a necessidade de esconder os superpoderes para o bem estar da família. A trama começa quando em uma saída com seu amigo Gelado, Beto diz a sua esposa que está indo ao Boliche, enquanto eles escutam a frequência da polícia e salvam pessoas de um prédio em chamas. Durante seu ato heroico, eles estão sendo observados por uma mulher que esta vigiando o Sr. Incrível e passando informações para alguém. No dia seguinte, Beto perde a paciência no emprego e é demitido, após arremessar seu chefe, que atravessa diversas paredes, o que revela sua super-força. No hospital onde seu chefe está sendo cuidado, o agente do governo, responsável pelo “Programa de Realocação de Supers”, Rick Dicker, está decep-

cionado por Beto ter perdido o controle mais uma vez. Dicker reclama da quantidade de dinheiro envolvido para recolocar a sua família, para apagar a memória daqueles que viram Beto expor seu superpoder, para pagar a indenização dos danos para a empresa etc., e deixa transparecer que isso já aconteceu muita outras vezes. Mas por ser amigo de Beto, ele oferece para recolocar sua família mais uma vez, e propor um novo emprego para ele, mas Beto recusa já que sua família demorou três anos para conseguir se estabilizar nessa nova casa e ele não quer decepciona-los novamente. Ao voltar para casa ele está chateado e sem saber como contar o acontecido para sua mulher, que também ficará extremamente decepcionada com ele. Quando chega ao seu escritório em casa, Beto encontra um envelope contendo uma mensagem digital, da mesma mulher que o estava observando, que se apresenta como Mirage. Na mensagem Mirage diz que trabalha para uma organização ultrassecreta do governo e que precisa de suas habilidades para parar o protótipo de uma máquina que saiu de controle, ela o encanta dizendo que ele ainda pode fazer coisas grandiosas e atuar como herói, seu verdadeiro sonho. Então, Beto mente para Helena e diz que vai viajar pela empresa de seguros, o que deixa Helena orgulhosa, acreditando que ele está sendo valorizado no trabalho. No dia seguinte, Beto coloca seu antigo uniforme de Sr. Incrível, apertado devido as mudanças que os anos fora da ativa causaram em seu corpo, e vai ao encontro de Mirage em uma ilha fantástica, extremamente tecnológica e futurista. Mirage

Fig. 11 | Rick Dicker repreende a atitude de Beto.

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explica o funcionamento e a problemática do protótipo e envia Bob para a missão. O Sr. Incrível o localiza e mostra que mesmo mais lento e cansado, por conta dos quilos a mais, ainda é capaz de realizar uma missão, destruindo com sucesso o protótipo descontrolado. Ao lado de Mirage uma figura mostra estar surpreso com a aptidão do herói, e ordena que Mirage o convide para um jantar, o que sugere que a sombra é o chefe anônimo por trás da missão. Neste jantar Mirage elogia o desempenho do herói, o Sr. Incrível curioso pergunta sobre o anfitrião e Mirage responde que ele prefere ficar no anonimato, por enquanto. Depois do ocorrido na ilha, Beto volta pra casa, e começa uma série de cenas que sugerem o tempo passando. Nessas cenas Beto está ani-

mado e bem humorado, dando carinho e atenção a sua mulher e filhos, bem diferente do homem entediante e alheio à família que era antes. Sua transformação é resultado da felicidade e realização pessoal que ele encontra em trabalhar naquilo que gosta. Também nessa série de cenas, mostra uma melhora de vida, devido ao alto pagamento oferecido em seu novo emprego, não que ele necessitasse, mas o deixa mais vaidoso, como roupas melhores, um carro esporte novo e presentes extravagantes para sua família. O marido também agrada ajudando e se preocupando com as tarefas de casa que são responsabilidades de Helena. Além de mostrar Beto realizando uma série de exercícios próprios para a super-força do Sr. Incrível, patrocinados pelo seu atual emprego, e

Fig. 12 | Mensagem de Mirage para Beto.

Fig. 13 | Reunião entre Mirage e o Sr. Incrivel.

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Fig. 14 | Beto brinca com seu filho caçula Zezé.

Fig. 15 | Beto brinca com seu filho caçula Zezé.

Fig. 16 | Beto se exercitando em busca de recuperar sua boa forma.

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Fig. 17 | Beto leva seu antigo uniforma para Edna consertá-lo.

Fig. 18 | Síndrome revela seu plano de vingança contra o Sr. Incrível.

Fig. 19 | Edna choca Helena com suas novas criações.

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com isso ele recupera seu físico de antigamente. Ou seja, tudo esta a seu favor, o que lhe dá autoestima e vida outra vez. Quando Beto é convocado para mais uma importante missão, ele pega seu uniforme de “Super” e vê que esta com um rasgo no tecido, então sai de casa e vai atrás da única pessoa em que ele confiaria para consertá-lo. Ele chega a uma mansão toda modernizada e tecnológica em segurança e todos os demais aspectos, residência da estilista Edna. A estilista costumava criar os uniformes dos heróis, hoje em dia esta insatisfeita em criar para modelos comuns. Edna é cheia de personalidade e autoconfiança, e não aceita não como resposta, tanto que quando Beto pede para Edna costurar seu uniforme ela insiste e fica muito entusiasmada em criar um uniforme novo e atual para ele, e costurar seu antigo apenas para recordação. Paralelamente, Helena começa a suspeitar de Beto, após ouvir sua conversa em uma ligação suspeita. E logo depois, Beto mente que vai para mais uma conferência, e segue de volta a ilha para mais uma missão. Helena que já estava desconfiada, ao entrar no escritório do marido vê seu uniforme com uma costura, e logo recorre a Edna para entender o que esta acontecendo. Voltando a ilha, Beto descobre que caiu em uma armadilha, e que seu novo emprego na verdade é um plano de vingança do rancoroso Bochecha, que não aceitou quando o Sr. Incrível não o quis como ajudante. Bochecha levou para o lado pessoal, acreditando que o Sr. Incrível não o aceitou por ele não ter poderes especiais, então resolveu ser “Super” através de suas invenções. O agora chamado Síndrome resolveu travar uma guerra contra os super-heróis, e foi eliminando

um por um com seus protótipos, para que “Super” tivesse um novo conceito. Seu desejo por poder fez com que ele quisesse ser o único a ser considerado um super-herói, após salvar a cidade de alguma ameaça, mesmo que para isso ele mesmo precisasse ameaça-la. Seus protótipos também tinham como objetivo uma vingança pessoal contra o Sr. Incrível, por anos foi recriando máquinas e testando seu potencial em outros super-heróis para que finalmente ela ficasse boa o suficiente para derrotar seu inimigo. Mas o Sr. Incrível consegue sobreviver ao ataque e se esconde para que Síndrome pense o contrário. Voltando a Metroville, Helena visita Edna que já dispara a falar sobre o novo uniforme que criou para Roberto, e que não pode parar até criar uniformes para a família toda. Helena fica confusa sobre o porquê disso, já que não podem agir como heróis, quando percebe que seu marido está mentindo e que ela realmente não sabe onde o marido está nesse momento. Edna sugere então que Helena busque a localização de Roberto por meio do GPS implantado em seu uniforme. Enquanto isso o Sr. Incrível consegue invadir a fortaleza da ilha e descobre todos os heróis que Síndrome já eliminou em seu processo de vingança, e seu próximo passo de levar seu protótipo para causar uma destruição na cidade. Ele esta em uma sala secreta quando Helena toca o sinal GPS e com o som disparado Beto é descoberto e rendido. Em casa Helena se despede dos filhos e diz que vai atrás do pai deles que esta com problemas. Consegue um jato de favor de um amigo e segue em direção à ilha. No caminho descobre que seus filhos a desobedeceram e entraram escondidos no jato para acompanha-la, deixando o bebê Zezé com Karen, a babá.

Fig. 20 | Karen fica responsável por tomar conta do bebê.

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Enquanto isso na ilha, Síndrome fica mais uma vez impressionado com as habilidades do Sr. Incrível e se revolta ao pensar que ele mandou um alerta de socorro, quando na verdade é sua família, Beto não tinha ideia de que eles estavam vindo ao seu encontro. Síndrome manda então mísseis para impedi-los e Beto se sente incapaz, por estar preso em uma máquina de energia impossível de ele se livrar. O avião é abatido e Beto devastado acredita que perdeu toda sua família, porém Helena age como Mulher-Elástica e consegue sobreviver e salvar seus filhos na queda do avião. Helena deixa seus filhos em um lugar escondido e vai atrás de seu marido, simultaneamente o foguete com o protótipo que está sendo lançado em direção à cidade de Metroville tem saída pela caverna, onde as crianças estavam escondidas. Elas são obrigadas então a ir para a selva onde são perseguidas pelos guardas, ao mesmo tempo Mirage liberta Beto, após se desentender com seu chefe, Helena o encontra nessa mesma hora e parte para resgatar as crianças do perigo. Na selva as crianças se viram muito bem contra os guardas com seus poderes aperfeiçoados ali na hora, devido à situação de perigo. A família se encontra toda na selva e consegue derrotar os guardas. Mas Síndrome chega e prende toda a família em sua cápsula de energia, e parte para salvar a cidade de seu próprio protótipo, chamado de “Omnidroid”, e fazer a figura de herói para os habitantes da cidade. Mas com seu poder de campo de força Violeta consegue libertar toda a família que vai direto

para a cidade impedir o plano de Síndrome. Em Metroville o caos está instalado e Gelado resolve pegar seu uniforme e voltar aos velhos tempos de super-herói. A família incrível então chega a cidade e junto com seu amigo de longa data, Gelado, salvam a cidade do protótipo destruidor de Síndrome e são aclamados novamente pelos civis. Rick Dicker, agente do governo, agradece Beto e a família pelo que fizeram, conta que Síndrome já esta sendo vigiado e controlado; e que o governo vai decidir sobre a questão, se os heróis precisam ou não permanecer se escondendo. Na volta pra casa, Helena pega o telefone da limusine e começa a ouvir os recados da caixa postal de sua casa, havia uma porção deles da babá de Zezé, entrando em pânico contando que havia muitos acontecimentos estranhos com o bebê. Porém, o último recado, muito diferente dos anteriores, trazia uma versão tranquila da babá Karen, agradecendo por eles terem mandado alguém para substitui-la. A família fica confusa com a afirmação, já que não haviam enviado substituto algum, mas tudo se esclarece quando ao chegar em casa encontram Síndrome com seu bebê no colo, ele diz que será o tutor do bebê e que vai torná-lo seu parceiro, por acreditar que Zezé também não tem poderes especiais. Ao conseguir voar em direção ao seu avião, Zezé assustado finalmente expõem seus superpoderes de transformação, se transfigurando em fogo, chumbo, uma espécie de batedeira, e um “Monstrinho” que consegue se livrar de Síndrome

Fig. 21 | Beto fica desolado ao pensar que perdeu toda sua família.

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Fig. 22 | A família Incrível luta junta para derrotar os guardas na selva.

Fig. 23 | Síndrome prende a família Incrível em sua capsula de energia.

Fig. 24 | Gelado ajuda a família Incrível a vencer o “Omnidroid”, protótipo do Síndrome.

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Fig. 25 | O vilão Síndrome com o bebê Zezé nos braços

Fig. 26 | O bebê Zezé toma a forma de um “monstrinho” e se livra dos braços de Síndrome.

e é salvo pela família que o resgata no ar. Então, o Sr. Incrível, arremessa um carro contra a nave de Síndrome que estava ameaçando vingança, e com isso a turbina de avião suga a capa do vilão que é destruído. Três meses depois, a família está feliz e unida, um quadro totalmente diferente do encontrado no início do filme. Em uma competição do colégio, Flecha finalmente pode competir, Violeta

esta confiante e extrovertida, Beto esta feliz que não precisa mais esconder sua verdadeira identidade de “Super”, e Helena esta feliz e satisfeita com a harmonia de sua família. O filme acaba com o surgimento de um novo vilão na cidade, e a família Incrível já se prepara com seus uniformes para combatê-lo. O que sugere que o governo mudou de ideia em relação à legalidade da existência dos “Supers”.

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Fig. 27 | Família Incrível unida torcendo por Flecha na corrida.

Fig. 28 | O novo vilão surpreende a família Incrível.

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2.2 “Os Incríveis” e a Jornada do Herói Como discutido anteriormente, o conceito da palavra herói, depende de uma jornada e não de habilidades especiais. Jornada essa que foi definida pelo grande estudioso da mitologia, Joseph Campbell. Mas como essa jornada se encaixa no roteiro estudado? Ao conhecer a história facilmente se identifica o papel do Sr. Incrível como um protagonista heroico, aquele que participa da aventura principal proposta no roteiro, o que resulta em uma transformação interior do personagem. O figurino ajudará a entender esse momento psicológico dos personagens, sua personalidade e a sua transformação. Além dos integrantes de sua família, que também travam aventuras pessoais, porém com um peso secundário dentro do enredo. É possível fazer uma relação entre o roteiro e a Jornada do Herói, afirmando assim como as histórias heroicas costumam seguir quase a risca os doze passos propostos por Campbell:

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Mundo Comum:

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Chamado à aventura:

Se trata do dia a dia de Beto, ou seja, a rotina da família Pêra, seu emprego e seu hobby de escutar a frequência da polícia, junto de seu amigo Lúcio.

Chamado à aventura: Momento em que Beto encontra o vídeo com a mensagem de Mirage, o arauto do enredo, o convocando para uma missão secreta onde ele agiria como “Super”.


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Recusa do chamado:

Essa fase é quase oculta de tão rápida sua duração dentro do enredo. Roberto não faz a ligação confirmando sua presença na aventura no mesmo momento em que recebe a mensagem, o personagem confirma seu envolvimento assim que é questionado pela esposa, Helena, sobre seu trabalho e ao responder que algo aconteceu logo leva um olhar de reprovação de sua esposa. Então ao invés de contar a ela sobre sua demissão, Beto mente sobre uma conferência pela empresa, quando na verdade se trata da viajem rumo à aventura. A breve passagem dessa etapa deve-se ao motivo de que Beto é infeliz em seu mundo comum, portanto não tem essa afeição com a zona de conforto, como acontece com heróis de outras historias.

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Travessia do Primeiro Limiar:

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Testes, Aliados, Inimigos:

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Aproximação da Caverna Oculta:

O único obstáculo para a transição do mundo comum de Roberto e a aventura que lhe foi proposta é sua mulher Helena. Que por ser contra a prática de atividades ilegais, ou seja, agir como “Super”, ela acaba por ser a Guardiã de Limiar da história. Beto atravessa esse limiar ao mentir para Helena, alegando que está indo para uma convenção da seguradora, porém ele já havia sido demitido.

Uma fase de reconhecimento de terreno, momento em que o Sr. Incrível desembarca na ilha, conhece pessoalmente Mirage e o ambiente da aventura. O Sr. Incrível também identifica o nível do desafio que lhe é proposto, após sua primeira batalha com um dos protótipos de Síndrome.

Encontro com o Mentor:

O mentor de Beto, não aparece de forma tão clara no roteiro até por que se apresenta fora de ordem, ou seja, depois que o herói já esta inserido na aventura. Porém, pode-se identificar a personagem Edna, como a mentora de Beto, já que ela é a única fora da ilha que sabe sobre Beto estar agindo secretamente como “Super”. E é ela quem o incentiva e proporciona uma “ferramenta” para auxiliá-lo, no caso a criação de uma roupa atual e tecnológica de “Super”. Então mesmo que sutilmente, esse encontro representa a ida de Beto à casa de Edna.

Envolve toda a tensão dos acontecimentos prévios a grande provação. Tem início no momento que o Sr. Incrível é surpreendido ao descobrir que seu contratante na verdade é um vilão que costumava ser seu fã no passado, até o encontro do herói com sua família que foi ao seu resgate na ilha.

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Provação:

A grande provação do roteiro é a batalha realizada na cidade de Metroville, entre a família Incrível e seu amigo Gelado, contra Síndrome e seu protótipo.

O sucesso da batalha trás como recompensa a união da família que há muito tempo estava abalada. Além da transformação positiva que a aventura causou em cada personagem.

Com todas as batalhas vencidas, agora a família pode aproveitar das consequências positivas que a aventura lhes trouxe. Cada um deles encontrou a realização pessoal, oposta a insatisfação do começo do roteiro. Também tiveram realizações em conjunto, como terem alcançado a harmonia e união da família, além de reconquistarem seu direito de agir como “Supers”, o que faz parte de suas identidades.

Caminho de volta:

A segunda ameaça proposta no roteiro é de caráter pessoal, no caminho de casa a família Incrível se encontra tranquila, após vencer a batalha contra o vilão. Mas Helena como uma mãe dedicada, ainda esta preocupada, mas dessa vez com seu filho caçula Zezé. Depois de uma mensagem suspeita da babá que ficou responsável pelo bebê, a família chega desconfiada a sua casa. E lá se encontra a segunda ameaça, o vilão Síndrome tenta roubar o bebê Zezé, o que é devastador e desesperador para a família.

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Retorno com o Elixir:

Depois do pânico passado pela família, o alívio surge novamente quando Zezé consegue escapar dos braços de Síndrome, com seus poderes que não haviam sido revelados até o momento e a família recupera o bebê.

Recompensa:

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Ressureição:

Nota-se então, a aplicação da Jornada do Herói no roteiro do autor Brad Bird, o que define o Sr. Incrível como um verdadeiro herói dentro dos padrões mitológicos definidos por Campbell.

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& conhecendo os personagens


Apesar de se tratar de um filme voltado para crianças, o roteiro de “Os Incríveis” atinge as mais diferentes idades. O motivo é que o divertido enredo, passado em animação voltada artisticamente para o publico infantil, ao mesmo tempo trata de assuntos adultos e importantes como a insatisfação pessoal e o caminho que os personagens percorrem em busca de sua realização pessoal. A insatisfação pessoal é um mal existente há séculos, porém, seus motivos e justificativas mudam conforme os avanços da sociedade. O texto “O mal-estar na civilização moderna”, escrito por Michel Aires de Souza (SOUZA, 2007), faz bem essa comparação entre os estudos de Freud e estudos atuais sobre o assunto. Segundo Souza (2007), Freud identificou que os cidadãos modernos vivem em uma controvérsia, já que para se obter coisas prazerosas que resultam na felicidade, é necessário trabalhos árduos e o homem em geral não sente prazer na sobrecarga de trabalho. Conclui, então, que se para alcançar a felicidade o homem tem que sofrer, então, o homem moderno não é capaz de ser feliz. Em 1920, época em que Freud (apud SOUZA, 2007) escreveu seu texto “O mal-estar na civilização”, ele atribuía esse mal-estar e as doenças psíquicas da época a repressão que a civilização fazia sobre os impulsos sexuais, por meio do puritanismo e dos tabus em torno do assunto. Concluía ele, que essa insatisfação pessoal estava diretamente ligada à insatisfação libidinal sofrida na época, o que causava uma tensão física que tinha como consequência a ansiedade constante. Porém, nos dias de hoje, essa repressão sexual deixou de existir, não tem mais sentido, aliás, muito pelo contrário, a sociedade atual se encontra em um momento de alta liberação sexual. Com base

no texto de Souza, citado anteriormente, é possível concordar que os criadores desse “mal-estar” mudaram e atualmente são as preocupações com as condições econômicas e sociais no mundo. Problemáticas sociais como a fome, a violência, a miséria e o desemprego causam a insegurança e o medo na população, ou seja, um tensão psíquica, diferente da física apresentada por Freud. Em um mundo extremamente materialista, rodeado por ostentação e competitividade, o medo do desemprego e consequentemente de problemas econômicos é constante. O homem atual teme o futuro, já que com o passar do tempo o trabalho humano está se tornando desnecessário e sendo substituído por máquinas e softwares. A ocupação, ou seja, o emprego hoje em dia é grande parte da vida da maioria dos homens e perdê-lo pode trazer sensações de inutilidade, falta de propósito, e perda de identidade. Por isso, o temor da sociedade em relação à mecanização do mundo, que significa para eles a perda de poder aquisitivo, dos seus bens e ainda mais que isso, a perda de si mesmo. Pode-se fazer uma relação dessa mecanização com o roteiro de “Os Incríveis”, onde essa mecanização é imposta pelo vilão, Síndrome, que acredita que suas poderosas invenções e máquinas, o tornam um verdadeiro herói. Dentro de sua realidade, ele descarta a importância dos super-heróis que contém poderes especiais por si só, e impõe que os super-heróis se tornaram desnecessários agora que ele pode obter resultados parecidos por meio da tecnologia. Outro ponto discutido no texto de Michel Aires de Souza (2007), que pode ser relacionado com “Os Incríveis”, é a problemática da família e a influência disso nesse mal-estar da civilização.

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[...] na época de Freud a sociedade era mais rigidamente patriarcal e com valores claramente identificáveis, nossa época tornou-se mais relativista e fragmentária. Os ritmos de mudança na sociedade contemporânea se tornaram alucinantes, deixando os indivíduos desorientados e pressionados pelas exigências do dia-a-dia. (SOUZA, 2007 apud MEZAN, 2000, p.208) Souza (2007) acredita que houve, com os anos, uma grande transgressão de valores, enquanto na época de Freud os valores eram estabelecidos e a família era uma entidade respeitada, escutada e valorizada; nos dias de hoje, muitas vezes não há mais valores a serem seguidos e a família perdeu o nível de importância que lhe era dada. A quantidade de deveres e distrações, ou seja, a falta de tempo do indivíduo moderno afastou o convívio em família, o que diminuiu o respeito e o papel de exemplo que os pais faziam para os filhos. É possível relacionar essa falta da família e do aprendizado, que vem implícito com ela, como uma das causa de insegurança e desamparo na sociedade. O roteiro de “Os Incríveis” deixa bem claro esse afastamento da família Pêra, na qual cada um vive alienado em seu mundo. O pai, por

exemplo, não passa tempo nem experiência suficiente para seus filhos, sua infelicidade por conta da insatisfação de sua ocupação, o torna um pai presente fisicamente mais completamente ausente de pensamento e participação familiar. O que dentro da história é algo muito prejudicial ao crescimento de seus filhos, a união e estabilidade da família. Pode-se concordar então que uma das principais causas dessa insatisfação na população atual, é a insegurança social e econômica, seja dentro da família ou no emprego o cidadão tem medo de não alcançar tudo aquilo que é exigido dele diariamente, e tem mais medo ainda do sentimento de fracasso. Essa insegurança contínua pode ser a culpada por sintomas como a depressão, a baixa autoestima e o desânimo que assolam a sociedade e são refletidos no roteiro estudado. Ao analisar separadamente os personagens presentes na história, pode se ter uma visão melhor sobre sua personalidade, identificar se há a existência dessa insatisfação que rodeia o roteiro, e entender sua importância e peso dentro da história. Conhecer melhor o “eu interior” de cada personagem, e onde ele se encaixa dentro do enredo é fundamental para a criação de um figurino que ajude a causar e transmitir sensações como é a proposta dessa criação.

Fig. 29 | O jovem e ativo herói, o Sr. Incrível.

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Fig. 30 | Sr. Incrível ajuda uma senhora a recuperar seu gato.

Roberto Pêra | Sr. Incrível Roberto, apelidado como Beto, é o grande protagonista da história, seguido de sua família. O protagonista é mostrado em duas diferentes épocas, a primeira quando era um super-herói competente e famoso, e em um segundo momento, quinze anos mais tarde, quando já havia constituído família e foi forçado a se tornar um cidadão comum, empregado em uma agência de seguros. Beto era conhecido como Sr. Incrível, seu codinome de super-herói, ele era um rapaz em forma, dotado de uma superforça e muito autoconfiante. Ele era um verdadeiro herói, aquele que se sacrifica pelo coletivo, estava sempre arriscando sua vida, com o propósito de defender sua cidade. Segundo a definição de Michel Besmen (apud SEGER, 2006, p.202-203), o indivíduo pode se tornar herói por consequência de duas vertentes, a primeira delas é quando seu heroísmo é consequência de seus superpoderes e a segunda é quando o heroísmo tem como motivação o sofrimento, uma forma de expressar o ressentimento e até mesmo como um meio de vingança. O Sr. Incrível segue a primeira, aquela em que o sujeito nasce com superpoderes, portanto seus atos heroicos são uma consequência disso, ou seja, um dever com a sua natureza. Além é claro, da vontade de ajudar o próximo, presente em sua personalidade bondosa, correta e gentil. O segundo momento da história, vem depois que Beto e Helena se casam e estoura a repressão contra os “Supers”, quinze anos se passam e, juntos, eles formaram uma família com três filhos, Violeta, Flecha e Zezé. A realidade agora era outra, Beto trabalha em uma agência de seguros, depois que ser um super-herói se tornou uma atividade ilegal.

Sua superforça representa agora a força que se espera de um pai, tanto física quanto mental para proteger, prover e servir de exemplo a sua família. Junto com sua ocupação, sua personalidade também mudou. Segundo Seger (2006, p. 87), existem alguns humores corporais que definem os personagens, e Beto se encaixa no humor conhecido como Bílis Negra, uma pessoa basicamente sem iniciativa, com complexos de inferioridade, presa em pensamentos melancólicos. Beto vive de nostalgia, ele sente falta da ação, dos momentos de glória e de ajudar os civis necessitados, e não consegue encontrar motivação em seu emprego entediante na seguradora. Beto passa pela crise da meia idade, um momento de reflexão sobre o significado de sua vida até o presente momento, se pergunta então, se sua vida tem valor, ou seja, se ela valeu a pena. Com um emprego que ele odeia, sem a liberdade de atuar naquilo que ele é bom e ama, Beto se torna uma pessoa depressiva e, consequentemente, um pai e marido mentalmente ausente e alheio a sua família. O personagem é apagado, com baixa estima e sem motivação de vida. Porém, essa não é sua condição durante todo o roteiro, Beto é um personagem mítico que, segundo Seger, (2000, p. 200) são personagens heroicos que passam por uma trajetória em busca de um objetivo, no caso do Sr. Incrível, ele vai em busca de seu sonho de voltar a ser um super-herói. Como já visto, o herói passa por uma jornada e tem como resultado uma transformação interior, assim como os personagens míticos e, consequentemente, Beto. A transformação interior do Sr. Incrível começa quando ele recebe a proposta de uma missão, na

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Fig. 31 | A insatisfação toma conta da vida de Roberto.

Fig. 32 | O personagem recupera sua autoestima.

Fig. 33 | Sr. Incrível fica realizado ao voltar a agir como “Super” e feliz com os benefícios que isso trouxe para sua vida particular.

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qual ele agiria como “Super”, convocado por um contratante anônimo, ele se entrega à aventura. Ao começar a trabalhar naquilo que ama, Beto se transforma em uma nova pessoa, entra em forma, ganha autoestima, encontra motivação, se torna ativo, passa a ser participativo com a família dando carinho e atenção a sua mulher e filhos, ou seja, recupera seu brilho de quinze anos atrás. O protagonista passa pela jornada do herói, contada anteriormente, e alcança aquilo que é esperado de um personagem mítico, “Personagens míticos tem o lado humano e o mítico. O ideal é manter os dois em equilíbrio para que nenhum ofusque o outro.” (SEGER, 2000, p. 205). Nasce então um terceiro momento do Sr. Incrível dentro do roteiro, após sua bem sucedida performance na aventura ele passa pelo momento do “retorno com elixir”, uma das doze fases definidas por Campbell. Momento no qual o Sr. Incrível retorna para sua vida comum, mas com uma pessoa superior, capaz de harmonizar sua família com sua paixão de defender a população dos possíveis perigos que possam surgir. O figurino criado para Beto conta essa trajetória de altos e baixos, tanto em sua autoestima como em sua vida no geral. No início do roteiro, o prota-

gonista se apresenta como um homem elegante e vaidoso. Enquanto atuava como herói, Beto vestia um uniforme moderno, brilhante e chamativo da estilista mais renomada no universo dos “Supers”, Edna, e o personagem mantinha o mesmo padrão quando se tratava de sua identidade secreta. Porém com as mudanças que ocorrem em sua vida, sua vaidade caiu em decadência, assim como sua autoconfiança, transformando-o em um homem de aparência descuidada e ultrapassada. Despreocupado com a estética, Beto perdeu a boa forma e passou a usar roupas antiquadas e sem graça, diferente da pose admirável que ele desfilava, há quinze anos. A cartela de cores ajuda o figurino a completar essa atmosfera depressiva que envolve Roberto, o personagem se afunda em tons escuros e tristes durante essa fase do roteiro. De volta ao topo, após recuperar o seu emprego dos sonhos, Beto recupera também sua autoestima, o que causa uma reviravolta em seu figurino. Além de retomar a boa forma de antigamente, Beto se envaidece ao se sentir “Super” outra vez e começa a usar roupas de bom gosto, o que se torna ainda mais viável com o aumento de sua renda devido à nova ocupação. Nasce então um figurino mais atual e jovem com cortes ajustados, modernos e elegantes, a nova cartela de cores mais clara e vibrante termina de compor a leveza e o alto astral, agora presente no personagem.

A transição entre os tons escuros e tristes para os tons mais claros e leves, acompanhada da modernização do figurino do Sr. Incrível.

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Fig. 34 | O jovem e ativo herói, o Sr. Incrível.

Helena Pêra | Mulher elástica Helena junto com seu marido Beto, também detém dois momentos dentro da história. O primeiro momento é quando Helena é uma heroína conhecida por Mulher-Elástica e luta ao lado dos demais heróis para defender a cidade; o segundo é a família formada por ela e Beto, na qual Helena é uma dona de casa que se dedica a cuidar dos filhos. Assim como o Sr. Incrível, Helena criou a Mulher-Elástica em consequência de ter nascido com superpoderes e decidir usá-los para o bem. A heroína apreciava a vida de “Super” e do combate ao crime, mas se conformou com a mudança radical imposta em sua rotina. A alegria de ser mãe e formar família foi o suficiente para não abalar a personagem, que se sente proporcionalmente feliz em sua vida de dona de casa, como se sentia na de super-heroína. Até seus poderes especiais se aplicam muito bem a sua nova vida, com três filhos, um marido infeliz e uma casa para cuidar, Helena tem que se “desdobrar em mil” para resolver tudo. Portanto, sua elasticidade e capacidade de transformação corporal, além de ser uma metáfora à ajuda nos trabalhos práticos na casa. A nostalgia não a atinge como a seu marido, os sofrimentos e frustrações de Helena não são próprios, eles são derivados dos problemas de seu marido e filhos. Como uma mãe dedicada e protetora, Helena sofre com aquilo que atormenta os integrantes de sua família, e faz o possível para criar ordem e harmonia dentro de casa.

Sua maior preocupação é de que suas identidades secretas sejam reveladas, o que ocasionaria mais uma mudança de casa, com o intuito de escondê-los novamente, atividade que abalaria ainda mais a estrutura da família. Como contado anteriormente na história do filme, Beto mente para Helena quando diz que vai ao boliche, quando na verdade sai com o amigo Lúcio, para ouvir a frequência da polícia e tentar ajudar quem precisa sem ser descoberto. Helena atenta aos detalhes percebe a mentira do marido, e o repreende por não conseguir esquecer sua vida de “Super” como ela fez. Esse medo a coloca no papel de Guardiã de Limiar dentro da aventura contada no roteiro. Guardião de Limiar é aquele que tenta impedir o herói de entrar na aventura, Helena faz isso com a melhor das intenções tentando impedir que Beto crie problemas com o governo e prejudique a família toda, que terá que ser recolocada em uma nova casa e vizinhança, para esconder sua verdadeira identidade. Na história Helena não sabe que Beto está partindo para a aventura, ele mente para a esposa afirmando que está indo viajar pelo trabalho na seguradora. Beto mente para Helena, mais uma vez, por conhecer a sua opinião negativa em relação a ele agir como “Super”. Mas Helena mesmo contra sua vontade, acaba tendo que se render e agir como super-heroína, quando vê seu marido e filhos correndo perigo. A personagem tem quase sua própria aventura, que tem como objetivo proteger e resgatar

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Fig. 35 | Com seu charme, Mulher Elástica, conquista o coração do herói.

Fig. 36 | Helena, quinze anos depois, como mãe e dona de casa.

Fig. 37 | Helena fica chateada ao ver a insatisfação de seu filho Flecha.

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Fig. 38 | Helena voltando aos velhos tempos de mulher elástica.

Fig. 39 | Helena volta a ter a atenção e o carinho daquele Beto de quinze anos atrás.

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sua família da ilha criada pelo vilão Síndrome, e mais tarde proteger a cidade. Helena também se encaixa como uma personagem mítica, pois além de ir atrás de uma meta, a personagem passa por uma pequena, mas significativa transformação após sua aventura pessoal. Helena se transforma em uma mãe menos repressiva, passa a aceitar e entender as necessidades de sua família de expor seu lado de “Super”, já que isso faz parte de suas identidades. Helena assim como Beto, aprende a conciliar suas duas realidades, a da dona de casa e a de heroína, agora combatendo o mal ao lado de sua família. O que é positivo para a relação da família que se torna mais unida, harmônica e feliz, assim como a personagem sempre desejou. No figurino da personagem Helena, assim como em sua transformação pessoal, as mudanças são mais sutis do que as de Roberto. Quando jovem Helena era uma mulher muito feminina e delicada, além de discreta quando em sua identidade secreta. Ao contrário dos momentos em que se transformava na Mulher-Elástica, onde aproveitava para esbanjar seu charme e sensualidade a bordo de seu uniforme, também confeccionado pela admirada Edna. Helena sempre foi uma mulher básica e clássica, mas com os anos de casada passou a deixar sua feminilidade de lado, colocando o conforto muito acima do visual. Suas atividades do dia a dia sem dúvida pedem praticidade, afinal não é fácil coordenar uma casa e três filhos em cima do salto fino, porém não necessariamente a praticidade precisa ser austera e ausente de vaidade. Apesar de Helena não ter adquirido uma aparecia descuidada, como a de seu marido, é possível notar a falta daquele cuidado especial

característico de muitas mulheres, e da própria personagem quando jovem. Essa desatenção, consigo mesma, foi resultado de sua preocupação e dedicação exacerbada a sua família, os problemas eram tantos que ela não arranjava tempo nem motivação para cuidar mais de si. A falta de atenção e carinho por parte de seu marido Beto, parece ter ajudado a desmotivar a personagem. Em um segundo momento dentro do roteiro, a harmonia e bem estar de sua família começa a ser restaurada e Helena finalmente volta a ter vontade e tempo para se dedicar a si mesma. Consequentemente, a personagem recupera sua vaidade e passa a ter um figurino mais feminino e delicado, os shapes largos e pesados dão lugar a peças leves que acentuam mais o corpo, porém é claro, mantendo a discrição que é característica de sua personalidade. Com o equilíbrio dentro de casa e um marido presente e revigorado, Helena tira o peso que carregava nas costas, se tornando uma mulher mais tranquila e leve, o que reflete em sua aparência. A cartela de cores da personagem transita muito entre cores frias, como verdes e azuis; e terrosas. As cores frias são reconfortantes e passa tranquilidade, o que conversa com o papel materno de Helena, além de serem cores que transmitem equilíbrio, o que a destaca como a menos afetada pela insatisfação vivida pela família Pêra. As cores terrosas representam a personalidade “pé no chão” da personagem, ou seja, seu poder de se adaptar a realidade que lhe foi imposta. Porém, sua cartela acompanha os tons escuros do inverno de insatisfação e segue clareando com a chegada da renovadora primavera.

O ganho de feminilidade, junto da transição de tons que representam um novo momento na vida de Helena.

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Fig. 40 | A insegura Violeta.

Violeta Pêra Violeta tem 14 anos, filha mais velha do casal, Beto e Helena. Nascida após a repressão contra os “Supers” já ter entrado em vigor, Violeta cresceu com a ideia de que ela era diferente e que isso era algo ruim. A falta de autoestima e autoconfiança afetará a questão da identidade. Se uma criança é constantemente criticada, sua identidade se forma em torno do que os pais pensam dela e não com base naquilo que ela realmente é. (SEGER, 2000, p.82) Apesar do roteiro não mostrar a infância da personagem, fica claro que a mãe, Helena, sempre reprimiu as crianças contra seus poderes, afirmando diversas vezes o quanto era necessário escondê-los dos demais. O que fez com que Violeta crescesse sem autoestima, acreditando que ela e sua família fossem quase que uma aberração, por isso o medo de se relacionar com os outros tomou conta dela. A idade da personagem também influencia em seus problemas pessoais, muitos adolescentes são inseguros pelo fato de ser uma transição entre a infância e a vida adulta, o que ocasiona muitas experiências novas e desconhecidas até então, porém, Violeta é dotada de uma insegurança além do normal, sua timidez transparece em sua fisionomia, onde ela esta sempre se escondendo por trás de seus longos cabelos negros que cobrem sua face. Carl Jung (apud SEGER, 2000, p. 90) estudou sobre as tendências do ser humano para regerem

suas vidas pela introversão ou pela extroversão. A introversão é quando o foco da pessoa é voltado para a realidade interior, ou seja, o indivíduo se fecha dentro de si mesmo se tornando uma pessoa solitária, o que se encaixa perfeitamente na descrição de Violeta. Por medo da rejeição, a personagem não tem amigos na escola em que estuda, e quando se trata de um garoto que a interessa, Tony Rydinger, ela apenas se permite admirá-lo de longe. Seus poderes especiais são muito úteis e ligados a sua personalidade, a personagem é capaz de ficar invisível, o que a ajuda a observar sem se misturar e também é capaz de criar campos de força, o que é uma metáfora com a maneira de como ela vive na defensiva e fechada dentro de si mesma. Violeta expressa no roteiro sua vontade de ser normal, pois acredita que toda a sua insatisfação está ligada ao fato de ela e sua família serem “Supers”, até revela certa inveja de seu irmão mais novo, Zezé, que até o momento não demonstra ter poder algum. O que mostra mais uma relação do roteiro com problemáticas da sociedade, como no caso, o preconceito onde ser diferente é tratado como um problema, um motivo para não ser aceito. Porém Violeta, assim como o resto de sua família, também é uma personagem mítica que passa por transformações no decorrer da história. A personagem percebe que seu pai, Beto, esta com problemas e segue a mãe na aventura de resgatá-lo. Na aventura em que ela, Helena e Flecha, vão para a ilha de Síndrome, em busca de resgatar seu pai, a personagem conhece uma nova realidade. Nesse momento ser uma “Super” é indispensável, é a diferença entre a vida e a morte, então, de repente, ter superpoderes é visto como algo positivo até para sua mãe que sempre a incentivou contra eles. A princípio, ela não consegue desenvolver bem suas habilidades, Violeta trava e tem certo bloqueio por conta de sua criação em relação a isso.

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O que nos dirige ou nos motiva vem de nosso inconsciente que é formado por sentimentos, memorias, experiências, e impressões que ficaram gravadas em nossa mente desde nosso nascimento. Esses elementos muitas vezes são reprimidos devido a associações de caráter negativo. (SEGER, 2000, p. 87)


Fig. 41 | Violeta faz o máximo para se esconder e não ser notada.

Fig. 42 | A personagem sente dificuldade em criar um campo de força.

Fig. 43 | Violeta ganha segurança ao assumir seu papel de “Super”.

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Fig. 44 | Helena volta a ter a atenção e o carinho daquele Beto de quinze anos atrás.

Ou seja, como Violeta foi ensinada desde pequena a não usar seus poderes, aliás, muito pelo contrário, ela cresceu relacionando o fato de ser “Super” com: a frustração de seu pai, com a necessidade de eles terem que se mudar e adotar uma nova identidade, o que dificulta a adaptação da família, com a realidade de ser algo para se envergonhar. Então ela reprime seu potencial, já que o relaciona com algo negativo desde que nasceu. Mas a personagem enfrenta seus traumas em um momento em que isso depende da sua segurança e de sua família. Assim que se vê responsável por proteger seu irmão, Flecha, Violeta se dá a devida importância, se sente útil e especial, agora sua identidade é valorizada e não a torna mais uma menina esquisita e problemática. Essa mudança de confiança começa a transparecer quando Violeta veste seu uniforme de heroína e coloca seus cabelos para trás com o auxílio de uma tiara, o que serve como metáfora de que ela não sente mais a necessidade de se esconder como fazia antes, utilizando seus cabelos como uma cortina entre ela e o mundo. O ganho de autoestima faz

com que a personagem tenha sucesso na luta contra o mal que trava junto com sua família, dando seu melhor e forçando até o limite de seus superpoderes. A transformação de Violeta fica completa quando ela consegue transpor essa confiança adquirida para seu mundo comum e não apenas para seus momentos de “Super”. Três meses se passam após o fim da aventura, e nessa nova etapa de sua vida, a personagem aparece como uma menina extrovertida, confiante e divertida tanto em suas atitudes como em sua aparência. Violeta é mostrada em uma situação bem diferente na escola, onde agora está rodeada de amigos. Ela não tem mais medo de se expor, deixa de ser “invisível” e passa a ser notada, até é abordada por sua paixão platônica, Tony Rydinge, e a conversa resulta em um encontro. Assim como seu pai e sua mãe, Violeta também consegue conciliar sua vida comum com seu papel de defensora da sociedade. Ela finalmente se aceita, e toma consciência de que ser diferente não é algo negativo mais sim, parte de sua identidade, algo que a torna especial.

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O figurino da jovem Violeta pode ser considerado o mais emblemático, pois ele revela por si só o “eu interior” da personagem. Violeta literalmente se esconde por detrás de suas roupas, golas altas, capuz, cachecóis, mangas longas e calças compridas ajudam a formar o casulo que a personagem criou para si. Até seus cabelos sempre posicionados na frente do rosto serviam de camuflagem, Violeta interferia também no uniforme do colégio para que se sentisse mais protegida entre os demais alunos, aqueles que ela acreditava que não a aceitariam. Mas apesar desse visual pesado e mais obscuro Violeta tem um figurino moderno, jovem e elegante, sua insatisfação pessoal não interfere no seu bom gosto como faz com seu pai, Roberto. A insegurança e baixa estima da personagem também se refletem muito em sua cartela de cores, durante grande parte do roteiro seu figurino transita apenas entre os tons de pretos e cinzas, com alguns detalhes em violeta. As cores escuras, nesse caso, representam solidão e essa

insatisfação interior sofrida pela personagem, além de serem menos chamativas e facilitarem sua intenção de passar despercebida. Já o violeta pode ser considerado uma cor melancólica e depressiva, o que também conversa com o estado de espírito da personagem nesse momento, além de ser uma brincadeira de relação com o nome da personagem. Mas assim como seus pais, Violeta passa por uma transformação dentro da história, a personagem aprende a se aceitar e a enxergar sua condição de “Super” como algo positivo e especial e não mais como motivo de vergonha. Sua primeira atitude é a de prender seu simbólico cabelo no rosto, já que agora ela não sente mais a necessidade de ver o mundo escondida por detrás dele. Violeta deixa para trás aquela aparência que a reprimia, e passa a se sentir à vontade em ser notada, livre do desejo de ser invisível, ela aposta em roupas mais chamativas e descontraídas. Além da luz que ela traz para si, quando se permite usar tons mais claros e divertidos.

A radical transformação de Violeta refletida em seu figurino.

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Fig. 45 | A insegura Violeta.

Flecha Pêra Com 10 anos, Flecha fica entre Violeta e o bebé Zezé. O personagem teve a mesma criação da irmã Violeta, cresceu com as repressões da mãe em relação a seus poderes, repressões essas que tinham como objetivo a proteção e a segurança da família. Porém, Flecha reagiu diferente de sua irmã, a repressão não abalou sua autoestima, muito pelo contrário. Flecha puxou seu pai, e acredita que ser um “Super” é o que ele tem de melhor. Hiperativo e cheio de vida, como a maioria das crianças nessa idade, as habilidades de Flecha lhe cabiam perfeitamente, o personagem nasceu com o poder da super-velocidade se tornando quase invisível de tão veloz. Ele se sente especial, é tão confiante e vaidoso que pode chegar a parecer arrogante algumas vezes. Aproveita-se de suas habilidades para se divertir, como por exemplo, colocar tachinhas na cadeira de seu professor, Bernie Kropp, sem ser pego, nem mesmo na gravação em vídeo. Helena fica desapontada por seu filho não seguir suas ordens, já Beto se enche de orgulho e valoriza a capacidade avançada do filho. Flecha é o oposto de sua irmã mais velha, enquanto Violeta tem a tendência voltada para a introversão, ele é voltado para a extroversão, e o foco fica na realidade exterior, proporcionando que a pessoa se relacione facilmente. Ele é desinibido e amigável como demonstra ao longo do roteiro.

Porém, mesmo com toda essa segurança e confiança, Flecha também esta insatisfeito, ou seja, enfrenta uma insatisfação pessoal. O personagem é muito orgulhoso de suas habilidades, além de ter uma enorme quantidade de energia “presa” dentro dele, por esses motivos seu maior desejo é o de poder participar das competições de corrida realizadas na escola. Sua mãe Helena o proíbe porque obviamente, com sua participação, seus poderes de super-velocidade seriam expostos. Proibido de competir naquilo que ele adora e que sabe o quanto brilhante seria, Flecha fica desmotivado e chateado revelando assim sua frustração em relação a ser um “Super”, mas não poder agir como tal. Assim como Helena e Violeta, Flecha parte para a aventura em busca de resgatar seu pai e juntos combaterem os protótipos que atacam a cidade. Finalmente, Flecha tem a oportunidade de usar seus superpoderes, e durante a aventura percebe que é ainda mais habilidoso do que imaginava, já que pode correr sobre a água dentre outras coisas. Vaidoso de si, Flecha dá o seu melhor para ajudar na batalha travada entre sua família e o vilão Síndrome. A transformação de Flecha é uma consequência da transformação de Helena sua mãe, quando ela compreende e aceita a necessidade de seus familiares e a sua própria de agir como “Super”, automaticamente permite que Flecha participe das competições de corrida que ele tanto desejava. Porém é óbvio que se Flecha desse o seu melhor a competição seria injusta, então parte de sua transformação se aplica a ele ser menos arrogante e aceitar levar o segundo ou terceiro lugar, perdendo propositalmente. Flecha então fica livre para se expressar, se orgulhar de sua capacidade e gastar a energia contida dentro dele. O que o torna um garoto completo e feliz, agora que sua família está unida e Fig. 46 | Feliz e orgulhoso de que seus poderes não si mesmo Flecha finalmente são mais motivos de está livre para fazer aquilo que mais gosta, correr. repressão.

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Fig. 47 | Flecha zomba de seu professor pelas costas.

Fig. 48 | Violeta ganha segurança ao assumir seu papel de “Super”.

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O figurino de Flecha é bem mais linear do que o dos demais, já que sua transformação interior é mais sutil, se trata apenas de adotar uma postura mais humilde e se ver livre da repressão que lhe entristecia. Flecha ainda está na idade em que a grande maioria é “vestida pela mãe”, mas vaidoso do jeito que é, sem dúvida não deixava de opinar. Suas roupas transparecem sua personalidade divertida e brincalhona, elas são chamativas e contam com estampas que representam seu amor pela velocidade. Mais uma vez a cartela de cores é fundamental na composição do personagem, Flecha tem um figurino que varia entre as cores quentes como: vermelho, laranja e amarelo. Essas cores transmitem tudo àquilo que faz parte da personalidade do personagem

como vitalidade, inquietude, espontaneidade e ansiedade. As cores quentes também são alegres, assim como o personagem que não se deixa abater completamente pelas repressões que enfrentou na infância, além de terem luz própria e chamarem a atenção, coisa que o confiante Flecha adora fazer. Como já citado anteriormente, o figurino do personagem é linear devido a sua transformação interior ser mais sutil, a mudança mais significativa fica por conta dos tons da sua cartela de cores. Os tons acompanham a mesma linha do resto de sua família, iniciando com os mais escuros que representam o baixo astral que rodeia a casa, terminando nos tons mais claros e radiantes trazidos pela realização encontrada por ele e seus familiares.

As estampas relacionadas a velocidade e o acessório para tênis, sua marca registrada, fazem parte do divertido figurino de Flecha.

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Fig. 49 | O caçula da família, o bebê Zezé.

Zezé Pêra Ainda um bebê de colo, Zezé não demonstra ter poder algum, uma associação com as muitas possibilidades que um bebê tem pela frente, já que ainda não tem nem uma personalidade bem definida. Pois no momento em que a repressão ainda está instalada, chega a ser um alívio para a família. Os irmãos o invejam por ele ser o único “normal”, ou seja, que não vai precisar passar a vida escondendo sua real identidade. Helena dedica-se a cuidar do caçula e provavelmente fica feliz por saber que não vai ser obrigada a repreendê-lo também, Beto, por outro lado, não demonstra opinião alguma sobre o assunto, já que sua insatisfação o mantém alheio e desinteressado em relação aos assuntos de família. Por ser apenas um bebê, Zezé não participa da maioria das etapas contidas na jornada apresentada durante a história, porém ele é a peça chave das etapas a partir do “Caminho da Volta”. No momento que Helena segue em direção à ilha para resgatar seu marido, Violeta e Flecha se infiltram escondidos no avião para acompanhá-la e deixam seu irmão mais novo, que estava sobre sua responsabilidade, aos cuidados da babá Karen. A caminho de retornar para sua casa, após o sucesso contra as ameaças de Síndrome, Helena preocupada com o bebê resolve checar sua caixa de mensagens e encontra uma Karen desesperada afirmando que Zezé não esta agindo normalmen-

te. Logo depois, a babá deixa uma mensagem completamente contraditória às demais, ela está tranquila e agradece por a terem substituído por alguém com mais experiência. Confusos com essa mensagem, Helena e os demais correm em direção à casa da família. Ao chegar a casa, Síndrome está com Zezé nos braços, ele ameaça sequestrar o bebê e fazer dele seu sucessor, já que acredita que assim como ele, o bebê não tem poderes especiais. No momento em que o vilão alça voo em direção à sua nave, consequentemente Zezé se sente em perigo e finalmente mostra que não é apenas um bebê comum como aparentava ao longo do roteiro. Zezé começa a realizar uma série de transformações, de repente, está em chamas, depois passa a ter a consistência de uma estátua de chumbo, passa a se movimentar como uma britadeira e por fim consegue se livrar de Síndrome, tomando a forma de um “monstrinho”. Zezé revela-se então um “Super”, assim como toda a sua família, obtendo o poder da transfiguração em diversas formas diferentes. Certamente nessa idade o bebê ainda não possui problemas psicológicos, como a insatisfação pessoal que rodeava sua família, porém ele também passa por uma transformação significativa que é a capacidade de revelar seus superpoderes que estavam ocultos até então. Diferente de seus irmãos, Zezé não vai conhecer a repressão e nem a negação da sociedade em

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Fig. 50 | Zezé brinca enquanto está aos cuidados da babá Karen.

relação aos “Supers”, já que mesmo que ainda um bebê de colo, inicia seu papel como defensor contra o mal ao lado de sua família. Zezé tem o figurino que menos explora sua personalidade, afinal nessa idade o bebê ainda não teve a chance de demonstrar seu “eu interior”. O conceito do bebê era mantê-lo o mais neutro possível para auxiliar na impressão que o roteiro quer passar, de que Zezé era uma criança comum inserida naquele universo de “Supers”. Portanto dar muita ênfase no seu figurino o traria para o foco do telespectador, o que o autor quer que aconteça apenas no final do roteiro. A partir disso, o figurino de Zezé segue os padrões de um típico bebê de sua idade, o detalhe fica por conta da cartela de cores que aumenta do início para o fim do roteiro, fazendo uma alusão

ao leque de possibilidades que seu poder especial possui. O início neutro e monocromático do figurino representa a fase de mistério e irrelevância do personagem, mas a passagem para um figurino de cores vibrantes e diversas é o marco da importância que o personagem Fig. 51 | Zezé ainda bebê conquista no fim do já se torna um “Super” ao roteiro. Além de, mais lado de sua família. uma vez, acompanhar a transição de tons escuros para os claros, assim como o resto de sua família.

O aumento da cartela de cores representa o crescimento da importância e das possibilidades do personagem dentro do roteiro.

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Fig. 52 | Bochecha, o fã numero um do Sr. Incrível.

Bochecha | Síndrome Bochecha também está presente nos dois momentos do enredo, e sua transformação de um para outro é extremamente mais radical do que a de qualquer outro personagem. Sua personalidade passa por uma total transgressão, durante os quinze anos passados na história, ele passa de um menino relativamente equilibrado para o mal em pessoa. Quando a cidade ainda era repleta de “Supers” salvando o dia, Bochecha era um garoto sonhador de oito anos. Bochecha não nasceu com superpoderes, mas não era por isso que não era um garoto brilhante, ele possuía uma inteligência impressionantemente avançada para sua idade, um verdadeiro gênio e inventor prodígio. Ele admirava os super-heróis, principalmente o forte Sr. Incrível, e seu maior desejo era o de poder combater o crime ao seu lado. Bochecha então cria uma fantasia de “Super”, inventa fantásticas botas voadoras, e se autodenomina “Guri Incrível”, uma espécie de comparsa do Sr. Incrível. O personagem então se apresenta ao Sr. Incrível, como seu fã número um, conta como conhece tudo sobre ele, principalmente seu estilo de combate, além é claro, de oferecer seus serviços como seu ajudante. Mas o “Super” logo descarta a possibilidade, e magoa o garoto. Apesar do Sr. Incrível parecer agir de uma forma egoísta e arrogante com Bochecha, no fundo, ele só quer proteger o garoto que não tem idade nem experiência o suficiente para acompanhá-lo.

Mas Bochecha não desiste facilmente de seu sonho de ser o “Guri Incrível” e vai mais uma vez ao encontro do Sr. Incrível. Desta vez o “Super” está em uma missão importante, no qual pega em flagrante um ladrão de Banco, Bomb Voyage, e a intromissão de Bochecha, além de atrapalhá-lo, faz com que ele tenha que desviar de sua missão para salvar a vida do garoto que tem uma bomba presa a sua capa, e por fim acaba por causar um acidente no trilho do trem. Após o estrago, Sr. Incrível entrega Bochecha a polícia para que seus pais sejam comunicados do que ele andava aprontando. O menino não entende os motivos do Sr. Incrível e leva sua rejeição para o lado pessoal, Bochecha acredita que o super-herói o descartou como ajudante pelo fato de ele não ser um “Super” e não obter nenhum superpoder. Bochecha se sente diminuído e desprezado, e fica claro em sua expressão a raiva e o rancor contra aquele que ele admirava tanto. Quinze anos se passam, Bochecha se transforma no grande vilão da trama, agora autodenominado como Síndrome. Segundo Seger, (2000, p. 79), a backstory, ou seja, o passado de cada personagem acaba por definir seu presente assim como Freud criou uma teoria de que são as coisas que aconteceram no passado as responsáveis por neuroses e complexos dos indivíduos, consequentemente responsáveis

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pelas suas ações no presente. E foi exatamente o que aconteceu com Bochecha: a frustração que o Sr. Incrível lhe causou o transformou em alguém com complexo de inferioridade, pois ele se sentiu diminuído perante os “Supers”. Bochecha também criou uma neurose tão grande relacionada aos super-heróis que o levou a arquitetar um maligno plano de vingança. Síndrome, como já citado, era uma criança superdotada e um inventor extremamente habilidoso, ele criou então um covil enorme e surpreendentemente tecnológico em uma ilha tropical. Também criou para si próprio, um sistema de energia de ponto zero que com um controle conectado ao seu braço funcionava como um superpoder, além de aperfeiçoar suas botas voadoras. Dentro desse covil começou, então, a criar protótipos de robôs com o objetivo de que eles destruíssem todos os “Supers” ainda existentes. Assim que um herói conseguia destruir seu protótipo, Síndrome o aperfeiçoava para que o robô obtivesse sucesso dessa vez. O vilão transformou sua admiração pelo Sr. Incrível em ódio, porém ainda acreditava que ele era o melhor entre todos os “Supers”, por isso, Síndrome seguia aperfeiçoando seus protótipos até que estivesse a altura do Sr. Incrível. Finalmente, quando o vilão acredita ter o protótipo perfeito, ele convoca o Sr. Incrível para sua ilha por meio de sua assistente, Mirage, com a desculpa de uma falsa missão. Síndrome é a Sombra dentro da Jornada do Herói. Sombra segundo Joseph Campbell, representa o vilão da história, aquele que tem como objetivo destruir o herói, no caso, o Sr. Incrível. Seu temperamento, a partir dos humores corporais definidos por Seger (2006, p. 87) encaixa-se na Bílis amarela, que representa uma pessoa colérica, alguém impaciente, vingativo e obstinado. A personalidade do vilão é extremamente complexa, dos cinco comportamentos psicóticos definidos por Seger, (2000, p. 96-98), ele se encaixa em quatro deles. Síndrome é maníaco, paranoico, neurótico e psicopata, ou melhor, uma mistura entre eles. Maníacos são aqueles que acreditam que podem fazer tudo, vão atrás de seus objetivos e, para alcançá-los, são capazes de passar por cima de qualquer um que estiver em seu cami-

nho, sem que isso lhe cause arrependimentos. Síndrome mata uma série de heróis em busca de sua vingança pessoal contra o Sr. Incrível, além de arriscar a vida de seu braço direito, Mirage, quando necessário para concluir seu plano. O grande plano de Síndrome, além de derrotar o Sr. Incrível, era ameaçar a cidade com um de seus protótipos para depois forjar uma luta em que ele mesmo derrotaria sua criação, sendo assim aclamado como herói pelos civis. Esse desejo incontrolável de Síndrome de obter prestígio como herói, e todo o caminho que ele traçou nessa busca, é característico de pessoas paranoicas que são obstinadas, decididas, competitivas, arrogantes e, obviamente, rancorosas. Além de serem facilmente ofendidas, motivo que levou o menino Bochecha a se revoltar. A neurose é um distúrbio obsessivo-compulsivo, é evidente a obsessão do vilão pelos “Supers”, principalmente pelo Sr. Incrível, neurose essa que se tornou seu projeto de vida durante quinze anos. Porém, Síndrome é principalmente um psicopata. O psicopata é o nível máximo do egoísta, ele só pensa naquilo que lhe traz vantagens e apenas dá importância a sua autopreservação e a de mais ninguém. Quem sofre desse comportamento psicótico, não possui nenhum tipo de padrão moral e por conta disso comete crimes terríveis, sempre que necessário para seu benefício. No mundo dos personagens, o vilão quase sempre se trata de um psicopata. Após conhecer melhor a personalidade do vilão, é possível entender os conflitos psicológicos existentes por trás de suas maldades e atitudes inescrupulosas. Porém todo seu esforço e dedicação a sua vingança não foi o suficiente, já que o Sr. Incrível venceu todos os desafios que lhe foram propostos durante a aventura. Síndrome foi vencido até pelo bebê Zezé quando tentou sequestrá-lo. Por fim, a “maldição” da capa contada pela estilista Edna tira mais uma vida, quando Síndrome morre traído por sua própria capa que ficou presa na turbina de sua nave. O vilão morre sem realizar seus objetivos, o que costuma servir como “moral da história” em roteiros infantis, nos quais o bem sempre vence o mal, passando assim um ensinamento as crianças sobre o certo e o errado.

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Fig. 53 | O personagem insiste em acompanhar seu ídolo se tornando seu comparsa, Guri Incrível.

Fig. 54 | Bochecha sente muito rancor do Sr. Incrível.

Fig. 55 | A nova personalidade de Bochecha, o vilão Síndrome.

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Fig. 56 | O vilão e seu protótipo “Omnidroid”.

Fig. 57 | Síndrome colocando em prática seu plano de vingança.

Fig. 58 | O vilão é derrotado pela família Incrível.

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O figurino do vilão é mínimo, pois ele não aparece em sua vida cotidiana no roteiro. O personagem tem apenas uma troca de roupa entre a fantasia de Guri Incrível, customizada por ele mesmo, e seu uniforme como Síndrome, quinze anos depois. Bochecha de improviso pega algumas de suas roupas e transforma em uma fantasia que fizesse par com a do Sr. Incrível, já que o personagem tinha a intenção de ser seu comparsa. Ele imita as mesmas cores do uniforme de seu herói favorito, e até desenha o mesmo logo em sua camiseta. Bochecha improvisa também uma capa, símbolo que crianças relacionam muito aos heróis. Por fim, sua incrível invenção, as botas voadoras, completa sua fantasia de Guri Incrível. Quinze anos mais tarde, o uniforme de Síndrome não tem mais nada da fantasia feita por aquele menino sonhador, agora o vilão comete suas atrocidades a bordo de um uniforme profissional e condizente com sua nova personalidade. Seu uniforme é repleto de formas e recortes pontiagudos, esse formato pode ser relacionado a algo maligno, por estar muito presente na figura de maior representação do mal, o Diabo.

A cartela de cores é composta pelas cores cinza e roxa. Uma das relações possíveis é a de que a cor cinza representa algo negativo, algo que não é bem vindo, assim como nuvens que acinzentam o céu azul. O roxo em um de seus significados representa uma cor misteriosa, o que se encaixa muito bem na atmosfera de mistério que o vilão cria ao se manter no anonimato durante parte do roteiro. Seu figurino tem um contraste entre o moderno e o antiquado. De um lado estão suas tecnológicas e aperfeiçoadas botas voadoras, e o controle de sua grande invenção, a energia de ponto zero, conectado a manga. Por outro lado, o tecido brilhante, chamativo e antiquado de seu uniforme, é o mesmo tecido que costumava ser usado pelo Sr. Incrível, e a maioria dos “Supers”, nos tempos de gloria de antigamente. Essa alusão é feita para demonstrar o quanto o vilão ficou preso à imagem dos heróis, seus ídolos de infância, e a sua vontade de se tornar um deles fez com que Síndrome reproduzisse as imagens de sua memoria.

A diferença entre a improvisada fantasia de Guri Incrível e o uniforme de vilão usado por Síndrome.

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Fig. 59 | Mirage, a assistente do vilão Síndrome.

Mirage Mirage é o braço direito do vilão Síndrome, uma mulher bela e sedutora que coloca seus interesses acima do bem e do mal. A personagem se aproveita do luxo que o trabalho com o vilão lhe proporciona, ela passa seus dias em uma ilha fantástica com direito a banquetes e carros esportivos, e em troca faz vista grossa para as atrocidades de Síndrome. A personagem é designada a espiar Beto, para se certificar de que ele é mesmo quem seu mandante procura, o ex-herói, Sr. Incrível. Ao ter certeza de sua identidade, a personagem implanta um envelope no escritório de Beto, o qual ele encontra em sua pasta, ao chegar a casa. Beto abre o envelope e encontra uma espécie de tablet com uma mensagem gravada, nela uma mulher loira e atraente o elogia falando sobre seus tempos de glória como herói. Mirage aguça o interesse de Beto quando diz que precisam dele e de suas habilidades como “Super” para uma missão ultrassecreta. Com essa mensagem, Mirage se torna o Arauto dentro da Jornada do Herói percorrida no enredo, um papel importante já que representa aquele que chama o herói para a grande aventura. Pois mesmo o vilão Síndrome estando por trás dessa mensagem, é Mirage quem aborda e convence Beto. Durante o enredo, a personagem faz a intermediação entre Sr. Incrível e o vilão, que preferiu

permanecer anônimo até certo ponto. Mirage segue as ordens de seu patrão a risca, porém no decorrer da história, a personagem começa a identificar o egoísmo de Síndrome e comparar com a bondade do herói, e deixa transparecer certa dúvida sobre o rumo que esta dando para sua vida. Essa dúbia personalidade dividida entre o bem e o mal é definida por Campbell como o Camaleão da Jornada do Herói, mais um papel de Mirage dentro da aventura. Mirage se confirma como Camaleão quando liberta o Sr. Incrível da “prisão” em que Síndrome o colocou. Realizando assim a principal característica de um Camaleão, um inimigo que salva o herói em algum momento do roteiro. O momento que levou Mirage a tomar essa decisão foi quando o Sr. Incrível ameaçou a vida da personagem para que Síndrome o soltasse, e o vilão como sempre só pensou em si mesmo e preferiu arriscar a vida de sua assistente a estragar seu plano. Mas o herói com sua personalidade bondosa e gentil, não tem coragem de machucar a moça e a libera, amansando assim o coração de Mirage. A personagem passa então por uma transformação de consciência, e resolve por fim adotar o caminho do bem dentro de sua dubiedade. Sem final claro para Mirage, ela é apenas mostrada abandonando o trabalho que tinha ao lado do traiçoeiro vilão.

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Fig. 60 | Mirage fecha uma parceria com o Sr. Incrível durante um jantar.

Fig. 61 | A personagem se desentende com seu chefe, o vilão Síndrome.

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O figurino de Mirage é um completo reflexo de sua personalidade e de seu papel dentro da jornada. Mirage é uma mulher sedutora e encantadora, o que sem dúvida lhe auxilia em sua missão de Arauto do roteiro. Afinal para convencer alguém a partir em uma aventura desconhecida, é preciso causar uma boa impressão e interesse. A personagem é uma fashionista, tem um figurino extremamente moderno e de certa forma extravagante, esse visual futurista combina com a arquitetura e tecnologia de seu ambiente de trabalho. Síndrome tinha como plano impressionar o Sr. Incrível, atraí-lo e conquistá-lo para depois o apunhalar de surpresa, e a aparência de Mirage se encaixava perfeitamente com esse ambiente fantástico criado pelo vilão. Além do design incomum, suas roupas também são sensuais e atrativas, estética que funciona em seu objetivo de prender a atenção

e segurar a vítima, tirando o foco de seu patrão que prefere se manter anônimo. Outro papel da personagem é o de camaleão, essa dúbia personalidade foi representada em uma mistura de formas exageradamente abauladas, com formas bem justas ao corpo, o que faz uma brincadeira com essa convivência de extremos dentro da personagem, no caso, o bem e o mal. As formas justas e de cintura marcada, também representam a feminilidade, ponto forte de Mirage. A cartela de cores da personagem é bem diferente dos demais personagens. Seu figurino é preenchido por diversas cores, esse colorido tem influência de seu alto astral e confiança, e dos muitos tons encontrados na floresta tropical que cerca a ilha de Síndrome. As cores vêm em tons claros e pastéis que contrastam com o ambiente pesado que o Sr. Incrível está acostumado, trazendo a leveza que ele procura encontrar na aventura proposta por Mirage.

Os looks ousados e modernos da sedutora Mirage.

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Fig. 62 | Lúcio no casamento de seu melhor amigo, Roberto.

Lúcio | Gelado Lúcio é o melhor amigo de Beto desde o princípio da história, lutava ao seu lado protegendo a cidade, além de conhecer e fazer parte de sua vida particular. Pode-se identificar a proximidade dos dois na cena do casamento entre Beto e Helena, onde ele parece ser uma espécie de padrinho. O personagem também tem uma vida dupla, o civil Lúcio e o “Super” Gelado. Assim como a família Incrível, o personagem nasceu dotado de superpoderes e resolveu usá-los para o bem, se transformando em mais um dos super-heróis que circulavam pela cidade. Seu superpoder é ligado ao gelo, o herói pode se locomover, quase como voar, por meio de um tipo de ski que flutua sobre a camada de gelo criada por ele próprio. Também tem o poder de congelar objetos e pessoas, além de lançar “bolas” de gelo contra seus adversários. Quinze anos se passam e não existe ênfase na vida pessoal do personagem, não se sabe sua ocupação nos dias atuais, se sabe apenas que ele é casado, mas sua esposa não chega a aparecer fisicamente no roteiro. Mas assim, como todos os outros “Supers”, Gelado também sofreu a repressão e foi obrigado a abandonar seu papel de super-herói. Porém assim como Beto, seu melhor amigo, Lúcio também apreciava muito os tempos de ação que tinha antigamente. Motivo pelo qual acompanha Beto nas mentirosas idas ao boliche, onde

na verdade os dois passam a noite escutando a frequência do rádio da polícia, prontos para ajudar anonimamente em alguma ocorrência. Mesmo sendo seu comparsa, Lúcio é mais sensato que Beto, por mais que tenha prazer em ajudar os outros por meio de seus superpoderes, ele sabe que o que fazem não está correto e pensa na possibilidade de parar de mentir para sua mulher sobre o que fazem nas noites de quarta-feira. Por estar dividido entre as duas realidades, Lúcio não passa por um transformação. Ele é apenas um “Super” obrigado se misturar com os civis comuns, como manda a lei. Mas mesmo tendo saudades dos velhos tempos, Lúcio não sofre com a nostalgia como seu amigo Beto. O herói Gelado não tem grande participação na aventura contada na história, mas assim que o perigo chega à cidade Lúcio vai à busca de seu antigo uniforme para que possa entrar em ação e ajudar a família Incrível a derrotar o protótipo de Síndrome. O superpoder do herói pode ser relacionado à personalidade tranquila e calma que o personagem deixa transparecer em suas aparições. Sua serenidade representa o gelo, em que a metáfora contrária seria a de alguém nervoso que representaria o fogo. Lúcio serve de “muleta” para seu amigo Beto, como quem diz “fica frio”, enquanto Roberto reclama sem parar do rumo que sua vida tomou.

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Fig. 63 | O personagem em sua identidade de super-herói Gelado.

Fig. 64 | Lúcio e Beto conversam no carro em uma de suas idas as “boliche”

Fig. 65 | O herói Gelado se junta à família Incrível para combater o “Omnidroid”.

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O figurino de Lúcio não tem tanta relevância quanto o dos demais personagens, já que sua personalidade não é profundamente explorada no roteiro. Lúcio parece ter uma ocupação estável e de que gosta, obviamente não tão satisfatória como quando era herói, mas seu alto astral não demonstra uma rotina entediante como a de Beto na seguradora. O personagem também não tem filhos, o que diminui as responsabilidades e o stress em relação à família Pêra. Ou seja, apesar de sentir falta dos velhos tempos, o personagem não vive uma vida de insatisfação no presente. Essa é a grande diferença entre o figurino de Lúcio e de seu melhor amigo Beto, o personagem isento de tantas preocupações manteve a motivação para cuidar de sua aparência e de si próprio. O personagem apresenta então um

visual mais moderno e fino, com roupas de corte e caimento perfeito no corpo, ainda atlético, conservado desde os tempos de “Super”. Os tons de azul tem prioridade na cartela de cores do personagem, a cor representa sua personalidade serena, tranquila e harmoniosa, além de fazer referência ao gelo, que apesar de transparente costuma ser representado na cor azul. Por ser pego desprevenido na aventura contra os protótipos do vilão Síndrome, Gelado age como “Super” a bordo de seu uniforme de quinze anos atrás, que apesar de antigo não é necessariamente antiquado. Seu uniforme segue sua cartela de cor predominante e é feito de um tecido grosso e canelado, semelhante a uma polaina, alusão a uma roupa de inverno por conta de seu superpoder de gelo e neve.

A relação entre a cor azul e o gelo no figurino do herói Gelado.

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Fig. 66 | A incrível estilista Edna Mode

Edna Edna existia, mas não aparece na primeira fase do roteiro, porém ao conhecê-la na segunda fase, é possível identificar facilmente seu papel durante o primeiro momento do enredo. A personagem se trata de uma estilista incrível, e apesar de não ser uma “Super”, seus tempos de glória também foram os passados. A estilista ainda faz sucesso nos dias de hoje, julgando por sua altíssima qualidade de vida, moradia e sua tecnologia avançada de segurança. Mas a sua verdadeira paixão era criar para os super-heróis, na época em que eles ainda eram aceitos na sociedade. O contexto dá a entender que Edna era o suprassumo quando se tratava de uniformes de “Supers” e hoje cria para “modelos magrelas e sem graça”, como ela mesma define no roteiro. O que pode ser relacionado com uma crítica ao mundo da moda atual, onde a maioria cria apenas para um estereótipo de silhueta, alta, magra e esguia, deixando de explorar outros públicos. “É a única pessoa no filme que deixa os super -heróis incomodados” (BIRD, 2004, making of do filme “Os Incríveis”). Quando o autor do roteiro faz essa afirmação, ele não se refere à Edna como uma pessoa desagradável, mas sim como uma pessoa desconcertante.

Edna pode ser considerada como o Pícaro dentro da história, aquele personagem cômico que entra para descontrair a seriedade que é algumas vezes encontrada na trama. E, mais do que isso, o Pícaro é aquele, segundo Campbell, que quebra o orgulho do herói, que também é o caso de Edna como citado anteriormente por Bird. O motivo da personagem ser cômica e desconcertante pode ficar por conta da dissonância entre sua aparência e sua personalidade. Edna tem no máximo um metro e meio de altura, o que não parece ser o suficiente para armazenar tanta grandeza e confiança. Edna tem uma autoconfiança única, fala com tamanha certeza que seria impossível contestá-la, acredita em seu trabalho e o valoriza ao máximo em seu discurso. Como quando defende sua teoria contra o uso da capa na roupa de “Super”, alegando as diversas histórias de mortes ocasionadas pelo acessório. Além de estilista, segundo Price (2000, p. 196), Edna também detém conhecimentos de engenharia e ciência herdados de suas duas diferentes nacionalidades, a Japonesa e a Alemã. A informação sobre suas nacionalidades constam no roteiro e apesar de não ser exposta no filme, essa backstory auxilia na criação da personagem e consequentemente em seu fi-

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Fig. 67 | A exuberante casa de Edna.

Fig. 68 | O discurso da estilista cheia de autoconfiança .

Fig. 69 | A personagem fazendo o papel de mentora para Helena .

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gurino. Esses conhecimentos de engenharia e ciência proporcionam a capacidade de não só criar o design das roupas do “Super”, mas de fazê-las funcionais incorporando os mecanismos necessários para sustentar os superpoderes de cada super-herói. Como por exemplo, a “Super” roupa de Helena que se adapta a qualquer forma, e ainda mais incrível, a roupa da jovem Violeta que desaparece junto com ela. Edna, além do Pícaro, tem outra função ainda mais importante dentro da Jornada do Herói representada no filme. A estilista pode ser considerada uma mentora, tanto para a aventura principal da história, a de Beto, quanto para a aventura pessoal de Helena. A aventura de Beto acontece de uma forma não muito convencional, já que o papel de Edna como mentora se encaixa fora de ordem. Mas apesar do Sr. Incrível já ter ido para a aventura antes de encontrar com Edna, ela lhe dá um maior incentivo quando lhe fornece como “ferramenta”, uma nova e incrível roupa de “Super”. Já na aventura de Helena, Edna se encaixa perfeitamente no papel de Mentora, é ela quem incentiva a heroína a embarcar nessa aventura atrás de Beto, além de fornecer também uma roupa especial para cada integrante da família. A participação de Edna no roteiro é breve, porém, ao mesmo tempo, muito interessante e marcante para o enredo. A genialidade e personalidade que Edna apresenta conquista o telespectador. Edna tem um figurino moderno e elegante, condizente com sua profissão de estilista. Suas roupas trazem sua herança japonesa em referências literais, ou em detalhes como formas mais estruturadas.

Apesar do design inovador, seu figurino é mais discreto do que chamativo, afinal a personagem já chama atenção o suficiente por sua personalidade forte. Os tons mais fechados e neutros de sua cartela de cores contribuem para esse visual sóbrio e requintado. E por fim, os óculos enormes e fundo de garrafa, completam a estranheza da personagem causada por sua estatura mínima. Como mentora Edna tem o dever de passar respeito e confiança, o que influencia também na escolha de uma aparência mais recatada e sofisticada para a personagem. Além de sua posição social favorável para uma manter tal sofisticação. A estética de Edna pode ser facilmente identificada em suas criações, como os uniformes de “Super” para toda a família Pêra. Os uniformes criados conseguem manter a praticidade necessária e ainda sim serem inovadores, os recortes variados e detalhes estruturados fogem dos macacões básicos usados pela maioria dos “Supers”. A cartela de cor do uniforme também se moderniza, abandonando os tons vibrantes e coloridos muito usados nos uniformes antigos, Edna traz uma proposta nova e mais elegante. Os novos uniformes contam com cores mais sóbrias, preto e branco, e o detalhe de destaque fica por conta do jacquard estampado e dos vivos em laranja forte. A cor laranja representa energia, vitalidade e o sucesso da família em seu propósito contra o mal. O “logo” da família Incrível também tem uma proposta nova, diferente dos enormes “logos” estampados no peito, os novos uniformes tem “logos” mais discretos, menores e localizados como um detalhe de gola. Completando assim um visual mais rebuscado e menos extravagante, característica condizente com o perfil da estilista.

A inovação nos detalhes fazem parte do figurino de Edna.

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A personalidade de Edna refletida em suas criações, os uniformes da família Incrível.

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) a mente por trás de “os incríveis”


Fig. 70 | O autor Brad Bird.

Phillip Bradley Bird é a mente por trás de “Os Incríveis”, responsável pelo roteiro e a direção do filme de animação produzido pela Pixar. Conhecer mais sobre o escritor é essencial para entender e se infiltrar na essência da história. Americano, nascido na cidade de Kalispell, no ano de 1957, Brad Bird como é conhecido foi um autor prodígio, com apenas 11 anos de idade, ele já iniciou o seu primeiro trabalho, recontando a fábula “A lebre e a Tartaruga”. Sempre interessado no assunto, enquanto cursava o colégio na cidade de Corvallins, ele mantinha contato com estudantes que compartilhavam de seus mesmos interesses, além da consagrada Walt Disney Studios. Já conhecido no meio, Bird foi convidado para estudar na Cal Arts, California Institute of the Arts, em seu programa de animação de personagens. Um de seus colegas dentro da Cal Arts era John Lasseter, que anos mais tarde, seria uma das peças chaves para a realização do filme em questão. Bird começou sua carreira na Walt Disney Studios, e a partir daí, contribuiu para trabalhos em diferentes empresas como a Lucasfilm, New Line Cinema, Turner Pictures, além de ter trabalhado com grandes nomes como Steven Spilberg. Entre esses trabalhos, fez participações e realizou

demos próprias como “Vida de Cachorro”, muitas séries e programas de televisão como “O Rei do Pedaço”, “Os Simpsons” e “Brothers in Crime”, mas seu verdadeiro desejo era o de lançar um filme, o que tentava arduamente, porém sem sucesso, em meados de 1990, apresentando suas ideias de roteiro, como ele mesmo conta: “Eu ficava tentando fazer esses filmes decolarem, mas eles nunca saiam do chão” (PRICE, 2009, p. 193). O grande avanço de sua carreira foi o convite da Warner Bros, que convocou Brad Bird para dirigir o filme de animação “O Gigante de Ferro”. O filme já tinha sua produção, iniciada em 1994, porém Bird elevou a qualidade da lenta produção, com sua entrada em 1996, junto com sua decisão de contratar Tom McCanlies para escrever o roteiro. Os recursos disponibilizados pela Warner Bros não eram favoráveis

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Embora a Warner Bros. tenha alocado para Bird metade do orçamento de um filme de longa-metragem animado da Disney, e um prazo com um ano a menos, o filme que ele produziu – “O Gigante de Ferro” – foi consagrado como uma obra de arte. (PRICE, 2009, p. 195)


Fig. 71 | John Lasseter, diretor executivo de “Os Incríveis”.

Mesmo o filme tendo sido consagrado pela crítica, “O Gigante de Ferro” não vingou nos cinemas como era o esperado. O fato foi que a própria produtora, Warner Bros, não fez o esforço necessário para promover o filme, já que estava mais preocupada com a instabilidade da empresa na época. Bird saiu prejudicado, já que sua estreia de sucesso não chegou ao público como deveria. Mas o desânimo de Bird logo foi trocado pela oportunidade de sua vida, quando, apenas um ano depois, ele reencontra seu colega John Lasseter, a peça chave citada acima. Lasseter não só trabalhava como era um dos principais nomes dentro da Pixar junto com Steve Jobs, dono da companhia na época. Apesar da Pixar ter lançado apenas filmes de muito sucesso até o momento, parece que eles não ficavam satisfeitos, então Lasseter decidiu convidar Brad Bird para trabalhar na Pixar, com o seguinte argumento, “Tememos estar virando complacentes. Queremos que venha pra cá e agite as coisas um pouco” (LASSETER, 2004, making of do filme “Os Incríveis”) Brad Bird aceitou a proposta e assinou um contrato com a Pixar, em 4 de maio de 2000. Finalmente ele iria realizar o sonho de lançar um filme próprio, desde o roteiro até a direção. Bird foi contratado com a sua proposta de um filme sobre uma família de

super-heróis, ideia essa que ele já havia tido, a cerca de dez anos atrás, quando ele praticamente. “batia de porta em porta” em busca de uma oportunidade de fazer suas ideias acontecerem. A Pixar abriu mão de sua maneira convencional de produzir para se adaptar a Bird, era a primeira vez que trazia um diretor convidado, os diretores anteriores vieram de uma promoção dentro da própria companhia. Dentro da produção de um filme da Pixar, se envolviam no projeto cerca de três diretores e vários roteiristas que criavam em conjunto, porém o autor fez questão de que fosse o único a assumir a posição de diretor e escritor. Bird é extremamente exigente, então vê necessidade em participar de todas as etapas. Sendo assim, já criava os storyboards completos, incluindo os movimentos de personagem e que tipo de câmera e luz seriam usadas, quando os diretores anteriores usavam os storyboards apenas para identificar a emoção e o diálogo presentes na cena e deixavam os detalhes por conta da criação e não apenas da execução dos departamentos responsáveis. “Uso todo o búfalo” (BIRD, 2004, making of do filme “Os Incríveis”) foi a expressão usada por Brad Bird para definir como ele trabalha; o que o diretor quis dizer com essa expressão é que ele gosta de explorar tudo o que pode para tirar o

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Fig. 72 | Storyboards do filme “Os Incríveis”.

máximo de proveito dentro do trabalho que esta realizando, em uma analogia com retirar todas as partes comestíveis da carne de um búfalo. E foi o que ele fez no filme “Os Incríveis”. Brad cobrou de todas as áreas da produção que dessem o seu melhor. A dificuldade na criação do filme foi principalmente na área de animação, já que era a primeira vez que a Pixar produzia um filme, no qual os personagens humanos eram o foco da história e não apenas coadjuvantes. Bird ainda exigia detalhes incríveis como, por exemplo, o movimento dos cabelos em suas diferentes formas, o movimento da musculatura, as diferentes transformações de corpo da Mulher-Elástica, as transformações do Zezé, além de fogo, explosões, água e todos os efeitos encontrados dentro dos 130 cenários contidos no filme. Todo o empenho colocado no filme foi reconhecido após seu lançamento, no dia 5 de novembro de 2004. “Os Incríveis” foi ganhador do Oscar e do Annie Awards de Melhor Longa Metragem Animado, Annie Awards e Saturn Awards de Melhor Roteiro, dentre outros prêmios. Também foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original e ao London Critics Circle Film Awards de Melhor Roteiro do ano. Além de ótimas criticas como a da revista de cinema Variety.

A mais ambiciosa criação da Pixar em sua extraordinária e altamente bem-sucedida serie de produções cinematográficas inovadoras ; um filme que extrapola os limites do gênero da animação computadorizada. [e completa com] como um entretenimento escapista extremamente inteligente, o filme “Os Incríveis” é praticamente incomparável. (PRICE, 2009, p. 199) E com esse enorme sucesso, Brad Bird ganhou o reconhecimento merecido, “O público e a crítica recompensaram o perfeccionismo de Bird” (PRICE, 2009, p. 199). Depois de seu trabalho em “Os Incríveis”, Brad continuou na Pixar e realizou outro sucesso da companhia, “Ratatouille”, além de outros próximos trabalhos em sua carreira bem sucedida, o que levou o autor a receber, em 2010, o Annie Award Honorário, um prêmio para animação, criado em 1972, pela International Animated Film Association de Los Angeles, Califórnia.

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' conceito de criação


O roteiro de “Os Incríveis” foi escrito, por Brad Bird, com o intuito de criar um filme de animação, o qual foi produzido pela Pixar, no ano de 2004. Porém, por trás da fantasiosa história de super-heróis, que funciona quase como uma metáfora, existe um cotidiano real, no qual é possível se identificar com as dificuldades enfrentadas pelos personagens. Devido então aos assuntos adultos e relevantes tratados no roteiro foi possível criar um figurino para uma suposta filmagem live-action de cinema, ao invés da animação já existente. Nesta nova versão a história se passa em Washington DC, o que aumenta a relação entre a lei de repressão contra os heróis, imposta pelo governo americano, e as consequências que essa repressão causou a família Pêra e aos demais personagens da história. Apesar de a animação ter seu lançamento, no ano de 2004, o filme segue uma estética sutil dos anos 1960, para a nova versão aqui proposta essa estética foi trazida para a atualidade, do ano de 2014. O conceito mais atual se encaixa com os conflitos tratados no roteiro, que ainda são relevantes nos dias de hoje.

Os personagens de “Os Incríveis” possuem personalidades muito fortes e distintas, o que é fundamental para o contexto da história. A função do figurino criado para o roteiro é de se comunicar por meio do vestuário, revelando a personalidade e o “eu” interior dos personagens. O novo figurino também explora o crescimento interno de cada um durante o decorrer da história, por meio de uma relação com as estações do ano e suas mudanças. No qual, o final do inverno frio e escuro representa a fase de insatisfação pessoal que paira sobre a família, e o renascimento das flores junto com os dias mais quentes e ensolarados da primavera e do verão representam a aceitação e a satisfação pessoal conquistada pelos personagens. O desafio apresentado foi o de dar maior ênfase e sentido para o novo figurino, transformando-o em um veículo de comunicação entre os personagens e os telespectadores. Diferente daquele já criado pela Pixar, que traz uma licença poética em relação à vestimenta que é comum nos filmes de animação. A criação explora a individualidade e a importância da estética, e do figurino, para compor um personagem.

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! o figurino


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6.1 Croquis Roberto Pêra | Sr. Incrível

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Helena Pêra | Mulher elástica

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Zezé Pêra

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Bochecha | Síndrome

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Mirage

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Lúcio | Gelado

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Edna

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Roberto Pêra | Sr. Incrível

Helena Pêra | Mulher elástica

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Flecha Pêra

Zezé Pêra

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Mirage

Gelado

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6.2 Look book

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Ficha técnica Figurino Sr. Incrível

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Ficha técnica Figurino Mulher elástica

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Ficha técnica Figurino Violeta Pêra

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Ficha técnica Figurino Flecha Pêra

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Ficha técnica Figurino Síndrome

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Ficha técnica Figurino Edna

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! fotos conceito


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considerações finais


A vida é como uma escada, na qual subimos um degrau sempre que fechamos um ciclo. É importante nunca estacionar em um andar, pois são inúmeros os lances de aprendizado, experiências e vivência que devemos passar, para que um dia possamos chegar ao topo da subida, tendo certeza que a escalada valeu a pena. Nesse momento ao concluir minha graduação o sentimento é de realização, de quem finaliza mais uma etapa, subindo assim mais um degrau na escada da vida. Meu maior presente, nesse ano de 2014, foi a maturidade que conquistei durante a realização do trabalho de conclusão de curso, acredito que por exigir muito empenho e dedicação, além de ser o primeiro trabalho acadêmico concretizado que leva meu nome, este me incentivou a dar meu melhor em todo o processo. Com isso senti a necessidade de ter mais responsabilidade e comprometimento com o trabalho, amadurecendo assim como pessoa, estudante e futura profissional. O trabalho se divide entre a parte teórica, na qual estão as pesquisas e textos relacionados ao assunto, e a parte prática composta pelos croquis, desenhos técnicos, fotos conceituais e os looks do figurino confeccionados. Iniciei minha pesquisa com Joseph Campbell, estudioso da mitologia e responsável por criar a “Jornada do Herói”. Ao ler seu livro e os textos relacionados a ele fui capaz de entrar no universo do herói e de tudo que o rodeia, foi muito interessante a descoberta de que nessas narrações existe um plano básico a ser seguido e cabe ao autor dar o seu diferencial. A teoria de Campbell foi de extrema importância para compreender a estrutura do roteiro de super-heróis. Outra autora fundamental em minha pesquisa foi a especialista em roteiros, Linda Seger, a leitura de seu livro “Como criar personagens inesquecíveis” me proporcionou conhecimento e serviu de base para a análise dos personagens principais da história. Seu livro, não só auxiliou no projeto, como acredito que os conhecimentos adquiridos nele serão essenciais para o início de minha careira na área do figurino. Conhecer, entender e nomear os diferentes tipos de personagens e suas características, só aumentou minha paixão pela profissão, e a vontade de aprender cada vez mais. Além de outros autores, estudiosos e filósofos que fizeram parte da pesquisa e trouxeram o conhecimento necessário não apenas para o projeto, mas

também para minha vida pessoal e profissional. A teoria foi crucial para a criação do figurino, pois ao entender o psicológico de cada personagem pude decidir a melhor maneira de traduzi-lo em sua aparência. Fiquei satisfeita com o resultado do figurino, pois acredito que consegui deixar cada personagem com uma identidade única e marcante, o que era meu maior objetivo desde o princípio. Em minha opinião a experiência mais gratificante deste trabalho é a etapa final, quando vemos nossas ideias e criações saindo do papel e se tornando realidade, o que também é um processo de aprendizagem, já que nem sempre é viável produzir aquilo que se cria e algumas vezes ajustes são necessários. Apesar do processo de criação deste trabalho ter um ano de duração, muitas vezes o tempo não é suficiente para concretizar todas nossas ideias, desejos e vontades. Uma vontade que infelizmente não foi possível realizar foi a de ter todos os croquis de todos os personagens do roteiro, pois gostaria de fazer o mais completo possível e o mais próximo da realidade de um figurinista, mas o tempo me permitiu apenas focar nos personagens principais, ou seja, de mais relevância. Pretendo futuramente complementar esse projeto, para portfólio pessoal, com todas as intenções e detalhes que devido ao prazo ou qualquer outro transtorno não puderam estar presentes neste trabalho. Concluo minha graduação confiante de ter feito a escolha certa ao optar pelo curso de Design Moda, pois dentro desses quatro anos pude observar o quanto a moda é versátil e quantos caminhos diferentes tenho a opção de seguir futuramente. Tive a chance de conhecer diferentes disciplinas, e me apaixonar por aquelas que mais me motivaram e me inspiraram, sendo a principal delas o figurino. É com orgulho e satisfação que finalizo este trabalho, que tem em todas as suas páginas um pouco de mim e de toda a minha experiência adquirida durante o curso. Sentirei saudades e sempre lembrarei com muito carinho da época da faculdade, das amigas de classe, das aulas, dos professores, dos auxiliares de costura, auxiliares de corredor e de toda a história que vivenciei durante esses quatro anos. Prefiro não pensar que é um fim, mas sim um grande recomeço para mim, no qual espero estar pronta para subir os próximos degraus dessa longa escalada que é a vida.


iconografia


Fig. 01| Sr. Incrível observando a cidade de Metroville. Disponível em: http://floobynooby. blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html. Acesso em 03/11/2014. Fig. 02 | A cerimônia de casamento entre Roberto

e Helena. Disponível em: http://www.highdefdiscnews.com/the-incredibles-blu-ray-disc-review/. Acesso em 03/11/2014.

Fig. 03 | Bochecha se apresenta como Guri Incrível para o Sr. Incrível. Disponível em:http:// floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html. Acesso em 03/11/2014.

Fig. 11| Rick Dicker repreende a atitude de Beto. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 12 | Mensagem de Mirage para Beto. Disponível em: http://hedgy.com/photovbv/The-Incredibles-Rule.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 13 | Reunião entre Mirage e o Sr. Incrivel.

Disponível em: http://disney.wikia.com/wiki/File:Incredibles-disneyscreencaps_com-4016.jpg Acesso em 03/11/2014.

Fig. 04 | O julgamento do Sr. Incrível. Disponível Fig. 14 | Beto brinca com seu filho caçula Zezé. em: http://floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/ the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Disponível em: http://movies.disney.com/the-incredibles-gallery Acesso em 03/11/2014.

Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014.

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Fig. 15 | Beto está mais atento e ajuda Helena nas Fig. 05 | Família Pêra discutindo á mesa do jantar. tarefas de casa. Disponível em: http://lotacharm.

Fig. 06 | Violeta fica invisível para se esconder de, Tony, seu colega de escola. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/thecinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 16 | Beto se exercitando em busca de

recuperar sua boa forma. Disponível em: http:// floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/thecinematography-of-incredibles-part-1.html] Acesso em 03/11/2014.

Fig. 17 | Beto leva seu antigo uniforma para

Fig. 07 | Reunião convocada pelo professor Bernie, Edna consertá-lo. Disponível em: http://25.media. após Flecha colocar tachinhas em sua cadeira. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014.

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Fig. 18 | Síndrome revela seu plano de vingança

contra o Sr. Incrível. Disponível em: http://www.

Fig. 08 | Escritório da agência de seguros. Dis- crapmykidswatch.com/2012/08/the-incredibles. ponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 09 | Helena dando banho no bebê Zezé. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014. Fig. 10 | Beto perde a paciência com seu chefe Gilbert

Huph. Disponível em: http://basementrejects.com/ review/the-incredibles-2004/ Acesso em 03/11/2014.

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Fig. 19 | Edna choca Helena com suas novas criações. Disponível em: http://www.filmspotting.net/forum/index.php?topic=12312.490 Acesso em 03/11/2014.

Fig. 20 | Karen fica responsável por tomar conta

do bebê. Disponível em: http://www.fanpop.com/ clubs/disney/picks/results/1312015/favourite-character-countdown-incredibles-round-7-pick-favourite-incredibles-character Acesso em 03/11/2014.


Fig. 21 | Beto fica desolado ao pensar que

perdeu toda sua família. Disponível em: http:// floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 22 | A família Incrível luta junta para derrotar os guardas na selva. Disponível em: http://floobynooby. blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 23 | Síndrome prende a família Incrível em sua

capsula de energia. Disponível em: http://scifimafia. com/2011/03/disney%E2%80%A2pixar%E2%80%99sthe-incredibles-hits-blu-ray-next-month/ Acesso em 03/11/2014.

Fig. 24 | Gelado ajuda a família Incrível a vencer

o “Omnidroid”, protótipo do Síndrome. Disponível em: http://movies.disney.com/the-incrediblesgallery Acesso em 03/11/2014.

Fig. 25 | O vilão Síndrome com o bebê Zezé

nos braços. Disponível em: http://floobynooby. blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography -of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 26 | O bebê Zezé toma a forma de um

“monstrinho” e se livra dos braços de Síndrome. Disponível em: http://www.ugo.com/movies/ comic-con-flashback-why-the-incredibles-rules Acesso em 03/11/2014.

Fig. 27 | Família Incrível unida torcendo por Flecha na corrida. Disponível em: http://lotacharm. angelfire.com/moviemain/ghi/incrediblesgallery. htm Acesso em 03/11/2014. Fig. 28 | O novo vilão surpreende a família Incrí-

vel. Disponível em: http://floobynooby.blogspot. com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 29 | O jovem e ativo herói, o Sr. Incrível.

Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 30 | Sr. Incrível ajuda uma senhora a recuperar seu gato. http://floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/ the-cinematography-of-incredibles-part-1.html


Fig. 31 | A insatisfação toma conta da vida de Fig. 40 | A insegura Violeta. Disponível em: http://bizhi. Roberto. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

sogou.com/detail/info/289568 Acesso em 03/11/2014.

Fig. 41 | Violeta faz o máximo para se esconder e

não ser notada. Disponível em: http://floobynooby.

Fig. 32 | O personagem recupera sua autoes- blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-o-

tima. Disponível em: http://www.denofgeek. com/movies/15347/the-incredible-incredibles Acesso em 03/11/2014.

Fig. 33 | Sr. Incrível fica realizado ao voltar a agir como “Super” e feliz com os benefícios que isso trouxe para sua vida particular. Disponível em: http://www.highdefdiscnews.com/the-incredibles-blu-ray-disc-review/ Acesso em 03/11/2014. Fig. 34 | A heroína Mulher Elástica. Disponível

em: http://www.fanpop.com/clubs/disney/picks/ results/1269050/favourite-character-countdown -incredibles-round-2-pick-favourite-incrediblescharacter Acesso em 03/11/2014.

f-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 42 | A personagem sente dificuldade em criar

um campo de força. Disponível em: http://fc00. deviantart.net/fs70/f/2014/078/f/5/the_incredibles_by_chow11-d7atvro.jpg Acesso em 03/11/2014.

Fig. 43 | Violeta ganha segurança ao assumir

seu papel de “Super”. Disponível em: http://www. fanpop.com/clubs/disney/picks/results/1268351/ favourite-character-countdown-incredibles-round1-pick-favourite-incredibles-character Acesso em 28/05/2014 Acesso em 03/11/2014.

Fig. 44 | Violeta para de rejeitar suas diferenças e passa a se sentir especial com elas. Disponível

Fig. 35 | Com seu charme, Mulher Elástica, con- em: http://www.lovethispic.com/image/22660/ quista o coração do herói. Disponível em:http:// floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 36 | Helena, quinze anos depois, como mãe e dona de casa. Disponível em: http://www. fanpop.com/clubs/disney/picks/results/1268351/ favourite-character-countdown-incredibles-round1-pick-favourite-incredibles-character Acesso em 03/11/2014.

is-different-okay Acesso em 03/11/2014.

Fig. 45 | O hiperativo Flecha. Disponível em: http://www.writeups.org/fiche.php?id=2861 Acesso em 03/11/2014. Fig. 46 | Flecha zomba de seu professor pelas costas. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 47 | Flecha corre sobre a água com sua superFig. 37 | Helena fica chateada ao ver a insatis- velocidade. Disponível em: http://www.ew.com/ fação de seu filho Flecha. Disponível em: http:// floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 38 | Helena voltando aos velhos tempos de mulher elástica. Disponível em: http://disney.wikia. com/wiki/File:486683_10151591689406168_5382 9835_n.png Acesso em 03/11/2014.

ew/gallery/0,,20483133_20541423_21072187,00. html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 48 | Feliz e orgulhoso de si mesmo Flecha finalmente está livre para fazer aquilo que mais gosta, correr. Disponível em: http://pixar.wikia. com/Dash_Parr Acesso em 03/11/2014. Fig. 49 | O caçula da família, o bebê Zezé. Disponível em: http://sharethefiles.com/forum/viewtopic.

Fig. 39 | Helena volta a ter a atenção e o php?t=157032 Acesso em 03/11/2014.

carinho daquele Beto de quinze anos atrás. Disponível em: http://www.movpins.com/ dHQwMzE3NzA1/the-incredibles-(2004)/ still-644779008 Acesso em 03/11/2014.

Fig. 50 | Zezé brinca enquanto está aos cuidados da babá Karen. Disponível em: http://moviepilot. com/posts/2014/04/25/pros-cons-will-pixar-s-in-

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Fig. 51 | Zezé ainda bebê já se torna um “Super”

ao lado de sua família. Disponível em: http://sites. psu.edu/shanleymike15/2014/02/02/the-incredibles-vs-the-fantastic-four/ Acesso em 03/11/2014.

Fig. 52 | Bochecha, o fã numero um do Sr. Incrível. Disponível em: http://blogs.disney.com/ insider/2014/05/23/how-well-do-you-know-the -incredibles/ Acesso em 03/11/2014.

Fig. 53 | O personagem insiste em acompanhar seu ídolo se tornando seu comparsa, Guri Incrível. Disponível em: http://floobynooby.blogspot.com. br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles -part-1.html Acesso em 03/11/2014. Fig. 54 | Bochecha sente muito rancor do Sr. Incrível. Disponível em: http://www.highdefdiscnews. com/the-incredibles-blu-ray-disc-review/ Acesso em 03/11/2014. Fig. 55 | A nova personalidade de Bochecha, o vilão Síndrome. Disponível em: http://www. highdefdiscnews.com/the-incredibles-blu-raydisc-review/ Acesso em 03/11/2014. Fig. 56 | O vilão e seu protótipo “Omnidroid”.

Disponível em: http://villains.wikia.com/wiki/ File:Incredibles-disneyscreencaps_com-11200. jpg Acesso em 03/11/2014.

Fig. 57 | Síndrome colocando em prática seu plano

de vingança. Disponível em: http://floobynooby. blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 58 | O vilão é derrotado pela família Incrível.

Disponível em: http://villains.wikia.com/wiki/ Syndrome Acesso em 03/11/2014.

Fig. 59 | Mirage, a assistente do vilão Síndrome. Disponível em: http://imgur.com/gallery/MEJjFHo Acesso em 03/11/2014. Fig. 60 | Mirage fecha uma parceria com o Sr.

Incrível durante um jantar. Disponível em: http:// theelliebadge.blogspot.com.br/2013/06/favorite -pixar-film-incredibles.html Acesso em 03/11/2014.

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Fig. 61 | A personagem se desentende com seu Fig. 71: John Lasseter, diretor executivo de “Os chefe, o vilão Síndrome. Disponível em: http://www. filmspotting.net/forum/index.php?topic=12312.510 Acesso em 03/11/2014.

Fig. 62 | Lúcio no casamento de seu melhor amigo, Roberto. Disponível em: http://www.highdefdiscnews.com/the-incredibles-blu-ray-disc-review/ Acesso em 03/11/2014.

Incríveis”. Disponível em: http://www.latimes. com/entertainment/envelope/moviesnow/la-et -mn-oscars-2014-quotes-pictures-001-photo.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 72: Storyboards do filme “Os Incríveis”.

Disponível em: http://33.media.tumblr.com/tumblr_m8lbg5dbe81r31ck3o1_1280.jpg Acesso em 03/11/2014.

Fig. 63 | O personagem em sua identidade de super-herói Gelado. Disponível em: http:// www.fanpop.com/clubs/the-incredibles/images/1625488/title/incredibles-photo Acesso em 03/11/2014. Fig. 64 | Lúcio e Beto conversam no carro em uma de suas idas as “boliche”. Disponível em:http:// floobynooby.blogspot.com.br/2013/12/the-cinematography-of-incredibles-part-1.html Acesso em 03/11/2014. Fig. 65: O herói Gelado se junta à família Incrível para combater o “Omnidroid”. Disponível em:http:// theelliebadge.blogspot.com.br/2013/06/favorite-pixar-film-incredibles.html Acesso em 03/11/2014.

Fig. 66: A incrível estilista Edna Mode. Disponível em: http://www.bcsportbikes.com/forum/ showthread.php/141941-i-m-getting-glasses!-(caution-LOTS-of-pics) Acesso em 03/11/2014. Fig. 67: A exuberante casa de Edna. Disponí-

vel em: https://admin.blogs.disney.com/insider/2014/05/23/how-well-do-you-know-the-incredibles/ Acesso em 03/11/2014.

Fig. 68: O discurso da estilista cheia de auto-

confiança . Disponível em: http://www.ew.com/ ew/gallery/0,,20483133_20541423_21072191,00. html#21072191 Acesso em 03/11/2014.

Fig. 69: A personagem fazendo o papel de mento-

ra para Helena . Disponível em: http://blogs.disney. com/oh-my-disney/2014/03/03/10-highly-questionable-pieces-of-advice/ Acesso em 03/11/2014.

Fig. 70: O autor Brad Bird. Disponível em: http://

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referências


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filosofonet.wordpress.com/2007/09/25/o-mal-estarna-civilizacao-moderna/. Acesso em 28/05/2014 VOGLER, CHRISTOPHER. A Jornada do Escritor: Estrutura mítica para escritores Tradução de Ana Maria Machado. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

Filmografia LASSETER, John. Making of do filme “Os Incríveis”, 2004. OS INCRÍVEIS. Roteiro e desenvolvimento de Brad Bird, Produção de John Walker. Estados Unidos: Pixar Animation Studios e Walt Disney Pictures, 2DVD (115 MIN.): DVD, son., color. Legendado e Dublado, 2004.





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