Autoestima elevada contribui com a produtividade

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5 min readJan 6, 2016

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Programa Senai de Ações Inclusivas capacita pessoas com deficiência e estimula a autonomia

De segunda a sexta-feira, Luís Alcides da Silva acorda às 5h, pega dois ônibus desde a faixa de Taquara e chega à fábrica da Dana, em Gravataí, onde começa seu turno às 7h. Após ser baleado na cabeça, se locomove com alguma dificuldade. O tiro também prejudicou a capacidade intelectual, o que não é um empecilho para ser um funcionário exemplar. Por causa disso, recebeu o apelido de Dez e é disputado pelos colegas de empresa, por sua facilidade de aprender e agilidade para trabalhar. Hoje, ele desempenha um papel fundamental dentro da indústria. A partir de um rearranjo do setor onde Silva trabalha, houve um aumento de produtividade de 7% — mais peças produzidas com o mesmo número de funcionários e sem aumento de horas trabalhadas.

Ele é um dos profissionais já preparados pelos cursos oferecidos pelo Programa Senai de Ações Inclusivas, conhecido como Psai. “Muito mais do que capacitar para o mundo do trabalho, o Programa de Ações Inclusivas promove a autoestima e a autonomia do indivíduo ao desenvolver seus talentos”, destaca o diretor-superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RS), Carlos Trein.

O projeto desenvolvido na Dana deu tão certo que servirá de inspiração para a matriz nos Estados Unidos. “É motivo de orgulho podermos contribuir para a evolução da sociedade na procura por iguais condições de desenvolvimento do potencial de cada um, sem preconceitos ou limitações. A cidadania é um direito que começa pela conquista da liberdade e confiança para contribuir ativamente com a sociedade, e fazer a diferença. Vemos isto se manifestar através de cada um dos mais de 40 indivíduos que participam do programa na nossa empresa”, comenta o responsável pelas relações institucionais da Dana para a América do Sul, Luis Pedro Ferreira.

A contratação de Silva possibilitou o aumento de 7% da produtividade do seu setor na Dana / Crédito: Dudu Leal

Um exemplo de estímulo à autonomia é Camila Alves da Silva. Com deficiência intelectual, antes do curso no Senai-RS e de iniciar o trabalho dentro da Dana, ela era acompanhada em qualquer deslocamento. Foi só incentivar sua autoconfiança e, agora, ela pega o ônibus da empresa com outros funcionários e sabe direitinho o caminho de casa.

O Psai promove o acesso e inclusão das Pessoas com Deficiência, Altas Habilidades e Condutas Típicas em cursos profissionalizantes, qualificando-as para enfrentar as exigências das novas relações de emprego e trabalho, fundamentado no princípio do direito ao exercício da cidadania. Com o programa, na maior parte das vezes, as pessoas com deficiência são inseridas em turmas com os demais alunos, proporcionando a todos o aprendizado diário por meio da convivência com as diferenças e com a superação de limites. Esta metodologia leva à comunidade escolar a humanização das relações e dos espaços. Um papel muito importante neste processo também é o dos padrinhos, que têm a função de acompanhar seus colegas especiais na trajetória dentro das empresas, servir como um conselheiro.

O projeto auxilia profissionais em diferentes regiões do Rio Grande do Sul. No último mês de julho, mais duas turmas de PcDs receberam seus diplomas. Em Lajeado, em parceria com as empresas Fruki e Docile, 12 pessoas foram capacitadas na modalidade de Aprendizagem Industrial, no curso de Auxiliar de Linha de Produção na área Metalmecânica. Em Teutônia, 12 alunos se formaram no curso de Auxiliar de Produção em couro e calçados, do Senai-RS, em parceria com a Picadilly.

Novos alunos

Em cada lugar onde o programa é implantado, o Senai organiza um Grupo de Apoio Local formado por entidades e associações que atendem a pessoas com deficiência física, intelectual, auditiva, visual, múltipla, condutas típicas e altas habilidades. Um desses parceiros é a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), cuja sede de Gravataí oferece sala de aula na qual os alunos são treinados.

O sonho de melhorar a vida da mãe incentivou Denise Machado Ferraz, de 28 anos, a participar do Psai. Ela almeja proporcionar uma maior tranquilidade para Rosa Machado, que criou 14 filhos. Casada, Denise mora no mesmo terreno da mãe. E declarou que o curso já modificou coisas muito além da capacitação profissional. “Já mudei bastante, mas eu pretendo mudar mais. Eu era muito desconfiada, as pessoas estavam cochichando do lado e eu sempre pensava que estavam falando de mim. Isso porque quando eu estudava em escola considerada normal fui muito criticada, tinha baixa autoestima, mas eu superei”, relata. Ela também conta que está “aprendendo a ler e escrever com o professor Sérgio, coisa que eu não tive oportunidade. É complicado um pouquinho, mas estou seguindo em frente, vivendo e aprendendo, esse é o meu lema. Para mim, ele não é só um professor, ocupa um lugar de paizão, que eu não tenho”.

Denise se refere ao professor do Senai-RS Sergio Guterres Nunes, que prepara alunos com deficiência intelectual e explica essa oportunidade. “É uma experiência única, costumo dizer que eu mais aprendo aqui do que ensino, porque cada dia é um desafio novo, uma conquista nova, cada passo que os alunos dão motivam cada vez mais a gente continuar. Não tem um adjetivo para definir qual é o sentimento de trabalhar com uma turma como essa”, ressalta o mestre.

Já dona Rosa acompanha de perto a evolução da filha. “É muito importante para mim, para ela e para toda a família. Ela está se desenvolvendo bem, e consciente do que quer. Nem as irmãs tinham noção de que ela seria capaz de se desenvolver tanto”, conta.

Outra estudante, Ingrid Luciane dos Santos, de 18 anos, deseja conquistar uma das vagas oferecidas pela indústria Epcos, também de Gravataí. Já trabalhou com promoção de vendas, mas quer mais. “É bom aprender, principalmente coisas relacionadas às peças, para quando eu chegar lá na firma seguir aprendendo. Meu sonho é ajudar a minha família trabalhando. Estou muito feliz em fazer esse curso”, comemora. Desde 2001, mais de 7 mil pessoas passaram pelas aulas do Psai, um incentivo à inclusão que oferece retorno para as indústrias.

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