Quatro condenados por queda de residência de estudantes no sismo de Áquila

Responsáveis por obras no edifício em 2000 foram acusados de homicídio involuntário. Este é o segundo caso a ser julgado, depois dos cientistas condenados no final do ano passado por não terem previsto o sismo.

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O sismo de 2009 fez mais de 300 mortos e destruiu muitos edifícios da cidade Alessandro Bianchi/Reuters

Um tribunal de Itália condenou quatro pessoas por uma residência de estudantes ter colapsado e matado oito pessoas durante o sismo que assolou a cidade italiana de Áquila em 2009 e que fez, no total, mais de 300 vítimas mortais.

De acordo com as conclusões do tribunal, citadas pela BBC, três dos arguidos foram considerados culpados por terem conduzido no ano 2000 os trabalhos de restauro da residência que foram considerados bastante deficientes. O quarto envolvido estava à frente da ADSU, a organização responsável em Itália pelas residências estudantis, pelo que também foi condenado.

O tribunal considerou que os técnicos de construção condenados incorreram num crime de homicídio involuntário. Os três responsáveis pela obra terão de cumprir quatro anos de prisão, enquanto o homem que tinha a responsabilidade pela segurança de todas as residências foi condenado a dois anos e meio de prisão.

A advogada de quatro estudantes que sobreviveram à derrocada que fez dezenas de feridos, Wania Della Vigna, numa reacção ao jornal Corriere della Sera, disse que “foi feita justiça”, ao ter ficado provado que “o desabamento se ficou a dever a uma falha humana e não ao tremor de terra”. A acusação alegou que os trabalhos desenvolvidos em 2000 no edifício causaram graves danos numa estrutura que já revelava problemas desde a década de 1960. Mas a defesa ao La Repubblica já disse que pondera recorrer da decisão, tendo para isso um prazo de 90 dias.

Além disso, o juiz  Giuseppe Grieco entendeu que os condenados terão ainda de pagar 100 mil euros de indemnização a cada pai que perdeu um filho. Ficam também impedidos de trabalhar em empreitadas públicas durante cinco anos.

Esta não é, contudo, a primeira situação relacionada com o sismo que chega a tribunal. Foi em Outubro do ano passado que um tribunal italiano condenou seis cientistas a seis anos de prisão por homicídio involuntário, devido a falhas de comunicação do risco sísmico à população de Áquila, antes de um tremor de terra que, dias depois, matou 309 pessoas. Uma condenação da qual os cientistas recorreram e que mereceu duras críticas por parte da comunidade científica, com pessoas a dizerem que os especialistas vão mudar a sua relação com a sociedade e ficar demasiado cautelosos ou alarmistas.

Na madrugada de 6 de Abril de 2009, um sismo de magnitude 6,3 graus atingiu a cidade italiana de Áquila, destruindo muitos dos seus edifícios históricos. Além dos danos pessoais e físicos, o caso não teria tido mais repercussões, se dias antes não tivesse havido uma reunião da Comissão Nacional para a Previsão e Prevenção de Grandes Riscos italiana e, em seguida, um dos seus membros não tivesse feito declarações públicas sobre o risco da ocorrência de um grande sismo.

No final da reunião, o então subdirector do Departamento de Protecção Civil italiano, Bernardo de Bernardinis, disse que a actividade sísmica elevada na região nos últimos tempos não constituía “nenhum perigo”: “A comunidade científica assegurou-me que estamos numa situação favorável devido à libertação contínua de energia sísmica.” E quando lhe foi perguntado se as pessoas podiam relaxar e “beber um bom copo de vinho”, ele respondeu “absolutamente”. Foi desta forma de comunicação do risco de um sismo que nasceu o caso que levou a tribunal seis cientistas e aquele responsável da protecção civil.
 
 

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