sábado, 4 de julho de 2015

Para Grizotti, uso de câmaras escondidas em reportagens é benéfica para sociedade

Foto: Beatriz Sanz
Para Giovani Grizotti, repórter investigativo do programa jornalístico Fantástico, da Rede Globo, o uso de imagens escondidas em reportagens se justifica pelos benefícios que suas revelações geram à sociedade. Na visão do jornalista, o uso da câmara escondida em uma reportagem de denúncia passou de principal prova de um crime para elemento complementar no processo de apuração jornalística.

"O interesse público que está por trás de uma imagem torna ético o uso da câmara escondida", ressaltou o jornalista em painel do 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji, sob moderação de Fernando Molica.

Grizotti relembrou o caso de um acidente de ônibus escolar causado por problemas mecânicos, em 2004, no município gaúcho de Erechim, que resultou na morte de 16 crianças. Uma reportagem produzida pelo jornalista utilizando câmera oculta revelou fraudes em laudos de vistoria para ônibus de excursão envolvendo o engenheiro responsável e resultou na abertura de sindicância pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul (DAER).

O repórter conta que em casos de maior repercussão, como no caso da "Máfia das Próteses", ele acompanha o passo a passo das investigações e, geralmente, é chamado para testemunhar no processo. Sua reportagem sobre o esquema, exibida pelo Fantástico em janeiro deste ano, denunciou o pagamento comissões a médicos pela venda de próteses e resultou em duas Comissões Parlamentares de Inquérito no Congresso Nacional.

Neste caso, Grizotti afirma que um dos representantes de uma empresa de próteses já tinha conhecimento sobre a investigação do Ministério Público, que corria em segredo, e sabia sobre a reportagem que viria ser publicada sobre o tema.

O reconhecimento, no entanto, é um problema para "o repórter sem rosto". Grizotti, que evita ser fotografado para garantir sua segurança, já fora reconhecido e ameaçado por pessoas denunciadas em suas reportagens. Além disso, conta, o vazamento de uma foto sua pode vir a prejudicar futuras investigações. 

Com 19 anos de experiência na cobertura investigativa da RBS, Grizotti ainda explicou sobre as técnicas que utiliza no processo de produção de uma reportagem. O repórter explica que, para evitar cair em eventuais armadilhas, nunca faz contato pessoal com suas fontes, exceto quando envolve recebimento de materiais. "A não ser que seja um funcionário público, só me encontro com fontes em shopping, praças e onde tem alguém observando', concluiu.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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