Por que debater a Lei de Proteção de Dados Pessoais?

Governo abre site para debate público sobre texto que será levado ao Congresso que definirá direitos de cidadão sobre seus dados, além de regras de coleta, armazenamento e uso de dados por terceiros

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Por Murilo Roncolato
Atualização:

SÃO PAULO – Começou nesta quarta-feira, 28, o debate público sobre um anteprojeto de lei que visa criar colocar ordem na forma como se coletam, armazenam, compartilham e processam dados e informações de pessoas físicas e jurídicas no Brasil. Usuários cadastrados no portal participação.mj.gov.br poderão comentar cada trecho do texto de lei, que possui 52 artigos.

A chamada Lei de Proteção de Dados Pessoais é um trabalho de pelo menos cinco anos do Ministério da Justiça, especificamente da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). Em entrevista ao Link Estadão, a secretária do Senacon, Juliana Pereira, explica que o primeiro debate sobre o assunto se deu em 2010, mas a evolução do projeto ficou comprometida diante do surgimento do Marco Civil da Internet (em 2011) e a relevância que o tema privacidade e manipulação de dados pessoais ganhou após Julian Assange (e o Wikileaks) e Edward Snowden (ex-técnico que vazou informações da agência nacional de segurança americana sobre o monitoramento em massa tocado pelo governo do país).

 

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“Tudo isso nos levou a mudar a proposta e, por isso, achamos mais democrático expor o texto à opinião pública de novo”, disse.

O anteprojeto visa dar ao cidadão o controle sobre suas informações pessoais. Lista direitos do cidadão sobre seus próprios dados (mesmo quando baseados em centrais de dados fora do País) e determina formas adequadas de tratamento por entidade do setor público ou privado.

Pereira diz que espera-se que, ao longo do debate, entre o pauta a criação de um novo órgão, com autonomia orçamentária e administrativa, com poder de fiscalização do cumprimento das regras e para regulamentar a atividade no País (chamada internacionalmente de Autoridade).

“Esse é o ponto mais emblemático do ponto de vista do Estado”, diz Pereira. Segundo a secretária, a ideia é esperar que a sociedade decida se o melhor é criar ou não um novo órgão, tema que pode ser polêmico. “Será que a população acha interessante um órgão autônomo para isso? É bom saber, para isso, que dos 100 países que possuem lei de proteção de dados, 90 têm Autoridade.”

O texto publicado no site do Ministério da Justiça se resume a fazer diversas menções a um “órgão competente”.

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Para a secretária, o País é carente de uma lei que reúna todas as regras quanto a coleta, guarda, compartilhamento e processamento de dados. Na sua ausência, as situações são decididas caso a caso. “O que é péssimo para todos.”

Segundo ela, a possível futura lei pode trazer “segurança jurídica” ao País, resultando potencialmente na vinda de empresas que lidam com dados e data centers mais robustos. “A ausência de uma legislação ainda é um entrave para esse tipo de investimento”, diz Pereira.

O MJ ressalta que é importante não encarar o processo como um “plebiscito” e que as contribuições, mesmo as muito populares, não serão necessariamente incluídas no “texto do Projeto de Lei que será encaminhado ao Congresso Nacional após a sistematização”. “Nesse sentido, os participantes devem tentar qualificar ao máximo suas contribuições para que os tomadores de decisão possam aproveitar da melhor forma possível as discussões nesse espaço, já que esse é o objetivo do processo.”

 

Além do anteprojeto de Lei de Proteção de Dados Pessoais, o governo abriu um portal de debate público para a regulamentação do Marco Civil da Internet, lei aprovada em abril do ano passado que agora terá suas minúcias definidas através de decreto presidencial.

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