Por karilayn.areias

Rio - A série "Sexo e As Negas", de Miguel Falabella, só deve estrear na terça-feira, mas já acumula onze denúncias de racismo na ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Falabella posa com as protagonistas de 'Sexo e As Negas'AgNews

Estereótipos racistas

Instituída pelo Estatuto da Igualdade Racial, a ouvidoria recebe, registra, encaminha e acompanha denúncias de discriminação e racismo, entre outras competências. Assim, ao receber as denúncias o órgão autuou a Rede Globo de Comunicação, em Procedimento Administrativo, nessa quarta-feira, solicitando informações e dando ciência do encaminhamento das acusações ao Ministério Público no Rio de Janeiro para que o órgão adote os procedimentos cabíveis (a exemplo de instauração de procedimento investigativo) caso entenda a ocorrência de alguma irregularidade ou crime.

Em nota, o titular do órgão, Carlos Alberto de Souza e Silva Júnior, informou que “vê com estranheza e preocupação qualquer tipo de manifestação que reproduza estereótipos racistas, machistas, que se alicerce na sexualidade das mulheres negras, ou venha a reforçar ideias de inferioridade dessas mulheres, seja nas artes, no cinema ou nas telenovelas e seriados”.

Para ele, os veículos de comunicação tem papel importante numa sociedade democrática e devem atuar no sentido de garantir os direitos das pessoas independente de sua cor/ raça, crença religiosa ou orientação sexual. “As produções televisivas deveriam refletir a diversidade da população brasileira em todos os seus segmentos, contribuindo para a consolidação de uma sociedade justa, plural e igualitária”, declara.

Leis na TV

Carlos Alberto Júnior lembra ainda que como concessões públicas as emissoras de televisão estão submetidas às leis brasileiras e a regulamentação específica imposta a esses veículos, na qual estão explícitas a proibição e o repúdio ao racismo e à discriminação.

O Conselho de Defesa dos Direitos dos Negros pretende divulgar nesta quinta uma nota de repúdio à série com base nas imagens mostradas nas chamadas veiculadas nos últimos dias na TV. "Estamos preocupados com o enfoque racista e machista contra a mulher negra que estão ali. Ainda devemos analisar se o conteúdo do programa será preconceituoso, mas já podemos ter uma ideia pelas divulgações que a emissora tem feita durante a programação", explicou Ana Rosa Oliveira, do Conselho, ao iG nesta quinta-feira.

'Que caretice é essa?'

Em meio polêmica, Miguel Falabella se manifestou no Facebook. O autor da série se mostrou indignado com a reação dos órgãos que representam o direito dos negros, que chamou de "caretice". "Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor".

Leia abaixo o texto da chamada da série que foi ao ar na Globo:

Direto da comunidade, quatro amigas chapa quente. Lia (Lilian Valeska) se vira nos trinta: "Gente, vamos ser objetivo, com dois mil e oitocentos não dá pra escolher" (mostra personagem com a filha). Tilde (Corina Sabbas) não faz nada contra a vontade: "Mas não depende só de você" (ela diz a um pretendente). Soraia (Maria Bia)? Soraia é fogo: "Tô enxergando mal ou o vendedor é um gostoso?" (comenta com as amigas). E Zulma (Karin Hils) no momento está ocupada: "Sou eu pai, vai dormir" (mostra a personagem aos beijos e abraços com um rapaz no escuro). Agora é tudo do jeito delas!

A assessoria da Globo informou que, até o momento, a emissora não recebeu qualquer ofício questionando o nome ou o conteúdo do programa.

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