Governo cria ‘gatilho’ do racionamento; medida pode ser adotada já em março

Se as chuvas não vierem até a primeira semana do mês que vem, o rodízio oficial deverá ser decretado

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Por Fabio Leite e Pedro Venceslau
Atualização:
Depois de semana de fortes chuvas, Sistema Cantareira registrou ontem alta de 0,2%, a terceira consecutiva Foto: Luis Moura/Estadão

Em meio à pior crise hídrica dos últimos 84 anos em São Paulo, o governo decidiu criar um “gatilho” para acionar o racionamento de água no Estado. A pedido do governador Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, definirá até o fim da semana um nível mínimo de segurança do Sistema Cantareira. 

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Se na primeira semana de março ele estiver abaixo do estipulado, será então decretado o rodízio oficial, medida que Alckmin tenta evitar. Com o mote “transparência e previsibilidade”, a ideia é divulgar publicamente o índice para que a população acompanhe o processo. 

Depois de uma semana de fortes chuvas em São Paulo, o Sistema Cantareira registrou ontem 5,6% da capacidade, incluindo duas cotas do volume morto. Isso significa um crescimento de 0,2% entre sexta e sábado. 

Nos primeiros sete dias de fevereiro, o volume de chuvas foi maior do que o registrado em todo o mês de fevereiro passado. 

Os seis sistemas que abastecem a Grande São Paulo receberam chuva entre quinta e sexta-feira, o que contribuiu para que tivessem altas significativas em seus volumes. 

O Cantareira abastece de água 6,2 milhões de pessoas na região metropolitana. Apesar de o sistema ter registrado três altas consecutivas nos últimos dias, o governo trabalha com o pior cenário. Mesmo se o nível dos reservatórios subir e as chuvas superarem as expectativas, o rodízio, que já vem sendo aplicado de forma oficiosa em 40% da Grande São Paulo, não será totalmente descartado. 

Cenário ideal. O cenário considerado ideal pelo governo paulista é conseguir administrar o fluxo de água sem que ele atinja o volume mínimo de segurança até outubro, quando recomeçará a estação de chuvas. 

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O quadro hídrico vem sendo monitorado pessoalmente pelo governador e sua equipe diariamente e debatido em reuniões que acontecem a cada dois dias no Palácio dos Bandeirantes. 

Se o “gatilho” não for acionado até maio, a probabilidade de não haver um rodízio oficial aumentará. Naquele mês, o governo espera concluir a transferência de água do sistema Rio Grande, que é um braço da Represa Billings, para a Represa Taiaçupeba, do Sistema Alto Tietê. A água passará por uma adutora de 11 km, que vai transferir 4 mil litros de água por segundo de um sistema para outro. 

Isso aumentaria a capacidade de produção do Sistema Alto Tietê e possibilitaria que ele socorresse bairros da capital que são abastecidos pelo Cantareira. O governo ainda não bateu o martelo sobre a extensão do rodízio, mas a reportagem apurou que três cenários estão sendo discutidos.

Possibilidades. Um deles prevê o rodízio só no Cantareira, que abrange, principalmente, a zona norte e a região central da capital. O problema nesse caso, segundo um interlocutor de Alckmin, é que isso exigiria um nível de interligação que o governo não pode garantir. 

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O segundo cenário prevê rodízio no Cantareira e no Alto Tietê, que inclui a zona leste, e o terceiro em toda Grande São Paulo, onde 20 milhões de pessoas são atendidas pela Sabesp.

A abrangência do rodízio é que vai determinar a quantidade de dias em que a população ficará sem água. A própria Sabesp cogitou um esquema de 5 por 2 (cinco dias sem água e dois com). Segundo o Estado apurou, a opção mais provável estudada é 4 por 2. A medida deve ser decretada até abril, início do período de estiagem, mas pode ser implementada em março, se a seca neste mês no Cantareira, que é o maior sistema, repetir o cenário de janeiro.

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