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iraEstados Unidos - Causa Operária - O aprofundamento da crise capitalista tem levado à Administração Obama apostar o grosso das fichas na aliança com os aiatolás iranianos, contra a saída de força promovida pela ultradireita.


O recente acordo entre o governo do Irã e o imperialismo representa a mais nova tentativa, liderada pela ala "esquerda" do imperialismo norte-americano (a Administração Obama e a maioria dos Republicanos não ligados ao Tea Party), com o objetivo de conter o ascenso da desestabilização do Oriente Médio.

As concessões ao regime dos aiatolás foram muito tímidas: a permissão para comercializar novamente ouro, petroquímicos, peças de carros e aviões, e, ao mesmo tempo, o descongelamento de US$ 4,2 bilhões. Em troca, pelos próximos seis meses, o Irã congelará o enriquecimento de urânio acima de 5%, diluirá o urânio enriquecido acima de 20%, não instalará mais centrífugas, congelará o reator de água pesada de Arak (que tem a possibilidade de produzir plutônio) e aceitará um exército de inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Ainda restam US$ 50 bilhões nos clientes asiáticos (China, Índia, Coréia do Sul, Turquia) e US$ 10 bilhões em bancos europeus que não podem ser repatriados.

O presidente Hassan Rouhani representa a ala do regime dos aiatolás favorável a um acordo com o imperialismo, ao qual se opõe a maioria da cúpula da linha dura do regime, a Guarda Republicana. O ministro das Relações Exteriores, Mohamed Javad Zarif, esteve de visita em Kuwait e em Omã recentemente, na tentativa de chegar a um acordo com o principal rival regional, a ultrarreacionária monarquia saudita.

Não é a primeira vez que a tentativa de um acordo desse gênero acontece. Após a invasão do Afeganistão em 2001, o governo do Irã foi um aliado dos norte-americanos contra al-Qaeda. Em 2003, o então primeiro ministro Khatami, por meio do governo suíço, colocou todas as cartas que tinha na mesa para chegar a um acordo com o imperialismo, incluindo o programa nuclear, o Hizbollah e até a normalização das relação com Israel. O acordo não avançou devido a que política do governo norte-americano estava orientada à imposição pela via militar, começando pelo Iraque, que deveria ter sido seguida pelo Irã. Na década de 1980, já houveram acordos nesse sentido, como o que estourou no conhecido escândalo Irã Contras, sobre o financiamento dos contrarrevolucionários nicaraguenses pela Administração Reagan, em cujo esquema teve um papel de primeira ordem o atual chefe dos serviços de inteligência saudita Bandar i Sultan, que está por trás do golpe de estado no Egito e dos mercenários na Síria.

O que está por trás do acordo?

O imperialismo impulsiona duas políticas para o Oriente Médio na tentativa de conter o avanço dos guerrilheiros nacionalistas e a desestabilização generalizada da região que avança em direção ao coração da região, a Arábia Saudita. A política impulsionada pela Administração Obama passa por uma aliança com o Irã com o objetivo de costurar uma frente única reacionária, após o fracasso da Irmandade Muçulmana no Egito, sob o fogo dos golpistas a soldo dos sauditas, e na Síria devido 1a incapacidade de conter a desestabilização.

A Irmandade Muçulmana (grupo de centro direita) tentou apresentar-se como uma terceira via entre a revolução, por um lado, e a ditadura (ultrarreacionária) saudita e a ditadura (nacionalista e mais moderada) do Irã. A monarquia da Arábia Saudita sabotou a Irmandade Muçulmana em todos os países.

Por que? Porque quanto mais o regime seja direitista a ameaça seria maior. Por incrível que possa parece ao senso comum, principalmente ao predominante na esquerda pequeno-burguesa, a al-Qaeda seria, para os sauditas, uma ameaça menor que a Irmandade. O regime "democrático" da Irmandade foi visto, na prática, no Catar e no Egito. Apesar de muito conservador, nem isso os retrógrados sauditas podem tolerar. Para a reação saudita somente é concebível uma ditadura feroz, que ainda venha a ficar mais truculenta. É possível que haja, no próximo período, um recrudescimento do radicalismo do wahabismo, a versão saudita do islã, na tentativa de conter o avanço da Irmandade Muçulmana, da al-Qaeda, dos xiitas e, principalmente, da revolução das massas de maneira independente da burguesia. O governo atual do Egito, apoiado pela Arábia Saudita, é muito conservador e com leis religiosas aplicadas na prática, talvez ainda piores que as da época da Irmandade.

A Arábia Saudita está alinhada com os sionistas israelenses e a ala de ultradireita do imperialismo norte-americano, que está agrupada no Tea Party, no interior do Partido Republicano.O aumento das contradições entre as duas políticas para o Oriente Médio mostra a profundidade da crise na região. Fica cada vez mais evidente que o imperialismo e a burguesia têm duas politicas distintas não somente para o Oriente Médio, mas também em escala mundial. A política pseudodemocrática do "morde/assopra" e a política dos chamados neoconservadores, que preconizam uma saída de força.

A Arábia Saudita no centro do ascenso da reação no Oriente Médio

Por que a Arábia Saudita e a ultradireita não confiam na política pseudo-democrática impulsionada pelo governo liderado por Barack Obama? O problema chave é que a crise capitalista tem atingido todos os países da Península Arábica, e se direciona a passos largos ao coração das reacionárias monarquias do Conselho do Golfo, a própria Arábia Saudita. A especulação imobiliária e os altos preços dos alimentos pressionam a inflação. As contas públicas estão apresentando sinais de esgotamento perante os bilhões que têm sido repassados para evitar o estouro da "primavera árabe", além do repasse da crise pelos países imperialistas, como, por exemplo, a imposição da compra de enormes volumes de armas. Em 2009, o preço do barril do petróleo caiu de US$ 147 para U$ 37. Uma nova queda brusca poderá levar todos esses países a um colapso de grandes proporções.

A Arábia Saudita é o ator político mais poderoso no Oriente Médio. Domina a maior parte da política local. É o verdadeiro ponto de apoio da política do imperialismo. Controla o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, além de exercer uma relação de forte pressão sobre o Omã, o Iêmen e a Jordânia, e agora sobre o Egito. A monarquia saudita, o coração da reação do Oriente Médio, injetou dezenas de bilhões na própria economia na tentativa de conter os protestos no País. Mas a contenção é extremamente frágil. A crise capitalista avança– escalada dos preços dos imóveis e dos alimentos; queda nas exportações do petróleo aos EUA devido ao aumento da produção a partir do xisto; aumentos dos custos com as compras de armas, pois este tem sido um dos mecanismos usados pelo imperialismo para repassa-lhe uma parte do peso da crise. A província da Região Oriental (Ash Sharqiyah), onde se encontram a maioria das reservas de petróleo, é habitada por uma maioria xiita, que representa a maioria da população de mais de 4 milhões de habitantes. Nessa região, os protestos têm sido cada vez mais frequentes a partir do segundo trimestre deste ano, com enfrentamentos com a polícia, mortes e prisões.

Conforme a crise capitalista tem se aprofundado e a desestabilização do Oriente Médio aumentado, as reacionárias monarquias do Oriente Médio e o imperialismo têm ficado aterrorizadas com qualquer liberdade, mesmo que pseudo-democrática. É esse o motivo por trás do recente golpe de estado que o filho do emir do Catar promoveu contra o próprio pai, o principal apoiador da Irmandade Muçulmana na região, como o principal instrumento de contenção das massas. Por trás do Catar, e do governo turco (que, recentemente, também endureceu o regime), se encontra o imperialismo europeu.

A Irmandade Muçulmana não conseguiu estabilizar o Egito devido à impossibilidade de viabilizar um colchão social de controle das massas. Existia o perigo do governo ser ultrapassado, o que criaria um perigo desestabilizador enorme, no coração do Oriente Médio, com alto potencial explosivo, pois criaria um novo foco de incêndio que se juntaria à Síria, Iraque, Afeganistão, Sahel etc.

O problema central no Oriente Médio, portanto, é a Arábia Saudita, pois é visível que está caminhando para a própria "primavera árabe". A crise econômica avança, o descontentamento e protestos na Província Oriental, habitada majoritariamente por xiitas, e onde se encontram localizadas as grandes reservas de petróleo, são frequentes. A ditadura é brutal, ultra-obscurantista e conhecida. A crise chegou a um grau tal que, recentemente, um dos príncipes rompeu com a monarquia e fez fortes denúncias sobre o regime, como a existência de 30 mil prisioneiros políticos e a repressão de qualquer indício de descontentamento em larga escala.

 


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