• Luciana Galastri
Atualizado em
  (Foto: Alan Levine / flickr/ creative commons)

(Foto: Alan Levine / flickr/ creative commons)

Nos últimos meses, lemos estudos sobre como assistir pornografia pode tornar nossos cérebros menores. Pesquisadores também notaram que fazer muitas tarefas ao mesmo tempo (o famoso multitasking) reduz a massa cinzenta. As associações com a diminuição cerebral se estendem: video games, comida gordurosa... e, agora, para a descrença de enxadristas do mundo, pesquisadores mostraram que jogar xadrez também encolhe o cérebro.

Para chegar a essas conclusões, apresentadas no periódico Neuropsychologia, os cientistas submeteram 20 enxadristas profissionais a análises através de ressonância magnética. Através da técnica, eles mapearam os cérebros - e os compararam com os cérebros de enxadristas iniciantes.

A comparação mostrou que os jogadores de elite possuem menos massa cinzenta na junção occipital-temporal (OTJ, na sigla em inglês). Essa área é conhecida por seu papel na compreensão da representação de objetos e suas relações com outros. Outra diferença foi que os jogadores profissionais possuem menos 'difusividade' no Fascículo Longitudinal Superior - uma área do cérebro associada com a comunicação, que manda informação visual para áreas que executam comandos. E, quanto mais 'veterano' o jogador era, menor era seu núcleo caudado - e essa área está envolvida no processo de tomada de decisões.

Mas não é estranho que as áreas cerebrais em que enxadristas profissionais apresentam redução sejam associadas com habilidades que os tornariam melhores jogadores?

De certa forma, como temos vergonha de nossas escapadas da dieta e do ~histórico de navegação~  parece menos absurdo que esses hábitos tragam uma compensação negativa. Mas xadrez?

E se contarmos que o encolhimento cerebral não é necessariamente uma coisa ruim? De acordo com o neurocientista Christian Jarrett (que escreve uma coluna incrível na Wired), nem sempre um cérebro maior é sinônimo de mais eficiência. Por exemplo, elefantes e baleias possuem cérebros enormes - se eles fossem diretamente proporcionais ao cérebro humano, seriam eles que dominariam o planeta. Ao mesmo tempo, abelhas têm cérebros diminutos e cientistas as consideram animais extremamente inteligentes.

Fugindo dessas comparações, um cérebro mais compacto pode ser sinal de eficiência neural. Músicos possuem material neural mais compacto em áreas associadas com o controle das mãos do que pessoas que nunca tocaram um instrumento. E essa 'compactação' vai caindo com a idade, quando passamos a apresentar uma queda na performance cognitiva.

Os cientistas responsáveis pela pesquisa sobre os enxadristas afirmam que 'é difícil explicar suas descobertas com base no conhecimento atual'. Porém uma coisa é certa: em relação ao cérebro, tamanho nem sempre é documento.