Recursos Humanos
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Rafael Souto

Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da consultoria Produtive Carreira e Conexões com o Mercado. Especialista em planejamento e gestão de carreira de executivos.

Valor


Escrevo nesta coluna há seis anos e atuo como consultor de carreira há 23 anos. Por isso, tenho a constante oportunidade de conversar com executivos dos mais variados setores.

A cada ano fico mais intrigado com a proliferação dos jargões corporativos. Mesclar palavras em outro idioma no meio das frases parece ser uma estratégia para dar credibilidade aos discursos, que muitas vezes são confusos e vazios. Dar notícias difíceis com uma série de expressões complicadas é entendido como um bom método para deixar a audiência menos irritada.

Lucy Kellaway, jornalista e ex-colunista do "Financial Times", chamava esses jargões e clichês de besteirol corporativo. Como mestre desta arte, ela citou Howard Schultz, ex-presidente e membro do conselho da Starbucks, que falava frases como "experiência ultra imersiva e super premium em cafés" ou "estamos 110% comprometidos com nossos clientes".

O professor de psicologia da Universidade americana de Princeton, Danny Oppenheimer, fez um estudo sobre o tema e mostrou que o uso de palavras complexas para expressar ideias simples é interpretado como sinal de baixa inteligência e pouca credibilidade. A conclusão é que a mensagem clara e direta tem impacto muito maior do que comunicações complicadas.

Embora o interlocutor fique com a sensação de que está impressionando positivamente ao comunicar-se de forma complexa, no fim das contas, é interpretado de maneira negativa. Na verdade, o vocabulário erudito e cheio de clichês só atrapalha.

O que parece é que boa parte dos executivos não compactua com as ideias do professor Opperheimer. Expressões como downsising, alinhamento, branding, follow-up, disruptivo, deadline, expertise, digital-first, enchem as reuniões de negócios e os textos corporativos.

Outra pesquisa publicada na "Harvard Business Review" pela professora Karen Mazurkewich afirma que líderes de empresas iniciantes que buscam investimentos obtém 50% a mais de sucesso quando fazem suas apresentações sem jargões técnicos e de forma simples e clara. Quanto mais diretos forem os discursos de apresentação, mais chances eles têm de serem atrativos para os investidores.

Conversando com executivos em uma visita recente, perguntei como estavam os resultados da empresa e eis o que ouvi: "neste Q2 estamos flat em relação ao ano passado". Talvez fosse melhor dizer: "neste segundo trimestre, estamos com resultados fracos", ao invés de incluir Q2 (quarter 2), e flat. Provavelmente a situação era bem mais grave do que isso e as expressões em inglês poderiam aliviar um pouco a própria pressão interna.

Quando observamos as conversas do momento de demissão, os clichês e as frases complicadas ganham contornos circenses. Alguns memorandos falam em: "otimizar recursos para maximizar resultados". Quando, no fundo, todos sabem que a empresa está demitindo porque os resultados não foram satisfatórios e a organização precisa sobreviver. Ou ainda, quando um executivo é demitido, a expressão favorita é "chegamos à conclusão que deveríamos encerrar um ciclo".

O mais intrigante dessa questão é que as pessoas sabem o que está por trás da comunicação rebuscada. Talvez alguns iniciantes fiquem impressionados pelas expressões sofisticadas. Mas a maioria dos funcionários percebe a ideia obscura ou a falta de clareza na comunicação.

Essa provocação também cabe para o setor em que atuo. Consultorias são hábeis em criar complexidade no lugar de comunicações mais diretas e objetivas. Muitas vezes são as consultorias que constroem os jargões que depois caem no gosto dos executivos.

Estamos em uma fase de profunda reflexão e transformação dos negócios. Muitas empresas criaram grupos de inovação para liderar as mudanças. Um dos desafios desses projetos é estimular comunicações claras. Construir uma cultura de simplicidade é uma potente forma de conectar pessoas e negócios. Essa comunicação transparente cria confiança e deixa as pessoas mais seguras. Ou traduzindo para o jargão de recursos humanos: "é uma estratégia contemporânea de engajamento dos colaboradores".

Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado

Mais recente Próxima

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais de Carreira

Carreira

Segurança da informação ganha relevância, mas gestores da área têm dificuldade para “traduzir” os riscos para o alto escalão

Líderes de cibersegurança dizem que falta entendimento do C-level

Carreira

Objetivo do levantamento é entender como as organizações estão se movimentando para conferir maior heterogeneidade em seus quadros de funcionários, o que têm feito para diminuir as desigualdades salariais e de condições de trabalho

Pacto Global vai mapear ações de diversidade no Brasil

Carreira

Confira a movimentação executiva da semana

ADM tem novo VP de nutrição humana

Carreira

O colunista Rafael Souto escreve sobre a necessidade de líderes saberem como lidar com os melhores profissionais a fim de fazer com que eles permaneçam na empresa

O efeito devastador de ignorar os talentos

Carreira

Pesquisa também apontou que mais da metade das empresas não utilizam a tecnologia em processos de transformação organizacional

Maioria dos profissionais não se sentem maduros para usar a IA no trabalho

Carreira

Papel começa a se distanciar da área de compliance e a se aproximar da estratégia

O que está mudando na função do diretor de sustentabilidade

Carreira

A colunista Sofia Esteves fala sobre o conceito ‘skills-based’, que olha para competências e não as qualificações formais, como diplomas ou anos de experiência em uma determinada empresa, área ou cargo

A abordagem que valoriza habilidades funciona?

Carreira

Especialistas dão dicas para desenvolver a empatia, trazendo resultados positivos para equipes e negócios

Como ser um chefe mais empático

Carreira

Apresentadora do podcast "Working it" do FT lança livro com aprendizados sobre o mundo do trabalho

5 segredos sobre o sucesso no trabalho

Carreira

Pesquisa exclusiva analisa 188 mil registros em canais de 710 empresas

Denúncias de assédio no trabalho aumentam 23%