• Susana Berbert I Edição: Vinicius Galera de Arruda
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poty_lazzarotto (Foto: Poty Lazzarotto/Divulgação)

Com raízes antigas, obras sobre o campo continuam atraindo leitores (Foto: Poty Lazzarotto/Divulgação)

De livros da antiguidade clássica como As bucólicas, de 30 a.C, até monumentos modernos como Grande sertão: veredas, de 1956, grandes obras literárias foram criadas a partir da relação do homem com a terra.

No Brasil, o interesse na produção de obras voltadas à natureza e ao campo sempre foi latente e manifesta-se desde a literatura colonial. “Em 1705, Música do Parnaso, de Manuel Botelho de Oliveira, contém o longo poema "A ilha de Maré", que exalta a excelência do clima, a fertilidade da terra baiana e a superioridade de suas frutas”, conta José De Paula Ramos JR., doutor em Literatura Brasileira e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP).

Apesar da preocupação em retratar as paisagens naturais do país, segundo De Paula foi apenas a partir do Romantismo que o interesse pelo campo e pela vida rural se manifestou como uma corrente literária permanente. O chamado regionalismo foi fundado por escritores como Franklin Távora, José de Alencar, Visconde de Taunay e Bernardo Guimarães.

Mas foi no século XX, com a segunda geração modernista, que o movimento ganhou características mais definidas. Em meio a um período de modernização que teve início na República Velha e desdobramentos que duraram até a revolução de 1930, autores como Graciliano Ramos e José Lins do Rego tinham o propósito de transfigurar artisticamente a realidade.

O professor afirma que imaginário regionalista não é exclusividade brasileira, mas um fenômeno universal. “Na literatura internacional há inúmeros exemplos de obras dedicadas à vida e à paisagem camponesa”, diz. Como exemplo, ele cita o escritor francês Frédéric Mistral que no ano de 1904 recebeu o prêmio Nobel de Literatura pela suas obras ligadas ao ambiente natural da região de Provença, na França, e à cultura de seu povo.

Com raízes tão antigas, as obras ligadas ao campo continuam atuais e tangem temas que atraem os leitores do século XXI. O sucesso, que fez com que o estilo não ficasse restrito ao regionalismo, mas se perpetuasse em diversos livros que se tornaram clássicos da literatura brasileira e mundial, se deve ao diálogo constante que a literatura deve fazer entre tradição e atualidade. “Assim como a vida, a literatura se modifica com as transformações históricas. Daí decorre a retomada de temas já visitados, mas que se atualizam segundo novas perspectivas estéticas e ideológicas”, diz De Paula.

Pensando na vasta quantidade de obras situadas no campo e voltadas para a vida rural, fizemos uma lista com 16 dicas de leitura para você conhecer melhor o campo a partir da imaginação dos escritores.

bucólicas_livro (Foto: Editora Unicamp / Divulgação)

As Bucólicas, de Virgílio
(Foto: Editora Unicamp / Divulgação)

1) As Bucólicas
Em As bucólicas o leitor tem um encontro com a poesia pastoril, imbuída de musicalidade. Acredita-se que a coleção do poeta latino Virgílio foi publicada em torno de 39-38 a.C.

2) Grande Sertão: veredas
Em 1952, Guimarães Rosa realizou uma viagem de 240 quilômetros pelo sertão do Brasil. Os dez dias ao lado de uma boiada ajudaram a inspirar Grande sertão: veredas. Publicado em 1956, o livro é tido como um dos mais importantes da literatura brasileira. A história narra a vida de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, medos e o amor reprimido por Diadorim.

3) São Bernardo
Publicada por Graciliano Ramos em 1934, a história é narrada em primeira pessoa pelo personagem Paulo Honório. Em mais de 250 páginas, ele conta ao leitor sobre sua vida e as decisões que tomou para melhorá-la até tornar-se fazendeiro.

4) Vidas secas
Também de Graciliano, Vidas secas, publicado em 1938, narra a miserável vida de uma família de imigrantes que é forçada a mudar-se por causa da falta de água. A escrita com poucos adjetivos remete ao ambiente árido e envolve o leitor na dura realidade enfrentada pelo homem no sertão.

o_quinze (Foto: Grupo Editorial Record / Divulgação)

O Quinze,  (Foto: Grupo Editorial Record / Divulgação)

5) O quinze
Publicado em 1930, o romance de Rachel de Queiroz baseia-se na intensa seca que assolou o nordeste brasileiro no ano de 1915 e conta a saga de retirantes que sofreram com a fome na época.

6) Os Sertões
Em 1897, Euclides da Cunha foi enviado ao norte da Bahia pelo jornal O Estado de S.Paulo para cobrir o conflito no arraial de Canudos. A expedição deu origem ao livro, considerado um dos grandes intérpretes do Brasil. A obra é dividida em três partes: a terra, o homem e a luta, e foi publicada em 1902. 
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7) Cacau
Publicado em 1933 e com um grande apelo social, Cacau é situado nas regiões cacaueiras no sul da Bahia. Narrado em primeira pessoa, o livro de Jorge Amado conta a história de José Cordeiro, também conhecido como Cearense, que trabalhava em uma fazenda da região que foi o grande polo brasileiro de produção do fruto.

8) O gaúcho 
O cearense José de Alencar, nascido em 1829, foi um dos autores que mais se debruçou na tentativa de registrar as regiões do Brasil em suas obras. Em 1870 com O gaúcho, explorou o Sul do Brasil, focalizando os Pampas, suas paisagens e tipos humanos. Logo em seguida, em 1871, foi publicado O tronco do ipê, que aborda a decadência da região do café no vale do Paraíba, no Rio de Janeiro do século XIX. Em 1872 foi a vez do interior paulista ser retratado nas obras de Alencar. Til, título do livro, é o apelido da jovem Berta, principal personagem da história que vive em uma fazenda no interior de São Paulo. Três anos depois foi publicado O sertanejo. A história se passa no Nordeste e tem como personagem principal Arnaldo Loureiro, vaqueiro cearense. Por meio do dia a dia de Arnaldo é possível ter um panorama da região na época.
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fogo_morto (Foto: Grupo Editorial Record / Divulgação)

Obra-prima de José Lins do Rego
(Foto: Grupo Editorial Record / Divulgação)

9) Fogo Morto
Considerado a obra-prima de José Lins do Rego, Fogo morto também é considerado uma das obras síntese do regionalismo brasileiro. Publicado em 1943, o livro, um dos cinco que integra o chamado “ciclo da cana-de-açúcar” do escritor, retrata a decadência dos engenhos de cana nordestinos e traça um perfil das figuras que giravam em torno dessa atividade econômica.

10) A escrava Isaura
Escrito pelo mineiro Bernardo Guimarães, o romance conta a história de Isaura, escrava branca dominada por Leôncio, seu senhor. Escrito em 1875, foi adaptado para televisão no ano de 1976 na novela A escrava Isaura.
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11) Lavoura arcaica
Lançado em 1975, o livro faz referência à parábola cristã o filho pródigo ao contar a história de André, um jovem que vive em conflito entre a paixão que nutre pela irmã e a rigidez de sua criação. Pressionado, ele decide abandonar a família, que vive no ambiente rural. O livro de Raduan Nassar ganhou diversos prêmios e é uma das principais referências da literatura brasileira contemporânea.

12) A bagaceira
Outro marco do regionalismo nordestino, A bagaceira, de José Américo de Almeida, foi publicado em 1928 e se passa entre os anos de 1898 e 1915, períodos de seca no Nordeste. A obra evoca o êxodo rural e o sofrimento vivido pelos sertanejos na época.

auto_da_compadecida (Foto: Editora Agir / Divulgação)

A peça foi adaptada ao cinema e o filme foi
lançado em 2000 (Foto: Editora Agir / Divulgação)

13) Auto da compadecida
A peça teatral de Ariano Suassuna se passa no Nordeste brasileiro e conta as aventuras da dupla João Grilo e Chicó. Escrita em 1955, é recheada de bom humor e da cultura local. Um filme adaptado da peça foi lançado 2000 é um dos maiores sucessos do cinema brasileiro.

14) As Vinhas da Ira
Publicada em 1939 pelo norte-americano Johan Steinbeck, As vinhas da ira é narrado durante a Grande Depressão dos Estados Unidos na década de 1930. A história contada é a da família Joad, que parte de suas terras em busca de trabalho nos pomares, algodoais e vinhedos da Califórnia. Além do livro, clássico, a adaptação do livro para o cinema se tornou famosa sob a direção de John Ford.

15) Orgulho e preconceito
Orgulho e Preconceito foi escrito por Jane Austen, famosa escritora inglesa que nasceu em 1775 no interior do país. O romance foi publicado em 1813 e se passa no final do século XVIII. Seu enredo gira em torno de Elizabeth Bennet, jovem de vinte anos que vivia com sua família em um ambiente rural da Inglaterra, e do seu romance com o jovem Darcy. A obra foi adaptada ao cinema e lançado em 2006 no Brasil sob o mesmo título do livro.

16)  Anne of Green Gables
Considerado uma obra juvenil, Anne of Green Gables foi publicado em 1908. A história fala sobre a vida de Anne Shirley, uma menina órfã de 11 anos enviada para crescer em uma fazenda. O romance da escritora Canadense L.M Montgomery é considerado um clássico e também foi adaptado para o cinema.