Adriano Canabarro Teixeira
Doutor em Informática Aplicada em Educação, pós-doutor em Educação, professor e pesquisador do Curso de Ciência da Computação e dos cursos de Mestrado e Doutorado em Educação da UPF.
Contato: teixeira@upf.br
Meu desejo era ter escrito este texto no mês passado, mas na época precisei me render à importância da temática do Marco Civil da Internet (*). Porém, como o argumento que proponho é contemporâneo e urgente, desenvolvo-o nesta edição. O título da coluna aponta para a mesma direção das discussões feitas durante o 3º Seminário Nacional de Inclusão Digital, realizado no período de 28 a 30 de abril último. No evento, pesquisadores, professores e estudantes discutiram as incoerências de, em um mundo de abundância, ainda termos uma educação baseada na escassez. Contamos hoje com uma abundância de oportunidades de acesso à informação, de construção de processos coletivos de discussão, de representações de informações e de opções de escolha sobre temas que de fato nos interessam.
Durante o evento recebemos a visita do pesquisador italiano Roberto Maragliano, que foi enfático ao afirmar que uma criança de 3 anos provavelmente não mais desejará - e, a bem da verdade, não precisará - cursar o ensino médio, uma vez que já teve acesso a tudo aquilo que a educação regular poderia oferecer, e muito antes. Agora gostaria de esclarecer os motivos que me levaram a este tema. O modelo Escolar e Universitário - e veja que ao utilizar maiúsculas iniciais estou me referindo às instituições Escola e Universidade - é baseado em algumas premissas claramente advindas do modelo europeu, portanto com centenas de anos de idade, e que não são nem adequadas ao momento e nem capazes de lidar com as demandas contemporâneas. Perceba que o grande desafio da Escola e da Universidade é o de formar alguém para um futuro imprevisível. Sim, imprevisível! Pense em uma criança de 3 anos e tente adivinhar a atividade que ela estará desempenhando daqui a 15, e não esqueça que mais da metade das profissões possíveis sequer foram inventadas em 2014.
Como, então, as instituições de ensino poderiam, dentro de uma lógica feita de anos, currículos, disciplinas e conteúdos programáticos, mostrarem eficiência na formação do indivíduo? Pensar o contrário seria como acreditar que, dentro de um mundo de profundas mudanças, ainda é possível antecipar aqueles conteúdos específicos que serão necessários ao futuro de nossas crianças. A lógica da Escola assume a ideia de que existiria um local e um tempo específico para aprender. Não é assim? Afinal os estudantes precisam se deslocar até um local específico (escola), em um horário predeterminado, para escutar alguém (o professor) falar de um assunto sobre o qual ele não teve a mínima possibilidade de escolha. Essa concepção ignora que, no mundo contemporâneo, a partir de seus dispositivos conectados à internet, as crianças podem encontrar informações de qualidade e espaços ricos de interação que, somados, oferecem possibilidades reais de aprendizagem. E a sociedade já começa a dar claros sinais no sentido de que, mais do que o diploma, é o conhecimento que interessa, indiferente ao local onde foi construído.
Meu espaço se encerra aqui, mas posso voltar a tratar do assunto com mais profundidade em outras colunas. Para finalizar, quero deixar claro que não sou contra a educação, a Escola ou a Universidade, mas não posso ignorar que o modelo centenário que reproduzimos há muito tempo mostra claros sinais de desgaste e ineficiência.
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[Somando de Janeiro 2014]
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