terça-feira, 18 de agosto de 2015

O medo

O medo de levantar para dançar e parecer ridículo, o medo de encarar a terapia, o medo de ser diferente e incompreendido, o medo de declarar “eu te amo” e não ser correspondido. O medo.

Quantas vezes me senti literalmente paralisada pelo medo, uma inércia que gelava meus ossos. Quantas vezes não agi pela incerteza quase certa que esse sentimento me causava. Inúmeras vezes, perdi a conta.

Esses dias li uma das melhores definições sobre esse sentimento, em alguns dos textos da Paula Abreu: o medo é uma viagem no tempo. Porque ora estamos paralisados pela memória de uma situação passada e não agimos com receio de que ela se repita, ora pela ideia das possíveis consequências no futuro. Ou seja, raramente o medo está fincado no agora.

E isso é tudo obra da nossa magnifica mente que tem a capacidade de criar mundos paralelos tão reais, que sequer nos damos ao trabalho de questionar a sua verdadeira existência.

Por vezes nos deparamos com o discurso insistente que prega a vivência no dia de hoje, na hora de agora, no minuto que dá voltas no relógio neste instante, um papo às vezes sem sentido em tempos ansiosos.

Você tenta exercitar o carpe diem antes de entendê-lo. Mas a sua compreensão é singela: quanto mais presentes nós estamos, mais conseguimos desenvolver a capacidade de olhar para esses mundos mentais paralelos, entender a sua “psico-criação” e desfazê-los. Consequentemente nossa mente retorna ao que realmente existe, o agora.

Assim as experiências negativas do passado ganham menor importância, eis que já se foram, e o futuro poderá ser criado livremente, sem expectativas.

Não que o medo irá magicamente embora. Ele continuará lá, te encarando com olhos inquisitivos, pedindo atenção e inércia, mas você será capaz de estufar o peito e dizer: “medo, fica por ai quietinho enquanto eu dou uma volta pelo mundo, para tomar o que me pertence”.

De repente você levanta para dançar e entende que todo mundo é um pouco cômico quando balança os quadris. Encara a terapia e acalma os monstros que permaneceram turbulentos por anos em você. Assume sua diferença e cessa o esforço inútil e desnecessário em tentar ser igual, afinal, o mundo seria uma chatice sem fim caso todos fossemos idênticos. Declara “eu te amo” encantando-se com a beleza de liberar esse sentimento e caso o outro queira compartilha-lo, a vantagem será maior ainda.

E o medo fica lá, no cantinho, com ares de perplexidade pela dimensão que a vida ganha, tornando-se cada vez menor frente à grandiosidade que todos nós somos. Quem sabe um dia, quase como um milagre inesperado, ele desaparece e notamos que o maior medo, mesmo, era em ser feliz.

Um comentário:

  1. hahahah! que perfeição!!! Exatamente a definição do "eu me sinto assim". O medo que traz insegurança, que faz perder oportunidades, que te deixa "quietinho", deixando passar o melhor da vida... ah medo bobo de viver intensamente de um modo único, do seu próprio jeito! Perfeito, Beliza! Parabéns!!!! Que tenhamos coragem para viver sem medo! bjão!

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