Opinião

A conta do aparelhamento de fundos de pensão

Lideranças petistas começaram a avançar sobre entidades no início da década de 90, para usá-las no que viria a ser o projeto lulopetista de poder. Não tem dado certo

Grandes investidores institucionais no mercado financeiro e também com participação direta em empresas, os fundos de pensão de empresas estatais têm uma história antiga. O maior e mais tradicional, o Previ, surgiu em 1904 como Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil. Outros, menos longevos, como Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica) são da década de 70, mas têm, mesmo isoladamente, elevado calibre financeiro. Somados, constituem uma forte musculatura no mundo dos altos negócios.

Reportagens do GLOBO, publicadas domingo e segunda, relatam como o PT teve esta percepção e, por meio do seu braço sindical, a CUT, idealizou e executou, a partir do início da década de 90, um plano de ocupar fundos de estatais, para usá-los como instrumento de governo. A iniciativa partiu do então presidente do Sindicato dos bancários de São Paulo, Luiz Gushiken, já falecido, à época futuro ministro da Secretaria de Comunicações de Lula. Nenhuma novidade nisso, porque o tucano Fernando Henrique Cardoso mobilizaria fundos de pensão no programa de privatizações do seu governo. Mas, sob Lula, aconteceu algo bem mais amplo: um enraizado e abrangente aparelhamento dos principais fundos, em que, de resto, a CUT já dava as cartas.

Resultado disso é que se somam aos prejuízos derivados da conjuntura de crise aqueles causados por operações temerárias influenciadas por interesses políticos e ideológicos do PT e aliados, além de perdas provocadas por malfeitos.

Um negócio emblemático, símbolo de gestão temerária, inspirado em atos de vontade sem pé na vida real, é a Sete Brasil, criada em 2011 pela Petrobras, bancos privados (Bradesco, BTG, Santander), além do fundo de investimentos do FGTS, de Previ, Petros e Funcef. Estimularia estaleiros a montar plataformas no Brasil, e as compraria para alugá-las à Petrobras. Um programa típico do “Brasil Grande” da ditadura. Não deu certo. Ainda não se sabe quanto do prejuízo caberá aos fundos. Esta é uma operação que só se viabilizaria com o aparelhamento dos fundos, sem falar no BNDES.

Há pelo menos uma grande intercessão entre fundos e esquemas do caixa dois petista, ainda a ser conhecida à medida que avancem as investigações da Lava-Jato. Eles também aparecem na famigerada cooperativa habitacional Bancoop, dos bancários de São Paulo, fundada quando o agora ministro Ricardo Berzoini presidia o sindicato, e também por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso em Curitiba.

Em agosto do ano passado, o conjunto de Petros, Funcef e Postalis (Correios) acumulava um déficit de R$ 29,6 bilhões. Parte terá de ser coberta por aumento da contribuição dos associados. Outra parcela será empurrada para empresas “mantenedoras”, um rombo que no final baterá no Tesouro. E assim os contribuintes em alguma medida pagarão pela aventura, iniciada na década de 90, de tomada de assalto de fundos pelo PT.