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4 motivos para não acreditar no boato que liga vacinas vencidas ao zika vírus

4 motivos para não acreditar no boato que liga vacinas vencidas ao zika vírus

A disseminação de informações mentirosas pode fazer as mulheres não se protegerem adequadamente do mosquito Aedes aegypti

ANA HELENA RODRIGUES, COM EDIÇÃO DE MARCELA BUSCATO
10/12/2015 - 20h54 - Atualizado 10/12/2015 21h07

Circula pelas redes sociais um boato de que o surto de microcefalia no país, a deficiência no desenvolvimento do cérebro de bebês, não é causado pela infecção de mulheres pelo zika vírus durante a gravidez. Internautas têm espalhado a informação - falsa - de que os casos são resultado de vacinas de rubéola vencidas, aplicadas em gestantes. A mensagem mentirosa é um risco para a saúde pública. 

O mosquito Aedes aegypti. Ele transmite o zika vírus, que pode causar microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas na gravidez (Foto: Thinkstock)

>> O que é microcefalia

A informação não tem cabimento por alguns bons motivos:

1) As mulheres grávidas não são vacinadas contra a rubéola. O calendário nacional de vacinação prevê que essa imunização deve ser aplicada aos 15 meses de vida. É possível tomar essa vacina em outros momentos da vida, mas nunca durante a gestação. A vacina contra a rubéola é especialmente indicada para mulheres em idade fértil – entre 15 e 29 anos – para evitar a contaminação de rubéola durante a gravidez. As mulheres grávidas que não foram vacinadas antes da gestação devem receber a vacina somente após o parto.

>> O que é o zika vírus

2) Todas as vacinas distribuídas pelo Ministério da Saúde são seguras. Não há nenhuma evidência científica publicada no Brasil ou em outro país de que haja relação entre as vacinas e a microcefalia. Em nota, o Ministério da Saúde afirma que o controle de qualidade das vacinas é realizado pelo laboratório produtor obedecendo a critérios padronizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Após aprovação em testes de controle do laboratório produtor, cada lote de vacina é submetido à análise no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) do Ministério da Saúde.

3) Ainda que por alguma hipótese uma vacina esteja vencida, o vírus atenuado, presente na vacina, não tem condições de causar uma infecção tão grave. "Não existe a possibilidade da microcefalia ser causada pelo vírus vacinal da rubéola”, diz a médica-infectologista Thaís Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

4) Em outros países, o zika vírus também causou microcefalia. A informação do boato de que não existe relação entre o zika e deficiência de desenvolvimento não é verdadeira. Em 2013, quando houve uma epidemia na Polinésia francesa, as autoridades de saúde locais não perceberam a relação imediatamente. Após a notificação feita pelo Brasil à OMS, a Polinésia analisou os dados de nascimentos no período em que a infecção por zika era endêmica e percebeu a mesma relação. Relatórios divulgados pelos pesquisadores confirmam, até agora, 17 casos de microcefalia entre 2013 e 2014 na Polinésia. O número parece pequeno frente aos 1.761 casos brasileiros, porém, é preciso considerar que a população da Polinésia Francesa, cerca de 280 mil pessoas, é muito menor do que a população do Brasil, que ultrapassa os 200 milhões. A relação aparece mais nítida no Brasil porque a amostragem é muito maior: aqui, nasceram 2.913.121 crianças somente em 2014.

Esse tipo de mensagem enganosa que circula pelas redes sociais é muito perigosa. Neste momento, o mais importante é levar informações corretas às gestantes para que elas possam se proteger adequadamente do mosquito Aedes aegypti, transmissor do zika vírus. Caso as pessoas acreditem que a causa da microcefalia foram vacinas vencidas, podem relaxar na proteção - roupas compridas, uso de repelentes e evitar expor-se ao mosquito - e ficarem vulneráveis à infecção. Na dúvida, não compartilhe informações cuja veracidade você não pode verificar. Com informação não se brinca – muito menos quando ela envolve vidas.

>> Como se proteger do zika vírus

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