Morre Ruy Mesquita, do Estado, aos 88 anos

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Morre Ruy Mesquita, do Estado, aos 88 anos

Jornalista e acionista do Grupo Estado participou da história das últimas seis décadas da mídia brasileira e ocupava o cargo de diretor de opinião do Estadão


21 de maio de 2013 - 9h13

Morreu na noite desta terça-feira, 21, o jornalista e acionista do Grupo Estado Ruy Mesquita. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, onde se tratava de um câncer de língua. Neto de Julio de Mesquita, fundador do jornal, Ruy era um dos representantes da terceira geração em posto de comando da empresa, tendo começado nas redações como editor de Internacional em 1948. Foi um dos responsáveis pela criação e direção do Jornal da Tarde, a partir de 1966 e, com a morte do seu irmão Julio de Mesquita Neto, em 1996, passou a responder pela direção de O Estado de S.Paulo. Um ano depois, assumiu também a presidência do Conselho de Administração do Grupo Estado, cargo que ocupou até 1998.

Teve um papel central na direção do Estadão até 2003, quando um processo de reorganização afastou todos os membros da família Mesquita de cargos de gestão e jornalísticos, mantendo-os apenas como acionistas e membros do Conselho de Administração. Ao Dr. Ruy – tratamento dado a ele na empresa – foi reservado um posto especial como diretor de opinião, responsável pelos editoriais do título.

Como diretor de opinião, Ruy Mesquita ainda frequentava a sede do jornal, no Limão, em São Paulo. A rotina foi alterada com o agravamento de seu estado de saúde, quando sua presença se tornou cada vez mais rara. Acompanhou de perto as grandes mudanças editoriais no jornal e coberturas emblemáticas do título até o processo que instalou a gestão profissional e independente das empresas do Grupo Estado. Em julho do ano passado, um membro dos Mesquita voltou à gestão com Francisco Mesquita Neto ocupando a presidência executiva do grupo, que completou 138 anos em janeiro.

Ruy Mesquita nasceu em 16 de abril de 1925, em São Paulo. Aos sete anos, a família exilou-se em Portugal, após a derrota dos paulistas na Revolução Constitucionalista, em cuja campanha contra Getúlio Vargas o jornal foi preponderante. As tensões com o governo Vargas se intensificaram, o que obrigou o pai de Ruy Mesquita, Julio de Mesquita Filho, a um novo exílio, desta vez na França. Ruy Mesquita frequentou a Escola de Direito do Largo São Francisco, mas não terminou o curso, tendo se transferido para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

A partir do final dos anos 1940, dedicou-se exclusivamente ao jornal e a articulações políticas e familiares. Com a censura promovida pelo Ato Institucional nº 5, rompeu com o governo militar, ao qual o grupo foi inicialmente favorável, segundo perfil publicado pelo Estadão. Sob sua orientação, o jornal divulgava receitas de bolo e poemas de Luis de Camões em espaços onde estariam notícias que foram censuradas pela ditadura militar. O Estadão tornou-se, a partir de então, um foco de resistência aos militares.

Quando recebeu o Prêmio Personalidade da Comunicação 2004, concedido durante o 7º Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, Ruy Mesquita afirmou que temia que os interesses comerciais suplantassem a vocação dos jornais, em um processo que chamou de “murdochização”, em referência ao magnata australiano radicado no Reino Unido Rupert Murdoch. “O bom jornalismo corre o risco de ficar em segundo plano e dar lugar, na lista de prioridades das empresas de comunicação, aos interesses comerciais e à busca do lucro a qualquer preço”, afirmou, em discurso de agradecimento pelo prêmio. “As pessoas se esqueceram que a razão de ser de qualquer empresa é servir a comunidade e o lucro é decorrência disso”, afirmou.

Em 2010, ao receber o Prêmio Abap/Ícones da Comunicação, oferecido pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap), Ruy Mesquita revisitou a história do Estadão e suas convicções políticas e ideológicas. Na ocasião, lembrou que, ao longo dos então 135 anos do jornal, “o Estado de S. Paulo tem sido identificado por todos os governos por que o País passou, aí incluídos especialmente os que ajudou a constituir, como o seu mais incômodo opositor”. Mesquita ainda avaliou o papel do jornalismo: “na trincheira do jornalismo aprende-se rapidamente que cada conceito está sujeito a se transformar no vício para o combate do qual ele foi criado. Que ao opor resistência aos grandes males da atualidade é bom não fechar os olhos ao possível perigo do triunfo total de qualquer princípio. Que liberdade para os lobos quase sempre significa a morte para os cordeiros”.  

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