Monotipia 47

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Monotipia


04

Francis Ortolan

40

Jaya Magalhães

14

André Lasak

42

Hector Lima

20

Ivys Danilo

46

28

Dharilya Sales

72

André Ducci

HQuitanda

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XXXXVII Se “urgência” é o sentimento que marca esta edição, sem maiores delongas, adelante =) Martins de Castro Editor Capa: André Ducci

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Sobre a Monotipia


Francis Ortolan



Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. Francis Ortolan: Eu faço quadrinhos desde que aprendi a escrever. De forma independente tive dois fanzines em xerox o "Pétalas de Cerejeira" (duas edições) e o "Blaken" (cinco edições). Depois parti para a internet onde além de algumas histórias fechadas curtas publiquei uma versão colorida do "Blaken" (com seis edições) o "Cosmopolia" (com três historias) e o "Maldita Karen" que é meu site atual com episódios curtos (atualmente com 40 episódios). Profissionalmente já publiquei algumas história educativas como o projeto Madeira Legal e tenho uma charge mensal a muitos anos na revista "Referência Florestal". Além disso participei de parcerias em algumas coletarias como a revista "Café Espacial # 12" ( que ganhou um prêmio HQ mix agora) o álbum "Bocas Sujas" e o próprio "Henshin! Mangá", que publicou as histórias vencedoras do BMA. MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? FO: Como sempre fiz quadrinhos é difícil identificar uma grande influencia, eu tenho muita coisa misturada no que faço. Mas acho que um cara que me ensinou muito sobre ritmo e narrativa foi o Masamune Shirow. Infelizmente ele é um autor que hoje em dia é mais lembrado pelas adaptações animadas de suas obras e pelos pin ups eróticos do que pelo seu trabalho com quadrinhos que é genial.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? FO: Adoro trabalhar com ferramentas digitais. Não tenho pudor de usar Cntl-Z, de aproveitar um detalhe, de distorcer alguma coisa e de usar todos os truques disponíveis quando isso me a judar a chegar em um resultado melhor. Especialmente quando estou trabalhando com prazos apertados. MT: Conte sobre a dinâmica de produção das seus trabalhos. FO: Normalmente começo coletando anotações e ideias, fazendo os esboços dos personagens e ambientes. Antes de começar a desenhar monto um modelo dos personagens juntos (para a judar a determinar a alturas) e, se um determinado ambiente vai ser muito importante na história, desenho uma planta do local para me a judar a determinar dinâmica dos acontecimentos. Quando estou trabalhando com um roteirista (como foi no caso do BMA) tento conversar bastante nessa fase inicial e trocar muitas ideias. As vezes algumas ideias podem funcionar melhor com uma interpretação mais visual que tende a partir do desenhista. Quando estou trabalhando sozinho, normalmente não tenho um roteiro detalhado, só algumas linhas gerais. Deixo que a história vá ganhando vida nos esboços. Na hora de desenhar as páginas costumo a esboçar direto no photoshop sempre em grupos de quatro páginas para ter uma noção melhor do fluxo da história e do ritmo de



leitura. Isso também vai facilitar na hora de finalizar pois já faço quatro páginas juntas. MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? FO: Minha principal preocupação é guiar o leitor de forma agradável pela superfície da história. Fazer ele se sentir no ambiente e sentir o peso dos acontecimentos dentro do universo que estou apresentando sem tirar dele o direito de interpretar. No cinema existe uma regra: "Não conte! Mostre!". Nos quadrinhos a mesma regra se aplica mas com muito mais força. O leitor tem seu próprio tempo de leitura então você não precisa pegar na mão e deixar as coisas obvias de mais, ele pode voltar e pescar detalhes com muito mais facilidade e vai se deliciar se tiver algo para encontrar. MT: Conte-nos sobre "Crishno: O Escolhido", HQ publicada na Henshin Mangá 2014 FO: O Crishno foi uma história feita na porrada. Quando ficamos sabendo o prazo já tava rolando fazia um tempo então tínhamos pouco mais de um mês para fazer tudo acontecer. Eu e o Lielson trocamos muitas ideias. Ele montou um roteiro, eu sugeri umas mudanças aí eu fui fazendo os rafes, no meio dos rafes ia propondo algumas soluções diferentes e ele foi palpitando. Foi uma história BEM despretensiosa, fizemos muito pelo prazer de fazer quadrinhos.



Na questão visual, como era um concurso de mangá tentei fazer um meio termo entre meu desenho normal e um mangá tradicional e um pouco disso acabou ficando no meu estilo. MT: O que você tem produzido para além de "Crishno: O Escolhido"? FO: Atualmente meu foco é a "Maldita Karen" (http://malditakaren. tumblr.com/). Uma história on-line sobre uma garota meio geniosa e sua visão cínica sobre o mundo. Como quadrinista estou muito feliz com essa história, espero fazê-la crescer e, um dia, publicá-la em papel. MT: Por que quadrinhos? FO: Os quadrinhos são uma mídia única tem suas própria regras e possibilidade que nenhuma outra mídia tem. Eu amo quadrinhos e, para mim, explorar o que se pode fazer neles é um objetivo em sí. MT: O que você tem lido ultimamente? FO: Atualmente estou lendo as coisas que comprei na Gibicon, entre elas o "Dora" da amazona de cristal Bianca Pinheiro e o "Batsuman: Ano Um (E Dois Também)" do Yoshi Itice.



AndrĂŠ Lasak https://www.facebook.com/quimeraufana



AMAR, VERBO INTRANSIGENTE


Amor Amorado Amortecido Amordaçado Amoralizado Amorenado Amorífero Amormado Amortalhado Amornado Amortizado Amorudo Amorrinhado Amorfo Amorreado Amorsegado Amor O Amar Tem Várias Formas De Se Amar Reciprocamente O Amor


EU-POÉTICO


Percorrendo os labirintos do Meu EU-cérebro descobri Que não sou um só Sou vários EU-minicérebros Dentro do EU-corpo O corpo reage contra o EU-sádico, que reage contra o EU-lúcido, que reage contra o EU-música, que reage contra o EU-estático, que fica inerte Na presença do EU-máquina

EU-mesmo digo que Eu-nada sou completo Mas EU-sempre diz que EU-nunca sou o mesmo

O EU-cósmico vasculha A morada do EU-pássaro Que sobrevoa a aldeia Do EU-ancião, que se Esquece que o EU-jovem Ainda sobrevive no EU-tempo

EU-insano pensa que o EU-matéria se transforma No EU-vapor, que se estabiliza No EU-vácuo, que se dissolve Com o EU-chuva

O EU-superior controla o EU-relógio-de-sol que está No centro do EU-universo.


Ivys Danilo Ivys Danilo Ivys Danilo Ivys Dan Iv


nilo vys Danilo Ivys Danilo Ivys Danilo Ivys Danilo


MT: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista. ID: Minha formação como quadrinista ainda é bem recente. É difícil fazer o que gosta desde pequeno no meio de tantos modelos que deve-se seguir por causa da sociedade. Mas acho que posso começar pelo irmão mais velho que trabalhou um tempo como cartunista num jornal. Ele tinha vários gibis americanos e mangás pela casa, e hoje vejo que isso me influenciou bastante. Daí comecei a ter mais contato com mangás, começando por Evangelion, Naruto e entre outros. Ainda criança fazia alguns fanzines só por diversão mesmo que até mesmo hoje não mostrei pra ninguém, principalmente pro não desenhar nem um pouco bem. Mas por esse motivo, parei com os fanzines e continuei apenas como leitor mesmo até mais ou menos um ano atrás quando famosa revista japonesa abriu seu primeiro concurso mundial de mangás. E foi por essa iniciativa que decidir pôr a mão na massa de novo, mas agora apenas como roteirista. Meses depois encontrei o Breno em um grupo de desenho no Facebook e desde então decidimos trabalhar juntos. Acabamos nem participando do concurso da Shonen Jump (Irônico, não? rs) e participamos apenas do concurso brasileiros de mangás da editora JBC; o BMA -

Brazil Manga Awards. Por isso foi a vitória no BMA foi uma imensa surpresa: conseguimos algo assim logo de começo, foi inacreditável. Desde então estou na saga para aprimorar minha escrita.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? ID: Com certeza o mangá. Quem nasceu nos anos 90 teve uma influência japonesa muito grande, querendo ou não. Cavaleiros do Zodíaco, Pokémon e Digimon me influenciaram muito quando criança, mas ainda não tinha noção de nada. Só com Naruto – mais ou menos em 2004 – eu realmente noção do que era um mangá e etc. Em influências orientais, coloco Masami Kurumada, Masashi Kishimoto, Tsugumi Ohba, Hirohiko Araki e Atsushi Ookubo. Já em influências ocidentais, coloco Neil Gaiman, Douglas Adams e Alan Moore.

MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? ID: Como roteirista não há muitas opções, comecei usando o Word mesmo. Mas recentemente comecei a usar o Celtx para formatação dos roteiros e está sendo uma experiência ótima.



MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e outros trabalhos. ID: A dinâmica é bem frenética. Tento espremer a inspiração ao máximo sempre que ela aparece, rs. Mas quando dá “aquele” conhecido bloqueio criativo, parto pra leitura de livros e quadrinhos, assistir filme e etc. Sempre a juda a ganhar o pique novamente.

MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual em seus trabalhos? ID: Bom, ainda estou na fase de experimentar bastante, mas sempre fico na preocupação de fazer algo de que qualquer pessoa possa entender pelo menos uma camada da história. Aos poucos quero poder ainda conseguir isso mesmo brincando com uma cronologia bagunçada da história; é uma meta. Também me preocupo muito com o tempo de leitura; tento deixar um tempo que realmente possa ser introspectivo para o leitor: que não seja tão rápido e nem tão dilatado. É difícil, dá bastante dor de cabeça, mas é algo que sempre tento conseguir.

MT: Conte-nos sobre "[Re]fabula", HQ publicada na Henshin Mangá 2014 ID: A elaboração foi bastante rica em diversos sentidos. Antes de [Re]fabula, tínhamos elaborado apenas um one-shot que terminamos apenas 11 páginas – No caso, Pangeia –. Ou seja, fazer um oneshot entre 24 à 32 páginas foi um desafio enorme, principalmente porque desde o começo queríamos deixar claro na leitura que o universo da obra é algo expansível. No caso de [Re]fabula, tentamos fazer um modo diferente de produção. Em Pangeia, além do roteiro, fiz storyboards com desenhos simples para darem um norte ao Breno. Já em [Re]fabula decidimos exercitar a composição de página dele, e ele fez todas as páginas apenas pela leitura do roteiro. Pra mim foi um resultado excepcional porque muitas cenas foram praticamente idênticas como eu tinha imaginado, foi um sentimento incrível. O concept dos personagens também ficou por conta do Breno, e logo de começo eu já gostei bastante. Mas isso tudo foi após já termos decidido o roteiro. No começo, o roteiro de [Re]fabula nasceu no meio de uma aula da faculdade e me tomou por completo. O roteiro era bem maior e contava outras diversas fábulas, a do Gato e do Rato eram mais ou menos o começo do roteiro original.



Decidir qual fábula mandar para o concurso e limitar ela a 32 páginas foi algo bem desafiador. Por isso que desde que mandamos a obra para o concurso, nós já estávamos conscientes de que já tínhamos ganho muito em experiência apenas por participar. Aos poucos estamos trabalhando mais no universo de [Re]fabula e esperamos poder ter a oportunidade de mostrarmos mais dessa obra.

MT: O que você tem produzido para além de "[Re]fabula"? ID: Após o resultado do BMA, decidimos voltar à produção de Pangeia que foi negligenciada por causa do concurso. Em setembro deste ano então lançamos “[The Game Of] Pangeia”, uma continuação de “Pangeia” que incorpora este primeiro one-shot. O oneshot conta com cerca de 60 páginas,

além de extras etc. E ele ainda foi lançado em versões comerciais que incluíam storyboards e outros trabalhos curtos que fizemos como exercício ao longo do ano. Está a venda em sites como o BigCartel (www.nameruhitsuji.bigcartel.com) para o Brasil, e a versão em inglês no Sellfy (ww.sellfy.com/NameruHitsuji). E em alguns estados do Brasil, incluindo aqui em Fortaleza – Ceará, vai acontecer o “Henshin Pocket”, um evento no auditório da livraria Cultura para promover o Henshin Mangá e debater sobre a obra. Mais informações no site da JBC. Atualmente estamos trabalhando em um novo projeto ainda sem título definido e com uma “pegada” diferente das nossas obras anteriores, estamos bastante felizes com os resultados e esperamos que outras pessoas possam curtir também.


MT: Por que quadrinhos? ID: Wow, essa é uma pergunta fácil responder, mas muito difícil de explicar o sentimento por trás dela. Mesmo sendo estudante de Cinema, vejo nos quadrinhos uma mágica sem igual. É algo tão íntimo surreal: você, e só você, dar vida e movimento à ideia de outa pessoa no seu próprio ritmo e baseado nas suas experiências pessoais. Acho algo realmente mágico e inspirador de se estudar e produzir cada vez mais.

MT: O que você tem lido ultimamente? ID: A lista tá bem bagunçada entre novas leituras e algumas releituras. Estou terminando de reler As Crônicas de Nárnia e O Guia dos Mochileiros das Galáxias; e lendo Os Novos 52 e Vagabond aos poucos.



Dharilya Sales


Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto artista gráfica e quadrinista. Dharilya Sales: Sou formada em Licenciatura em Artes Visuais pelo IFCE e trabalho como professora de desenho e artes visuais...

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? DS: Acredito que minhas primeiras influências veio de desenhos da Disney e alguns animes, como por exemplo, yuyu Hakusho e Sailor Moon que conheci quando criança. Mas foi na adolescência que fui ampliando esse repertório, gosto do traço da Ai Yazawa, Shunia Yamashita, Milo Manara, Mike Mignola, Moebius, Tim Burton, e da estética de Rococó, Art Nouveau, Superflat... e moda japonesa, como Lolita, Pastel Goth, Fairy Kei...

MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? (Se sim, quais? Se não, por quê? DS: Procuro não ter preferência por materiais, a escolha que faço vai depender da proposta e conceito na qual vou trabalhar... é difícil gostar de um material só... nos tradicionais gosto de misturar aquarela e lápis de cor, mas minhas




produções em peso são em nanquim, tanto em bico de pena, como em canetas e pinceis... e a pouco mais de um ano estou em experimento com o digital, comecei com Photoshop e agora uso o Paint Tool Sai também, me sinto como uma criança com brinquedo novo... mas nada ao ponto de fazer com que eu deixe os tradicionais...


MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e outros trabalhos. DS: Fico facilmente inspirada quando vejo filmes de fantasia e terror, tento exercitar todos os dias, procurar novos artista e referências... depois de esboçar bastante, penso em quais cores e soluções expressariam melhor a idéia que tento passar... e só assim vou partir pra arte final.

MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em seus trabalhos? DS: A linha do requadro, quantidade de quadros, linhas cinéticas e textos trabalhos nos balões, tudo influência na hora do ritmo de leitura, quanto mais informações na pagina, mais lento seguira a narrativa, não que isso seja ruim, mas existe uma hora certa a se trabalhar cada um... gosto de variar enquadramento e sair um pouco dos formatos tradicionais e principalmente de por significados a pequenos detalhes, desde o visual dos personagens, até os balões, fontes

MT: Conte-nos sobre “Entre monstros e deuses”, HQ publicada na Henshin Mangá 2014 DS: Um dos temas envolvidos em Entre Monstros e Deuses é religião, e sabemos isso é um assunto delicado a se trabalhar, nesse sentido, o primeiro fator que decidimos é



que tudo se passaria em tempo e local fictício, justamente para não relacionarem a nenhuma religião especifica. Os requadros foram inspirados em ruínas e molduras da estética de art nouveau... tudo para intensificar o ambiente apoteótico em a trama se passa. Nossa maior dificuldade foi em fazer o roteiro, foram quase 4 meses pra concluir e enquadrar às regras do concurso; outra dificuldade minha era ter que terminar os desenhos na mesma época que tinha que concluir o tcc... Aprendi muito ao decorrer desse período, principalmente sobre respeito e trabalho em equipe, tive bons resultados... mensagens fofas do pública e muitas criticas que também guardo no coração.

MT: O que você tem produzido para além de “Entre monstros e deuses”? DS: Fiz uma pequena participação junto ao Coletivo Gerimoon , para a publicação de Mulheres nos Quadrinhos – O livro, onde varias meninas participam com suas produções em diversos temas, o projeto foi aprovado com sucesso no Catarse e a previsão de lançamento é para março de 2015. Outro projeto em andamento é “As Aventuras de Galáctica”, liderado por Francisco Oliveira da MC – Movimentos Criativos, composto por roteiristas e desenhistas do Ceará E por fim, “Meio Amargo” com Pedro Leonelli, que tem um visual



mais lúdico comparado a “Entre monstros e Deuses”...

MT: Por que quadrinhos? DS: Não sei xD... talvez porque seja algo que me atrai desde criança, e também algo que não tenho vergonha de assumir que gosto mesmo depois de adulta... nunca fui muito de sair de casa, mas assistir desenhos e ler quadrinhos faz com que eu tenha sensações mais divertidas do que se eu fosse para uma festa, desenhar e fazer quadrinhos é como se fosse uma forma de me virar do avesso e conversar comigo mesma, de concretizar e eternizar parte do que sinto e acredito, não sei porque encontrei esse tipo de solução só sei que me deixa muito feliz...

MT: O que você tem lido ultimamente? DS: Minhas leituras recentes, foi Quadrinhos A2 de Paulo Crumbim e Cristina Eiko, no qual achei muito divertido tanto a arte como a narrativa, O Jogo do Rei, de Nobuaki Kanazawa, confesso que fazia tempo que não acompanhava nenhuma série de mangá e esse realmente é o tipo de gênero que me atrai, um suspense de nível muito bom e As Aventuras de Rabi Harvey de Steve Sheinkin, talvez uma das histórias mais exóticas que já li nos últimos dias, é um quadrinho rico em mensagens sabias e humor... e não posso esquecer de A Guerra dos Tronos...



Solta.

Jaya Magalhães

Deixa eu dançar, pro meu corpo ficar odara Minha cara, minha cuca ficar odara Deixa eu cantar, que é pro mundo ficar odara Pra ficar tudo joia rara Qualquer coisa que se sonhara Canto e danço que dara. [Odara - Caetano Veloso]


Eu gosto de barulho bonito, poeta. Aquela maneira engraçada, que puxa a gente para um samba e o corpo dança no meio daquela roda. Saia rodada, pés descalços, flor nos cabelos. Tudo que rodopia enquanto a alma se arrepia. E todas aquelas mulheres cheias de histórias contando poesia nas escadarias do Pelourinho. Brincos nas orelhas, colares mágicos, cheiro de jasmim. E cada um dos nós que guardam pedidos naquelas fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim acabam se perdendo quando a alegria escapa sapeca ao ver o coração ecoar sua música pelos pulsos. Tem raízes, sombras, e meus cabelos se trançam desritmados pelas mãos de uma moça de sorriso insuportavelmente bem feito. Caminho esquecida por toda aquela rua de pedra, me afogando em um amor tão grande que, por não saber mais virar curvas, entrou no mar e se fez infinito. Por isso o sigo. Persigo. Amor que me lambe, fazendo doces todos os meus músculos. Tambores batucam nos meus olhos. Meu corpo inteiro grita tragédias, sem nem saber que é apenas mais um romance que se enovela a partir dos meus quadris.

Linda, cambaleante, solta, gosto de amor feito na rede. Transpiro, multicores, enlaçando sonhos naquela fita amarela que mede todo o não-sentido em minha cintura. A noite se abre em meus seios deixando escorrer mil e duzentos absurdos que rastejam sem norte. A lua e a estrela que moram em meu anel de pedras verdes desenham a Bahia nas palmas das minhas mãos. Salva(a)dor. Tudo rima em minha pele vigiada pelo sol. Tudo rima com o nada.

épocas que remontam essa minha certeza de que nasci para morrer de amores. E dói, dói, dói tanto, que eu sorrio. Sorrio flores, anunciando a primavera despetalada em minhas entranhas.

E quando a gente senta, o indizível começa a escorrer pelas calhas, como se chovesse excesso de querer-bem. Todo mundo traz em si aquela coisa que só parece caber em cartões postais, e denuncia em cada milímetro toda essa mistura rubra que exalta a maneira mais diversificada de felicidade. Todas as falas cantam. Todos os abraços cabem nos meus.

Amanhã São Jorge prepara a lua cheia, e eu seguro o céu, rainha de mim mesma, enlouquecendo de saudades e enterrando o acúmulo de lucidez extraviada. Leva esse axé para o mundo, poeta. Um gerânio no meu sangramento, e todo esse barato ausente de coordenação, é o que me preserva.

Muito amor demais, é o que tem para hoje. O que acontece, aqui? Vida. Eu, acontecendo, a-bun-dante-men-te, sentada na calçada debaixo do pé de espatódea que peca pelo excesso de cor. Nessa hora, o barroco inadiável chega e vivo

Areia de praia, coqueiros, cravo, canela, mãos ao queixo, tudo enquanto espero você, poeta, para desencantar toda essa euforia, antes que eu vire estátua nas bordas do mar, eternamente a contrabandear seu azul.

Insisto no que é lindo.



HECTOR LIMA


Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto artista quadrinista. Hector Lima: Como roteirista dirigi minha formação pro estudo da escrita. Sou formado em Letras, onde entendi melhor como se interpreta textos, e pela Escola Panamericana de Artes de SP, que sediou uma das primeiras comicons que trouxe convidados internacionais, há 20 anos. Também fiz um curso de desenho e pintura em Santos, minha cidade-natal, que durou alguns anos na escola Artelândia (sim). Ele me deu noções e a possibilidade de trocar idéias sobre Gibi com outros nerds em longas tardes de sábado.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? HL: Há influências várias: desde Música (bandas de rock, grupos de rap, DJs, compositores de trilhas de filmes) passando por Cinema (John Carpenter, David Cronenberg, Takeshi Kitano e David Lynch) e Literatura (Machado de Assis, William Burroughs, Marcelo Mirisola, Mary Shelley). Nos Gibis gosto muito dos roteiristas da "Invasão Britânica" dos anos 80 - eles a judaram a moldar minha cabeça na adolescência -, mais especificamente o escocês Grant Morrison, que é quase um mentor espiritual meu, haha.

MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? HL: No meu caso, como roteirista, simplesmente uso o formato "full script" de formatação de roteiro. Não há uma



regra muito definida entre o certo e errado quando se fala disso, há algumas variações mas geralmente a cara muito parecida entre vários profissionais. Não acho necessário qualquer software de roteiros, é só abrir um arquivo de texto e sair escrevendo. Mas a juda muito anotar ideias iniciais em um caderno, à mão. É bom pra tudo fluir sem filtros, depois é só ir organizando em um arquivo digital o que saiu da cabeça direto pro papel.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas HQs e trabalhos similares. HL: Depois que uma história começa a tomar corpo é natural se pensar nos climas dela, na iluminação e aspectos afins. Então começam a pipocar na cabeça nomes de quem poderia desenhar e vem toda a epopeia de se encontrar desenhista. De uns anos pra cá eu tenho incorporado conceitos editoriais e comerciais aos projetos, justamente pra a judar na produção e viabilização comercial deles como publicação. É preciso ter essa direção porque assim você pensa como um editor - e, de fato, editei a maioria dos meus próprios trabalhos - porque caso contrário é fácil ficar dando voltas e sem seguir adiante. Isso também a juda a mostrar ao desenhista que você está nessa pra fazer a coisa virar. Por conta dessa postura eu gosto de participar de todas as etapas de produção pra que o trabalho tenha uma cara consistente, e gosto de fazer muita pesquisa de imagens para a judar na direção de arte do



Gibi. Mas que fique claro: esse jeito de maníaco por controle também encontra muitas aberturas pra opinião dos desenhistas, coloristas etc. Fazer Gibi é uma eterna colaboração, é preciso ouvir muito.

MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs e outros trabalhos? HL: Tenho muita preocupação com a consistência, verossimilhança interna e clareza da narrativa. Por mais que um gibi qualquer seja uma maluquice psicodélica, por exemplo, ele precisa ser uma leitura legal. Isso não quer dizer que tudo precise estar sempre explicado pro leitor, como se precisasse anexar um manual de simbologia. É preciso deixar ele solto pra descobrir coisas, se divertir e fazer suas próprias interpretações. Mas fazer narrativa é sequenciar ações, então elas precisam ser colocadas em uma fileira inteligível, independente de fazerem sentido ou não.

MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais HL: Apesar de algumas pessoas pensarem o contrário, do meu tempo de escrita e da minha idade, me considero de certa forma um novato no mundo dos Gibis. Ainda acho que tenho poucas obras publicadas. Ainda não posso viver exclusivamente de escrever roteiros, então vou tentando viabili-



zar projetos conforme é possível. Uma das coisas mais importantes pra mim hoje é ter um corpo de trabalho grande e em gêneros variados - não quero ser só um cara de Super-Heróis, nem um cara de Comédia, ou mesmo um cara de Terror. Quero fazer tudo isso e mais um pouco, ainda que eu tenha mais afinidade com certos tipos de elementos. Tenho uma coleção de histórias curtas chamada ESCRITÓRIO NOTURNO, que representam mais ou menos meu começo de "carreira" colaborando em várias coletâneas. Ali estão coisas como ZUMBINGO, praticamente minha estréia - que em 2015 faz 10 anos. São histórias fechadas com uma pegada CRIPTA DO TERROR das quais tenho boas memórias. Existe O MAJOR, o primeiro capítulo de uma reinterpretação de elementos do Capitão América por um viés irônico que nunca teve continuação, infelizmente, e SABOR BRASILIS, minha estréia em uma graphic novel completa, co-escrita com meu amigo Pablo Casado, que hoje faz parte comigo do grupo Fictícia. É uma comédia sobre os bastidores de uma novela das oito. Agora vai sair o BARÃO MACACO, um suspense policial com ambientação brasileira, e em seguida MULHEROMEM, uma homenagem aos gibis e desenhos animados antigos que também é uma pequena meditação sobre Nostalgia. Como falei, acho que estou apenas começando e adoro fazer histórias por encomenda - preciso fazer mais, inclusive - mas não existe nada igual à ter



liberdade total para via jar em suas idéias como nos trabalhos autorais.

MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? HL: Muito esporadicamente escrevo minicontos que publico no meu blog - www.hectorlima.com - e infelizmente tem sido apenas isso. Sou redator publicitário e tradutor ocasional, então meu trabalho "civil" acaba tomando a maior parte do meu tempo - o que sobra tenho usado para escrever meus roteiros e dar uma força na produção e divulgação das coisas da Fictícia www.ficticia.org. Já produzi muitas festas e discotequei com minha mulher, Flávia Durante, que ainda anima muitas pistas de dança; e gostaria muito de poder voltar a fazer isso com frequência - Depois dos roteiros é o que mais me deixa contente em fazer.

MT: Por que quadrinhos? HL: Porque eles são a forma de narrativa que eu considero a mais legal de se criar, pura e simplesmente. Amo Cinema do fundo do coração, e vejo mais filmes do que leio gibis, mas nada se compara ao prazer de se acabar um roteiro de gibi e poucos meses depois começar a ver as páginas dele ficando prontas. Eles são a melhor união entre imagens e palavras, tem algo realmente mágico neles. E não cito o termo como um elogio brega, existe uma energia transformadora neles que algumas pessoas conseguem colocar em prática. É uma dimensão à parte - e ao mes-



mo tempo integrada com a nossa que me ensinou a ler, me fez muita companhia nessa vida, e na qual eu gosto sempre de mergulhar pra conhecer novas histórias e criar as minhas.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? HL: Tenho lido menos do que gostaria, mas que se destacaram ultimamente foram: PÂNICO NO JOSÉ WALTER, uma reportagem real sobre um psicopata de Fortaleza, do Talles Rodrigues que começamos a vendas na loja Fictícia; KM BLUES, do Daniel Esteves e Wanderson de Sousa, um road movie sobre se entender com a idade adulta; SEX CRIMINALS, de Matt Fraction e Chip Zdarsky, comédia de humor negro sobre um casal que pára o fluxo do tempo quando tem orgasmo; THEREMIN, de Curt Pires e Dalton Rose, aventura com o inventor do instrumento musical atuando como espião interdimensional; CIRANDA DA SOLIDÃO, do Mario Cesar, histórias sobre amor e solidão entre iguais; THE AUTEUR, de Rick Spears e James Callahan, sobre um diretor de cinema alucinado atrás do próximo sucesso; e ANIHILLATOR, de Grant Morrison e Frazer Irving, sobre um escritor de Hollywood que encontra seu personagem e precisa acabar um roteiro antes que um tumor estoure em sua cabeça e o mundo acabe. Fora isso tenho lido o Twitter... eu fico muito no Twitter.



André Ducci



MT: Fale sobre sua formação, enquanto artista visual e quadrinista. André Ducci: Sou formando em gravura pela EMBAP (Escola de Música e Belas Artes do Paraná). Também tenho formação como ilustrador científico.



MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? AD: Tenho muita influência das vanguardas do começo do século XX de artistas como Picasso e Matisse. Me interesso muito por ilustrações da década de 50 e 60 e pelo imaginário de James Ensor também. Outra influência são as HQs alternativas como Crumb, Art Spielgman, Daniel Clowes e Cris Ware. Isso entre tantas outras imagens pelas quais somos bombardeados hoje em dia.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? AD: Não exatamente. Talvez lápis grafite, nanquim e xilo. apesar de não ter tido muita chance de exercitar esse último. Mas o que mais tenho usado e fazer uma rafe no grafite e depois finalizar no computador.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. AD: Meu processo se resume basicamente a fazer uma lápis rápido, me aproveitando ao máximo da energia dos primeiros traços para depois finalizar no computador. Me utilizando muito das possibilidades de experimentação que o digital permite.



MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs e outros trabalhos? AD: Minha maior preocupação é conseguir narrar de forma mais simples e direta com o máximo de experimentações gráficas possível.

MT: Fale-nos de seus trabalhos autorais AD: Meus trabalhos autorais estão focados nas HQs no momento em experimentos que podem ser lidos na integra em meu site (http://andreducci.art.br)



MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? AD: Tenho um trabalho longo já como ilustrador e no momento tenho planos para um novo livro infantil.

MT: Por que quadrinhos? AD: Gosto de contra histórias e de desenhar. Foi inevitável.



MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? AD: As últimas HQs que li são Campo em Branco de Emilio Fraia e DW Ribatski, O Gosto do Cloro de Bastien Vivés, Isaac o Pirata de Christophe Blain. Tenho bastante interesse também por livros que relatem as explorações polares do começo do século 20 de figuras como Shackleton e Amundsen. Recentemente descobri a literatura de Manoel Carlos Karam ao ilustrar as capas para seus livros editados pela Arte & Letra e já me sinto influenciado.






HQuitanda Quadrinhos para ter. Comprar gibi é o que há. Histórias em quadrinhos são o melhor presente de natal, páscoa, aniversário, amigo secreto, dia dos namorados, dia da avó. Melhor presente para dar “pq sim”. E receber também, claro. Se for quadrinho brasileiro, com toda sua diversidade de temas, estilos, faixas etárias, plataformas então, melhor ainda. Nas próximas páginas você vai encontrar links para vários quadrinhos da Balão Editorial e para a loja de quadrinhos digitais +Gibis. Parte do que há de melhor na atual safra dos quadrinhos está aqui.

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http://www.balaoeditorial.com.br/pobre-marinheiro.html


http://www.balaoeditorial.com.br/lobisomem-sem-barba.html

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