Política

SáBADO, 03/09/2016, 07:14

Temer busca evitar racha na base aliada para aprovar projetos

A briga pelo comando da Câmara e do Senado e a divisão interna do PMDB vão exigir muita habilidade do presidente. Além disso, até entidades a favor do governo já disseram que vão protestar contra as mudanças na Previdência.

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Por Raquel Miúra

 

Partidos que apoiam Michel Temer dizem que vão aprovar ainda este ano ao menos na Câmara a PEC dos gastos públicos. Menina dos olhos de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, a emenda exige quórum qualificado e as siglas dizem que darão esse apoio ao novo governo.

A força de Michel Temer no Legislativo, que afastou com folga Dilma Rousseff, vai exigir no entanto muito jogo de cintura. Parece um terreno plano, porém a base do peemedebista está mais para placas tectônicas que podem se deslocar.

Mesmo no limite de despesas com base na inflação, ponto que une seus apoiadores, há quem defenda um prazo menor que 20 anos, disse o deputado Rogério Rosso (PSD-DF). ‘Pela dinâmica dos mercados e da possibilidade de recuperação das finanças, estamos colocando para o debate uma revisão de quatro em quatro anos para que o Congresso e a sociedade possam, num espaço mais curto, avaliar se esse sistema está ou não funcionando’.

Um dos esperados focos de atrito da base de Temer são as eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Enquanto tentará avançar com reformas polêmicas, Temer terá de administrar a disputa entre o centrão – partidos que faziam parte do governo de Dilma – e a nova base – PSDB, DEM e PPS.

Para o líder dos Democratas, Pauderney Avelino, o melhor é o presidente se distanciar da briga. ‘O Planalto deve ficar longe dessa disputa. Vai haver uma disputa porque grupos querem presidir a Câmara dos Deputados. Mas eu entendo que o presidente da República deve ficar fora desse processo’.

A escolha do comando da Câmara e do Senado é crucial para o governo porque a expectativa é de que os assuntos mais delicados - mudanças nas aposentadorias e nas relações de trabalho - fiquem para o ano que vem. Sem eleições, 2017 é considerado um ano bom para se avançar em temas impopulares.

Mesmo aliados que tomaram à frente do impeachment, porém, dizem que nem tudo será fácil. O deputado Paulinho, do Solidaridade, que coordena a Força Sindical, reclama que até aqui só viu pela imprensa pontos da reforma da Previdência que será enviada ao Congresso. E já discorda do texto.

‘Primeiro eu não conheço a proposta porque o governo não apresentou às centrais sindicais. Mas eu tenho visto pela imprensa que o governo faria 65 anos para homens e mulheres que tem menos de 50 anos, e um pedágio para quem tem mais de 50. Essa proposta é inaceitável. Nós não concordaremos com ela. Terá que negociar muito, principalmente para aprovar uma proposta dura como ele está colocando’.

O Solidariedade espera integrar ainda o governo Temer. Foi prometida pasta do Desenvolvimento Agrário, que deve ser recriada. Outro partido, o Progressista, importante no impeachment de Dilma, também andou mostrando irritação. Circulou informações de que o atual ministro da Saúde, o deputado Ricardo Barros, representante da legenda, seria substituído.

Temer queria um técnico, mas diante da pressão dizem que ele voltou voltado atrás. No Senado, o foco das divergências vem do próprio partido de Temer. O ato de Renan Calheiros que garantiu a Dilma os direitos políticos foi visto como um recado - Renan apoia Temer, mas deixa claro que ali no Senado ele é que manda. Além disso, deixar no ar a pergunta se o Planalto sabia ou não da costura que resultou no fatiamento do impeachment para beneficiar aliados, como Eduardo Cunha.

Em reunião tensa de tucanos e democratas após a decisão do Senado, um parlamentar ligado a Temer jurou de pé junto que não apoiou tal iniciativa. 

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