Por Jornal Nacional


Árvores ajudam a contar a história da poluição do ar na cidade de São Paulo.

Árvores ajudam a contar a história da poluição do ar na cidade de São Paulo.

As pesquisas ambientais na maior cidade brasileira têm recebido um reforço da própria natureza. São testemunhas da história da poluição do ar de São Paulo.

Não adianta negar. As provas de como sujamos o ar estão registradas por testemunhas que não mentem: as árvores. Elas não falam, claro, mas têm muita história para contar. Histórias que pesquisadores estão recuperando.

Eles usam um instrumento chamado trado, um tipo de broca, para perfurar o tronco e retiram um filete de uns 20 centímetros de comprimento. É essa amostra que vai revelar o que aconteceu com a árvore desde que foi plantada, há mais de 30 anos. É uma Tipuana, árvore muito comum em São Paulo e que tem os anéis do tronco bem marcados.

Esses anéis contam a história da árvore. A cada ano, ela forma um novo anel, e quando uma amostra do tronco é colocada no microscópio, o que aparece na tela é uma espécie de diário. A gente pode ver os registros de tudo o que aconteceu com a arvore, mas não é só a história da arvore, é também a nossa história, e do ar que respiramos.

Funciona assim: quando chove, a água carrega para o solo metais pesados, como chumbo, zinco, cobre e outros. A árvore absorve água, nutrientes e esses metais, que ficam armazenados no anel que ela formou naquele ano. Ao analisar os anéis, que se formam de dentro para fora do tronco, os pesquisadores sabem se a quantidade de metais aumentou ou diminuiu ao longo dos anos.

As árvores têm uma boa notícia: a quantidade da maioria dos metais pesados no ar de São Paulo caiu. Resultado principalmente do fechamento de indústrias poluentes e a proibição da adição de chumbo à gasolina há 30 anos. “A queda mais significativa foi do chumbo. É um dos metais mais perigosos para a saúde, ele é altamente toxico”, diz Giuliano Maselli Locosselli, autor do estudo.

Os pesquisadores analisaram seis metais. Um teve queda menos significativa: o cádmio. Culpa também dos automóveis. “Eles são uma fonte de cádmio hoje, e se houver um aumento na eficiência desses carros, desses veículos, ou se houver uma mudança na escolha das peças, você pode acabar diminuindo a concentração desses elementos, principalmente do cádmio na atmosfera”, explica Lacosselli.

As árvores não contam apenas o que aconteceu no passado. Podem nos ajudar a fazer boas escolhas para o futuro.

“Se eu fizer uma comparação da poluição por metais hoje em relação a 1980, eu posso dizer que melhorou bastante por causa do aumento de eficiência. Mas eu não posso dizer que São Paulo não é uma cidade poluída. Ela continua sendo poluída, poluída também por metais. A gente enxerga esses metais. A gente pode ir adiante nisso, e continuar usando as arvores para monitorar isso daqui a algumas décadas”, diz o professor do Instituto de Biociências da USP Marcos Buckeridge.

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