domingo, 24 de maio de 2015

EXTINÇÃO E A CRIAÇÃO DE PAISAGENS VAZIAS

Perigo de extinção: colapso dos maiores herbívoros do mundo pode deixar paisagens vazias pelo planeta.

O elefante-africano (Loxodonta africana) é encontrado em 37 países diferentes na África. Porém, isso não significa que se encontra em boas condições. Os caçadores, que procuram o marfim para vender no mercado negro, a perda e a fragmentação do habitat são ameaças constantes ao maior animal terrestre do planeta.
Os maiores herbívoros do planeta – grupo que inclui mamíferos com mais de 100 quilos, como elefantes, rinocerontes, antas, gorilas, zebras, hipopótamos, girafas, antílopes, camelos e porcos selvagens – enfrentam o perigo de extinção.


Um novo estudo intitulado Colapso dos maiores herbívoros do mundo (Collapse of the world’s largest herbivores), publicado no início do mês pelo periódico científico Science Advances, indica que 60% das espécies estão ameaçadas. A maior parte vive em países em desenvolvimento, onde, surpreendente, a caça ilegal, por carne e partes de animais (como o marfim dos elefantes e hipopótamos e cornos de rinocerontes, por exemplo) é um problema mais grave do que o desmatamento e a agropecuária.

A anta-sul-americana (Tapirus terrestris) é o maior mamífero terrestre da América do Sul. É considerada uma jardineira das florestas por ser uma excelente dispersora de sementes, contribuindo para a formação e manutenção da biodiversidade dos biomas brasileiros onde vive (Amazônia, Pantanal , Cerrado e Mata Atlântica). A caça ilegal, o desmatamento, a fragmentação do habitat, a competição com animais domésticos e os atropelamentos em rodovias fazem com que a população das antas continue diminuindo.
Segundo a pesquisa, cerca de 1 bilhão de pessoas dependem da carne de animais selvagens para a subsistência. Só na Amazônia brasileira, 89 mil toneladas de carne de espécies nativas são consumidas por ano. Essa atividade vem transformando as florestas tropicais do mundo em um processo inicialmente apelidado de empty forest (floresta vazia). O artigo expande o conceito e alerta: se o declínio nas populações de herbívoros continuar restarão somente empty landscapes (paisagens vazias) em desertos, planícies, savanas e florestas na maior parte do planeta.

Os grandes herbívoros são vitais para a manutenção de um ecossistema saudável. Eles modelam a estrutura da vegetação, dispersam sementes, servem de alimento para predadores, modificam as propriedades do solo, o regime de queimadas naturais e a produção primária das plantas. Se os gigantes desaparecerem, esse papel não poderá ser assumido por mamíferos de pequeno ou médio porte e o equilíbrio será quebrado.

Os chifres dos rinocerontes-negros (Diceros bicornis), feitos de queratina – a mesma substância encontrada em nossas unhas – são utilizados na medicina chinesa para o tratamento de doenças, incluindo o câncer. A população da espécie sofreu uma redução de 98% entre 1960 e 1995 devido à caça ilegal para abastecer esse mercado mesmo sem estudos que comprovem a eficácia do tratamento.
“A perda dos grandes herbívoros pode ter um efeito cascata nos processos ecológicos que envolvem as plantas, o ciclo das águas, de nutrientes e do fogo, e pode afetar outras espécies, como grandes carnívoros, carniceiros, herbívoros de menor porte e pequenos mamíferos”, aponta a pesquisa.

Os autores do artigo acreditam que é essencial garantir que as populações locais possam se beneficiar da proteção dos grandes herbívoros para que haja o interesse na preservação das espécies. A presença de uma diversidade de animais carismáticos pode alavancar o ecoturismo e trazer benefícios financeiros para as comunidades locais.

Hipopótamo (Hippopotamus amphibius) é um silencioso e solitário comedor de grama na terra, mas fica altamente sociável e barulhento quando está na água. A caça pela carne e pelos dentes dos animais (que abastecem o mercado ilegal de marfim) são as ameaças enfrentadas pela espécie.
Programas para reduzir as taxas de natalidade de seres humanos em regiões de rápido crescimento e que invistam em educação, especialmente para as mulheres jovens, são uma prioridade.

Os pesquisadores também dizem que a redução do consumo de carne de animais domésticos diminuiria a demanda por pastagens e água. Eles também defendem uma melhor gestão da vida selvagem, com a permissão do consumo da carne de animais selvagens somente do sexo masculino, com determinada idade e respeitando cotas. Isso poderia assegurar a conservação de espécies em risco e garantir comida para a população.

O artigo termina da seguinte maneira: “Agora é o momento de agir com ousadia. Se não ocorrerem mudanças radicais nesses campos, as extinções que eliminaram a maioria dos grandes herbívoros do mundo – entre 10.000 e 50.000 anos atrás – só foram adiadas para os últimos gigantes que restam.”

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