Os maiores herbívoros do planeta – grupo que inclui mamíferos com mais de 100 quilos, como elefantes, rinocerontes, antas, gorilas, zebras, hipopótamos, girafas, antílopes, camelos e porcos selvagens – enfrentam o perigo de extinção.
Um novo estudo intitulado Colapso dos maiores herbívoros do mundo (Collapse of the world’s largest herbivores), publicado no início do mês pelo periódico científico Science Advances, indica que 60% das espécies estão ameaçadas. A maior parte vive em países em desenvolvimento, onde, surpreendente, a caça ilegal, por carne e partes de animais (como o marfim dos elefantes e hipopótamos e cornos de rinocerontes, por exemplo) é um problema mais grave do que o desmatamento e a agropecuária.
Segundo a pesquisa, cerca de 1 bilhão de pessoas dependem da carne de animais selvagens para a subsistência. Só na Amazônia brasileira, 89 mil toneladas de carne de espécies nativas são consumidas por ano. Essa atividade vem transformando as florestas tropicais do mundo em um processo inicialmente apelidado de empty forest (floresta vazia). O artigo expande o conceito e alerta: se o declínio nas populações de herbívoros continuar restarão somente empty landscapes (paisagens vazias) em desertos, planícies, savanas e florestas na maior parte do planeta.
Os grandes herbívoros são vitais para a manutenção de um ecossistema saudável. Eles modelam a estrutura da vegetação, dispersam sementes, servem de alimento para predadores, modificam as propriedades do solo, o regime de queimadas naturais e a produção primária das plantas. Se os gigantes desaparecerem, esse papel não poderá ser assumido por mamíferos de pequeno ou médio porte e o equilíbrio será quebrado.
“A perda dos grandes herbívoros pode ter um efeito cascata nos processos ecológicos que envolvem as plantas, o ciclo das águas, de nutrientes e do fogo, e pode afetar outras espécies, como grandes carnívoros, carniceiros, herbívoros de menor porte e pequenos mamíferos”, aponta a pesquisa.
Os autores do artigo acreditam que é essencial garantir que as populações locais possam se beneficiar da proteção dos grandes herbívoros para que haja o interesse na preservação das espécies. A presença de uma diversidade de animais carismáticos pode alavancar o ecoturismo e trazer benefícios financeiros para as comunidades locais.
Programas para reduzir as taxas de natalidade de seres humanos em regiões de rápido crescimento e que invistam em educação, especialmente para as mulheres jovens, são uma prioridade.
Os pesquisadores também dizem que a redução do consumo de carne de animais domésticos diminuiria a demanda por pastagens e água. Eles também defendem uma melhor gestão da vida selvagem, com a permissão do consumo da carne de animais selvagens somente do sexo masculino, com determinada idade e respeitando cotas. Isso poderia assegurar a conservação de espécies em risco e garantir comida para a população.
O artigo termina da seguinte maneira: “Agora é o momento de agir com ousadia. Se não ocorrerem mudanças radicais nesses campos, as extinções que eliminaram a maioria dos grandes herbívoros do mundo – entre 10.000 e 50.000 anos atrás – só foram adiadas para os últimos gigantes que restam.”
Fonte: National Geographic
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